terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Calendário da Copa do Mundo.

Ontem fui jantar com dois grandes amigos. Enquanto comíamos, um deles comentou sobre a intenção do governo do estado em modificar o calendário letivo em 2014 com o objetivo de transferir as férias de um mês de janeiro para julho. Fui taxativa em afirmar que sou contra. Me indagaram por que razão e eu falei apenas que não acho justo que a minha vida seja desestruturada em razão de um evento que não foi escolhido por mim. Um deles retrucou dizendo que o meu empregador escolheu e que eu tenho que ter disponibilidade para obedecer e lidar com mudanças. O assunto acabou deixando um ar desagradável entre nós por algum tempo.
Fiquei com isso na cabeça. Expliquei a situação a minha mãe, que não só concordou com o meu amigo, como acrescentou que "quem sou eu para discordar do meu empregador?" e disse que na vida nós temos que acatar as ordens que nos são dadas e blá blá blá.
Aprendi sozinha que a opinião de mamãe não é exatamente correta, pois vocês sabem bem que eu optei por não fazer greve para não entrar em conflitos com o meu empregador, e quando o mesmo teve a oportunidade de retribuir a minha lealdade, permitindo que eu me ausentasse por duas semanas por conta dos estudos para a seleção de mestrado, quase fui desligada do emprego. Com isso entendi que se eu discordar, não devo ter problemas em expressar minha opinião e agir de forma consonante a dos meus colegas, pois eles não deixarão de exercer o papel castrador que lhes cabe por consideração a mim.
Não sou contrária a Copa do Mundo. Pelo contrário, me emociono muito a cada quatro anos torcendo para os países com os quais simpatizo, como Argentina, Portugal, Uruguai, Gana, etc. Não entendo nada de futebol, então torço pra quem acho que merece ganhar, embora saiba que não é assim que a coisa funciona. Mas acho importante e bela a integração que a Copa proporciona e, longe de mim, me opor ao evento.
O que ocorre é que me parece injusto que seja prolongada a presença de alunos e professores na escola no verão (e no Rio o verão não é ameno), para que no inverno, com a maior das atrações ocorrendo por todo o território nacional, o que tornará os preços das passagens, aéreas e rodoviárias, exorbitantes e impedirá que nós façamos viajens normais. Outros setores terão folgas localizadas durante esses dias, mas garantirão o seu recesso em algum outro momento. Além disso tem a lama toda na qual o nosso governador está inserido, o que não me permite confiar nele ou colaborar com os seus designos de forma tranquila.
Por outro lado, acredito que não posso ser egoísta e, se de fato me for imposto esse calendário, obedecerei e mesmo se tiver que ver os jogos pela televisão, me emocionarei.
Não quero ser intransigente, nem perder a ternura.

domingo, 25 de dezembro de 2011

manhã de Natal

Não está sol. Mamãe sai pra caminhar bem cedo. A cachorra chora. As rabanadas têm gosto de queimado. Durmo mais. Acordo e ligo o computador, várias mensagens de fraternidade e alegria. Leio o jornal, nada demais. Durmo de novo. Vovó está com gripe e não sai do quarto. Alimentamos a cachorra, que dorme com cara de desânimo.
O apartamento é novo, todo branco, com vazamentos. Vê-se a praia da janela, mas ir a praia não parece boa ideia porque não há assunto entre nós. Os colchões estão no chão da sala. Mamãe não sabe o que fazer com esse lugar. Os enfeites rústicos não combinam com o design clean. Ela está visivelmente frustrada e arrependida, queria ter comprado alguma coisa na Zona Sul. Quando ela teve dinheiro pra adquirir um imóvel em Copacabana por um preço bom, eu, que tinha 18 anos, a desencorajei porque gostava da Tijuca. Culpa eterna. Decidiu investir na Barra. A toa.
Interrompo o silêncio dizendo que vou comer queijo. Chamamos minha avó e então todas estão sentadas a mesa. Um principio de conversa se inícia. Minha irmã, no entanto, sem paciência nenhuma para confraternizar, se retira para preencher palavras cruzadas, mamãe sai pra ler mais um dos livros da Martha Medeiros que ela não termina e restamos eu e vovó, que me pergunta pela terceira vez o que vou fazer no ano-novo.
É meio dia. Não tem almoço. A comida de ontem não apetece. Alguém liga a televisão e vê um programa porcaria de domingo, onde toca Kenny G e uma banda de três irmãos feiosos, que fez sucesso há alguns anos, aparece cantando "Olhar 43" do RPM. Algumas mensagens de amor chegam pelo celular. Infeliz Natal.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Odeio Natal.

Natal pra mim significa tudo o que eu sempre quis ter e não pude. Minha mãe não se dá bem com a família dela, então sempre passamos sozinhas. Minha avó, que se dá bem com a própria família, as vezes vem ficar com a gente, visivelmente contrariada por estar longe dos próprios irmãos e sobrinhos. Minha mãe e minha avó são pão duras envergonhadas e isso é a pior coisa porque tudo o que elas fazem sai pela metade. Tem bacalhau, mas não é gostoso, tem bolo sem recheio e arroz sem sal. Mamãe ri da oração de vovó antes do jantar, fingimos suportar a comida insossa e a falta de assunto. Eu tenho raiva de mamãe, que tem raiva de vovó, que também tem raiva de mamãe. Minha irmã e a cachorra não têm raiva de ninguém. As dez horas a mesa já está retirada e todas assistimos Zorra Total.
Quando eramos crianças, papai tinha uma namorada cuja família comemorava o Natal e ele sempre nos levava. Minha irmã detestava, mas eu tinha muita disposição pra me introsar. Abraçava parentes que não eram meus e ganhava presentes no amigo oculto de desconhecidos. A casa ficava cheia e as vezes tinhamos que dormir na varanda. Eu adorava.
Depois papai se separou e nós começamos a ir pra casa do meu tio nessa data que existe pra ser feliz. Eram natais sinceros. Quando íamos para Corumbá, onde moram minhas tias paternas, também era bom e as comidas insuperáveis, mas o calor que faz no Centro Oeste em dezembro e o preço alto da passagem, além da dificuldade de acesso a capital do Pantanal, que nos faz ter que viajar com escravos bolivianos, desanimam.
Já passamos o Natal com a família da nova mulher do meu pai. Tudo lindo, mas não tenho mais disponibilidade para desconhecidos pouco interessantes. Acho tudo um saco. Ficamos com mamãe, portanto, e olha, como é ruim! Sinto vontade de ter uma família feliz, que se abrace e troque presentes, com comidas gostosas e assuntos infindáveis, mas aqui em casa é o contrário. Sei que é uma data construída, mas gostaria de fazer parte do espírito de união que ela propõe. Sou recalcada por não ter nada disso.
É provável que eu não tenha filhos, que não me case nos moldes tradicionais e que essa data seja sempre essa grande merda. Triste.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Fim de caso

Muito tempo depois do nosso último encontro, nessa quinta feira a noite, em frente ao cinema onde nos beijamos pela primeira vez, estava eu no telefone com meu novo amor, esperando uma amiga pra ir jantar na Lapa, quando o vi se aproximando.
Mesmos olhos, gestos e voz. Olhei pra ele, interrompi a conversa no telefone, demos aqueles os dois beijinhos de praxe, ele comentou que eu estou loira e também começou a falar no telefone. Avistei minha amiga, fui em direção a ela, ele também encontrou um amigo e só. Nenhuma discussão ou mágoa.
Meu pai dizia que o castivo vem a cavalo. Eu digo que a indiferença também. Estou comendo o prato frio de quem não se importa mais. Quando sentei e raciocinei sobre o encontro, me dei conta de que me sinto completa com o homem com quem estou agora e que hoje é aniversário desse outro. Tive pena dele, que estava ali sozinho, em plenas bodas de talento e tristeza, pensei até em mandar uma mensagem desejando felicidades, mas decidi que ele não é mais problema meu.
Acabou.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

humildade

A verdade é que eu morro de medo de estar fazendo a escolha errada. No fundo eu sei, e é isso que dói, que não existem pessoas ruins: os homens que me fizeram sofrer, os professores que me desprezaram, a diretora de Seropédica, George Bush e Thereza Cristina. Todos têm amor no coração, dormem e acordam cheios de objetivos todos os dias e quando falham, pensam como eu, que sair da linha só um pouquinho não é imperdoável.
Meus pecados latejam na minha mente. Tenho medo de parecer incompetente e de não ter mais credibilidade. Gostaria que só as minhas boas ações reconhecidas. Todos gostaríamos.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Pérolas a você.

