segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No último sábado eu fiz uma viagem que não queria fazer. Não pela viagem, mas porque nesse momento gastar qualquer dinheiro e qualquer tempo está sendo difícil pra mim. E no ônibus, indo pra Juiz de Fora, meu destino indesejado, sentada no banco do corredor e esmagada entre a poltrona reclinada da frente e a senhora de idade que não me permitiu reclinar a poltrona atrás, pensei sobre as minhas dívidas, as minhas dificuldades e insatisfações. Batata: Chorei.
Foi quando começou a tocar "Despedida" do Marcelo Camelo, que eu já conheço há bastante tempo e até sei cantar de cór, mas dessa vez entendi diferente. Me dei conta de que o verso "eu não sou daqui também, marinheiro", que inicia a canção, dialoga com "Eu não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia, de São Salvador... ô marinheiro, marinheiro, marinheiro só..." do Caetano.
E isso de não ser daqui me é muito familiar. Foi o suficiente para que eu me sentisse amparada porque sei que Marcelo Camelo também não pertence. E é por isso que gosto tanto dele.
Construo um tipo cego de fidelidade para alguns artistas, aos quais não critico, apenas entendo. Sofia Coppola, Tarantino, Woody Allen, Karin Ainouz e sim, Marcelo Camelo. Não me importo se ele desafina ou se as vezes as músicas são dissonantes, me identifico e isso é suficiente.

Durante o final de semana, entrevistei um senhor que era líder sindical na época do Jango. Tem 91anos. Só se lembra com detalhes de antes de 1964. Tudo que vem depois ele não conta direito. Fala do Jango com uma paixão emocionante. Foi preso e apanhou ainda em 64. Não havia acusação. Ele nos contou que tinha conseguido 140% de aumento para os trabalhadores e que as conquistas para as reformas brasileiras estavam todas encaminhadas. Para esse homem o golpe foi o fim. Não paro de pensar nisso. A viagem fora de hora valeu a pena.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eu tenho um namorado que ouve Rolling Stones.

Eu e meu amor estávamos andando pela rua Augusta procurando a esquina com a Avanhandava, que fica lá no iniciozinho, quase na Praça da República, quando encontramos uma loja de discos dessas que tem um dono grisalho e cabeludo super fofo com aquele sotaque paulista urbano, bem moderno.
Meu namorado colecionador de vinis se embrenhou lá por dentro e voltou dez minutos depois com o "Their satanic magestic request", que é o meu disco favorito dos Rolling Stones. 45 reais e um banquete italiano depois, fomos pra casa, sentamos no sofá e ouvimos a obra prima de 67 juntos.
Era uma segunda feira. Nunca vou esquecer. Tenho o Their satanic majestic request em cd desde os dez anos, mas o descobri com dezesseis. Ouvia sem parar e de vez em quando ainda ouço, mas como meu tocador de cd está com defeito, fazia séculos que não me deliciava com o que considero o momento mais festivo dos Stones.
Olhei a capa do album com atenção e percebi detalhes que no cd ficam apagados. Entendi que as primeiras músicas se repetem ao final de cada lado, mas que eu nunca notei porque no cd elas se repetem no final apenas. Não tem dois lados. E me dei conta de que aquelas músicas formam um disco e que aquele objeto deveria ter sido pra sempre um disco porque como cd ele não é tão bonito quanto deveria.
Depois ouvimos o "Sargent Peppers". Foi lindo, estou apaixonada.

O cenário atual.

Parte 1
Desde que nós viemos morar nesse apartamento, havia um vazamento no banheiro do quarto de mamãe. Quando eu tinha 12 anos o gesso caiu. Fizemos obra, a casa ficou cheia de homens por mais de um mês, aquele inferno, mas na época tinhamos empregada e eramos pequenas, o que facilitava bastante as coisas. Hoje, muitos anos depois, aconteceu a mesma coisa. Mamãe ligou pra vizinha de cima, Dona Neli, uma fofurinha, e ela cagou na cabeça da gente com toda a delicadeza.

