quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano-velho.

2009 começou pra mim com a morte de uma colega de faculdade. Chovia no dia do enterro. Não me contive e chorei muito hora que o caixão foi colocado na gaveta. Me perguntei pra onde teriam ido tantos esforços, estudo e amor. Depois entendi que justamente por não saber pra onde vão os nossos sentimentos é que temos que tentar ser leves. Não sei se consigo.
Depois veio uma grande paixão que até hoje eu não controlo. Vieram novos autores, a seleção para o mestrado e a reprovação. Veio um trabalho e a festa de formatura. Permaneceram os amigos. Todos os dias eu tento aprender que não é uma questão de justiça e que a resignação é a melhor das formas de se lidar com as frustrações. Todos os dias eu sinto dificuldade em ser humilde. E não tem outra saída. Não tem.
Vieram as pessoas próximas com depressão, os filmes bons, os homens novos, os antigos e os sorrisos de mentira. Veio o meu buldogue, a praia e os vestidos novos. Não dou importância a dívidas com o banco.
Meu ano termina com a mesma chuva de janeiro, com o mesmo amor, dúvidas e alegrias. Nunca sofri tanto. Sou muito feliz.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O brinco que se perdeu.

No ano passado minha mãe viajou pra Gramado nessa época do Natal e me trouxe um brinco muito bonito. Fui com ele ao motel, a festas, bares, igrejas e ao trabalho. Há duas semanas decidi usá-lo numa festa de aniversário. Dancei, sentei, quis ir embora e lá pelas tantas apareceu um rapaz. Era um homem normal. Pensei em deixar passar, mas dei a chance. Primeiros beijos vãos, ele não votou no Lula, nem gosta de Kill Bill. Comecei a me encontrar e ele lia Dostoiévski. Fomos embora juntos e ele quis levar o meu sutian. Não deixei. Quando cheguei em casa percebi que um dos meus brincos não estava comigo. Ficou pelo caminho. Perguntei ao Tarô Online se reencontraria o rapaz. A resposta indicava contrariedade das minahs expectátivas. Nunca mais o vi, nem sei se verei. Perdi meu brinco e fico me perguntando se pareci ridícula. Tirei fotos sem roupa e mandei para homens que não amo. Pouco me importa a superexposição. Não sou vulgar, não tenho medo nem vergonha. Quero compensar a não paixão e o meu brinco perdido.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

No meio da mensagem tinha uma pedra.

Ontem eu bebi. Pensei em mandar uma mensagem pra ele. Na mensagem eu diria que nesses tempos de presentes deslocados e chuvas torrenciais são dele as minhas palpitações. Parei no meio. Não gosto mais dele. Ele voltaria com todas aquelas histórias repetidas, histórias tristes, emocionantes e datadas. Voltaria o mesmo gosto de final de dia, a espera e a demora. Não. Eu não quero mais. No meio daquelas palavras pensei no quanto ele não faz mais sentido. É uma história bonita, da menina que foi atrás do seu ídolo e trocou poesias com ele, do caso de amor que sobreviveu aos anos e do jornal de domingo que sempre quer dizer alguma coisa. Não. Agora nada disso quer dizer mais nada. It's all over. O tão esperado "I don't love you anymore" da Alice Ayres em "Closer" está em mim.
Ele não é perfeito, não é completo e não é meu. Eu não sou dele. Não faz diferença. Veio outro no sábado a noite. Provavelmente o outro não vai durar. Mas foi o estalo que eu precisava pra esquecer a minha velha paixão.
Não é mais pra ele que eu pinto as unhas.
Cheguei em casa certa de que ele também passou. E fui comer bolo de chocolate.
Graças a Deus.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sem maquiagem.

"A moça usava óculos escuros e grandes, elegante, mas séria demais. Talvez mais triste que séria-estava chorando. Vi quando levantou os óculos para secar as lágrimas. Não estava com a maquiagem borrada porque não usava nenhuma. "

Esse trecho do texto de Mauren Kayna Lima Alves, publicado na Piauí de setembro desse ano, foi decisivo para a minha atual condição de mulher sem maquiagem. Desde o início desse ano o mundo maravilhoso da Lancome me seduziu. Comprei lápis, máscaras, blushes, bases e sombras. Passei horas e horas diante do espelho antes de sair de casa esculpindo o meu rostinho de boneca que a umidade não tardaria a desfazer. Experimentei abrir meu olhar, alongar meu semblante e desfarçar minhas olheiras. Valeu a pena, mas passou.
Quero ser livre para chorar, gargalhar e esfregar os olhos. Gosto de mim só de batom. Guardei a pintura para os dias de festa. Estou na fase dos cremes com cheiros fortes e do esfoliante de açaí.
Antigamente você conhecia um homem, beijava ele e ele só te ligava muitos dias depois. Veio o Orkut e a mágia se desfez. A intimidade passou a ser instantânea. Preciso me desacostumar.
Não serei mais escrava do rímel, nem do corretivo. Quero amar de cara lavada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Imperador.

Torço para o Vasco, Não me lembro com que idade escolhi meu time. Sei que meu pai me ensinou que de time não se troca. Nunca entendi de futebol, mas sempre me emocionei com os jogos da copa do mundo. Presto atenção no Romário, fui ao Maracanã algumas vezes e no último domingo desejei de coração que o Flamengo fosse vitorioso.
Apesar da raiva que o barulho dos fogos de artifício me causa, considero única a comoção que o Flamengo causa. Ricos, pobres, mulheres, gays e velhinhos choram por um time que é para todos. Me sinto feliz de assistir a esse espetáculo e de, de alguma maneira, fazer parte dele.
Há na vitória do Flamengo muitas conquistas pessoais que chamam a atenção. Nenhuma delas me encanta tanto quanto a do Adriano. Adriano, menino pobre com jeito de imperador, acordou cedo para treinar. Jogou no Flamengo, viajou o mundo, foi pra seleção, encontrou sua angústia e quis voltar. Voltou para o seu Flamengo, para a Vila Cruzeiro e para o mundo onde é rei de si.
Tenho pensado muito na saudade que a gente sente de coisas datadas. Penso em quem fugiu da Alemanha Oriental e, quando já estava inserido no Capitalismo, sentiu saudade. Penso em quem nasceu em Bonsucesso, cresceu na Penha e hoje, morando na Zona Sul, tem o coração longe dos percursos que faz. Esses não podem voltar. Eu não posso voltar as férias de verão de Iguaba Grande, com sorvete a quilo e funk alto do vizinho. Não posso voltar aos beijos despretenciosos, nem aos shortinhos jeans fora de moda comprados pela minha mãe na C&A. Hoje vou a Ipanema de vestido. Me molho no chuveiro da praia e almejo beijos com futuro.
Adriano, ao contrário de mim e dos meus companheiros saudosistas, pode voltar. O homem com nome de imperador e rosto de menino, voltou porque queria ser feliz e não encontra felicidade fora de onde nasceu. Sua atitude dispensou psicólogos e evitou crises existenciais eternas.
Na segunda a noite, enquanto o Flamengo inteiro estava na CBF, de terno, recebendo a taça, era no churrasquinho da Vila Cruzeiro que Adriano comemorava. Ele não precisa de troféu, não quer ser herói de um mundo ao qual não pertence.
Olho o Ronaldo fenômeno e agradeço a Deus por existir o Adriano.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Adeus, Lenin!

Já comprei o presente do meu amigo-oculto. Nem olhei o preço. Tirei uma pessoa de quem gosto muito. Quero delicadezas de presente, carteirinhas, agendinhas, caderninhos e amor. Lá fora hoje chove muito e eu tenho a Penélope nas unhas. Não dá pra fazer regime em dezembro. É festa de final de ano do trabalho, reuniãozinha das amigas da escola, almoço com a companheira de todos os dias, mãe, pai, veterinário da cachorrinha e reveilon inesquecível.
Escrevi uma lista com as "11 regras para se manter a geladeira arrumada" e prendi na porta da minha respectiva. Minha mãe quase morreu, disse que eu estou obcessíva. Tenho guardado minhas moedas por setores, mudo tudo de lugar na sala onde trabalho toda semana e sonho com um espelinho coquete pra levar na bolsa.
Quero um sapato aqui, uma bolsa de couro ali e uma tatuagem na nuca.
Li na Piauí que na Coréia do Norte todas as pessoas usam um broche com a foto do líder na roupa. Deve ser por gostar tanto de dinheiro que eu me sensibilizo profundamente com a falência do Socialismo.

domingo, 29 de novembro de 2009

Do lado de dentro.

Eu ia lá fora ver você de longe. Finjia que não te via. Finjia que amava outro e que tinha sono. Eu ia lá fora só pra te ver, pra sentir o meu mundo esbarrar no seu e pra tentar te fazer lembrar do cheiro que tem o meu cabelo. Eu fui lá fora tantas vezes, acenei tantas vezes, te amei tantas vezes...
No Jardim quem tem lá fora eu fiquei sentada te olhando. Como num filme ruim com a Julia Roberts vivendo ela mesma eu chorei no final. Como o bombom de banana, último da caixa, eu ainda quis o seu amor.
A vida andou, o Jardim murchou e meu cabelo mudou de cheiro. Mudei de cor, comprei um vestido novo na última liquidação e não te quis mais. Aceitei os tapas, um por um. Confesso que de alguns até gostei.
Quando penso naquele Jardim de filme clichê com música cafona e diálogos proveitosos no final, me lembro que você fazia parte dessa coisa toda tão errada e volto. Fico aqui dentro.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O silêncio dos inocentes.

Algumas vezes, quando eu estou na esquina da Senador Dantas com a Evaristo da Veiga, tenho a impressão de que por alguns segundos o mundo para. É raro. Normalmente é no fim da tarde. Foi assim hoje. Saí do trabalho e quando passei por lá ouvi um silêncio familiar. É feliz o intervalo do burburinho.
Hoje, mais do que nunca, a sexta feira me deu sensação de fim. Por todas as ruas onde eu passava as pessoas pareciam estar indo embora e o céu lilás desenhava o Adeus. Meu repertório de músicas acabava. Eu não tinha pra onde ir.
Nunca tirei foto da paz que cai sobre a Cinelândia ao entardecer.
Não divido com ninguém o vento que lá é constante.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O vencedor.

A parte mais difícil de tentar qualquer seleção é imaginar o dia em que a lista de aprovados vai sair. Penso no que faria se visse meu nome completo ali exposto: C.R. de O. M., tijucana, filha de pai e mãe dentistas, apaixonada por suburbanos e amiga da ex-chefe arrogante. Se vir meu nome saio gritando, choro, ligo para os meus pais dentistas e durmo feliz.
Se não vir choro até o outro dia de manhã, não atendo o telefone e sofro mais um pouquinho pelos romances incompletos.
A parte mais difícil de estar apaixonado é esperar o telefonema. Toda vez que o celular toca durante o meu banho penso no que faria se fosse ele. Penso que atenderia normalmente. Diria: "Oi Fulano..." ou atenderia como se não soubesse mais de quem é aquele número. Nunca me passou pela cabeça deixar o telefone tocar pra sempre. Nunca me passou pela cabeça trocar de número. Nunca foi ele que me ligou.
Quando se tem um amigo autocentrado, egoísta e sem noção, a parte mais complicada é trabalhar com ele. No almoço ter que ouvi a autopropaganda fajuta do cansaço e do sucesso que ele precisa manter para se sentir importante. Penso que vou me exaltar, saír da mesa, entregar as contas. Cogito ligar a noite e dizer uma por uma todas as verdades dolorosas. Me calo.
O meu mundo é dos que não são unanimes em todas as listas, dos que esperam telefonemas e dos que oferecem a outra face.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Noite quente.

Não quero dormir agora. Tem um mundo lá fora acontecendo e eu não quero dormir agora.
Não quero fechar os olhos pra nenhum dos meus infortunios. Não quero ser a miss Brasil de um sonho que acaba. Sou mulher demais pra ser uma vedete cinderela.
Quero essa noite toda com você, você inteiro, noite em claro, manhã sem brios, eu e você, sem solução.
Quero café a tarde pra não dormir por te amar demais. Não vou dormir, não vou. Preciso desse desejo gelado que não vai embora de mim.
Não sou de pouca conversa. Não durmo demais.
Fico acordada aqui te esperando aqui.
Você aqui e eu. Eu e você acordados. Dia, noite e pão com manteiga. Você é meu.
O espelho do elevador me disse que você é meu. Minha mão me disse. A linha do amor disse, você volta.
Não vou dormir, não vou dormir, não vou.

domingo, 22 de novembro de 2009

Bom conselho.