Isso do atire a primeira pedra quem não tiver pecado é a melhor frase que eu já vi ser atribuída a Jesus. Talves ele não exista, mas só de ter falado isso, já atrai a minha simpatia. O inferno na terra é receber sermão de gente que não tem nada a ver com a minha vida. E por que isso acontece? Porque eu me exponho. Saio falando de mim por aí como se todos fossem capazes de entender o livro aberto. Alguns não têm condições de compreender mesmo, porque sempre estiveram enclausurados numa redoma de covardia horrorosa e a professora de português do colégio não foi capaz de ensiná-los nem as mais simples interpretações de texto, para que no futuro, eles tivessem um mínimo de subjetividade. Outros sabem direitinho do que eu trato, mas julgam o mundo a partir da sua própria trajetória e ó: me atiram meteoritos.
Foi por ter me dado conta de que estava falando a respeito das minhas fraquezas e da minha felicidade pra essa gente que eu fechei a visitação a todas as minhas redes sociais. Não é só medo de inveja porque eu sou familiarizada com esse sentimento. É pra não abrir espaço pra ser sentenciada por pessoas que não fazem nenhuma diferença na minha vida. Tá interessado em mim? Vem me procurar.
Não sou arrogante porra nenhuma. Sempre admiti minhas derrotas e tristezas. Não me acho melhor do que ninguém porque passei no mestrado, mas dá licença de eu ficar feliz. Por que não cria coragem e muda a sua vida, ao invés de ficar vindo ler meu blog pra tentar sentir o gostinho dos meus acontecimentos?
Nunca disse que esse ou aquele emprego eram pouco dignos, nunca cuspi no prato que eu como, mas QUERO MELHORAR DE VIDA, se você não tem essa ambição, por favor, guarde suas críticas para falar na análise que você nunca fez.
Enfim, o acesso a esse blog eu não posso e nem quero controlar. Aqui eu sou livre e de verdade e quem vem aqui, admitindo ou não, conhece o meu valor. Não vou parar de escrever, nem de dizer minhas opiniões. Tenho erros e acertos, e você que não tem nada?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pra não se misturar aos porcos.

Quando eu for pela última vez a Seropédica (oh, how i wish it would have been today) vou cantar "The dog days are over" da Florence and the machine (só gosto dessa música dela e não, não enjôo) bem alto. Vou olhar pro km 32, pedaço esquecido de Nova Iguaçu, onde moram os meus alunos, e vou mandar lavar os meus sapatos, feito Carlota Joaquina.
Vou esquecer da franja cafona da diretora, das professoras medrosas, da servente que pensa que é coordenadora, da comida sem graça, das duas horas de ônibus pra ir e voltar, da poeira e da lama.
Não me olvidarei, no entanto, do trocador do 441B que sempre acena pra mim quando eu salto, de algumas professoras que mesmo sendo evangélicas e mais velhas, não me julgaram quando eu supostamente errei e das alunas que no dia que a diretora achou que poderia me expulsar da escola, correram atrás de mim e choraram no portão, disputando espaço para me beijar.
São dias de cachorro e eu quero que cheguem ao fim, mas ao contrário da maioria das minhas superiores,  não tenho a alma pequena.
Não se trata de pessoas ruins, elas são limitadas apenas, naquele mundinho de Fundação Educacional Unificada Campograndense e West shoping. Tudo cafona e superficial, frases feitas bem intensionadas, mas frequentemente de mal gosto.
Não sou arrogante, tentei pertencer. Fui lanchar com elas, ouvi todos os papinhos, fingi que não conhecia o que estou careca de saber e nem em greve entrei, pra não ser a ovelha negra da família. Não funcionou. Sou a diferente mesmo, não pertenço a nada ali e tenho outras metas pra minha vida.
Não quero mais comer farelo. Chega.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Minha psicóloga me pediu pra levar uma lista com as minhas metas pra 2012 na nossa próxima seção.
Não tenho coragem de dizer a verdade a ela, mas sinto que preciso registrar esse compromisso de alguma forma e acredito que aqui é o espaço mais apropriado porque os leitores não me cobrarão nada e eu me recordarei do que está escrito.
Os objetivos são os seguintes:

1 - Limpar meu nome.  - Não aguento mais ter dívidas.

2 - Emagrecer - sempre.

3 - Ter um caderno organizadinho para cada uma das turmas que eu dou aula e seguir o curriculo recomendado (por mais impossível que isso seja)

4 - Ler todos os textos que me forem recomendados em dia.

Obs: Não, minha psicóloga não sabe que eu tenho dívidas absurdas. Me envergonho tanto disso que não disse nem pra ela. Estou ali para adquirir coragem e pensar nas minhas dívidas me torna covarde e me faz perder o sono. Vou quitar tudo, mas não consigo tratar desse assunto na terapia.

Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

Sol de pleno dezembro. Eu fui.
Dez da manhã. Minha entrevista. Não me disseram que essa era a parte mais difícil.
Estudei enclausurada durante meses. Ouvi de uma professora do estado esses dias que lá é o seu ganha-pão e que não foi fácil passar, por isso ela valoriza muito esse emprego. Tive vontade de dizer a ela que não peguei em um livro pra fazer aquela prova e passei, já pra entrar no mestrado o rebolation foi intenso.
Achava que passada a prova escrita estaria tudo bem, jogo ganho. Sempre soube me expressar e estava segura em relação ao meu projeto. Fui a quarta a ser chamada. A sala tinha uma mesa enorme de madeira e a arrumação me deixou de frente para os cinco pós-doutores que, nessa circunstância, fazem o papel de inquisidores.
Quando me vi sentada ali, perdi a desenvoltura. Repeti palavras e esqueci meus talentos. Foi difícil. Quando saí, já na Presidente Vargas, esperando o ônibus, a ficha caiu e eu chorei muito.
Me lembrei da escola, do vestibular, de quando era caloura, do entusiasmo que foi surgindo aos poucos apesar de a História ter sido uma escolha consciente e antiga, dos textos lidos, dos não lidos, de todo o tempo que eu me senti atrasada por não estar na pós-graduação, dos meninos e meninas bem mais novos que eu que já estão no doutorado, de todo mundo no Rock in Rio enquanto eu estudava, do dia da prova, da frase que eu escolhi pra começar a escrever e das associações que fiz sozinha ou com a ajuda de amigos. Chorei as lágrimas de quem não está mais brincando. E fui trabalhar.
Deu tudo certo, fui aprovada em décimo quinto lugar. Os últimos serão os primeiros.
Não sei o que farei em relação a falta de tempo e dinheiro, mas nem me importo, consegui passar, a conquista é minha, essa é a prioridade, sou boa e corajosa o suficiente.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Caciques e índios.

É público e notório que historiador não ganha bem. O auge da nossa carreira é ser professor universitário e o salário atribuído a essa nobre ocupação é de seis mil reais. Ainda há todos os beneficios sensacionais da previdência integral, licenças premiuns e reajustes progressivos, mas com as reformas que estão ocorrendo acho difícil que a coisa continue assim.
Enquanto advogados e engenheiros ganham tranquilos cinco mil reais de salário inicial, nós nos estapeamos por muito menos do que isso. Em concursos pra professor secundarista estapeia-se por menos de um terço desse valor. Sobra espaço paras as vaidades.
Adoro o que eu escolhi pra fazer da vida e estou super engajada em estudar, mas fico passada a ferro quente das freias medievais quando vejo como esses pós doutores se sentem o supra sumo da humanidade.
Esses dias um, com quem eu sempre nutri uma boa relação virou a cara pra mim na porta da faculdade. Fez isso porque não aceitei trabalhar com ele. Tive vontade de ir atrás e perguntar quem ele pensa que é, mas preferi evitar a fadiga.
Hoje soube de uma louca (bem inteligente, é verdade) que disse por aí que eu e uma outra ex-aluna da raia miúda brigamos por causa de não sei quem. Mulher que tem apartamento na França, é amiga pessoal de ex-presidentes e cantoras famosas falando da minha vida? Nem sequer encontro mais a menina com quem supostamente briguei e a detentora da fofoca então, não vejo há mais de um ano. Meu nome em boca de Matildes acadêmicas, queimação total.
É tanta idiossincrasia que essa gente tem, tanta falta de tato com a vida real que dá vontade de gritar. Mas dependo deles. Então entendi que tenho que ser humilde e ficar bem quietinha sempre. Tô vendo que o cara tá falando merda? Deixo. Tô sabendo de um fato desmoralizador sobre ele? Rio sozinha. Gosta dele a ponto de querer abraçá-lo? Não demonstro, quase todos são avessos a carinho.
Quando a gente vive no meio dos caciques, o negócio é vestir a carapuça de índio e deixar eles se degladearem.
Porque no fundo a verdade é que dos assuntos que eles são especialistas, eu entendo pouquíssimo. E em alguns raros momentos eles deixam transparecer o amor ao próximo, aí a coisa toda fica um pouco menos dura.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A carruagem não existe e a abóbora é minha.

