sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Iguaba Grande.

Desde os tempos em que eu passava as férias em Iguaba Grande (nunca conheci felicidade igual), janeiro me parece ser o mês das esperanças renovadas.
Me lembro de 1997, quando comprei com meu pai uma daquelas blusas meio ciganas, roxa, linda e usei no reveion. Algumas horas antes da meia noite encontrei o peguete adolescente e, num canto desabitado do condominio, nos beijamos sem amor, sem tesão e sem assunto. Me lembro do cheiro do desodorante dele até hoje e juro, me enjoa até hoje.
Houve tantos beijos felizes em Iguaba Grande e paixões felizes também, que não tenho como não sentir saudade dos janeiros de lá. Se minha mãe soubesse o quanto eu era feliz ali, talvez tivesse me deixado chegar tarde da rua mais vezes.
Houve uma vez que eu desobedeci a hora de voltar e ela foi me procurar. Nem preciso dizer que estava conhecendo todo um mundo novo em algum daqueles terrenos vazios, cheios de mato. Nem preciso dizer, ainda, que não me arrependi.
Uma música tem me tocado profundamente o coração ultimamente: "Ontem eu sambei" do Eddie. Os versos dizem assim:
"Ontem eu sambei como nunca tinha sambado, derramei o suor, levantei a poeira como nunca tinha levantado/ Eu sambei como você nunca nem a pau acreditaria que pudesse acontecer tanta coisa boa num só dia"
Essa sensação de que a noite foi perfeita, que tudo aconteceu, que eu brilhei e o mundo parou e nada me abala é esporádica, igual a ansiedade para encontrar o menino que faz o coração palpitar. Mas em Iguaba Grande eu me sentia assim todos os dias. De bicicleta, na papelaria Folha-Nova, na sorveteria a quilo, de biquini e chinelinho ou calça jeans.
"Foste feliz aqui porque viveste neste lugar os tempos do amor" disse João da Ega para Inácio no final de "Os Maias" (Não li o livro, só vi a minissérie). É assim com Iguaba Grande. E também é com a frente do meu prédio e com aquele motel bonito ali na Glória.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O sobrenome e a solidão.

Ele é um sobrenome. Não é bonito, nem tem os mesmos olhos verdes inebriantes do parente famoso. Também não é rico ou genial. É desengonçado, chatinho e previsivel.
Elas são meninas que recusam a se tornarem mulheres. Vivem enclausuradas no mundinho encantado da profissão que escolheram, sonham com um principe encantado que discuta Bourdieu enquanto toma banho.
O sobrenome dele as encanta tanto que disputam a tapa sua atenção no melhor estilo "amigas, amigas, homens a parte". Os convites pra tomar café são frequentes, assim como os e-mails furtivos, de 6 ou 7 palavras, que, pretenciosos, querem enunciar o grande amor.
Cada riso delas é calculado, cada notícia é minuciosamente escolhida. São tão carentes de desejo, novidades e importância que, assim como na música do parente famoso dele, vão para a janela na primeira oportunidade, achando que a banda está tocando pra elas.
Ele não tem vergonha dos seus métodos imaturos de abordagem. No alto dos mais de 40 anos, obtém êxito nesse sexo verbal café com leite desde os 22. Seus amigos antigos são casados, ou investem na conquista de mulheres reais. Ele não. Gosta de ser rei e só o é diante delas, ninfas com cheirinho de sorvete.
Nas possiveis reuniões que organizam para se sentirem menos sozinhas nos finais de semana, levam ele para conhecer cada cômodo da casa, não sabendo, coitadinhas, que foi justamente o seu parente intelectual, pai desse que é famoso, quem em sua obra mais conhecida, criticou a mania do brasileiro de mostrar os quartos para a visita.
Queriam elas, que em seus quartos ele ficasse e que nunca fosse embora. É a proteção dele que elas teimam em conseguir.
E ficam nessa ladainha, ele e elas, desinteressantes, óbvios e o pior, nada sensuais.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Era tudo mentira.

Quando eu tinha 12 anos minha professora de Educação Religiosa da escola levou pra nossa turma um livro que falava sobre sexualidade. O menino e a menina eram mostrados crianças, adolescentes e adultos, com todas as caracteristicas psicológicas e corporais de cada fase.
Lá pelas tantas, o narrador dizia que um dia você ia se apaixonar e o outro ia corresponder e vocês iam dar as mãos e ser felizes juntos. Fim. Me tranquilizava tanto aquele final da história... Era certo que as minhas frustrações amorosas teriam fim e que eu seria um dia feliz no amor.
Bullshit, já se passaram 13 anos desde então e eu continuo não sendo feliz no amor. E agora? Processo o autor daquela merda de livro que me enganou ou continuo resignada com a terrível vontade de Deus pra mim e sigo em frente?
Esses dias ouvi de um pretendente que o que me fazia interessante era o fato de eu ser gordinha e de ele ter ouvido ótimas referências sobre gordinhas. PORRA! Eu odeio ser gordinha! Tenho inveja das magras, das amadas e das bem sucedidas. Aonde está a mão que vai segurar a minha para sempre? Cadê a pessoa que não vai se importar com os meus defeitos? Quem vai me dar segurança?
Chega de ser sozinha! Sou sempre eu, tudo eu, sempre! Ai, cansei. Vejo minhas amigas se casando, tendo filhos, viajando junto, contando com a ajuda de seus companheiros e eu aqui com vergonha da minha solidão.
Hoje voltei pra casa as onze da noite falando alto com Deus, pedindo compaixão, piedade, justiça ou conforto. Tá difícil.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Tijuca particular.

A delicia de ser tijucana:

1 - Minha manicure Alessandra, que fazia as unhas da minha mãe quando eu era criança e que eu adotei pra mim há mais ou menos dois anos. No início ela não era muito simpática, mas hoje em dia rimos bastante uma com a outra. Ela trabalha no Irmãos Cabelereiros do Off Shoping.
2 - O 409. Sães-Peña - Jardim Botânico. Passa pela Lapa e por Botafogo. Meus finais de semana não seriam nada sem ele.
3 - Shoping 45 - Lá tem Cantão, Kopenhaguen e até Shop 126, mas o bom mesmo são as lojinhas pequenas de lingerrie para gordinhas, roupas para grávidas e artigos de papelaria.
4 - A Paula, depiladora mais esperta do Pello Menos da Conde de Bonfim.
5 - As paixonites da adolescência pela rua.
6 - Ir e voltar a pé do Maracanã.

A dor de ser tijucana:

1 - Os babacas da adolescência pela rua.
2 - Os eleitores do PSDB.
3 - A Tradição, a Família e a Propriedade.
4 - A dificuldade que o tijucano tem de se apropriar de qualquer lugar do mundo que não seja a Barra da Tijuca. Para os tijucanos o Centro é perigoso a noite, a Zona Sul é cara e Santa Teresa é mais longe que Iguaba Grande.
5 - O chafariz da Praça Sães-Peña.
6 - Os cinemas do Shoping Tijuca são pés-si-mos.