No prédio da Prefeitura na Presidentes Vargas, foram colocadas três bandeiras enormes com fotos de crianças esportistas em comemoração as Olimpiadas de 2016. A principio era uma menina branca de maiô e toca de natação, uma outrz morena de maiô de ginástica Olimpica e um menino, também branco, de kimono.
Quando vi isso, em outubro, me perguntei imediatamente onde estariam as crianças negras em 2016 Certamente não seria nas competições que vêm para salvar a cidade da barbárie.
Sou a favor das Olimpíadas e me emocionei quando, dentro do metrô, ouvi o anúncio da nossa vitória. Não votei no Eduardo Paes, mas reconheço a competência dele. Esse governo, mais do que nunca, foi eleito pelo povo. As classes médias votaram em peso no Gabeira. No entanto, o choque de ordem (que eu também não sou contra) e as propagandas das Olimpíadas, me parecem bastante elitistas.
Pois bem, essa semana olhei para a Prefeitura e vi que no lugar do menino branco judoca, estava um negro com bola de basquete. Respirei aliviada pelo bom senso, ainda que tardio, da acessoria do prefeito e me entristeci em solidariedade a família do menino branco, que devia estar super orgulhosa da imagem dele em destaque logo na entrada do Centro nervoso da nossa metrópole.
Sou apaixonada pelo Lula. Sempre votei nele. Acredito no crescimento do Brasil e me calo diante das alianças duvidosas do PT. Tenho achado, porém, que os publicitários da presidência da República estão papando mosca em não agendarem pra ontem um pronunciamento oficial do salvador da pátria sobre o apagão do dia 10 desse mês.
Eu relevo o apagão, o Sarney e o que mais vier, mas seria de bom tom que houvesse apenas uma demonstração mais direta de preocupação com a escuridão em que todos nós nos encontramos naquela terça feira, tendo sido culpa de quem for.
Não sou de reclamar, penso positivo. Quero tudo pra cima. No entanto é preciso que se entenda que a população é condescendente, mas não é cega.

sábado, 21 de novembro de 2009

Reprovações.

Eu reprovei o segundo ano do Ensino Médio. Fui pra uma escola falcatrua pra poder tentar o vestibular.
Passei na Auto-Escola porque paguei trezentos reais a duas avaliadoras escolhidas pelo meu instrutor falcatrua e nunca mais peguei no volante.
Tentei ser monitora de cursinho umas três vezes. Nunca consegui.
Fiz inúmeros concursos públicos. O único para o qual eu fui aprovada dentro do número de vagas era pra Saquarema. Não me chamaram até hoje.
Tentei o mestrado pra Sociologia no meio desse ano.
Não passei.
Tentei pra História agora em novembro. Também não passei.
Minha vida amorosa não existe.
Tenho um cachorro, muitos amigos e uma mãe que deixou a própria felicidade pra trás e vive de procurar apartamentos em bairros nobres.
Essas Pós Graduações que não me aceitam e os homens que não me querem mesmo sabendo do meu valor
um dia vão ser só um degrauzinho na minha vida,
mas agora dói muito.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Fernanda Young.

Quando saiu a Playboy da Priscila BBB eu comprei no mesmo dia. Cheguei em casa ansiosa pela promessa de uma "Princesa Devassa" cercada de homens nus por todos os lados. Li inclusive que em uma das fotos ela estaria de quatro pegando dinheiro com a boca. Acreditei que essa liberdade e coragem revolucionárias viriam de forma inédita e apostei. Perdi. Gastei R$12,50 numa mentira. A revista era mais de um mesmo muito ruim. Fotos NADA excitantes, retocadíssimas a ponto de o corpo dela e o da Vera Fisher não terem diferenças. Eram ângulos triviais, caras e bocas falcatruíssimas e nenhuma posição ousada.
Na minha opinião se é pra brincar, há que se descer para o play. Eu mesma, em momentos de baixíssima autoestima, tirei fotos minhas nua e enviei pra uma meia dúzia de rapazes confiáveis. Minhas fotos eram mais criativas do que as da Priscila e eu as tirei sozinha.
Acho que se a moça sul matogrossense prometeu Sodoma e Gomorra, não era pláusivel que viesse Bevelly Hills. Se ela não estava preparada pra abrir as pernas não deveria ter deixado que a propaganda prometesse tanto.
Pois bem, agora em novembro tive uma grata surpresa quando recebi um e-mail com as fotos da Fernanda Young na Playboy escaneadas. Tenho uma relação antiga com a autora-apresentadora-humorista-gostosona. No primeiro ano do "Saia Justa" eu não gostava dela. Me lembro que durante a guerra do Iraque ela disse "Foda-se a MesopotaNia" e eu quase surtei.
No entano, num programa em que cada uma das saias tinham que levar uma música e a Fernanda levou "Os cegos do castelo" do Titãs, eu comecei a rever minha opinião sobre a moça. Fui gostando muito dela e acabei me tornando uma expectadora assídua da atração só para vê-la.
O Saia Justa mudou, veio o "Irritando Fernanda Young" e eu percebi que ela colocou uma meta clara para a sua vida: ser bonita. A cada programa Fernanda desfila sua magreza em roupas sensuais e perucas estilosas. Fernanda é casada com um homem doce e feio, tem duas filhas com nomes audáciosos, Cecília Madonna e Estela e as mais belas tatuagens que eu já vi em uma celebridade. Fernanda, Niteroiense, que fez letras na UFF, trocou o Rio por São Paulo sem crise e, ao que me parece, se apaixona constantemente, sem que isso atrapalhe a sua estabilidade conjugal.
Foi da Fernanda que veio a melhor Playboy de todos os tempos. É estranho que seja de uma intelectual e não de uma gostosa típica a disponibilidade para se expor. As fotos da Fernanda, além de muito bem feitas, são sensuais de verdade. Tem dedos, celulites, pernas amarradas, estrogênio e testosterona. Fernanda é mulher, é tesuda, tem bunda, peitos e pelos.
Aconselho a todos os que tem gritos entalados na garganta que corram a banca de jornal mais próxima e comprem a Playboy, ou que me deixem e-mails nos comentários para que eu envie as fotos. É um ensaio libertador. Me ensinou muito.
Fernanda Young é a intelectual mais gostosa do Brasil. Não tem BBB pra ela. Não mesmo.

No meu lugar.

Esses dias eu estava conversando no trabalho sobre o Kaká. Nós gostamos do Kaká. Ele é o típico bom moço, esforçado, educado, disciplinado e simpático. Não entendemos, no entanto, o fato de ele ter se casado na Igreja Renascer e de defender a pastora Sonia Hernandez até hoje. O fato de ele ter se casado virgem estraga um pouco o charme, mas amor não se discute e a mulher dele é linda. Começamos a falar sobre ela, que segundo alguém me disse, será a embaixadora da Renascer na Espanha. Não entendo mesmo e tenho dificuldade de não julgar.
O nome da mulher de Kaká é Caroline, ela é pequena, moreninha, delicada, de cabelos lisos, estatura baixa e corpo mignon. Tenho a impressão de que seus pais sabiam que ela seriam assim ao lhe darem esse nome tão coquete.
Ontem fui a um restaurante a quilo muito gostoso. Quando eu estagiava no Arquivo Nacional, sempre almoçava lá e reparava no dono. Era um senhor árabe, alto, gordo e bonito. Imaginava como deveria ser a vida da mulher dele. Tinha vontade de ser mulher de um árabe, acho eles especialmente masculinos e amorosos. Ontem fui em uma das filiais do restaurante. Quem tomava conta era o filho do tal árabe. É um rapaz de olhos verdes, bem arrumado e com um nariz enorme e lindíssimo. Quase desfaleci tamanho foi o impacto. Pensei que ele deve namorar uma Caroline, assim como o Kaká. Carolines, Moniques e Micheles dificilmente oferecem o mesmo perigo que Olgas, Estelas e Marias. Claro que existem excessões, mas a regra é cruel.
Esses dias entrei na Hering com uma amiga e vi aquelas camisas Polo femininas que as estudantes calouras da Cândido Mendes usam. Pensei nos cabelos delas, nas calças jeans, na mochila e no chinelo de plataforma alta. Pensei que nem que eu quisesse seria assim. Elas devem ser felizes. Devem ir pra Nuth, sair com caras que têm carro e como eu, fazer a unha toda semana. Tenho inveja delas porque queria que fosse mais fácil, mas gosto muito do que eu sou. Não trocava não.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não vale a pena.

Eu queria casar, sabe? Morro de vontade de provar o feijão com arroz da vida a dois. Não tenho outro assunto. A autopiedade passou dos limites, preciso reinventá-lá. Uma vez minha professora de Geografia do segundo ano disse que quando uma parte da floresta amazônica foi alagada para a construção da Usina hidrelétrica de Tucuruí, depois de um tempo as árvores apodreceram e a água ficou poluída. Tenho a sensação de que é exatamente isso que aconteceu com o meu coração. Não era a hora de eu ser rejeitada. Não tenho forças pra suportar essa solidão agora.
Não sei pra que serve isso, não vejo possibilidades, lado positivo, nada.
Todo dia eu sinto saudade, me sinto idiota, penso em ligar, em escrever, em morrer, esquecer e acabo indo dormir.
Esse calor que não compensa, o salário que acabou, o meu enjôo desse assunto, os problemas dos outros, a vida dos outros...
Minhas unhas são bonitas a toa, não me conformo. Não sei me resignar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Santo de barro.

Ah, mas não tem amor, não tem sábado a noite nem sorvete de frutas que me tire você da cabeça nem por cinco minutos. Desaprendi a ir a festas e no último show que eu fui, quase dormi em pé enqunato ouvia a mistura peculiar de rock com rítmos ciganos do Gogo Bordelo. Não tenho força pra ir, nem paciência pra ficar. Saio mais tarde do que deveria. Não é excesso de sono de manhã, são as músicas que tocam enquanto eu pinto os olhos, é a cachorrinha que quer brincar e o telefone que as vezes toca.
Sonho com tanta gente que não existe que esqueço do pão de cada dia. Acho que minto demais.

Massagem.

Eram sete e vinte da manhã e a pedra já estava no caminho. "Pra que?", ela se perguntava em silêncio. Ônibus cheio, rua úmida, cheiro de creme barato em volta. Saltou em frente ao lugar, mas faltavam cinco minutos. Ficou olhando o mar. "Tão longe, tão perto...". Andou, tocou o interfone e subiu. Tirou seus sapatos vermelhos, concluiu que não há lugar como o nosso lar e pisou o chão fresquinho.
Ia começar. Tinha só cinquenta minutos pra entender aquele mundo inteiro. Era sozinha.
Quando saísse dali se devolveria a selva. Não queria mais os mesmos caminhos, shampoos e sapatos. Buscava outro lar.
Foi ganhar dinheiro.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Time is on my side.

Enquanto o amor não chega vou ouvindo a Deise Tigrona no ônibus: "Aí seu otário, só porque eu não quis foder contigo você vai ficar me defamando, né?". Tento adivinhar o resultado da prova, peço empréstimos tentando solucionar a ausência masculina na minha vida e curto a minha nova paixonite: Sorvete de iogurte, "Fat Frozen Not Fat Yogurt".
Chorei essa noite e variei a cor da pintura do rosto pra ir trabalhar.
Me atrasei. Está tudo fora do tempo.

O ano inteiro pra trás.

Eu não tinha voz naquela manhã. Não queria assunto. O caminho até a minha casa era desconfortável. Lá não nos pertencia. Só a minha cama me cabia. Dormi lá tão longe acordei hoje as seis na hora de ir ao cinema.
Hoje, novembro, as seis, calor sem paixão e vestido novo sem propósito. Hoje, domingo a noite sem compensação. Véspera de segunda feira sem Aleluias. Hoje eu acordei. Corri até Botafogo ouvindo Verônica Costa nas alturas "É a última chamada pro verão, heim!". Imaginei a cara do trocador se soubesse que era a Mãe Loura que estava ali comigo. Vi o filme, comi comida japonesa, esperei o ônibus e no espelho do elevador inventei diálogos de misericórdia. Vestido bonito, palavras repetidas, maquiagem desperdiçada.
Volto amanhã, acordo amanhã, te amo amanhã.
Faltam a mim as palavras diretas, a praticidade e a síntese.
Preciso não te amar amanhã.

sábado, 14 de novembro de 2009

Pra Deus me ajudar.

Sexta feira de manhã eu vi a igreja do Largo de São Francisco aberta. Entrei pra pedir a Deus pra eu passar no mestrado. Eram umas onze horas da manhã e não tinha ninguém lá dentro. Fiz o sinal da cruz, andei, sentei e dei início as preces. Conversar com Deus nesses lugares é muito inspirador e complicado ao mesmo tempo porque eu tenho vontade de falar alto, mas fico preocupada de alguém ouvir.
Pois bem, pedi a Deus para iluminar a correção das provas, disse a ele que se for da vontade dele que eu passe, que seja assim e que se não for que eu saiba me resignar e não desistir (como se fosse fácil).
Agradeci pelo meu emprego, pela minha cachorrinha, pelos meus amigos e pelos quatro vestidos adquiridos no último sábado. Pedi perdão pela preguiça, pelo consumo desvairado e pela minha pouca tolerância a críticas.
Pedi pela minha família, amigos tristes, amigos felizes, amiga sozinha, amiga deprimida, amiga que não é mais amiga e etc.
E chegou a hora de falar do coração. Pensei que não seria possível pedir pra fazer o homem que me ocupa inteira gostar de mim. Me lembrei de quantas vezes fiz isso na adolescência e de quantas vezes não deu certo. Pensei que eu trocaria mestrado, emprego e todos os vestidos do mundo por ele. Pensei na minha grande disponibilidade para fazer ele feliz e me policiei pra entender que não foi da vontade de Deus que nós ficássemos juntos. Pensei que ele esteve nas minhas mãos e que eu o deixei ir embora. Comecei a chorar, minha maquiagem borrou, eu rezei um Pai Nosso e fui embora.
Deus agora sabe da minha dor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Madonna's power!