Martha Medeiros, minha cafona favorita, disse esses dias, em uma de suas crônicas que o bom é inimigo do perfeito. Fiquei com essa frase pra sempre na cabeça. Até falei dela pra uma amiga que costuma colocar defeito em todos os pretendentes e pensei que comigo foi nessa linha de pensamento que se baseou a decisão de investir no homem com quem estou (feliz) hoje.
E no último sábado, depois de almoçarmos num lugar legal e de termos passado a tarde inteira juntos jogando papo fora, fomos a casa de uma amiga. Lá estavam outros amigos, sentamos, tomamos café, conversamos e... alguma coisa não estava boa de repente. Me esforcei pra não discutir na frente de ninguém, insisti pra ir embora, chorei quietinha no taxi e só no quarto, depois de tomar banho e escovar os dentes, expliquei minha insatisfação.
O que mais me chateou foi a merda ter se dado na frente dos meus amigos. Porque eu queria tanto compartilhar com eles a alegria de ter encontrado um homem legal em tempos de seca, que depois só pensava no que eles teriam achado e em como seriam os próximos encontros com outros amigos. Me senti desprotegida e desencantada. Péssimo. Fizemos as pazes da forma como dava e dormimos. De madrugada, altas horas, vigézimo sono, nós, abraçados, começamos a falar. Foi uma daquelas conversas cheias de verdades e nenhuma agressão, com abraços e amor.
Cheguei em casa apaixonada, certa dessa paixão, fortalecida e cagando baldes para o que pensaram ou deixaram de pensar meus amigos.
Lembrei do soneto de Shakspeare, número 14, no qual ele fala sobre sua amada e diz que a pele dela não é feita de neve, que seus cabelos, por vezes, parecem arames, mas quando ela anda, seus pés tocam o chão.
Meu amor é real. É isso.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Nesses últimos dias eu tenho estudado bastante. Não sei qual o ritmo da maioria das pessoas, mas o meu é bem lento. Faço anotações, paro, brinco com a cachorra, volto, procuro no Google o que é "Gestalt" que o autor citou, abro o dicionário inúmeras vezes e organizo meus fichamentos durante a exibição de "Mulheres de areia". Acordo as sete, tomo banho e vou direto pro livro, mas eventualmente, tiro um cochilo e olho o Facebook. Devagar vou fazendo associações a ganhando segurança.
Organizei na minha agenda mental que essa semana não daria pra ir a Seropédica. Ou eu estudo, ou vou pra lá, os dois juntos é impossível. Mas acontece que durante a confecção do projeto eu já faltei e fui avisada pela diretora e por colegas que se não fosse trabalhar hoje, minhas faltas seriam encaminhadas a Secretaria de educação.
Não foi fácil decidir o que fazer. Me martirizei durante toda a semana. Só ontem tomei minha decisão. Sei que lá é o meu trabalho e que a diretora está na função dela de não deixar que os professores faltem, mas a quatro dias das duas provas para as quais eu me preparei por meses e apostei todas as fichas, só o que eu posso fazer é pensar em mim.
Quero fazer mestrado pra passar num concurso melhor e sair dessa vida. Trabalhar longe pra ganhar pouco pode ser um aprendizado fundamental, mas se durar mais do que a cota vai me enlouquecer. Não estou dispensando esse emprego, nem tenho condições pra isso, minhas dívidas somam milhões e não há garantias de que eu serei aprovada, mas uma coisa é certa: Se eu não tentar não vou conseguir.
Minha diretora tem a vida dela voltada pra esse emprego. Eu não posso nem quero, apesar de adorar algumas amigas que fiz na escola e de ter uma boa relação com a maioria dos alunos, me acomodar nisso. Lá é um mundo necessário e admirável, mas não é o meu mundo. Peço perdão a Deus por talvez não estar sendo humilde, mas preciso arriscar.
Faltei hoje, li meu livro e não me sinto culpada. Fui honesta com os meus sonhos, que aliás são bem legítimos.
Se me chamarem na Secretaria de educação, levo os editais e encho a boca pra dizer: Faltei porque estava estudando. Se vocês me mandarem embora, estarão assinando um atestado de mediocridade.
E tenho dito.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

É um momento dificil, a pressão é grande, eu tenho muito medo de me sentir derrotada novamente e quando vou dividir isso com a pessoa que está mais próxima de mim nessa situação toda, ela CAGA na minha cabeça.
Seleção de mestrado é uma merda, tá todo mundo competindo entre si, não é que nem vestibular que tem a amiga que vai tentar Direito e a outra Medicina, aqui o buraco é mais embaixo. E ontem eu fiquei nervosa pensando em como vai ser se eu não passar, imaginando ter que entrar naquela faculdade me sentindo inadequada a ela, e vendo, ainda por cima, a colega que podia ter discutido os textos comigo, ser aprovada porque ela tem uma enorme tradição de notas dez e eu não.
E a diretora da escola do estado onde eu trabalho não me deixou faltar amanhã pra estudar alegando que não há abono para estudos. O governador libera TODOS os funcionários pra irem a essa passeata ridícula dos royaltes do petróleo, mas quando a professorinha que ganha 800 reais pede pra estudar pra uma seleção de mestrado não pode.
Tenho vontade de mandar todo mundo tomar no cu, diretora, governador, colega traíra e todos os que têm uma pedra no lugar do coração porque poderiam ter ajudado já que não estão na competição, mas permaneceram cagando baldes.
Agradeço imensamente aos que pararam pra discutir comigo via Twitter, Facebook ou telefone e aos que enviaram fichamentos e me indicaram os capítulos de cada livro que eu deveria ler.
Tô nessa pra ganhar, mas conheço direitinho a rua da amargura e não, não consigo abstrair a possibilidade de voltar pra lá.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No último sábado eu fiz uma viagem que não queria fazer. Não pela viagem, mas porque nesse momento gastar qualquer dinheiro e qualquer tempo está sendo difícil pra mim. E no ônibus, indo pra Juiz de Fora, meu destino indesejado, sentada no banco do corredor e esmagada entre a poltrona reclinada da frente e a senhora de idade que não me permitiu reclinar a poltrona atrás, pensei sobre as minhas dívidas, as minhas dificuldades e insatisfações. Batata: Chorei.
Foi quando começou a tocar "Despedida" do Marcelo Camelo, que eu já conheço há bastante tempo e até sei cantar de cór, mas dessa vez entendi diferente. Me dei conta de que o verso "eu não sou daqui também, marinheiro", que inicia a canção, dialoga com "Eu não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Bahia, de São Salvador... ô marinheiro, marinheiro, marinheiro só..." do Caetano.
E isso de não ser daqui me é muito familiar. Foi o suficiente para que eu me sentisse amparada porque sei que Marcelo Camelo também não pertence. E é por isso que gosto tanto dele.
Construo um tipo cego de fidelidade para alguns artistas, aos quais não critico, apenas entendo. Sofia Coppola, Tarantino, Woody Allen, Karin Ainouz e sim, Marcelo Camelo. Não me importo se ele desafina ou se as vezes as músicas são dissonantes, me identifico e isso é suficiente.

Durante o final de semana, entrevistei um senhor que era líder sindical na época do Jango. Tem 91anos. Só se lembra com detalhes de antes de 1964. Tudo que vem depois ele não conta direito. Fala do Jango com uma paixão emocionante. Foi preso e apanhou ainda em 64. Não havia acusação. Ele nos contou que tinha conseguido 140% de aumento para os trabalhadores e que as conquistas para as reformas brasileiras estavam todas encaminhadas. Para esse homem o golpe foi o fim. Não paro de pensar nisso. A viagem fora de hora valeu a pena.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eu tenho um namorado que ouve Rolling Stones.