Parte 2
Mamãe não vai as reuniões de condomínio faz tempo. Soubemos que nosso porteiro favorito tinha sido demitido para cortar gastos quando descemos e na hora de dar "Bom dia" tinha outro no lugar dele. Nosso sindico é um homem bom, daqueles fofos mesmo, mas que nessa de cortar gastos, só faz merda. Soubemos, por comunicados enviados a nossa casa, que o edifício inteiro entraria em obra para trocar as colunas hidraulicas, já que nos andares baixos a água saía muito fraca em razão do entupimento dos canos antigos. Chegaram aqui alguns pedreiros, quebraram algumas partes da sala, da cozinha e da área de serviço, dos dois banheiros e do corredor. Só sobraram os quartos. Começaram a haver vazamentos repentinos, a casa alagou mais de uma vez e a poeira passou a ser uma constante. Não sendo desconforto suficiente, nosso prédio agora vive sem água. Tomar banho de balde se tornou uma prática com a qual já nos habituamos. Quando mamãe percebeu que a empresa contratada pelo condomínio, não sabe o que está fazendo, deu alguns gritos com o chefe da obra e explicou a situação ao síndico, que de forma educadíssima, disse a ela que não há dinheiro suficiente para que se contrate trabalhadores mais bem preparados. Isso porque moramos numa rua boa da Tijuca e nossos vizinhos são velhinhos bem aposentados.

Parte 3
Mamãe contratou um pedreiro para reformar o banheiro destruído do quarto dela. É um senhor bonzinho que trabalha junto com a esposa. Começaram essa semana. Jogaram tudo em baixo. Eu estava em São Paulo brincando de casinha e quando cheguei, vi que tinha poeira até dentro das gavetas. O bate estaca faz com que a confecção do projeto de mestrado seja ainda mais dolorosa, se é que isso é possível, e nossa cachorra está mais encardida que o Sansão da Turma da Mônica.
Hoje, então, a situação degringolou. Faltou água nas torneiras, vazou água no banheiro em obra, o pedreiro da minha mãe se desentendeu com o pedreiro do prédio e eu, que tentava entender o que Derrida fala sobre o perdão, decidi fazer xixi no Shoping Tijuca para desanuviar.
(Não tenho dinheiro pra ir muito além do Shoping Tijuca, a vida está difícil e no fim do mês a coisa piora). Soube depois que o pedreiro da minha mãe tentou estorqui-la. Só Jesus.

Parte 4
Há dois anos mamãe comprou um apartamento na Barra e fez obras nele inteiro. Lá também tem um vazamento permanente e os vizinhos são igualmente pão duros e gente boa. Os pedreiros deram calotes horríveis e o estresse só não foi maior porque moramos aqui. Se eu fosse ela, vendia. Mas acontece que ela se apegou a porra do apartamento e com esse caos aqui, resolveu que quer ir morar lá. Eu e minha irmã se quisermos continuar na Tijuca, teremos que nos sustentar e aguentar esse inferno sem fim. A coisa por aqui está deveras periclitante, a ponto de nem água potável ter mais. A Barra é longe de tudo o que eu entendo por meu.  Ganho bem no total, mas fiz dívidas demais e o montante que me resta efetivamente não permite que eu more sozinha.
Tenho pena da minha mãe que está cansada de ser dentista, muito mais do que eu estou de ser professora e de ter que ler todos esses autores cujas caras nem sei como são. Me sinto mal em vê-la sozinha diante dessa lama. Um relacionamento faz falta nessas horas.
Não quero ir morar na Barra, queria era morar sozinha e ter dinheiro. Não aguento mais vazamentos, pedreiros e bagunça. Tenho medo de ficar sem casa. Lá em São Paulo é legal, mas não é a minha casa. Preciso construir as minhas próprias referências e ser livre. Não é fácil.