Não sei juntar dinheiro. Não sei sair mais mais cedo de casa. Não sei almoçar em restaurantes a quilo normais. Gosto de comida gostosa.
Fui me cansando dessa vida de descrições. Plavras não me levam a lugar nenhum. Palavras não voltam.
O apagão me une ao mundo. Não quero mais falar no telefone.
Meu lençol não tem ninguém.
Me retirei da disputa quando escolhi a questão errada.
Ontem andando de ônibus eu pensei nele. Me dou conta do quanto é ridículo e clichê pensar nele, mas sempre parece que é a primeira vez.
Não sei ouvir música baixo.
Gosto da sensação de caos que movimenta o mundo. Sou sensacionalista.
As luzes da Madonna não se apagaram. Nunca vão se apagar.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Dever de casa incompleto.

Não sei se isso é pra mim.
Cheguei aqui me arrastando
e corri tanto..
Não tem amanhã
não tem chuva de segunda feira
nem atraso
que faça o mundo acabar.
Entreguei a sorte, todo mundo vai saber.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Auto-ajuda.

Tenho dificuldades para tolerar pessoas que não dizem obrigado e que não pedem desculpas. Me afasto sem dar explicações quando percebo que não há espaço para críticas ou mudanças subsequentes.
Levo com pouca esportiva as pessoas que só falam de si, as autoreferências constantes e os desleixos que podem se dar tanto na forma de falta de delicadeza, quanto de ingratidão.
Tenho poucos amigos que lidam bem com o próprio sucesso. Tenho poucos amigos que admitem o sucesso dos outros. Conto nos dedos os amigos que se alegram com as conquistas alheias.
Meu aprendizado da humildade é terrível. Como eu não queria ter que passar por ele. Como eu queria não sentir falta das pessoas que me destrataram alguma vez na vida. Quero ser determinada, mas sofro horrores ao deixar alguém.
Odeio nos outros o que escondo em mim.
Dispenso o crescimento da alma. Só quero os resultados, a ação é muito chata.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sofrer é amar demais.

Isso de a gente ter amor demais pra dar é uma furada. Preciso aprender a ser comedida no amor e no arrependimento. Tinha uma menina na minha escola que era muito feia. Eu a vi esses dias na fila do Circo Voador. Ela continua do mesmo jeito e parece não se importar. Ela é tão feliz...
E eu aqui fazendo escova com pós-graduação, usando base da Lancome e tomando capsulas de ômega 3 com linhaça no café da manhã estou cheia de complexos. Chega. Beleza não é tudo. Estou querendo passar o reveilon numa super festa. A primeira coisa que penso é no quanto preciso emagrecer até lá. Que inferno!
Por que eu não me aceito assim? Que conflito estúpido! Que homem imbecil que não me quis!
Fui comentar com um desses rapazes interessantes até a página cinco que povoam o meu horizonte de expectátivas que precisava de sexo selvagem. Ele me perguntou como e com o que eu queria apanhar. Entendi na hora que quero romance.
Quero algodão doce e Beach Boys.
Cansei de ser livre. Sou cada vez mais mulherzinha.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Diluvio em tempos de seca.

Eu tinha uma noite pra escrever. Não me restavam palavras. Morri de sono, chorei, liguei pra um, liguei pra outro e no final decidi falar com o meu pai. Meu pai não entende, vem sempre com aquelas lições de persistência que não funcionam. Eu não tinha o que escrever, não conseguia, era verdade. Quando disse isso a ele, ouvi que nesse momento da minha vida são as coisas que me levam. São tempos de calmaria. Nesses tempos é muito difícil lutar. Meu pai me mandou ir a luta. Eu fui. Pode ser que perca ainda mais essa batalha, que não alcance meus objetivos no tempo que me parece conveniente, mas dormirei tranquila. Eu lutei.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A moça e o caderno.

Fui a Argentina em fevereiro de 2007. Lá eu comprei um caderno muito bonito. A capa dele é aquele quadro do Berni que tem uma moça lora com os olhos pintados, nua, só de meia calça sentada na cama e afastando com as mãos a cortina rosa. Dá pra ver a os edifícios da cidade do lado de fora, mas a mulher parece tão concentrada em si mesma que eu e talvez todo mundo, se sinta compelido a se deitar com ela.
Custou 14 pesos o meu caderno na lojinha do MALBA (Museu de Artes Latino Americano de Buenos Aires) e eu gostei tanto dele que nunca tinha tido coragem de usar. Por dentro as folhas são brancas, sem linhas, livres, permissivas e assustadoras. Nunca me senti capaz de adentrar aquele mundo. Não estava preparada.
Foi então que na última segunda feira a noite eu senti muita vontade de escrever, mas estava sem internet. Decidi usar um dos muitos caderninhos que guardo na minha mesinha de cabeceira. Cheguei a pegar um que ganhei de presente da minha irmã quando ela voltou de Portugal, mas não era a hora dele. Fui na prateleira de baixo e tirei o meu Berni da sacola plástica em que ele estava. Peguei minha caneta preta favorita e fui. Contei minhas angustias sem rasuras. Escrever no papel é muito diferente. É mais humano. A possibilidade de vacilar é maior. Se a letra sai feia temos que aceitar. Se há excesso de pronomes uso os parenteses para me desculpar, não posso desperdiçar meu caderno. Não posso.
E agora que me senti preparada para o mundo do meu caderno novo, posso tudo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Recompensa.

Lanche de uma quarta feira chuvosa no fim da tarde
Nada a esperar
Projeto que eu não tenho
Pãezinhos, bolinhos, suco e mel
Minhas amigas aqui
os homens
todos os homens
lá.
Sou muito feliz.

sábado, 24 de outubro de 2009

O demônio da fé.

Minhas tentativas de seduzir os homens que eu quero pouco têm sido completamente frustradas. Talvez o fato de eu os querer pouco signifique que eles não são mesmo pra mim, mas a carência é tanta que volta e meia eu vou lá dar uma cutucada pra ver se daquele mato ainda sai cachorro. Me certifico que não e vou embora com o rabo entre as pernas. Foi assim hoje a tarde. Não quero mais as amizades que não são inteiras. Ao contrário do que acontece com os amores, consigo me afastar com êxito dos maus amigos. Transformo essas pessoas em conhecidos por quem eu tenho carinho e é claro que isso dói, mas a vida já é dura demais pra gente ter que ficar aguentando quem não trata a gente da forma devida.
Hoje a tarde eu sobrevivi ao ciúme que sinto da vida que levava e que não me pertence mais, relevei a busca incessante da minha supervisora neurótica por algum erro absolutamente sem importância para o todo do trabalho e mandei uma mensagem pro rapaz que está longe de ser o homem da minha vida, mas que é garantia de bom papo e beijos quentes. Ele me despistou. Fui na padaria e comprei um bolinho natural pra aplacar a tristeza. Pro outro não tem volta, pra frente não existe. Fui ver a peça da Clarice Lispector. Boa, na medida. Vi um menino por quem eu era apaixonada na faculdade. Nos olhamos e não nos falamos.
Meu pote até aqui de mágoa já transbordou faz tempo.
mas no pastel com os amigos de depois
no irmão da amiga
e na amiga da irmã
a minha sexta feira foi de paixão.
Vou dormir.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Niilismo de mocinha.

Comecei um trabalho novo no mesmo lugar recentemente. Agora não vejo mais a baía de Guanabara azul e sem ondas. Vejo a Lapa do sexto andar. É gente indo e vindo, a lateral da escola de música da UFRJ, a Escola de Desenho Industrial da UERJ e o Passeio Público. Volta e meia tem um rapaz negro de dread que pluga uma gritarra não sei onde e fica cantando o dia inteiro. É bom o repertório dele, tem Legião, Cidade Negra e Cazuza. Antes eu trabalhava com fotografias, agora são textos. Peguei hoje a Coleção Nara Leão. Eram letras e mais letras escritas a mão por ela. Ninguém mais escreve músicas inteiras a caneta, só adolescentes, eu acho. Me lembro que eu e minha amiga Patricia queríamos a letra de "Smels like teen spirit" e não encontrávamos em lugar nenhum. Aí veio a internet e os limites se perderam. Queria ser que nem charmosa e interessante como a Nara. Queria ter a importância dela. Penso que é ela o grande sujeito da Revolução da Música Brasileira. Nessa onda que a História está de atribuir a devida importância aos individuos, posso dizer que é da Nara a minha trajetória artística favorita.
Tô afinzaça de um carinha aí, acho que ele corresponde, mas não há sintonia. Não consigo dizer a ele o quanto me sinto atraída. Tenho vontade de dizer: "Oi, quero dar pra você", mas tenho que ficar nessa ladainha ridícula de "E aí, como vai a vida?". Uma merda isso. A Nara não devia ser assim. Com toda a delicadeza dela os homens deviam brotar no chão. Ai ai ai, meu Deus, cadê as minahs estratégias de sedução?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O quereres.

Esse beijo que eu guardo na garganta e que insiste em sair murcha e ascende a cada segundo. Foi num plim plim que eu deixei de te amar. E quando passo perto da sua casa ainda te amo. Como ameixas e nozes a tarde pra não te querer de novo. Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz e de nada adiantou. Não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim. Terminou.

Genealogia.

Tenho cinco minutos, sou mulher, bebo, como, gosto de pimenta e não adoço suco de laranja. Não me atraio por homens fardados e vejo minhas hierarquias internas cairem por terra todos os dias. Vi uma mulher sem perna tentar seduzir o homem que era pra ser meu, homem esse que eu entendo de longe e que amo de longe, mas isso não é uma questão anymore. Era linda a moça, mas não tinha uma das pernas. Joguei todo o meu ciúme na perna ausente e me alegrei com a Macy Gray que está tocanco agora no rádio. Fiz um cd pra ele. Tinha essa música, mas ele não ouviu. Quanta coisa ele não sabe, quanta coisa ele não quis saber...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Deus não dá asas a cobra.

Segunda feira de manhã no trabalho ela fez uma reunião de emergência. Tinha passado o domingo inteiro conferindo as atividades da semana e encontrou dois problemas pequenos, mas que devem ser investigados. A tarefa já foi terminada, mas ela não admite deixar qualquer furo. Por estar cansada de associar sequências numéricas infinitas, pediu ajuda ao marido. Eram folhas e mais folhas de anotações dela e dele. Estava de cabelo em pé e rouca.
Seu salário não compra um buldogue francês.
Alguém manda ela ser feliz?

Alforria.

Se eu fosse uma mulher poderosa
e se eu soubesse ficar quieta
eu diria o "Volta pra mim" que tanto venho ensaiando
e mandava o resto pro Inferno.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O mundo só é grande pra quem esquece.

Enquanto isso durante um intervalo nas palestras de um Seminário sobre a História do Individuo:
- Oi, você é aqui do Rio?
- Não, sou de Porto Alegre.
- Humm...Qual o seu nome?
- Igor?
- Hummmm! Você veio ao Rock'n Rio?
- Vim no show do Guns, por que?
- Porque eu te conheci lá.
- É?
- É. Foi no meio do show do Oasis. Eu e uma amiga [a gente] tava tentando passar e não conseguia. Aí você e um amigo seu também tavam tentando e ajudaram a gente.
- Nossa! E você lembra disso?
- Não, é que depois a gente ficou conversando...
- Ficou?
- Ficamos. Você até me ligou de Porto Alegre...
- Bah, que memória a tua!
- Pois é!
- E aí, você fez Historia?
- Fiz sim. Faço Doutorado na Unicamp. Você fez História também?
- Fiz sim, fiz aqui na UFRJ mesmo. Vou tentar o o mestrado esse ano.
- Legal! Estuda o que?
- Estudo Tropicalismo. Na verdade eu quero estudar as referências populares que o Tropicalismo usa pra discutir o interesse que existe nisso, a colaboração desse movimento para a flexibilização da idéia de cultura popular e erudita no Brasil e tal...
- Hum...Legal.
- E você estuda o que?
- Estudo escravidão, mais especificamente eu análiso os escravos de uma fazenda algodoeira do Sul do Rio Grande na segunda metade do século XIX.
- Hummmmmm! Legal! Você tá livre agora?
- Tô..
- Quer tomar um café?
- Pode ser... Aqui mesmo?
- Não, lá fora. Tem uma confeitaria boa aqui perto.
- Vamo então.
- Vamo.
- Mas aí...você gostou do show do Guns?
- Pô, pra caralho!
...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Distraídos venceremos.