Eu e meu amor estávamos andando pela rua Augusta procurando a esquina com a Avanhandava, que fica lá no iniciozinho, quase na Praça da República, quando encontramos uma loja de discos dessas que tem um dono grisalho e cabeludo super fofo com aquele sotaque paulista urbano, bem moderno.
Meu namorado colecionador de vinis se embrenhou lá por dentro e voltou dez minutos depois com o "Their satanic magestic request", que é o meu disco favorito dos Rolling Stones. 45 reais e um banquete italiano depois, fomos pra casa, sentamos no sofá e ouvimos a obra prima de 67 juntos.
Era uma segunda feira. Nunca vou esquecer. Tenho o Their satanic majestic request em cd desde os dez anos, mas o descobri com dezesseis. Ouvia sem parar e de vez em quando ainda ouço, mas como meu tocador de cd está com defeito, fazia séculos que não me deliciava com o que considero o momento mais festivo dos Stones.
Olhei a capa do album com atenção e percebi detalhes que no cd ficam apagados. Entendi que as primeiras músicas se repetem ao final de cada lado, mas que eu nunca notei porque no cd elas se repetem no final apenas. Não tem dois lados. E me dei conta de que aquelas músicas formam um disco e que aquele objeto deveria ter sido pra sempre um disco porque como cd ele não é tão bonito quanto deveria.
Depois ouvimos o "Sargent Peppers". Foi lindo, estou apaixonada.

O cenário atual.

Parte 1
Desde que nós viemos morar nesse apartamento, havia um vazamento no banheiro do quarto de mamãe. Quando eu tinha 12 anos o gesso caiu. Fizemos obra, a casa ficou cheia de homens por mais de um mês, aquele inferno, mas na época tinhamos empregada e eramos pequenas, o que facilitava bastante as coisas. Hoje, muitos anos depois, aconteceu a mesma coisa. Mamãe ligou pra vizinha de cima, Dona Neli, uma fofurinha, e ela cagou na cabeça da gente com toda a delicadeza.

Parte 2
Mamãe não vai as reuniões de condomínio faz tempo. Soubemos que nosso porteiro favorito tinha sido demitido para cortar gastos quando descemos e na hora de dar "Bom dia" tinha outro no lugar dele. Nosso sindico é um homem bom, daqueles fofos mesmo, mas que nessa de cortar gastos, só faz merda. Soubemos, por comunicados enviados a nossa casa, que o edifício inteiro entraria em obra para trocar as colunas hidraulicas, já que nos andares baixos a água saía muito fraca em razão do entupimento dos canos antigos. Chegaram aqui alguns pedreiros, quebraram algumas partes da sala, da cozinha e da área de serviço, dos dois banheiros e do corredor. Só sobraram os quartos. Começaram a haver vazamentos repentinos, a casa alagou mais de uma vez e a poeira passou a ser uma constante. Não sendo desconforto suficiente, nosso prédio agora vive sem água. Tomar banho de balde se tornou uma prática com a qual já nos habituamos. Quando mamãe percebeu que a empresa contratada pelo condomínio, não sabe o que está fazendo, deu alguns gritos com o chefe da obra e explicou a situação ao síndico, que de forma educadíssima, disse a ela que não há dinheiro suficiente para que se contrate trabalhadores mais bem preparados. Isso porque moramos numa rua boa da Tijuca e nossos vizinhos são velhinhos bem aposentados.

Parte 3
Mamãe contratou um pedreiro para reformar o banheiro destruído do quarto dela. É um senhor bonzinho que trabalha junto com a esposa. Começaram essa semana. Jogaram tudo em baixo. Eu estava em São Paulo brincando de casinha e quando cheguei, vi que tinha poeira até dentro das gavetas. O bate estaca faz com que a confecção do projeto de mestrado seja ainda mais dolorosa, se é que isso é possível, e nossa cachorra está mais encardida que o Sansão da Turma da Mônica.
Hoje, então, a situação degringolou. Faltou água nas torneiras, vazou água no banheiro em obra, o pedreiro da minha mãe se desentendeu com o pedreiro do prédio e eu, que tentava entender o que Derrida fala sobre o perdão, decidi fazer xixi no Shoping Tijuca para desanuviar.
(Não tenho dinheiro pra ir muito além do Shoping Tijuca, a vida está difícil e no fim do mês a coisa piora). Soube depois que o pedreiro da minha mãe tentou estorqui-la. Só Jesus.

Parte 4
Há dois anos mamãe comprou um apartamento na Barra e fez obras nele inteiro. Lá também tem um vazamento permanente e os vizinhos são igualmente pão duros e gente boa. Os pedreiros deram calotes horríveis e o estresse só não foi maior porque moramos aqui. Se eu fosse ela, vendia. Mas acontece que ela se apegou a porra do apartamento e com esse caos aqui, resolveu que quer ir morar lá. Eu e minha irmã se quisermos continuar na Tijuca, teremos que nos sustentar e aguentar esse inferno sem fim. A coisa por aqui está deveras periclitante, a ponto de nem água potável ter mais. A Barra é longe de tudo o que eu entendo por meu.  Ganho bem no total, mas fiz dívidas demais e o montante que me resta efetivamente não permite que eu more sozinha.
Tenho pena da minha mãe que está cansada de ser dentista, muito mais do que eu estou de ser professora e de ter que ler todos esses autores cujas caras nem sei como são. Me sinto mal em vê-la sozinha diante dessa lama. Um relacionamento faz falta nessas horas.
Não quero ir morar na Barra, queria era morar sozinha e ter dinheiro. Não aguento mais vazamentos, pedreiros e bagunça. Tenho medo de ficar sem casa. Lá em São Paulo é legal, mas não é a minha casa. Preciso construir as minhas próprias referências e ser livre. Não é fácil.

Pra onde vão os humildes?

Nessa maratona enlouquecida de ler milhões de coisas pra escrever projetos e aí ler ainda mais pra fazer provas, hoje eu liguei pra uma amiga que já está no doutorado, também estuda Ditadura e ficou de me ajudar com um material útil para a construção do meu texto de 20 páginas.
Conversamos um pouco e eu disse a ela que não ia falar demais sobre a Hannah Arendt no projeto porque tenho medo de, se por ventura, eu passar pra entrevista, ser arguida justamente sobre os conceitos dela, não saber responder e me ferrar. Minha amiga disse que eu estou com medo de ousar e que a avó dela tem uma frase que ela sempre usa "Os humildes não chegam a lugar nenhum".
Quase caí pra trás quando ouvi a sentença de vida da matriarca da família alheia.
Pensei: Ou eu entendi tudo errado, ou o mundo tá perdido.
Pode ser que eu não passe em nenhuma das seleções que vou tentar e chore horrores porque escolhi essa merda de faculdade de História que demora uma eternidade pra dar dinheiro, mas lhes digo: Quem me ensinou a ser humilde não foi mamãe, vovó ou Santa Rita de Cássia, foi a vida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os objetos estão acabando.

Primeiro foram os discos, depois as fitas VHS e cassete, em seguida se foram as fotografias. Vitrolas, videoscassetes, walkmans e máquinas analógicas ficaram obsoletos. Posteriormente foram os disquetes e cd-roms. Antes a conta de telefone vinha grossa, agora é um papelzinho só e "veja sua fatura completa através do site....". Nunca vimos tantas coisas acabarem.
Os ingressos de cinema perderam o glamour, vêm agora em papelzinho de nota fiscal, igualzinho a uma Ruffles que se compra nas Lojas Americanas. Mas o filme, ah o filme...esse fica. Livros viram e-books, agendas cabem em um ipod e tudo o que é feito a mão passou a valer cinco vezes mais, justamente porque tem uma compensação bem mais demorada.
A barca Rio-Niterói se tornou mais compacta, mais rápida e sem janelas. Não assinamos mais o ponto, apenas encostamos o polegar direito em um visor que armazena nosso ir e vir. Carteirinhas também estão em extinção e os ascensoristas, tão simpáticos, são cada vez mais raros.
Ontem fui a um supermercado chique de São Paulo e vi que lá se vende manga cortadinha, orgânica e pronta para o consumo por dois reais e alguns centavos. O mesmo acontece com tangerinas e romãs. Facas pra que? A alface já vem higienizada, o peixe limpo, a uva sem caroço e a água de coco engarrafada.
Nos sobra tempo e espaço a beça.
A vida está mais fácil? Vamos mais a praia? Somos mais saudáveis? Temos mais amores? E mais dinheiro?
Assistimos pela TV ditadores serem mortos do outro lado do mundo ao vivo, nadamos em piscinas cobertas e pedalamos bicicletas que não vão a lugar nenhum.
Ainda bem que existe a panela, essa ninguém vai substituir.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A vida futil dos meus sonhos.