Pra onde vão os humildes?

Nessa maratona enlouquecida de ler milhões de coisas pra escrever projetos e aí ler ainda mais pra fazer provas, hoje eu liguei pra uma amiga que já está no doutorado, também estuda Ditadura e ficou de me ajudar com um material útil para a construção do meu texto de 20 páginas.
Conversamos um pouco e eu disse a ela que não ia falar demais sobre a Hannah Arendt no projeto porque tenho medo de, se por ventura, eu passar pra entrevista, ser arguida justamente sobre os conceitos dela, não saber responder e me ferrar. Minha amiga disse que eu estou com medo de ousar e que a avó dela tem uma frase que ela sempre usa "Os humildes não chegam a lugar nenhum".
Quase caí pra trás quando ouvi a sentença de vida da matriarca da família alheia.
Pensei: Ou eu entendi tudo errado, ou o mundo tá perdido.
Pode ser que eu não passe em nenhuma das seleções que vou tentar e chore horrores porque escolhi essa merda de faculdade de História que demora uma eternidade pra dar dinheiro, mas lhes digo: Quem me ensinou a ser humilde não foi mamãe, vovó ou Santa Rita de Cássia, foi a vida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os objetos estão acabando.

Primeiro foram os discos, depois as fitas VHS e cassete, em seguida se foram as fotografias. Vitrolas, videoscassetes, walkmans e máquinas analógicas ficaram obsoletos. Posteriormente foram os disquetes e cd-roms. Antes a conta de telefone vinha grossa, agora é um papelzinho só e "veja sua fatura completa através do site....". Nunca vimos tantas coisas acabarem.
Os ingressos de cinema perderam o glamour, vêm agora em papelzinho de nota fiscal, igualzinho a uma Ruffles que se compra nas Lojas Americanas. Mas o filme, ah o filme...esse fica. Livros viram e-books, agendas cabem em um ipod e tudo o que é feito a mão passou a valer cinco vezes mais, justamente porque tem uma compensação bem mais demorada.
A barca Rio-Niterói se tornou mais compacta, mais rápida e sem janelas. Não assinamos mais o ponto, apenas encostamos o polegar direito em um visor que armazena nosso ir e vir. Carteirinhas também estão em extinção e os ascensoristas, tão simpáticos, são cada vez mais raros.
Ontem fui a um supermercado chique de São Paulo e vi que lá se vende manga cortadinha, orgânica e pronta para o consumo por dois reais e alguns centavos. O mesmo acontece com tangerinas e romãs. Facas pra que? A alface já vem higienizada, o peixe limpo, a uva sem caroço e a água de coco engarrafada.
Nos sobra tempo e espaço a beça.
A vida está mais fácil? Vamos mais a praia? Somos mais saudáveis? Temos mais amores? E mais dinheiro?
Assistimos pela TV ditadores serem mortos do outro lado do mundo ao vivo, nadamos em piscinas cobertas e pedalamos bicicletas que não vão a lugar nenhum.
Ainda bem que existe a panela, essa ninguém vai substituir.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A vida futil dos meus sonhos.