" O que óbviamente não presta sempre me interessou."
Clarice Lispector se tornou o ídolo das mulheres que não tem nada a dizer. Confesso que gosto muito das frases, dos contos e dos livros dela, mas me irrito com algumas citações da autora jogadas ao vento no Orkut. No entanto a afirmação acima, postada por uma amiga antiga que tem muito pouco a dizer, serviu tão certinho para o meu momento de ode ao óssio que não pude evitar falar sobre ela.
Nesse momento da minha vida TUDO é mais interessante do que estudar. Eu durmo, ouço música, procuro um cachorro pra chamar de meu, me meto a escrever sobre os restaurantes que frequento e até mando e-mail para o colunista pseudo-bonzinho e quase chato que escreve sobre bares no Jornal do Brasil. Mas estudar que é bom nada.
A seleção para o programa de pós graduação que eu não quero pra mim, mas que é o único pláusivel nesse momento de vastas emoções, pensamentos imperfeitos e dias cansativos no trabalho, começa daqui a menos de um mês e isso não me diz nada. Quero tentar, mas não tenho forças. E não há justificativa. Não estou sofrendo, não tenho traumas, tenho tema e uma vontade enorme de fazer o mestrado. Arrisco dizer que a essa altura da vida esse é o meu objetivo maior. Tenho pressa sim, não vim ao mundo a passeio, mas estou com preguiça. E quer saber? Não me sinto culpada.

sábado, 17 de outubro de 2009

De uma Vila Isabel verdadeira

Dos sete aos dez anos eu estudei numa escola de Vila Isabel. O ônibus que me trazia pra casa dava a volta pelo bairro todos os dias a tarde. A última menina a ser deixada em casa era a Vanessa, que morava no Méier. Eu adorava quando o motorista aceitava deixar o pessoal da Tijuca depois dela, só pra ir até lá.
O tal homem que me fez perder o sono recentemente costuma dizer que sonha em morar em Vila Isabel, mas mora no Flamengo. O româmtismo do suburbio quase metropolitano presente ali o seduz, mas não o pertence. Só Freud pode resolver.
Fui a uma vidente na rua Torres Homem há uns três anos. Da rua do lado, um amigo meu se mudou, foi morar na Barra. Comprei minha saia jeans mais versatil na Cantão do Shoping Iguatemi.
Vila Isabel pra mim é um lugar que se segurou no tempo que já foi. São as ruazinhas doces e o comércio simples, as calçadas cheias, a Tijuca aqui e o Grajaú ali. Não tem tiro que diminua a pompa do nome de princesa. Não tem helicóptero que amargue a 28 de setembro.
Sinto muito por esse sábado cinza. Falta samba. Falta escola.
E eu nunca mais andei por lá.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O céu de Suely.

Quero romance. Ofereço sexo selvagem, comidinhas gostosas e um amplo horizonte de novas sensações. Sou alta, voluptosa, tenho a pele macia e a parte mais bonita do meu corpo são as sardas dos meus ombros. Raramente não pinto os lábios e tenho uma mecha branca bastante charmosa em meio aos cabelos castanhos lascivos. Sou inteligente e tenho olhos de boa moça. Mordo.
Os interessados devem mandar e-mail para cecitah@ig.com.br respondendo qual é a passagem artística (música, filme, escultura, atletismo...) que melhor expressa a vontade de amar.
Garanto momentos inesquecíveis.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Resignação.

Nada dói mais do que o amor. Não tem problema no trabalho que seja mais difícil. Me sinto aliviada quando me dou conta disso porque as minhas angustias dessa semana nada têm a ver com os homens. Não acredito na inteligência pura, nas demonstrações de erudição e perspicácia nos bares e esquina da vida. Preciso empregar o que há de sagaz em mim. Isso é o que diferencia os espertos do resto da humanidade e não sei de que lado eu estou.
Já cansei de ver pessoas que começaram a vida depois de mim me passarem a frente e conheço dúzias de incompetentes que são poderosíssimos. Isso não me incomoda. Preciso dar um jeito de fazer com que a minha voz faça diferença. Demora, eu sei, mas é por aí.
Por conta da peça que eu assisti no sábado ("Nu de mim mesmo" da Cia autônoma de teatro) tenho pensado sobre as coisas que eu mudaria no passado. As vezes acho que se eu tivesse conhecido ele agora, e não há 4 longos anos, nós poderíamos ter dado certo. Mas aí eu não estaria onde estou hoje. E eu gosto de onde estou hoje. Gosto do que sou hoje.
Aprender a silenciar e agradecer é o que falta pra mim.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sem talento.

Eu sou uma mentira.
Não entendo porra nenhuma de amor, História, livros e documentos.
Não mando em ninguém e invirto situações todos os dias pra poder acreditar no meu potencial de conquista.
Sou um quinto do que a minha autopropaganda promete.
Nunca tirei dez e desisti de aprender francês.
Meus sacrificios são relativos.
Não nasci pra ser star.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Brasil é o país do futuro.

Ontem quando eu saí de uma peça no CCBB vi o final do show do Paulinho da Viola. Como é bonito ver "Um rio que passou em minha vida" ao vivo! Todo mundo começa a dançar, cantar e sorrir. Não sei se é possível não se contagiar com aquele espetáculo. Não foi a primeira vez que eu vi um show do Paulinho da Viola, mas nessa música a emoção foi inédita. Fiquei pensando no Brasil, no Rio de Janeiro e na Portela e me senti uma ufanista cheia de causa e cafonice. Me sinto assim também diante dos comerciais da Petrobrás que passam antes dos filmes no Odeon. Tenho vergonha do nacionalismo desmedido, mas não posso negar, compactuo com ele.
No dia da escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpiadas de 2016, fiquei rindo sozinha na rua de tão feliz. Quando vejo o Lula me emociono, gosto demais dessa nossa ausência de austeridade. As nossas poucas glórias nos fizeram permissivos e talvez desiludidos. Tem um lado bom nisso. A Argentina, que é uma eterna casa de avó, com tudo de mais delicioso que isso inclui, me parece ainda acreditar na Revolução (e nos mullets), assim como a mãe de uma grande amiga minha que hoje num almoço divertidíssimo no Árabe da Lagoa, me disse que o Socialismo está só começando. Não tenho argumentos. É uma questão de fé.
Estamos longe do fim do homem cordial, mas mastigamos cada pedacinho que nos interessa do que é dos outros para sermos fortes. Não ignoro a miséria, a fome e o baixo salário dos professores, mas cansei dessa retórica da perda. Quero tudo pra cima.

sábado, 10 de outubro de 2009

Reclamações.

A falta de autonomia no trabalho, o ciúme que eu venho sentindo de uma grande amiga com um grande amigo, a conversa pouco elucidativa que eu tive ontem com um homem por quem eu não sou apaixonada, mas que é o único que habita o meu horizonte de expectativas nesse momento e que em plena sexta feira me perguntou se eu não queria sair com ele durante a semana, o Caetano saindo com a amiga do amigo e a ausência de um traje adequado para o casameno vespertino de hoje me tiraram o sono.
Conectei a Rádio Cidade online e está tocando aquela música póstuma do Nirvanna, "Make you happy". Fico feliz. Me sinto estagnada. Não estou com a mínima vontade de ler nenhum autor a essa altura do campeonato e as provas dos possíveis mestrados que eu quero tentar são daqui há um mês. Tenho vontade de jogar isso pro alto. Estou trabalhando num lugar novo, com pessoas diferentes, cumprindo atividades com as quais tive que adquirir uma intimidade relâmpago e que têm prazos rígidos para serem terminadas. Não posso ser um desses cabritos que berram o tempo inteiro. Me sinto sufocada e tolida. Tenho tomado cápsulas de feijão branco, chá branco e um litro de água no início do dia pra tentar emagrecer, mas não me libertei do brownie da padaria mais próxima. Saí com o cara mais bonito do mundo na quarta feira e fiquei incomodada com o fato de ele me achar certinha demais. No entanto acho que é isso mesmo, não fumo, tenho evitado até os refrigerantes, quero a sorte de um amor tranquilo e minhas experiências sexuais só vão até a página dois. Quero mesmo uma dessas relações de mulherzinha, com cinema, jantar e cama. Meus valores burgueses estão entranhados. Me importo com dinheiro sim, não escondo. Me incomodo profundamente com essa chuva torrencial interminável dos últimos dias.
Não sei se fico ou se vou, nunca sei.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A ressaca da paixão.

Estive pensando sobre o "cara estranho" e o "cara valente" do Marcelo Camelo serem a mesma pessoa. Suponho ainda que seja esse homem um dos "bravos sãos e salvos de sofrer" a que se refere "O vencedor". Quem tem medo de ficar sozinho outra vez em "Santa chuva" também é ele. É ele que está do lado de dentro. É por ele que ela não quer viver as coisas. Eu não quis.
Estou deixando o moço bater, cansei da fuga. Quero paz, me exibo pra solidão e devagar me dedico cada vez mais. Não sou muito de ganhar, quero dançar com outro par pra variar e hei de encontrar um encantador, um novo ou velho amor.
Me identifico muito com a forma que o Camelo fala da covardia nas letras dele. "Acho que não vai dar, tô cansado demais..." é uma frase recorrente na minha cabeça desde o ano passado.
Ontem vi o filme novo do Tarantino. É realmente uma história de personagens bastardos e inglórios construídos de forma meticulosa e envolvente. Estou com a Shoshanna Dreyfus latejando aqui. Penso no strudel com creme que ela dividiu com o homem que ordenou a morte da sua família inteira e no olhar de misericórdia após o tiro no Daniel Brühl, que denuncia o quanto os dois eram diferentes. Me dói o letreiro do cinema, o negro amante e os olhos azuis arregalados da mocinha.
É um desacato o Tarantino, um desacato.

Na bagunça do teu coração.

Com isso de trabalhar o dia inteiro, a hora do almoço ganha toda uma importância diferenciada. É o momento das novidades. Hoje, procurando um restaurante com uma amiga, me senti cheia de poderes por ter tantas opções de escolha. O Centro do Rio meio dia é o mundo. Optei por comida árabe com hot filadelfia e gengibre. Tenho a sensação de ser tão dona de mim nesse momento do dia que até me estimula pensar em amanhã.
São camelôs, homens de terno, doces baratos, ingressos pro cinema de mais tarde e controles remotos universais. Preciso de um que desligue o botão da esperança enganada que eu tenho no outro e que ative o comando "sensualidade" do menu principal.
Quero um guia. Não sei onde vende.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Devassa encantada.

Então eu, nas investidas dessa vida, saio com um rapaz que é MUITO interessante. É um homem bonito, que é inteligente, tem a voz deliciosa, é simpático, gostoso pra caralho e que ainda me trata com carinho. Beleza, marcamos um cinema. Chegando lá eu percebi que ele me acha um bibelô, estudiosa, boazinha, tímida e discreta. Fico sem saber como explicar a ele o garnde equivoco. A gente bate papo, vê o filme e vai embora. Ninguém se usa mutuamente e os assuntos relacionados a libído não parecem ter lugar.
Alguém diz a ele que eu falaria as sacanagens mais baixas no ouvido dele agora? Alguém diz?

domingo, 4 de outubro de 2009

Desencanar.

Ok, isso de amor acabar não existe. E como já dizia o "Canto de Ossanha", "O homem que diz sou não é porque quem é mesmo é não sou.." não vou ficar me prometendo o repentino esgotamento dessa paixão. O ponto final que eu posso dar é na teimosia de achar que ainda há o que fazer. Não há. Tenho que ser livre.

sábado, 3 de outubro de 2009

Dor de cotovelo.

Dormi, acordei e as lágrimas não chegaram. Tenho vontade de espalhar faixas enormes com os defeitos dele pelo Rio de Janeiro olimpico. Quero que ele lamente cada mentira que me contou. Quantas histórias patéticas eu fingi achar bonitas! Quantos incômodos eu relevei por estar apaixonada! Quanto amor eu desperdicei, meu Deus!
É recalque sim, não tem outro nome. Passei o ano inteiro sem conseguir beijar ninguém na boca de tão apaixonada e ele lá, repetindo a mesma ladainha pra outra na minha frente sem se importar. E por que raios ele teria que se importar? Ele não é seu, Cecília, entende isso!
Vou deixar ele ir embora de mim, está na hora.

O dia que o amor acabou.

Hoje eu vi o homem da minha vida beijando uma mulher na boca duas fileiras na minha frente no cinema. Ele sabia que eu estava ali. Não vi o filme. Fiquei do lado de fora batendo papo com uma amiga. Estou sofrendo por esse filho da puta há seis meses. Nos reencontramos há uma semana e desde então ele tem tentado ser demasiadamente agradável comigo. Tenho reagido com sorrisos e só. Não expus minha saudade nem a minha indignação. Dissimulei, causei ciúmes e sorri. Não funcionou.
Hoje quando eu o vi, tão carinhoso com a outra, foi muito difícil. Não é certo comigo.
Tanto investimento num cara que me considera tão pouco...
E eu querendo casar com ele, que idiotice! O balde de água fria foi tão forte que me deu sono. Ainda não chorei, estou até alegrezinha porque o resto da noite foi ótimo, mas é provável que as lágrimas não tardem a chegar.
Não quero mais ele. As verdades dele são muito pouco paupáveis. De que adianta tanto talento se ele não pode amar?
Desejo que ele seja gordo, sujo, brocha e complexado para sempre. Já eu vou continuar linda, macia, selvagem e querida. Pode ser que lá no fundo eu continue pensando nele e que nunca entenda qual a razão para não ter sido correspondida, mas na minha vida as entregas vão ter que ser reais. Chega.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tijolo por tijolo.

Meu potencial de mulher perfeita foi de encontro a uma repentina indiferença. Bati de frente com o personagem que ele veste e com a gentileza que eu queria que fosse desejo. Procurei o outro na mesma hora. Não quero o outro, quero ele. É tão simples...
Tive vontade de ir pra casa dormir, de não ir nunca mais a lugares aos quais eu não pertenço e de comer chocolate. Meus personagens são menos distantes de mim do que os dele. Minhas invenções comportam pouca coisa além de dissimulações estratégicas. Não finjo ser estudiosa. Tenho preguiça em cada cantinho de mim. Os dedos vão estalar, sai ele, entra o Bourdieu. E eu não me importo com a expansão do universo. Não tem mais clima. Haja cimento nessa vida, puta que pariu.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Argila.

Não posso voltar de onde eu nunca saí. Estive no mesmo lugar esse tempo todo, ele foi embora. Não sei como reagir aos agrados dele, nem como demonstrar o meu carinho sem parecer obsecada. Me proibi de fazer perguntas, de dizer que estou com saudade e de reclamar de qualquer coisa. Pra alguma coisa tem que servir sofrer tanto. Meu potencial de mulher ideal precisa vencer.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Longe da casa no campo.