Vocês não imaginam como dói em mim não assistir "Mulheres de areia" todos os dias. Ruth e Raquel foram a minha primeiríssima referência de cabelo bonito e toda vez que eu assisto a novela, me sinto de férias. É tão ruim quanto perder "O Rei do gado", que por duas vezes tocou meu coração para questões políticas e amorosas tão intensas. De "Vamp" nem preciso comentar. Quem de nós não quis ser Natacha um dia?
"Por amor" eu assisti três vezes e olha, só me fez bem, Só que quanto mais o tempo passa, menos eu fico em casa a tarde e aí só resta a noveça das oito (mentira, tb dou uma espiadinha na das seis quando dá). Mas não reclamo, estou gostando muito de "Fina estampa", nem Cristiane Torloni falando "meu bem" tem me incomodado.
E esse ano foi só isso, novelas. Não tenho ido ao cinema. Não vi nenhum filme do Festival. Estudar me consome muito. Fico arrasada a cada comentário que leio sobre filmes que não saem da cabeça dos meus amigos cinéfilos, que enquanto eu passei o final de semana inteiro lendo sobre memórias subterrâneas e coletivas, assistiram dois ou três filmes.
Há quem diga que tem retorno. Minha experiência diz, no entanto, que nem sempre é assim. Talvez eu esteja perdendo isso tudo a toa. Sabe Deus.
O fato é que a minha vontade hoje é de nunca mais dar aula, nem escrever projetos chatos. Queria passar a vida escrevendo criticas de novela. Ah, como amo futilidades!
Se eu fosse princesa, acordaria na hora que quisesse, iria a piscina, faria mil massagens, almoçaria comidas deliciosas e assistiria novela das duas e meia da tarde até as dez e meia da noite com pausa apenas para um Capuccino da Kopenhagen. Depois disso eu dormiria gostoso e no dia seguinte seria tudo igual. Mudaria a rotina apenas em função de filmes interessantes (especialmente nos finais de semana porque o Vale a pena ver de novo é só de 2ª a 6ª) e do homem que eu amo.
Ai, como eu seria feliz!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A última semana foi muito atribulada.
Mamãe viajou para os States e eu decidi escrever um projeto de mestrado dois dias antes da data de entrega. Comecei a sentir uma dor de dente infernal (tenho que esperar mamãe dentista voltar da terra do mickey porque papai dentista trabalha em Itaguaí e se ir pra Seropédica já tem sido difícil, imagina pra lá), ficamos sem água aqui em casa por causa de uma obra no meu prédio, um cano estourou na cozinha e alagou o apartamento inteiro, vovó veio de Iguaba Grande nos ajudar, se estressou tanto que amanheceu passando mal, a levamos ao hospital, era um principio de infarto e ela ainda está lá. Está bem, não corre perigo, nem nada. Mas eu e minha irmã estamos tendo que ir pra lá ficar com ela e, enquanto isso, as provas que eu tenho pra corrigir e os livros que preciso ler estão parados. Tudo ficou mais emocionante ainda quando ontem, meu e-mail do IG, simplesmente ficou inacessível. Não consigo abri-lo de jeito nenhum e dependo dele pra quase tudo. Uma verdadeira merda, até tomei banho com sabonete de arruda.
Mas pra não dizerem que eu não falei das flores, meu namorado estava aqui durante essa sucessão de tragédias e nós aproveitamos bem as manhãs de sol em Niterói. Tenho gostado muito de Niterói. E meu coração chegou ao dia de ser tudo o que quer.
Mas foi interessante quando nós encontramos, no dia que eu fui a UFF entregar meus documentos para a seleção de mestrado, duas amigas antigas dele e da ex-mulher dele. Elas estão no pós-doutorado e eu indo entregar o projeto. Me senti um bebê. Ontem, ainda por cima, numa dessas coinscidências terríveis que Rolan Barthes já previu nos "Fragmentos do discurso amoroso", o perfil da ex apareceu na minha página do Facebook. Não resisti e olhei. E comecei a pensar que se ela visse as frases e fotos que eu posto, me acharia uma garotinha. Aí comentei isso com a minha irmã e ela disse que eu deveria trancar minhas informações do Face. Mas é contra a minha filosofia de vida bloquear informações de redes sociais. Acabei me dando conta de que sou nova mesmo, tenho 26 aninhos, sou professora de escola, tô no começo de tudo e sou muito feliz. Fui forte sempre que foi necessário e não sinto necessidade de fingir nada pra ninguém. Quero que a ex seja muito feliz, bem longe de mim e que eu e ele continuemos apaixonados e imunes aos defeitos e diferenças que temos.
E quero também que tudo isso se resolva porque tá foda.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os fantasmas da adolescência.

Eu fui uma adolescente incompreendida e arrogante.
Esses dias, vi que o professor de História mais querido de toda a minha vida escolar criou um perfil no Facebook e adicionou muitos ex-alunos. Eu era apaixonada por esse professor. Suas aulas, que eram nos dois últimos tempos das segundas feiras de 2001, eram o momento da semana mais esperado por mim, quase minha única felicidade.
Não sei explicar porque não pertencia ao ambiente da minha escola. Era feliz lá, tinha amigos, era querida pelos professores... mas me sentia despercebida. Esse professor, apesar de toda a minha devoção, nunca se interessou por mim, nunca me fez perguntas, era sempre eu que o procurava no fim das aulas e esperava que ele me respondesse dúvidas inventadas só para que seus olhos azuis durassem mais tempo ao meu lado. Não era nada sexual, mas eu queria atenção. Se com as outras meninas não fosse assim, eu certamente me importaria menos, mas com elas era diferente. Ele dizia frases bonitas, chamava pra almoçar, queria ouvi-las, saber o que elas, todas mediocres, pensavam. Comigo era só a aula. Como doía!
No final desse ano de aulas de História espetaculares, fiquei reprovada por causa das matérias exatas, e ele, comovido, ficou ao meu lado por cerca de duas horas, praticamente em silêncio, até que uma amiga chegasse para me consolar. Eu chorava muito, mas a presença dele naquele momento fez tudo doer muito menos.
No entanto, nunca esqueci que era com as alunas bonitas, de cabelo liso, que ele queria assunto. Eis um recalque eterno. Sempre achei que um dia ia mostrar a ele e a todas essas insuportáveis que agora são suas amigas no Facebook, que eu sou melhor. Mas vejam como a vida é: Onde foi que eu cheguei? No que sou melhor do que elas? Meus quilos a mais só se multiplicam, sou inerte para os estudos e até entregar a monografia foi difícil, que dirá chegar a Pós Graduação. Sou professora do estado, ganho menos do que um motorista de madame e tenho dívidas impublicáveis.
Tá, sou uma professora muito querida, trabalho também em uma escola bilingue cheia de exigências e minhas aulas sobre Hegel e Walter Benjamim foram lindas. Sou bem bonita e um mendigo esses dias até disse que eu pareço a Madonna. Faço parte da equipe de um projeto que entrevista pessoas que foram anistiadas após a Ditadura Militar e ganho pra isso. Tenho bom gosto para me vestir e para comer, amigos nunca me faltaram e apesar dos amores mal sucedidos, encontrei uma pessoa legal por quem estou realmente apaixonada e é recíproco. Durante os anos de graduação, muitos professores enxergaram o meu valor e é por isso que até hoje eu estou ligada a UFRJ. Minhas dívidas parecem irreversíveis, mas não são, assim como o meu salário. Eu estou dando certo. Só que por causa desse conflito e pra não ter que me lembrar das derrotas daquele tempo, eu não adiciono esse professor. Fico com as segundas feiras e com os olhos azuis, o resto não me diz respeito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Motel.