Vocês não imaginam como dói em mim não assistir "Mulheres de areia" todos os dias. Ruth e Raquel foram a minha primeiríssima referência de cabelo bonito e toda vez que eu assisto a novela, me sinto de férias. É tão ruim quanto perder "O Rei do gado", que por duas vezes tocou meu coração para questões políticas e amorosas tão intensas. De "Vamp" nem preciso comentar. Quem de nós não quis ser Natacha um dia?
"Por amor" eu assisti três vezes e olha, só me fez bem, Só que quanto mais o tempo passa, menos eu fico em casa a tarde e aí só resta a noveça das oito (mentira, tb dou uma espiadinha na das seis quando dá). Mas não reclamo, estou gostando muito de "Fina estampa", nem Cristiane Torloni falando "meu bem" tem me incomodado.
E esse ano foi só isso, novelas. Não tenho ido ao cinema. Não vi nenhum filme do Festival. Estudar me consome muito. Fico arrasada a cada comentário que leio sobre filmes que não saem da cabeça dos meus amigos cinéfilos, que enquanto eu passei o final de semana inteiro lendo sobre memórias subterrâneas e coletivas, assistiram dois ou três filmes.
Há quem diga que tem retorno. Minha experiência diz, no entanto, que nem sempre é assim. Talvez eu esteja perdendo isso tudo a toa. Sabe Deus.
O fato é que a minha vontade hoje é de nunca mais dar aula, nem escrever projetos chatos. Queria passar a vida escrevendo criticas de novela. Ah, como amo futilidades!
Se eu fosse princesa, acordaria na hora que quisesse, iria a piscina, faria mil massagens, almoçaria comidas deliciosas e assistiria novela das duas e meia da tarde até as dez e meia da noite com pausa apenas para um Capuccino da Kopenhagen. Depois disso eu dormiria gostoso e no dia seguinte seria tudo igual. Mudaria a rotina apenas em função de filmes interessantes (especialmente nos finais de semana porque o Vale a pena ver de novo é só de 2ª a 6ª) e do homem que eu amo.
Ai, como eu seria feliz!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A última semana foi muito atribulada.
Mamãe viajou para os States e eu decidi escrever um projeto de mestrado dois dias antes da data de entrega. Comecei a sentir uma dor de dente infernal (tenho que esperar mamãe dentista voltar da terra do mickey porque papai dentista trabalha em Itaguaí e se ir pra Seropédica já tem sido difícil, imagina pra lá), ficamos sem água aqui em casa por causa de uma obra no meu prédio, um cano estourou na cozinha e alagou o apartamento inteiro, vovó veio de Iguaba Grande nos ajudar, se estressou tanto que amanheceu passando mal, a levamos ao hospital, era um principio de infarto e ela ainda está lá. Está bem, não corre perigo, nem nada. Mas eu e minha irmã estamos tendo que ir pra lá ficar com ela e, enquanto isso, as provas que eu tenho pra corrigir e os livros que preciso ler estão parados. Tudo ficou mais emocionante ainda quando ontem, meu e-mail do IG, simplesmente ficou inacessível. Não consigo abri-lo de jeito nenhum e dependo dele pra quase tudo. Uma verdadeira merda, até tomei banho com sabonete de arruda.
Mas pra não dizerem que eu não falei das flores, meu namorado estava aqui durante essa sucessão de tragédias e nós aproveitamos bem as manhãs de sol em Niterói. Tenho gostado muito de Niterói. E meu coração chegou ao dia de ser tudo o que quer.
Mas foi interessante quando nós encontramos, no dia que eu fui a UFF entregar meus documentos para a seleção de mestrado, duas amigas antigas dele e da ex-mulher dele. Elas estão no pós-doutorado e eu indo entregar o projeto. Me senti um bebê. Ontem, ainda por cima, numa dessas coinscidências terríveis que Rolan Barthes já previu nos "Fragmentos do discurso amoroso", o perfil da ex apareceu na minha página do Facebook. Não resisti e olhei. E comecei a pensar que se ela visse as frases e fotos que eu posto, me acharia uma garotinha. Aí comentei isso com a minha irmã e ela disse que eu deveria trancar minhas informações do Face. Mas é contra a minha filosofia de vida bloquear informações de redes sociais. Acabei me dando conta de que sou nova mesmo, tenho 26 aninhos, sou professora de escola, tô no começo de tudo e sou muito feliz. Fui forte sempre que foi necessário e não sinto necessidade de fingir nada pra ninguém. Quero que a ex seja muito feliz, bem longe de mim e que eu e ele continuemos apaixonados e imunes aos defeitos e diferenças que temos.
E quero também que tudo isso se resolva porque tá foda.