O mundo acontece e algumas pessoas preferem ficar em casa. Sempre me pergunto como deve ser isso. Em 2001, no Rock'n Rio, eu tinha 15 anos. Fui comprar meus ingressos no primeiro dia de vendas, custava 17 reais a meia. Comprei pra três dias e acabei indo a quatro. Vi REM, Oasis, Guns and Roses, Silverchair, entre muitos outros. Certamente foi um dos momentos mais importantes da minha adolescência. No entanto, conheço gente, meninos e meninas até mais velhos, que nem se importaram com aquela apoteose.
Tenho até hoje, amigos que são imunes a essas grandes comoções socio-culturais das quais eu gosto tanto, FLIP, Festival do Rio, show do Chico Buarque, Feira de filhotes e o que mais vier. E não é por falta de dinheiro. Muitos desses desinteressados têm boas condições financeiras e não vão por preguiça ou por alienação mesmo. Me arrependo amargamente de não ter ido ao show do Pearl Jam (estava enjoada deles na época, consequência da Rádio Cidade, que tocava "Black" a cada meia hora). Gosto de ir onde está todo mundo, de me sentir fazendo parte, de imaginar a minha voz nas gravações ao vivo e lembrar de tudo depois.
Não tenho paz de espírito, quero ser fundamental.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Espera premiada.

Filmes e beijos bons me alegram. Isso de ser triste é charme. Homens errados, reprovações e solidão passam. Definitivos são os mosquitos.
Aí eu choro um pouquinho ali, me lamento outro pouquinho aqui...
E nessa segunda feira a noite, quero ser a Marilyn Monroe*.

*O Jair, um funcionário do Museu onde eu trabalho, me contou, hoje a tarde, que quando a Marylin Monroe marcava uma entrevista as onze da manhã ela chagava as quatro da tarde. E como resposta aos produtores que ligavam desesperados ela mandava que seus assistentes dissessem: "Eu esperei muito por eles, agora eles que me esperem.".

domingo, 27 de setembro de 2009

"Viajo porque preciso, volto porque te amo" *

Eu casaria com você agora, largaria tudo, mudaria o que você pedisse, cuidaria dos seus medos e das suas roupas. Eu ouviria as mesmas histórias inventadas e os mesmos casos repetidos e acharia graça sempre. Eu te amaria sempre.
Com você é fácil. Com você funciona.
Quem me lê não entende.
Depois de você os outros não são nada. Deus me livre de ter novamente que beijar sem ter vontade.
Mas Deus se doeu da minha solidão e da minha amargura requentada e mandou outros. E eu beijei. E eu te amo.
Você não está aqui. Eu sinto o seu ciúme e mais nada. Rompi com o mundo, queimei meus navios, fiquei a deriva.
Estou vagando por esse mar sem peixes há meses. Estou cansada.
Eu não sei te dizer mais nada.
Não soube fazer você me amar.
Volta pra mim
Volta pra mim
Volta.

*O título do texto é uma homenagem ao novo filme de Karin Ainouz e Marcelo Gomes que conta a história da viagem solitária de um geólogo pelo nordeste. Com direito as melhores músicas cafonas e declarações de amor baratas, foi com certeza a dor de cotovelo mais bem contada que eu vi nos últimos tempos. A melhor parte é quando o homem abandonado diz que não volta porque ainda ama.
Por muito tempo eu também quis viajar pra te esquecer, mas não pude. E ainda te amo.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sexta feira santa.

Não quero mais entender os pesadelos dos outros. Tãopouco me interessa a pouca sensualidade das mulheres bonitas e não me importo com os prazos a serem cumpridos. Em meio aos amigos que procuram apartamento e iniciam novos projetos de vida, não cabe a minha mediocridade e os meus assuntos inertes. Me atraem os sentimentos que não fream e as rejeições latentes. Não tenho calendário. Paralisei meu trabalho faz tempo por conta da vontade de amar. Hoje todas as lágrimas que estavam em mim saíram. Doeu pra expulsar cada uma. Agora vou mergulhar na vida. Adeus.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem roupa.

E se hoje eu decidisse não ficar mais nervosa com a rua molhada em dia de chuva?
Se passasse a dormir mais cedo e lesse pelo menos cem páginas de qualquer livro por dia
Se me desapegasse das amizades pequenas, das pessoas pouco cuidadodas, que não administram bem o próprio caos e acabam se tornando brutas
Se não optasse pelo mais caro
e não mentisse mais
se deixasse de pensar em você
e a maçã, o chão da rua e a cama não fossem mais nada
certamente eu seria mais feliz
mas fui gostar de sol
e me entrego duas vezes antes de pensar
É como pode ser.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Verdade.

Um dia eu vou me chamar Estela, vou morar num país onde não existam mosquitos e toda manhã vai tocar "Hey Jude" no meu rádio. Vou comer Nha benta da Kopenhaguen no café e essa história de que um dia a gente acaba encontrando a pessoa certa vai ser verdade.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Antes que um aventureiro lance mão.

Brócolis comum, folha por folha lavadas e refogadas com alho, cebola e vontade de emagrecer. O mesmo pode ser feito com cenoura.
Champigons, palmitos e uma paixão não correspondida ajudam.
Água, nozes, alguma carne sem gordura e capsulas de feijão branco.
Esmalte roxo affair, sabonete, tônico para o rosto e desapego.
Batom vermelho, rímel, chefe mercenária e salário que atrasou.
Livro na bolsa.
Filmes no sábado.
Eu posso.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A chuva já passou por aqui.

Tenho inveja da forma como as pessoas se apropriam dos lugares. Queria ser dona do Leblon e de São Paulo, mas nem a praia da Barra me pertence. Passei o dia tentando ler sobre os estabelecidos e os outsiders. A busca por uma fórmula de emagrecimento a jato me desconcentra. Cismei de não ingerir mais carboidratos e produtos industrializados na esperança de recuperar minha autoestima rapidamente. Não sei até quando vou aguentar. Chove muito. Eu vou mudar, vou gostar de coisas que ele nunca imaginou, vou esquecer minha velha paixão. É muito tarde pra ligar.

domingo, 20 de setembro de 2009

Quero descer.

Tenho associado felicidade a passar no mestrado, é uma ilusão, mas não estou disposta a desistir dessa meta. O problema é que dada a derrota da primeira batalha, o meu time se desestruturou e agora o dobrado a ser cortado é grande. Existem três opções, cada uma com seus pormenores. Não sei que caminho privilegiar, nem que estratégias traçar. Quero mudar de área, estou certa disso, mas tenho medo de não estar preparada nem para uma prova sobre textos que me são familiares, que dirá para os autores distantes.
Não tem cabimento isso de os programas de pós graduação exigirem projetos detalhadíssimos e cronogramas de atividades. Como alguém pode planejar uma pesquisa que não começou? É a prova de que historiadores são pretenciosos a ponto de acharem que podem prever o futuro. Eu não sei nem o que vou fazer amanhã, que dirá daqui há dois anos! A venda antecipada para o Festival do Rio já vai começar e eu aqui cheia de dúvidas e textos pra ler. Fiz minha lista de filmes, mas a manhã da minha segunda feira me é muito cara nesse momento. Almodovar e Tarantino ou Norbert Elias? Quem me faz mais feliz?

Receita nova.

Não quero ser igual a minha mãe, me desentendo com minhas amigas da escola e nem vestidos pretos me caem bem. Dei pra brigar. Saio dizendo tudo sem muito tato. Deixo as pessoas irem. O irmão de uma amiga da escola namorou por oito anos uma menina que conheceu na faculdade. Ele nunca foi apaixonado por ela. A menina não era vaidosa, não usava calcinhas provocantes e não gostava de praia. Surgiu então uma ruiva feliz que vai a praia e adora cachorros e o namoro morno terminou. O rapaz agora está feliz e aliviado. Estou feliz por ele e pela ruiva e me pergunto se a outra, que deve estar sofrendo consideravelmente, vai se tocar que precisava usar lingerries sensuais. Será que eu preciso perceber alguma coisa desse tipo? Será que dá pra querer ser feliz gordinha? Pra mim não dá, eu sei. Não fico bem, meus traços não são harmônicos.
Quero uma Revolução. Chega de planos mesmos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sol desperdiçado.

Quanto céu azul pra pouca comemoração! Não sei pra que serve isso de ser brasileiro, apaixonado e forte. Bom deve ser nascer entre os antigos, os estabelecidos. Estou disponível, lotada de tragédias mexicanas e de amores fora do padrão. Não tenho pra quem entregar o descontrole. Apego mata, fome não. Tinha um bolo de bolo mesmo que era muito gostoso no café da manhã dos domingos do ano passado. Passou. Não volto mais lá. Saudade nenhuma.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

No limite.

Passada a vontade de chorar de ontem, veio a vontade de chorar de hoje. Sou uma mulher sozinha e sem mestrado. Preciso arrumar paciência pra ler outros autores, escrever outro projeto e encontrar fontes e modelos teóricos. Dai-me forças, Senhor!
Estou me exibindo pra solidão. Fui rejeitada por um homem e por uma pós-graduação. Não sirvo nem para amar nem para estudar. Minha função no mundo é ouvir Legião Urbana. Tenho amigos, família e trabalho, mas não me contento. É pecado mesmo, nunca tive pretenções de ser resignada. Não quero ter atitudes grandiosas nesse momento. Estou cansada.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em linha reta.

O edital saiu em junho. Tirei xerox de todos os textos. Comecei pelo Weber. "Classe, estamento e partido". Depois Bourdieu, a introdução de "As regras da arte", Durkhein, "Métodos primitivos de classificação", Mauss, "A noção de pessoa", Sérgio Miceli e o programa da Hebe Camargo, Becker, "Outsiders", Roberto Damata com seu plágio relevante do Sérgio Buarque de Holanda, "Você sabe com quem está falando?" e Mary Douglas com "Pureza e perigo". Fichei os oito textos, escrevi resumos já com as idéias organizadas, li comentadores e pedi ajuda aos amigos da área. Antes disso teve o projeto e a carta de intenções que eu elaborei e reelaborei com todo o cuidado um milhão de vezes. Cheguei a escrever na minha agenda o nome das pessoas que me ajudaram pra não esquecer de agradecer. Veio a prova de inglês, 144 pessoas. Passei. Na prova dissertativa eram 96 concorrentes. Perguntavam a diferença entre um grupo de individuos e uma sociedade e na segunda questão questionavam se pensar é classificar e se classificar é constituir ordem social. Usei sete autores na primeira e cinco na segunda. Cinco laudas de prova. Enfase em Weber e Durkhein, todas as associações bem feitas. Rascunho lido e relido. Passei a limpo e saí faltando 10 minutos pro tempo acabar. Tive certeza de que tinha feito o meu melhor. Era uma quinta feira de sol e alivio. Aguardei por tês longas semanas e contei as minhas respostas até pro meu porteiro. Desde quinta feira passada eu já olhava o site pra ver se o resultado tinha saído. A porrada veio hoje as 11 da manhã. Tirei 4,5 na tal prova e não passei. Não entendi. Não é pra entender. Vou tentar outras duas ou três seleções e ler mais uns 30 grandes nomes do pensamento social brasileiro e mundial. Não quero mais ser historiadora, mas não sei se vão me aceitar em outro lugar. Não sei fazer melhor. Me envolvi e me empenhei por três meses e agora me resta aprender com essa nova modalidade de derrota. Que merda.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Métodos primitivos de classificação.

Tenho andado muito apegada a minha casa. Só de pensar em ter que dormir com outros lençóis e tomar banho em outros chuveiros já fico aborrecida. Isso quer dizer que eu não tenho dormido na casa dos outros e que não tenho viajado. Sinto sono cedo, mas não durmo direto. Acordo, ouço música, leio, escrevo, vejo televisão e durmo de novo. Só no meu quarto posso fazer tudo isso. Me tornei metódica com tudo que é meu. Minhas blusas ficam separadas das saias, que ficam separadas dos vestidos. Os batons estão arrumados de acordo com a frequencia de uso e os objetos que eu levo na bolsa ficam num lugar específico da estante. Meus livros são divididos entre os academicos e os de literatura. Numa outra prateleira ficam os que são sobre o meu tema de estudo. Tomo muitos banhos e detesto sabonetes verdes e roxos. Não gosto de sentir a toalha oleosa nem de ver frascos vazios de shampoo no boxe. A geladeira também tem que ser organizada. Nada de panelas destampadas ou produtos amontoados. Sou fresca. Fiquei velha. Preciso transar urgentemente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os amores de 1998.

Hoje encontrei o Hugo Da Cal.
Eu era apaixonada pelo Hugo Da Cal. Eram dele os meus recreios e as minhas esperas na saída da escola.
Dividimos a mesma rua, eu e ele. O mesmo cep, as eventuais faltas de luz e o caminho de ir e vir.
Acabou a escola e eu raramente o encontro.
Ele passou.
Passou?
Será que o Hugo Da Cal passou?
Não sei. Acho que ele também não sabe.
Viveremos eternamente frustrados por nunca termos sido nada um do outro. Por toda essa ilusão, esses olhares a toa...
Meu Hugo Da cal, magro, com carinha de menino...nunca foi meu.
Hoje dividiu novamente a calçada comigo,como no dia em que ficamos assistindo juntos ao prédio da esquina pegar fogo, no tempo em que não precisávamos de quase nada para sermos felizes.
Que vontade de chorar me dá encontar o Hugo Da Cal depois desses anos todos,
que vontade de conversar com ele.
Ficamos tão pertinho...
De onde ele estava vindo?
E eu?
Ele não sabe, nunca soube.
Somos nada um do outro e ele é tanta coisa.
Hoje eu tenho alguém, ele também tem.
E nós continuaremos vizinhos distantes
que se encontram de vez em quando
e que sofrem quietinhos.