Desde que eu tinha dezoito anos e era uma ingênua caloura de História da UFRJ, a palavra "Motel" faz parte da minha vida. Meu primeiro namorado e eu eramos virgens antes de nos conhecermos e, sendo assim, ambos nunca tinhamos ido ao motel. Ele, que era três anos mais velho do que eu, recebia uma mesada de 200 reais do pai, dos quais 60 reais, iam para a mega-sena. Sobrava pouco para passeios, filmes e para o motel, o que era motivo de muitas brigas. Descobrimos um lugar confortável e barato, que em dias de semana, no período de 12 horas, dava direito a almoço. Levávamos o refrigerante na mochila e passávamos o dia lá. Era a Disneylandia..
Posteriormente namorei novamente e o rapaz morava longe. Passávamos noites inteiras num motel claustofóbrico que ele, apaixonado, adorava, e que eu, deslocada, cada vez gostava menos. No café da manhã desse lugar, que estava incluído no pernoite, tinha um pedaço de bolo gostoso, mas todo o resto era ruim. Não sinto saudade.
Aí achei que tinha conquistado o grande amor da minha vida e ele morava sozinho, mas eu, infantil, disse que não queria ir a casa dele porque não me sentiria bem pela mulher que morou com ele lá pouco tempo antes. Homem quando quer transar faz tudo o que a gente pede e aí fomos ao motel. Na primeira vez ele quis passar a noite inteira e eu quis ir embora. Na segunda, ele me avisou que tinha um compromisso e ficamos juntos por menos de 4 horas.
No namoro seguinte,em uma das vezes que fomos ao motel, num domingo a noite depois de passear na Barra (namorado tijucano é assim), faltou luz, nós nos lembramos rapidamente do assalto que acontece em "Cidade de Deus" e saímos correndo desesperados.
E esses dias, um amigo que foi pouco a motéis, certamente porque mora sozinho desde novinho, me perguntou o que significa um motel ser bom. E eu, que estou apaixonadíssima, namorando um niteroiense que mora em São Paulo, e que por isso, quando estou por aqui com ele, preciso recorrer a motéis, disse que a limpeza e o conforto são iténs importantíssimos. E de fato são, mas no último final de semana, acabamos variando o estabelecimento e trocamos o chique da Zona Sul que andávamos indo, por um na orla de São Francisco. E lá tinha espelho no teto. Digo a vocês: Como é bom!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O amor - Que preguiça!

Em "A noviça rebelde", filme mais antigo da vida de quase todos nós, a personagem que mais me chama atenção é a Baronesa Elza Schraeder. Não é dela que eu mais gosto, absolutamente. Divido com o mundo inteiro o clichê de amar Fraulain Maria, mas me identifico mesmo é com a baronesa rejeitada.
Georg Von Trapp, pai da  criançada, é um homem rico e sedutor. Foi na elegância de Elza, que após a morte de sua mulher, ele buscou sentido para sua vida. Ela, moradora de Viena, sorria de forma comedida e simpática e não queria filhos. Suas roupas, com laços avant-garde e cores quentes, denunciavam o bom gosto e a herança generosa que havia recebido quando ficou viúva. Era uma mulher feliz, que estava apaixonada por um homem que não pertencia ao seu mundo.
Em sua primeira incursão a Salzburg, habitat de Georg, ela se esforçou para se portar com naturalidade diante dos filhos que não eram seus e que não queria para si e tomou com gosto a limonada rosa (e por isso mais famosa do cinema) que lhe foi servida.
No entanto, ao perceber que a simplicidade de Maria (se fosse no Brasil a chamaríamos de chucra) tocou fundo o coração do homem que julgava ser seu, Elza tirou seu time de campo. E a sua fala de despedida do Capitão é, para mim, a mais bonita do filme inteiro. Eis um trecho:
"Eu preciso de alguém que precise desesperadamente de mim ou do meu dinheiro. Esse não é o seu caso. Vou voltar pra Viena, que é o meu lugar". E sai, cheia da dignidade própria dos derrotados.
Sou como Elza, quando me dou conta de que minha existência não é absolutamente essencial para o homem que decidi amar, sinto vontade de deixar tudo ali como está, sem dar maiores explicações e sumir.
Mas aí penso no Jânio Quadros, que renunciou crente crente que iam implorar pela sua volta, e tudo o que conseguiu foi ser um ex-presidente lembrado pelo português pronunciado corretamente.
É como a frase do Gabriel Garcia Marques que uma amiga minha sempre lembra: "Nada nessa vida era mais difícil do que o amor". Ai ai...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A vitória da tentação.

A parte do "Pai nosso" que diz "não nos deixeis cair em tentação" na minha vida se refere a não gastar dinheiro. Cada vez mais a questão central das minhas angustias se confirma como sendo a dicotomia adorar gastar - não ter como pagar.
Surge um emprego novo, mas as dívidas estão lá.
Estou apaixonada, é recíproco, tudo lindo, mas como se gasta...
Depilação, lingerrie jantarzinhos...Estou pobre.
As contas precisam ser pagas em dia. Como?
Se sou feliz, sou inadimplente, se quito tudo, não vivo.
Estou sem dormir, acho que é castigo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A partida.

Nunca entendi quem manda mensagens nas redes sociais de amigos que morreram. Achava que era querer aparecer, afinal, nunca imaginei Facebook no Céu. Ontem, então, infelizmente, percebi que estava enganada. Soube, um pouco antes de dormir, que um amigo antigo, desapareceu em uma praia de Salvador. Foi nadar e não voltou mais. Era um estudante engajado, o conheci em um trabalho social que participei. Vinha de família pobre, era o primeiro a fazer faculdade, teve uma filhinha antes dos vinte anos, morava no alojamento do Fundão e escrevia poesias muito bonitas (e eu sou particularmente exigente com poesias).
Ao ser informada sobre a notícia, vi o link para o perfil dele no Facebook e ao entrar lá, me deparei com a foto que exibia toda a doçura e a alegria que lhe eram peculiares. Mandei minha mensagem.
Fui dormir muito triste, chorei, pedi a Deus pelos que ficaram, me lembrei de muitos momentos especiais ao lado dele e acabei sonhando com a situação. No sonho, ele me contava que tinha ido com um amigo para uma praia pequena e que os dois ficaram boiando relaxados, mas quando ele se deu conta, estava longe já. Era ele que falava, vivo, forte, bonito, meu amigo.
É uma morte imperdoável.
Tentei imaginar o que Deus disse a ele quando o acolheu e acabei me questionando sobre essa coisa toda de  Deus. Mas sabe, isso existe sim. E o meu amigo, com certeza, está bem. Gostaria que ele lesse meu recadinho lá onde está. Na verdade o que eu queria mesmo era que ele aparecesse vivo e ansioso por abraços. Como dói.

domingo, 28 de agosto de 2011

Quem ama sofre.

Há dias eu venho pensando em escrever sobre os conteúdos autorreferentes (essa reforma ortográfica ainda vai me enlouquecer) das letras que Marcelo D2 escreve para as suas músicas.
Marcelo D2 nasceu em Madureira, foi criado na Penha e depois se tornou morador de Vila Isabel, fumou unzinho quando era adolescente, frequentou as pistas de skate do suburbio carioca, deu calote, virou sambista, pegou mulher, teve um filho, casou com uma lora, foi preso, fez as pazes com a mídia, "cantou assim porque fuma maconha", deixou o Planet Hemp em busca da batida perfeita, fez dueto com Bezerra da Silva, teve uma filhinha, traiu a esposa, se tornou o pesadelo do Pop, segundo ele mesmo e hoje em dia o único assunto que domina é a sua trajetória de vida. Considero Marcelo D2 um bom músico e uma pessoa interessante, mas meu Deus do Céu, PARE DE FALAR DAS SUAS CONQUISTAS, HOMEM. Toda vez que ouço suas músicas recentes lamento profundamente que tenha conhecido o Chorão do Charlie Brown Júnior porque foi ele que estragou tudo, ao meu ver. Se dê uma chance, Marcelão. Digo isso porque te acho talentoso. Tente não falar mais sobre os ensinamentos que você tem a dar a todos os burgueses, pelo amor de Deus.
Passado esse assunto quero dizer que isso de namorar quem mora em São Paulo faz o coração ficar acabado. As despedidas são terríveis. Na semana passada, pra eu ir embora da casa dele doeu que nem final de filme triste e hoje quando ele saltou do taxi no aeroporto, a saudade ainda nem tinha terminado e já teve que recomeçar.
A parte boa são as mensagens por SMS, a expectativa e os beijos eternos dos reencontros. Tenho certeza que nasci para o amor, por causa dele.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Chegada.