(Rio,16 de junho de 2008)

Hoje, 14 de setembro de 2009, eu novamente encontrei o Hugo Da Cal na minha rua. Não me senti tão angustiada quanto no ano passado, quando escrevi esse poema, mas por conta da ocasião, resolvi postá-lo. Ele é uma dessas coisas que não aconteceram e que por isso mesmo tem muita importância.

domingo, 13 de setembro de 2009

O pouco que sobrou.

Quando eu entrei na faculdade não me identifiquei rapidamente com ninguém. Depois de algum tempo conheci melhor as pessoas e fui me sentindo avontade com elas. Passados seis anos o afastamento é natural. Alguns colegas eu encontro diariamente e só falo amenidades, outros demonstraram não ser confiáveis e uns poucos permanecem. Com esses últimos não é preciso conversar todo dia, nem encontrar frequentemente. Nossa sintonia é imune a distância e a inveja natural dos seres humanos.
Não existe isso de melhor amiga na vida adulta, mas nós, certamente podemos contar umas com as outras para gargalhadas, lágrimas e problemas sexuais. Coincidentemente temos sentido necessidade de escrever em blogs. Queremos publicar a nossa dor. Sabemos que somos muita coisa, mas nos angustia tudo o que ainda falta. Nos expomos porque temos consciência de que o que nos habita interessa aos outros, mesmo que os outros sejam apenas nós mesmas.
Não nos compreendemos integralmente, mas somos fiéis. Não dissimulamos a preguiça, a indecisão e os fracassos. Somos gente de verdade, que faz fofoca, se engana, come muito e sente medo. Devido a nossa grande disponibilidade para amar, tentamos acertar o ponto da comida, as cores da moda, o amor e a profissão.
O mundo há de nos descobrir.

Noite feliz.

Lapa sábado a noite, vestido estampado e sombra verde. Lanchei numa padaria ótima, fui a casa de uns amigos, voltei pra rua, encontrei um professor, um antigo amor e uma meia duzia de conhecidos pouco importantes. O antigo amor estava beijando uma menina. Ele é muito especial. Quando a gente saía eu fingia que era madura e ele fingia não se importar. Deu tudo errado. Acabei mostrando que era uma bobona e ele passou a não se importar mesmo. Nós ficávamos de madrugada no parquinho da Praça Afonso Pena quase sem roupa. Era muito bom. Não temos mais nada a ver, mas eu queria poder conversar com ele. Sinto saudades.
A Lapa em noites claras como a de hoje, na temperatura certa e com pessoas agradáveis, é o melhor lugar do mundo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Se ele me chamar agora, eu vou.

Sonhei que eu passava na prova. Eu entrava no site do programa de pós graduação de Sociologia e Antropologia e via que tinha sido selecionada pra entrevista. Ainda dormindo me dei conta de que era sonho e parei de fantasiar. Comecei então a sonhar com o rapaz que me deixou. Nós nos encontrávamos numa espécie de jardim ingrime, que no sonho ficava atrás do Shoping Tijuca. Eu dizia muitas coisas a ele e o acusava de covardia e falta de sensibilidade. Ele, se sentindo atingido, dizia que eu estava gorda e que tinha envelhecido. Ele também tinha engordado. Eu falava "Que isso..." e as palavras duras dele amoleciam e nós combinávamos de nos encontrarmos mais tarde. Eu ia ao salão fazer a unha e só quando estava em casa me dava conta de que além de ter pintado de branco, coisa que eu nunca faço, a manicure tinha esquecido uma unha sem esmalte. Aí um mosquito me acordou. São sete e dez da manhã de mais um sábado sem aleluias. Isso precisa acabar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre o último capítulo da novela.

Não é novidade que a maioria dos escritores de telenovelas têm dificuldade para finalizar suas histórias. A sensação que eu tenho, como noveleira que sou, é de que no último capítulo a inteligência do telespectador não precisa mais ser testada. Não é mais necessário arrastar sofrimentos ou fazer transformações forçadas e brutas para encaminhar a história. Aí a obra pode ser impecável. Não vai fazer diferença se não gostarem.
Gilberto Braga é o rei das boas novelas e minisséries que têm finais terríveis e moralistas. Até hoje eu não me conformo com a morte da Laura, nem com a do Olavo. No entanto esses deslizes não apagam a delicia que era ver a Bebel ou o Marcos (Márcio Garcia num papel que deu certo) esbanjando com charme a pouca classe que tinham.
"A favorita" foi uma das poucas novelas que respeitou a inteligência do telespectador não só no último capítulo, mas durante quase todo o período em que foi exibida. Digo com segurança que ali se tinha uma obra-prima.
Não sou do tipo que chora o leite derramado. "Vale tudo" era excelente. "Roque Santeiro então, nem se fala, mas até o Manoel Carlos tem bons momentos, como a Laura da Viviane Pasmanter em "Por amor". Além disso, ver novela é uma delícia. Quando eu não me interesso pelas que estão passando fico até triste.
Pois bem, "Caminho das índias", na minha opinião foi um sucesso. A Juliana Paes é uma mulher linda e carismática que fez da Maya uma protagonista doce como poucas. O elenco era recheado de estrelas que brilhavam em harmonia. Houve problemas sim, como a Leticia Sabatela, mas nada que ofuscasse o bom andamento da trama.
Hoje, no entanto, por alguma razão misteriosa, a coisa desandou. A Maya estava quase se afogando no Ganges quando o Raj apareceu. Sem o filho, descalça e com o cabelo oleoso, a mocinha tava na merda. De repente ele veio e SHAZAN! Ela ficou toda enfeitada e maquiada, os dois se beijaram e tudo se explicou. Ah, a verossimilhança...
Não precisavam raspar a cabeça dela, mas a reconciliação relâmpago sem nenhum tipo de aprofundamento da situação não fez sentido. O desenvolvimento da novela vinha de forma plena e num rompante de artificialidade surgem o casamento da Tônia e do Tarso, a insossa Leinha indo pra Holywood, a passeata contra o banco de semém e a Inês dando mole pro Ademir esquisofrênico. Não precisava.
Porém, ah porém...também houve bons desencadeamentos. A Laura Cardoso, o Toni Ramos e o Lima Duarte, talentosíssimos sem perder o tom, foram respeitados e tiveram finais coerentes. O final da Norminha também me pareceu bem pensado, assim como o da Ivone. A Surya teve o que merecia e as crianças, milagrosamente deram conta dos diálogos direitinho. Até o bebezinho Niraj parecia participar atentamente das discussões da família Ananda. O Duda também teve um bom desfecho. Eu entendo isso do bom coração sem limites. Na minha escola o que mais tinham eram meninos assim. E de pais como a Ilana e o Cesar o mundo está cheio. Também gostei da última cena deles.
A Maya dançando pro Raj foi uma boa escolha para o final. E embora os problemas não tenham sido redimidos, pra mim, esses nove meses de India na Lapa valeram a pena.

"Passa então a amar tudo aquilo que não ganhou..."

Na última Revista de Domingo do Globo, a Martha Medeiros escreveu sobre as melhores coisas que a gente não fez na vida. Decidi pensar sobre o assunto. Essa é clichê a beça, mas tem bons momentos e essa coluna certamente foi um deles.
Pra mim o que de melhor não aconteceu foi um pircing que eu queria fazer na sobrancelha quando tinha 13 anos. Eu sonhava com o pircing, achava que ia ser a minha redenção, que com ele eu seria poderosa e diferente. Minha mãe concordou com a idéia e foi me levar na Banzai Tattoo e Pircing que tem na Praça Sães Peña. Fui toda contente com a minha camisa do Kurt Kobain. Só que quando o rapaz que ia furar viu que eu tinha 13 anos o sonho acabou. Ele não deixou de jeito nenhum e explicou que eu ainda ia crescer e que o furo poderia alterar alguma característica do meu rosto e tal. Chorei horrores quando saí de lá. Hoje, no entanto, eu odeio pircing na sobrancelha, não gosto da marca que fica quando o pircing sai e já não uso mais camisas de bandas de Rock.
Outra coisa muito importante que não me aconteceu foi a aprovação do segundo para o terceiro ano do Ensino Médio da escola que eu estudava. Como a maioria das pessoas, eu nunca gostei de matemática. A diferença era que eu me recusava a aprender. Achava aquilo inútil e, por ser muito boa nas disciplinas humanas e razoável em biologia, ficou claro pra mim que entender os números não era necessário. Até o primeiro ano a escola me aprovava pelo Conselho de classe por conta da minha boa conduta e pelo meu bom desempenho nas demais áreas. Só que justamente naquele ano, eu me juntei a duas amigas fofoqueiras e puxa-saco, que iam contar aos professores que ao invés de ir para as aulas de apoio de matemática, eu ficava em casa vendo Vale a Pena ver de novo ou ia para reuniões do PT. Jutando essas informações com a neurose do vestibular, o conselho não me considerou merecedora da aprovação. Foi uma merda. Eu não sabia o que fazer. Minha mãe praticamente desistiu de mim. Decidi procurar escolas que tivessem sistema de dependência e acabei indo estudar num colégio pequeno, perto da minha casa, onde fui muito feliz. Passei no vestibular pra UFRJ e pra UNIRIO na primeira classificação e esfreguei a minha vitória na cara das duas fofoqueiras infelizes e dos professores que me subestimaram. Lógico que eu fiz isso com toda a classe e óbviamente todos eles fingiram que estavam super arrependidos de terem me julgado incompetente.
Não ter sido correspondida por alguns dos meninos de quem eu gostava também foi bom, não pelo aprendizado, que sinceramente, é dispensável, mas porque hoje um deles é líder de um grupo neo-Nazista em Dakota do Norte nos EUA e o outro além de ter o pau minúsculo ainda é limitado e invejoso.
Espero que um dia eu olhe pra essa última grande paixão que eu não vivi a minha revelia e pense o mesmo. O homem que não me quis é uma pessoa muito interessante e jamais eu vou poder dizer o contrário. Não funcionaria. O que pode me fazer compreender as razões dessa impossibilidade eu ainda não sei, mas aí eu vou fazendo as minhas coisas e as peças vão se encaixando. O que sobrar fica no congelador.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Com a alma aberta.

Eu não paro de pensar na peça do Zé Celso. Foi uma das experiências mais marcantes que eu já tive. Só de lembrar me alegro. A proposta ali é realmente diferente. Só o fato de o espetáculo ser em dia de semana e de durar cinco horas já difere do tipo de teatro ao qual eu estou acostumada.
Isso de a arte ficar martelando na mente é muito gostoso. Já me aconteceu com algumas novelas, Roque Santeiro foi a principal delas. O segundo show do White Stripes no Brasil também me fez uma pessoa melhor, assim como o último show dos Los Hermanos no dia 09 de junho de 2007 na Fundição Progresso. O Big Brother que o Jean ganhou foi um outro motivo de emoção. "A festa da menina morta", filme do Matheus Nachtergale e tema do primeiro post dese blog, ficou dias e mais dias comigo. A Matilde, personagem do "Leite derramado" foi uma outra razão de encantamento. No filme "Se nada mais der certo", que está ainda em cartaz, tem um momento em que ao som de "Todos juntos" dos Saltimbancos, os protaginistas obtém êxito num assalto. É uma associação sensacional.
O bolinho de grão de bico frito (esqueci o nome correto) do restaurante árabe que tem dentro de uma galeria na Avenida Paulista, na altura do metrô Consolação, em São Paulo, também me expandiu os horizontes. A exposição "Tudo é Brasil" que eu vi no Paço Imperial em 2004, foi determinante para o meu desejo de estudar o Tropicalismo. "Domingo no parque" sempre me faz transgredir a realidade, assim como o gol que a gente não sabe se acontece em "Linha de passe".
Ser sensível tem os seus momentos vantajosos. Se eu fosse imune a tudo isso, talvez não sofresse tanto por amor, mas de nada valeria.

A primeira vez.