Boa parte dos meus vinte e seis anos (por extenso) eu gastei sofrendo por amor. Foram as rejeições incontáveis e irreversíveis da adolescência, os homens mornos da juventude festiva e os cafajestes da vida adulta. Tantas frustrações me faziam questionar sobre qual o meu problema: Era o sobrepeso? A voz grave? O meu jeito indiscreto? A que atribuir o fracasso continuo nesse setor da minha vida?
Foi então que apareceu esse homem. Não foi amor a primeira vista. Desse eu escolhi gostar. As músicas, as palavras, a disponibilidade, a presença... tudo isso me fez desejar os beijos, as mãos e as noites dele.
Tenho escrevido menos porque falar sobre felicidade é quase piegas, chato e dá medo, mas preciso dizer: Estou vivendo o que mereço.
Tenho outras preocupações bastante relevantes e ainda sofro quando preciso acordar cedo, mas encontrei um homem de verdade, que gosta do meu corpo e me quer inteira, "começo, meio e fim e a minha cuca ruim".
Já disse aqui que Madame Lispector besoin les vacances, mas antes que ela se vá, usarei sua frase mais clichê: "Não tenho tempo pra nada, ser feliz me consome muito."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As (mini) regras da arte.

Esses dias uma amiga me disse que detestou o último filme de Mademoiselle Coppola e que não entende como eu posso ter gostado tanto. Respondi a ela que me identifiquei com a história de desconforto, falta de intimidade e cumplicidade entre pai e filha que convivem pouco. E é verdade, quando meus pais se separaram e meu pai ainda não tinha se casado novamente, íamos eu e minha irmã para a casa dele a cada15 dias. Ele nos comprava revistinhas e cds e, enquanto assistia programas esportivos, nos deixava livres. Eramos sozinhos os três. Quando ele se aventurava na cozinha, sempre fazia aipim frito ou omelete com muita gordura. Havia amor, mas faltava tato. Completei dizendo que esse é o estilo de Sofia Coppola e que se ela prestasse atenção aos outros filmes, com certeza, veria mais sentido no (incompreendido?) "Somewhere".
Ainda assim, minha amiga insistiu e falou que se o filme em questão não fosse de uma Coppola, ninguém, nem mesmo eu, teria gostado.
Meus argumentos para deter a critica dela são embasados no mais importante guru contemporâneo, Pierre Bourdieu: Não há possibilidade de esse filme não ser dela. E não se isola um itém do restante da obra de um artista. "Somewhere" pode não ser tão rebelde como "As virgens suicidas", enlouquecedor como "Lost in translation", nem sublime como "Maria Antonieta", mas não existiria sem eles.
E Sofia Coppola não teria tanta facilidade para contar a história de meninas enclausuradas, se não fosse ela mesma, filha de quem é. A mim, grande pseudointelectual brasileira, a moça agrada muito, mas se não houver sensibilidade para os silêncios, nem experiência suficiente para que a verve indie das trilhas sonoras não seja vã, a verdade é que pouca coisa ali fará sentido.
Capital cultural não tem preço.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cinco minutos em Paris.

Madureira, três da tarde. Julho. Se chove ou faz sol, não importa, sempre há mais poeira na rua. Gente de um lado, gente do outro, gente a frente e atrás. Lixo na calçada e nos postes. Cachorros, gatos e homens perto dos restos de vidas pequenas. Lojas de mau gosto, camelôs, sandálias de plástico, verduras passadas e sorvete duvidoso. Lá estou eu.
Recebo uma ligação que oferece uma viagem longa para Paris. "Sim, eu vou, mas é claro". Corro com o passaporte, tiro o visto, provo minhas habilidades com o francês para garantir aos responsáveis que sou capaz de me entender com os nativos, separo as melhores roupas, compro as que são necessárias e, cautelosamente, conto para apenas alguns amigos. Antes de entrar no avião, sou avisada, no entanto, de que poderei passar apenas cinco minutos na capital francesa, com a qual tanto sonhei a vida inteira, especialmente nas últimas noites.
Decido ir porque penso que pior do que ter que voltar brevemente a Madureira, ou que mais triste do que permanecer para sempre lá, é nunca ter conhecido Paris. Mas ah, que dor no coração!

sábado, 23 de julho de 2011

Amy

Quando Cássia Eller morreu, eu tinha 16 anos. Era aquela semana entre Natal e ano novo e eu estava em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, visitando minha família que mora lá. Cheguei na casa da minha avó e vi, num daqueles plantões que Cássia, doce Cássia, tinha nos deixado. Me senti orfã daquela voz de mulher que ama, dos seios lindos que ela exibiu no Rock in Rio, da coragem e do talento. Minha dor foi subitamente substituída pela raiva do pastor da igreja que minhas tias frequentam, que durante o culto (quando eu vou lá, faço questão de participar da vida deles integralmente e por isso vou ao culto) disse que ela tinha procurado tudo isso.
Não uso drogas, nunca usei, mas acredito que isso não me diga respeito. Cássia Eller era uma mulher inteira e faz uma falta enorme até hoje. Se usava drogas, se morreu por causa delas, não me importa. Espero apenas que ela tenha sido feliz.
No momento da morte de Renato Russo, em 1996, eu estava no meu quarto ouvindo rádio. Eram férias de julho e meus amigos tinham viajado para o parque do Beto Carreiro, em Santa Catarina. O locutor anunciou a notícia e eu fiquei ali parada pensando na merda que estava acontecendo. Nessa época eu já tinha me apoderado do "Quatro estações" da minha mãe e o clipe de "strani amori" frequentemente alcançava o primeiro lugar do Disk MTV. De noite, lembro de ter deitado na cama e chorado.
Amy Waynehouse também me deixa nas férias de julho, com apenas um ano a mais do que eu. Queria eu ser grande como ela. Vejo essas reportagens que dizem que ela deveria ter sido ajudada e que precisava de tratamento e só tenho a lamentar. Me sinto como quando o pastor ignorante atropelou a minha dor. Acho que não enternderam nada. Quem somos e o que sabemos para falar sobre o que ela precisava ou sentia? Nós conseguimos deixar pra trás nossos vícios? Somos todos fortes? Damos a volta por cima e encaramos nossos medos? Ou apenas tivemos mais sorte e trazemos conosco dificuldades e manias menos destrutivas?
We are all in black now. She went back to blue.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

As pedras e você.

Nunca tinha entendido a frase inícial a música "Vinte e nove", que é a primeira do álbum "O descobrimento do Brasil" do Legião Urbana. Foi então que na terça feira, indo pra análise, comecei a ouvir Legião, em pé no metrô, por estar com raiva do mundo. Conheço essa música desde os 12 ou 13 anos e não me dei conta em nenhum momento do que esses versos querem dizer.
" Perdi vinte em vinte e nove amizades
 por conta de uma pedra em minhas mãos."
Sempre imaginei a pessoa com a pedra nas mãos, sem poder estende-lá ao amigo. Pra mim era isso. Foi então que, nessa manhã, compreendi que a metáfora é maior. Renato Russo leu a Biblia, usa citações sagradas em Monte Castelo" e em " Se fiquei esperando meu amor passar". Há outras vezes que Jesus aparece em suas letras, até, mas em "Vinte e nove" a coisa é mais sutil. A pedra nas mãos é a mesma que é atirada por quem julga não ter pecado.
Fiquei, naquele momento, pensando em todas as pedras que tenho nas mãos e nas que já me foram jogadas também. Fui andando pelo Largo do Machado, rumo a cura das doenças que essas pedras me causaram, parei no banco e quando estava sacando dinheiro, começou a tocar "La nueva giuventú", exatamente naquela parte que diz "Com você por perto eu gostava mais de mim". Essa eu já entendi faz tempo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O último capítulo de Vale tudo.