Esse ano eu fiz várias coisas pela primeira vez. Transei com um homem por quem eu era apaixonada, viajei pra Ilha Grande, tentei uma seleção de mestrado e, hoje, fui a uma peça do Zé Celso.
Eu tenho pouquíssima sensibilidade para peças de teatro. "A inveja dos anjos" do grupo Armazém foi, das mais recentes que eu assisti, a única que me emocionou de verdade. Eu costumo não gostar dos exageros e implico com os diálogos artificiais. No entanto, existe um fascínio que as atrizes exercem sobre mim, que me faz querer ficar olhando pra cada detalhe do corpo delas, enxergando as pintas, o cabelo, tentando sentir o cheiro e imaginando como deve ser a voz delas normalmente. Também sinto isso em relação as bailarinas.
Eu fiz teatro na escola, quando era adolescente. Foi fácil perceber que aquilo não era pra mim. Chorei horrores antes de entrar na apresentação para os pais. Me sentia feia e exposta em cena. Ator que é ator fica avontade no palco, gosta do cheiro dos outros, não se incomoda com o suor e nem com o cabelo desarrumado. Eu admiro profundamente essas pessoas.
A peça de hoje, "O Banquete" de Platão, foi, de fato, uma experiência inesquecível. Eu estava com preguiça de ir, hesitei em passar cinco horas sentada, em perder a novela que está terminando e em pagar o taxi pra voltar do Jardim Botânico até a minha casa. Só que como eu poderia estudar o movimento Tropicalista sem ter assistido a nenhuma peça do Zé Celso? Eu nunca ia entender do que se tratava aquilo tudo se continuasse só lendo sobre "O rei da vela". Eu precisava ver e sentir de perto essa proposta tão diferenciada. Os atores são despojados. A nudez, o sexo e as músicas (lindas) se misturam. As provocações são exatas, o figurino e o cenário são impecáveis e nada opressores. E o Zé Celso é impressionante. O homem atua, mostra o pau, beija homens e mulheres, canta e é feliz como poucos. Me deu a sensação de que a peça era uma ode a felicidade e um tapa na hipocrisia.
É um artista que se recicla. De Michael Jackson a Obama, estava tudo ali.
Era um mundo de cores e cheiros que eu não conhecia e que me deixou assustada no início (por medo de ser chamada para interagir com os atores) e encantada no final. As frutas, os sons e as palavras que estavam ali são tão brasileiros que se tornam universais. Fiquei pensando, em meio a vários jovens cults e globais que estavam na platéia, que saber desistir é importante, mas a regra é tentar. Vale a pena embarcar naquela orgia. Tem muito amor ali.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O longo e árduo caminho para o mundo encantado do amor.

Hoje, mais uma vez, eu decidi começar uma dieta. As razões vão desde a minha ida a praia ontem, o que facilita a constatação dos meus 30 quilos a mais, até o meu desejo de atrair homens interessantes. Eu tenho a impressão de que mulheres grandes atraem homens pequenos. É sério. Os homens que se apaixonam por mim são frágeis, na maior parte das vezes. Talvez eles olhem pra mim, grande, sorridente e sempre de saia e vejam uma figura maternal. É inconsciente, mas é verdade. O problema é que eu quero um homem forte. Não que eu seja frágil, mas me agrada ser a mulher da relação. Esses rapazes prontos a amparar gostam de mulheres pequenas ou magrinhas e eu não sou nem uma coisa, nem outra.
Portanto, lá vou eu enfrentar o mal humor inerente a qualquer tipo de restrição alimentar. É por uma boa causa.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Filmes.

Os dez filmes da minha vida:

1 - "Lost in translation" - "Encontros e desencontros" em português. É de Sophia Coppola a mais bela história sobre a coexistência do vazio de expectátivas e do desejo de se aventurar pelo mundo desordenado do amor. Mudou a minha vida muitas vezes. Tem diálogos meticulosamente bem cuidados, músicas excelentes e o final mais cheio de significados que já houve pra mim.

2 - "Forrest Gump" - De Robert Zemeckis, é um filme completo, tem romance, aventura, amizade e moral da história muito bem construídos. Quem mais me emociona é a personagem da Robin Wright Penn, a Jenny, que é o mais amável dos seres errantes. Tudo em "Forrest Gump" se tornou emblemático, a frase "run, Forrest, run", a interpretação comedida e sensível do Tom Hanks e o final, que diz muito sobre os EUA.

3 - "Perfume de mulher - De Martin Brest, esse filme é uma obra-prima. O Al Pacino não se contentou com "O poderoso chefão" e mostrou que é, de fato, um ator definitivo. A história prova que lembranças gloriosas não são suficientes para conter a mediocridade. Os diálogos em que o Coronel Slade quer se matar no hotel e a defesa de Charlie(Chris O'Donnel bonitinho), acusado injustamente por ter se mantido em silêncio a respeito de uma travessura de seus colegas ricos ecoam sempre na minha memória.

4 - "Adeus Lenin" - De Wolfgang Becker esse filme tem a sequencia que melhor representa, na minha opinião, a ilusão do Socialismo. As cenas em que Anna (Katrin Sab) sai do quarto e se depara com a estátua do Lenin sendo levada por um helicóptero são muito fortes. O Lenin ali, exposto, estendendo a mão para um país que não existe mais é contundente .

5 - "O primeiro ano do resto de nossas vidas" - De Joel Schumacher, é a história de amizade que mais me toca. Eu sempre choro no final e o meu quarto é rosa igual ao apartamento da Demi Moore.

6 - "Meu primeiro amor - Parte II" - De Howard Zieff, foi o filme que eu mais vi na vida, sem sombra de dúvida. A busca da menina Vada (Anna Chlumsky) pelo passado da mãe foi um dos pilares da minha formação. É o único filme que eu ainda assisto dublado e sei decor todas as falas. O diálogo em que o poeta preferido de Vada a aconselha a não ser escritora e sim técnica de televisão me marcou muito. "Don't Worry baby" no final é a cereja do bolo.

7 - "Escola atrapalhada" - De Antônio Rangel, foi filmado na escola que eu estudei. Tem a Angélica, o Supla, o Gugu e o Selton Melo, entre outros, bem novinhos. É um grande filme. Eu destaco o diálogo em que a Jandira Martins, dona Alma, a diretora do Colégio Matheus Rose, diz que o amor é simples, a gente que complica. E estala os dedos em seguida.

8 - "Maria Antonieta" - Sofia Coppola é o meu herói. E tudo nesse filme é perfeito, na minha opinião. As sequencias da festa em Versalles tocando New Order e o diálogo final em que o principe (Rip Torn) está com a Maria Antonieta (Kirsten Dunst de porcelana) na carruagem rumo a prisão são emocionantes. Ele pergunta se ela está contemplando seus limoeiros e ela responde: "I'm saying goodbye". Fico até arrepiada.

9 - "Amores expressos" - De Wong Kar Wai, o mago da sutileza, esse filme usa "California dreamming" do The Mammas and the papas para falar de amor. A sequencia da Faye Wong cantando Crambarries em japonês e o final feliz são os destaques.
Não existe nada nem parecido no mundo inteiro.

10 - "A noviça rebelde" - Assim como Forrest Gump, é um filme completo. O conflito da candidata a freira Maria (Julie Andrews cafona, mas encantadora) entre a segurança do celibato e a humanidade do mundo lá fora, é a história mais aconchegante de todas. Eu sempre morro de vontade de ser uma Von Trapp. De Robert Wise, é uma obra insuperável.


Os injustiçados que não couberam nos dez:

11 - "Closer", de Mike Nichols. É o filme que melhor define os desencontros amorosos dessa vida de meu Deus. Não tem mocinhos, nem vilões. E cada vez que eu vejo sinto pena de alguém diferente.

12 - "Kill Bill" - Tarantino entende as mulheres. E atrilha sonora é impecável.

13 - "Vicky, Cristina e Barcelona" - Woody Allen nunca vai envelhecer. Tá aí a prova. E a Penelope Cruz é um desacato.

14 - "A culpa é do Fidel" - De Julie Gravas, esse filme é um pé na bunda das certezas que o século XX prometeu e não cumpriu.

15 - "Fale com ela" - Almodovar sabe que amar é um verbo intransitivo e sabe principalmente que os homens também choram. Aqui o pé na bunda vai para os limitados. E o Caetano faz toda a diferença.

16 - "Um Lugar Chamado Notting Hill" - De Roger Mitchell. É o filme mais açucarado do mundo. Me toca profundamente isso de se apaixonar por alguém que está em todos os lugares. O diálogo final da livraria em que a Julia Roberts diz ao Hugh Grant: "I'm also just a girl standing in front of a boy asking him to love her" é tudo.

17 - "Nunca fui beijada" - De Raja Gosnell, com a Drew Barrimore é filme de menina que sofreu booling, cresceu e apareceu, como eu.

18 - "Edifício Master" - De Eduardo Coutinho. Em Copacabana se ouve a vida dos outros pelo basculhante.

19 - "Invasões Bárbaras" - De Dennys Arcand. Ah, as utopias perdidas...

20 - "Dotty e a Baleia" - É um desenho animado australiano que o meu pai sempre alugava pra mim quando eu era criança. A menina Dotty mobiliza seus amiguinhos para salvar a baleia Donga, encalhada numa praia próxima a sua casa. É lindo.

PS: Eu não entendo nada de clássicos cult. Não tem Goddard, Truffaut ou Felini nessa lista porque eu conheço pouquíssimo a obra deles. E a maioria dos nomes dos diretores acima citados veio do Google, não da minha memória.

Minha casa sou eu.

Naquele filme "Sou feia, mas tô na moda" tem uma sequencia que mostra o compositor do "rap da felicidade", explicando em que circunstâncias ele compôs essa música. Foi num dia que ele estava num taxi com os dois filhos pequenos, voltando de algum passeio e quando o taxista chegou na entrada da Cidade de Deus disse que dali não passava. Ele tentou argumentar dizendo que estava pagando e que tinha direito ao serviço, mas não adiantou, o motorista disse que nem fazia questão de receber, só não queria entrar ali. O tal mc, cujo nome eu acho que é Cidinho ou Doca, mas não tenho certeza, disse que naquele momento ele se deu conta do quanto se sentia ofendido por alguém não querer entrar na casa dele. Ali era a casa dele.
Eu nunca tinha sentido isso até pouco tempo atrás, quando comecei a ouvir comentários de algumas pessoas, até bastante próximas, sobre o meu bairro. E hoje, numa reuniãozinha na casa de um amigo, eu entendi que realmente dói muito ver alguém falando mal do lugar onde você mora.
Eu praticamente nasci na Tijuca, a minha mãe trabalhou a vida inteira aqui, eu sempre estudei em escolas daqui. É aqui que eu faço a unha, que eu corto o cabelo e que saio de casa sem me arrumar. Foi na Tijuca que eu fiz cursos de inglês, francês, amigos e terapia. Não há lugar no mundo que me pertença mais do que esse. E eu não pertenço mais a nenhum outro lugar. Falar mal daqui é falar mal de mim, da minha história, de tudo o que eu vivi. Esse papo de "A Tijuca já foi boa, eu conheço tudo por lá, a minha avó morou lá nos anos 70...", isso é ridículo. Eu não fico me questionando se a Tijuca é boa ou não. Esse é o lugar que eu moro, tudo aqui é meu, sendo feio ou bonito, perigoso ou não. Quem conhece a Tijuca sou eu, que moro aqui há 17 dos meus 24 anos. Eu me sinto ofendida e machucada de verdade quando ouço pessoas dizerem que não vêm ao meu bairro, ou que não sabem como andar por aqui depois das oito da noite.
Vão tomar no cu todos esses elitistas de merda que pensam que o Ipanema é o centro do mundo. Quer sair daqui pra morar na Zona Sul? Ótimo. Eu também adoraria morar perto do cinema e iria se tivesse oportunidade. Mas não fale mal do lugar de onde eu vim, não seja pretencioso a esse ponto. Eu não sou uma inocente do Leblom, nunca fui e não lamento. Minha vida longe da praia teve como único problema grave, os amores contrariados, que existem aqui, no Pão de Açúcar e em Nova York.
Será possível que as pessoas não entendem que precisam ser humildes? Meu Deus! Enquanto esses setores bestas da classe média não perceberem que o barco é o mesmo pra todo mundo, vai tudo continuar uma merda. É arrastão no túnel Zuzu Angel, sequestro relâmpago em Copacabana, ônibus queimados em Bonsucesso e crianças arrastadas na Tijuca. É uma cidade partida, suja e cheia de miseráveis por todos os lados. Tem gente talentosa, futil e filha da puta aqui e lá. Quem não entende isso, pra mim não vale a pena. Quem tem um mínimo de consciência e bom senso não fala mal da casa dos outros.
Agora de madrugada, no taxi, debaixo de um temporal arrebatador, eu fiquei olhando essas ruas por onde eu passo todo dia e acho que nunca fui tão apaixonada por elas. Pra mim tudo começa e termina aqui.

domingo, 6 de setembro de 2009

A descompostura do homem moderno.

Tem algumas relações que nasceram pra ser platônicas. Nasceram pra não existir, pra criar expectativas divertidas e só. Eu gosto de cultivar esse tipo de intriga nos homens, de fazer eles se confundirem, se perguntarem se eu sou pra casar ou se comigo os romances têm que ser passageiros. Sempre tem alguém que sai magoado porque acaba acreditando nas palavras bonitas de um possível sábado de aleluias. No fundo eu faço isso pra tentar me sentir no controle do desejo dos outros já que o meu desejo eu nunca consigo conter.
Eu não nasci pra destruir lares. Não quero ser amante, tenho dificuldade em lidar com homens mais velhos e gosto de me sentir honesta, bem ao estilo Nelson Rodrigues. Pra mim casamento é coisa séria. Eu valorizo o vestido de noiva e os lençóis desarrumados. Não quero quem não é meu, por mais disponível que ele possa estar.
No fundo eu sou a tal mulherzinha que Clarice Lispector tanto fala. Estou cansada dessa fraqueza masculina pós-moderna. Homens que não fazem escolhas, que não querem trabalhar e que reclamam da gordura na comida.
São namorados e casados infelizes e covardes, que se acomodam nas traições cronometradas de quarta feira a noite, na hora do futebol porque têm medo de sair de uma redoma que não existe. São filhos que vão ser sempre sustentados pela família porque estão eternamente estudando pra um concurso público que paga 15 mil e não podem trabalhar enquanto isso. É uma preguiça de ir a luta que me faz sentir náuseas. Eu sou machista sim. Se não fosse não estaria sozinha porque só os hipocondriacos confusos me querem. Eu digo não. Está tudo invertido, Gugu na Record, Dado Dolabela ganhando "A Fazenda" e as mulheres pagando a conta do restaurante. Pra mim chega.

Os comunistas não solucionam a minha solidão.

Tudo o que eu mais queria da minha vida hoje a tarde era alguém pra ir comigo ao cinema. Liguei pra um amigo que se dispôs a me acompanhar, mas quando eu estava pronta pra sair, ele disse que não iria conseguir chegar a tempo. Fui sozinha. Comprei um monte de chocolates da Kopenhaguen e sentei lá na frente, como eu gosto. O filme, "Casamento silencioso", era a história de um povoado romeno na década de 1950, que vive distante da vida política do país, dominado pela URSS. No dia da união do casal protagonista, no entanto, dois soldados chegam para avisar que devido a morte do Stalin na noite anterior, qualquer tipo de comemoração estaria proíbida por uma semana. Eles decidem, então, fazer a festa em silêncio. É angustiante. Os talheres são recolhidos, as crianças têm as bocas tampadas, tudo para que ninguém saiba que ali está havendo um momento feliz. A noiva, no entanto, chora quando se dá conta do absurdo do que está acontecendo e o resto eu não posso mais contar. A parte mais bonita do filme é quando está sendo exibido um filme pró-URSS e todos estão sentados e compenetrados prestando atenção nas imagens. De repente um desses circos itinerantes de cidades do interior, com mulher barbada, elefantes de plástico e anões malabaristas, chega ao lugar. Todos se levantam imediatamente para ver o espetáculo. Ninguém ali ligava pro Stalin.
Esses filmes que falam sobre tudo o que o socialismo não conseguiu ser me tocam profundamente. Eu fiquei horas e horas abalada com aquilo tudo. Acho que ainda estou. Depois o meu amigo chegou e nós vimos "Up" da Pixar, que é lindo, emocionante, feliz e fofo.
E eu voltei pra casa mais uma vez sozinha, mais uma vez tendo desperdiçado o meu decote e o meu desejo de amar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Me chama.

Hoje eu queria ir ao cinema. Peguei o metrô pra ir pro trabalho anotando os horários dos filmes que eu ainda não vi, liguei pra alguns amigos, me certifiquei de que eles não estavam disponíveis e fui ficando triste aos poucos. Ir ao cinema sozinha não é um problema, mas na sexta feira a noite é duro. Uma amiga do trabalho, no entanto, me convidou para ir com ela e com mais dois amigos, tomar chope. Eu fui. Um dos caras, que é casado, passou todo o tempo em que nós estivemos juntos me dando as cantadas mais baratas do mundo e interrompendo qualquer pessoa que tentava esboçar algum diálogo comigo. Inventei uma desculpa, me levantei e fui embora. Na primeira esquina que eu virei ouvi alguém chamar meu nome. Era um rapaz super querido de um lugar que eu estagiei há dois anos. Ele estava numa mesa com 892 pessoas que eu nunca mais queria encontrar na vida. Fiz cara de susto feliz, inventei que estava atrasada e antes de atravessar a Presidente Vargas para pegar o ônibus rumo a minha residência, comprei um brownie no CCBB.
É impossivel não sentir autopiedade numa hora dessas. Foi por isso que Deus inventou a novela das oito, pra pessoas sozinhas como eu, terem companhia na sexta feira a noite.

Incompreendida.

Novamente com insônia eu me pergunto se vou chegar aos 33 anos solteira. Começo a achar que não vou ser aprovada na prova do mestrado de Sociologia e que terei que fazer a seleção de História no final do ano, mas História não é mais o que eu quero. Estou com fome, o Jô Soares não está interessante e eu não consigo inventar alguém para amar. Ninguém se encaixa. Se eu continuar infeliz no amor e não passar no mestrado o que me restará nessa vida?
Escrever bem não leva ninguém a nada. Eu não sou a melhor em nada. Eu me sinto dona de determinados filmes e de alguns escritores e atores, mas sempre tem alguém que se acha mais dono do que eu. "Encontros e desencontros" é o meu filme. Ninguém fez da Avenida Paulista a sua Tokio como eu fiz e ninguém chorou as mesmas lágrimas que eu quando ouviu "more than this" cantada pelo Bill Muray de olhos pintados. Não adianta, o diálogo da cama, em que a Scarlet Johanson diz que é medíocre e o conselho pra ela continuar escrevendo são pra mim.
O Marcelo Rubens Paiva é meu, as aulas de História Moderna I foram minhas e a verdade sobre as minhas amigas está comigo. Eu sou a rainha da cocada preta.
E não durmo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desistindo e cantando e seguindo a canção...

"É preciso desistir de algumas pessoas e coisas." - Essa frase postada no Twitter por uma grande amiga ontem a noite está martelando na minha cabeça até agora. Fiquei pensando em algumas das coisas que eu quis durante a vida e sobre o que não pode ser.
Eu aprendi rápido que eu não ia ser aluna de tirar 10 e mesmo quando eu sentia inveja das minhas amiguinhas CDFs (essa sigla ainda existe?) da escola, a situação já estava resolvida. Eu não era estudiosa, odiava matemática e gostava de ser assim, uma existencialista precoce. Tive que me conformar.
Outra desistencia importante foi a de ser uma adolescente popular pela beleza. Rapidamente eu percebi que eu não era o tipo dos meninos da minha idade e quando eu ia na matinê do Terceiro Milênio (uma boate chinfrim aqui da Tijuca) ninguém chegava em mim. Era um tormento. A mãe de alguma amiguinha ia levar a gente e quando ia chegando perto eu ia ficando com medo. Lá dentro eu não pertencia, eu queria ir embora. Demorou um pouco pra eu entender que ali não era pra mim, que eu não dançava aquelas músicas e que aqueles menininhos nunca iriam me enxergar. Eu até tinha algumas amigas mais Rock'n Roll, mas elas saiam pra lugares tipo o Garage e chegavam tarde. A minha mãe nunca me deixaria ir.
Até hoje, quando eu vou a Casa da Matriz, ainda dá esse medo antes de entrar, é uma reminiscência. Mas aí eu penso que ali eu pertenço e entro feliz. Me lembro da primeira vez que eu fui a Bunker, em 2003, quando lá já estava quase decadente. Nossa, eu fui muito feliz naquele dia. Eu estava de blusinha amarela de rendinha e saia branca com sandalinha riponga nada a ver com o lugar, mas eu conhecia todas as músicas, dançava e me sentia bem. Saí de lá as seis da manhã. Por muito tempo eu saí da Casa da Matriz essa hora. Depois a vida ficou movimentada e eu passei a sentir sono mais cedo, além de uma certa preguiça de lugares lotados. Mas é fato que nem nesses lugares eu sou uma mulher cobiçada. Comigo a coisa é diferente, eu preciso conversar pros caras se interessarem e mesmo assim tem vezes que não funciona. Se eu não tivesse me dado conta disso, as rejeições doeriam bem mais.
Eu também desisti de querer ser magra, de fazer teatro, de ir a praia toda semana, de voltar sozinha a pé pra casa as quatro da manhã e de usar sapato alto.
Dos homens, normalmente, eu deixo a vida desistir por mim. Eu não tenho força pra desistir sozinha. Aí eu vou empurrando a paixão com a barriga até ela cair. Isso aconteceu muitas vezes. Eu costumo esquecer definitivamente as pessoas. Se passou eu não sinto mais nada. Teve uma vez que eu tentei resgatar os sentimentos que já tinham morrido por um cara ultrapassado. Eu tinha gostado dele por longos e dolorosos três anos e estava muito carente. Foi tão ruim que eu quase me arrependo.
Hoje, uma quinta-feira de quase primavera, eu entendi que não posso mais gostar do homem que me habita. Não posso mais querer sentir isso. É assim, não dá pra cogitar. Acabou. Se pra ser historiadora eu tive que entender que o dinheiro teria que ser controlado, pra me sentir inteira outra vez, eu preciso deixar esse homem pra trás. Preciso jogar ele fora. E aí outras pessoas estarão livres para desistir de mim. E as pessoas novas chegarão.
Eu precisei desistir de ser um prodígio. Vi muita gente entrar na faculdade depois de mim e passar no mestrado antes. E só agora eu estou investindo nessa tentativa. Tem gente que já casou e eu estou sozinha. Tem gente que já viajou o mundo e eu me contento com São Paulo (afinal São Paulo é como o mundo inteiro e no mundo um grande amor perdi) e tem gente que não faz nada pra ser interessante e é. Uma melancia na cabeça não vai me trazer a pessoa amada em 3 dias. O jeito é desistir. Amém.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Carta para H. que precisa ir embora.

H.,
não faz nem duas semanas que eu te escrevi e você já é tão grande pra mim que parece que faz cinco anos. Eu te procurei pra me confessar. Eu chorava de amor e não porque sofria. Fui atrás de você quase por compensação. Ou te escrevia ou escrevia pra ele e hoje entendi que foi bom ter escolhido a primeira opção.
Você com todo o seu carinho, com toda a sua disponibilidade para amar, para chorar junto, parara rir alto tomando suco no fim do dia e para passar tardes de domingo ao meu lado me fez sentir recompensada. Se eu não tenho o meu amor, eu tenho a minha dor. E tenho você. Eu precisava de alguém que entendesse as paixões que não passam e me senti levada até você, não por solidariedade, mas por um certo desejo de autocompreenção. Te conhecer me fez entender que o valor da gente é pra poucos. E ter perdido o outro me trouxe você. A longo prazo eu tenho certeza de que você ficará e essa paixão, se Deus quiser, vai passar.
Seja feliz, H.. Corra o mundo, de Salvador a Santelmo, passando pela França. Eu vou te visitar e te contar sobre a Elizeth Cardoso. Agora que você me abriu os braços, eu posso fazer todo um novo país.
Me perdoe cada cafonice aqui escrita.
Um beijo.

Das onze boas atitudes dos homens para com as mulheres nos primeiros encontros

1-Mostrar interesse pela vida da mulher. Perguntar sobre ela, saber ouvir o que ela diz, prestar atenção no que ela gosta e principalmente no que ela não gosta e não tentar monopolizar o assunto.

2-Não falar das pessoas que você conhece como se a mulher também conhecesse. Se um homem acha necessário citar um amigo, pode explicar de forma sintética de onde o conhece e o que ele faz da vida para aí sim falar dele. Caso contrário, o assunto vai ficando desinteressante.

3-Mulheres gostam de homens que conduzem as situações com destreza. Se estiver num bar ou restaurante, o cara deve pedir o cardápio e deve chamar o garçon. Se estiver no cinema deve comprar os ingressos e assim por diante, dando opções de escolha, mas se mantendo no controle.

4-Homem legal é aquele que conversa com os amigos da mulher que está com ele. Se por um acaso o casal inscipiente encontra alguém conhecido da moça, é de bom tom que o rapaz seja simpático e interaja na medida do possível. Homens autistas são terríveis.

5-Elogiar a mulher com comentários pouco óbvios e progressivamente indecentes. O homem pode dizer que a sua batata da perna da moça é linda, ou que aquela pinta dela no rosto é desconcertante para depois falar do decote ou se o clima já tiver esquentado usar intensamente a sua criatividade.

6-O homem precisa tomar cuidado com a possibilidade de super exposição que a Internet possibilita nos dias atuais. Nada de fotos aparentemente artísticas, isso só é legal (quando é) para o sexo feminino. Nada de frases do Chico Xavier também, pelo amor de Deus. A melhor opção são fotos da última viagem ou dos melhores amigos. Ao mandar scraps é melhor que o conteúdo da mensagem seja discreto. Por e-mail as coisas podem fluir melhor. MSN é o pior inimigo de casais inscipientes porque o silêncio é inevitável e quando o assunto acaba, a relação parece estar esgotada.

7-Nunca atender as ligações da mocinha usando vocativos clichês, do tipo "Oi querida" ou "E aí gata...". É importante que a mulher se sinta especial, pra ela o rapaz tem que parecer estar disposto a dar atenção. E as mensagens de celular são um coringa. É muito bom receber mensagens com pequenos comentários ou elogios, faz com que nós nos sintamos especiais. No entanto é importante frisar que não pode haver exagero no número de torpedos porque aí tudo perde a graça.

8-Homem tem que falar baixo.

9-Homem jamais usar blusa polo pra dentro da calça jeans e deve evitar os chinelos pouco estilosos. Não deixar de lavar o cabelo e de renovar o desodorante também é importantíssimo. As mulheres valorizam homens que se mostram bem cuidados e que não se atrasam. No entanto vaidade ao extremo não é legal, homens que malham o dia inteiro ou que fazem comentários sobre mulheres que precisam emagrecer não são legais.

10- Homem tem que ter bom humor e não pode ser formal.

11- Homem tem que pagar a conta. É machista, eu sei, mas é a verdade. Se o homem não paga a conta nos primeiros encontros ele não está sendo cavalheiro e tudo que as mulheres querem é se sentir protegidas e amparadas. É claro que com o tempo as contas poderão ser divididas, mas é de muito bom tom que no bar ou em almoços ou jantares não muito caros, o homem pague. O ingresso do cinema fica a critério do rapaz. Já o motel, se necessário, não tem escolha, é o homem que paga.