Gilberto Braga certamente entende a música dos Beatles que diz "Get back to where you once belonged". Suas obras costumam levar os personagens ao encontro das próprias origens. Ontem, no último capítulo da reprise de Vale Tudo, isso ficou bem claro. Mas não foram só as histórias braguianas que fizeram esse retorno, o telespectador também participou do processo.
A novela, que começou com a festinha cafona de 21 anos de Maria de Fátima, terminou com a comemoração, também de pouco bom gosto, de dois anos de seu filho, Rafael. Em ambas, os olhos de sogra e o parabéns pra você faziam Fátima se dar conta que não queria aquele tipo de vida. No primeiro e no último capítulo, foi esse momento tão brasileiro, que fez a moça repensar suas circunstâncias e decidir por modifica-las, honestamente ou não.
E no principio dessa busca pela redenção, Fátima se hospedou no Copacabana Palace para impressionar o cafajeste por quem tinha se apaixonado, e que depois descobriu que era tão feito de invenções quanto ela.
Pois terminaram os dois no Copacabana Palace, felizes, vivendo junto a um principe italiano gay, outra mentira.
Raquel, mãe de Maria de Fátima, que a perdoou ao se lembrar do primeiro dia da filha na escola, "entrou séria, enquanto todas as outras crianças choravam", no início teve que vender sanduiche na praia pra sobreviver. No capítulo derradeiro, ela vai ao calçadão do Arpoador, compra sorvete num ambulante e some com seu amor, Ivan, pela multidão. Assim Vale Tudo termina. A música que tocava era "Isto aqui o que é" na voz do Caetano, no começo e no fim.
Nunca entendi tanto Maria de Fátima.
Nunca gostei tanto de Raquel.
Que saudade vou sentir.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O penúltimo capítulo.

O avião que levou Cesar Ribeiro pra bem longe era um jatinho simples, que saiu de um canto bagunçado do aeroporto Santos Dumont. A imagem o acompanhou da hora em que Cesar entrou na aeronave, até muito tempo durante o vôo. Passaram as Barcas e o Pão de açúcar. A música era: "Brasil", na voz de Gal Costa.
Em seguida vieram as cenas do próximo, e último, capitulo, dessa novela de poucas tomadas externas, e a banana do Marco Aurélio nem precisou acontecer. Seus empregados já foram presos. Ele nunca será.

Grande pátria desimportante, eu todos os dias te traio
Fujo a luta, estou cansada.
Terra adorada que não salvei,
a peleja é dura
e o povo aqui nunca quis ser herói.
De que adianta ser gigante
se são tão poucas as nossas glórias?
A clava não se ergue para a justiça dos que estão na porta estacionando os carros.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Aquilo em que estamos loucos para acreditar.

Norma cairá do cavalo. Pouco vejo "Insensato coração", mas me interesso, como todo mundo, pela vingança vã de Norma, personagem mais uma vez interpretada de forma acertada por Glória Pires. Ela, que é mulher normal, se deixou enganar pelos olhos azuis de Leo, que é homem filho da puta. Por causa dele, foi presa, perdeu a dignidade e a candura. Fez, aconteceu e naquele tempo próprio das novelas, deu a volta por cima. Quis ter Leo em suas mãos, o humilhou e escravizou. Por que?
Porque o ama.
Um dia Norma pediu a um empregado para que sondasse o que Leo achava dela, agora que está rica e poderosa. Leo disse ao rapaz que foi em suas mãos que a patroa aprendeu a gostar de sexo. Ao saber disso, ficou visivelmente incomodada. Tenho a impressão de que em absolutamente nenhum momento essa moça escondeu sua paixão de si mesma e se novamente ele dissesse que a ama, de novo ela acreditaria.
Norma é louca pra acreditar que os olhos azuis de Leo podem ser seus, por mais impossível que isso pareça.
Ela é como Odete Roitman, que ao se apaixonar por Cesar Ribeiro, se esqueceu do bom senso. No diálogo de despedida desse, que é o meu casal preferido de todas as novelas, Cesar diz a Odete, enquanto ela chora na parede, que fez "das tripas coração" para fazê-la acreditar naquilo que ela estava louca pra que fosse verdade.
"Eu não sou uma pele bonita, não sou os meus vinte anos. Eu sou Odete Roitman e isso ninguém me tira. Você é um corpo sem nome." foram as palavras que ela disse ao amante, quando viu aguar o bom do amor.
Nenhum dos dois saíram por cima. Norma também não sairá.

sábado, 9 de julho de 2011

O dia que não nasce feliz.

A greve continuou, mas eu não continuei em greve. Não me mantive no movimento por três razões: Não tenho vocação pra levantar bandeiras sozinha, dependo da boa vontade da minha diretora pra muitas coisas e percebi que não teria o apoio dos alunos. Nunca fui tão levada pelas minhas próprias circunstâncias.  Dada essa justificativa, quero falar sobre a última sexta feira.
A semana de provas bimestrais acabou. Ontem seria minha última aula antes das férias e eu estaria no sexto, no oitavo e no nono ano. Pensei que seria interessante levar uma atividade diferente. Minha primeira idéia foi a música do Caetano, "Terra", mas rapidamente me convenci de que eles não iriam gostar. Olhei os DVDs na estante e peguei "Toy Story" para os pequenos e "Cidade de Deus" para os maiores. No caminho, entretanto, pensei que o mais indicado para os meus alunos seria o documentário "Pro dia nascer feliz".
Assisti a esse filme em 2007, quando ainda não dava aula. Me sensibilizei profundamente com as entrevistas que o diretor João Jardim faz com alunos e professores Brasil afora. Revi várias vezes, em todas saí perplexa e emocionada.
Existem outros dois bons filmes sobre escola, "Entre os muros da escola" e "O dia da saia", ambos franceses. Em outro momento, certamente falarei sobre eles e talvez um dia até os passe para alunos, mas agora é o Brasil que me interessa.
Fui a livraria do Paço Imperial e por 45 reais, adquiri o filme, Entrei no ônibus pra Seropédica certa de que tinha gastado (bastante) dinheiro por uma boa causa. Quando cheguei na escola abracei as professoras de quem sou mais amiga, todas elogiaram o meu novo corte de cabelo e nos sentamos, alegres, para almoçar. Tinha batata frita no cardápio e a sobremesa era goiabada, o feijão estava ótimo. Comemos satisfeitas. A diretora, sentada na cabeceira da mesa, participava da conversa e tudo parecia normal. Surgiu então o aviso: Ontem uma inspetora da secretaria de educação (a secretaria tem inspetores, mas as escolas não) foi a nossa escola averiguar qual a razão para os alunos do turno da tarde, no qual eu dou aula, terem tido notas tão baixas no primeiro bimestre. A tal senhora se dirigiu a sala dos professores e ao pergutá-los a respeito do baixo rendimento dos adolescentes em questão, obteve como resposta que o desinteresse é a causa das notas baixas. Era coerente que a agente educadora, então, ouvisse o outro lado. E foi o que ela fez: Entrou numa turma de primeiro ano do Ensino Médio e os indagou sobre o mesmo assunto. O que eles responderam a ela não poderia ter sido mais verdadeiro. Disseram que não entendem o que o professor fala, que nada do que é ensinado se refere ao mundo deles. A inspetora, então, "sugeriu" a direção da escola que orientasse os professores para serem (ainda) menos formais e deu, como, opção de resolução do problema, (mais) atividades de recuperação. 
Diante disso, durante esse almoço agradável, fomos informados de que deveríamos deixar na escola apenas os alunos que precisassem de nota para que eles fizessem alguma atividade que os levasse a média 5,0. Surpresa, eu disse a diretora, que tinha acabado de comprar o DVD e queria exibi-lo. Acordamos, então, que o exercício de recuperação seria sobre o filme.
Eram poucos os alunos presentes, tanto que juntei o oitavo e o nono ano. O professor de Geografia levou também o segundo ano do Ensino Médio para o auditório e nem assim todas as cadeiras foram preenchidas. Demoramos cerca de quarenta minutos para conseguir colocar o filme porque o técnico de informática da escola acabou de ser dispensado. O governo do estado rompeu o contrato com a empresa de computação. Não temos inspetores, nem téncicos de informática.
Quando começou o filme, notei que a maioria estava atenta. Em um certo momento, uma menina da periferia paulistana é entrevistada. Ela faz parte da oficina de Literatura, organizada por uma jovem professora. Seus poemas, que só escreve quando está triste, são muito bonitos. Um ano depois, a equipe do filme a procura, Seu trabalho é dobrar calças para uma fábrica. Não escreve mais. Me arrepiei com o depoimento como se o estivesse vendo pela primeira vez. Meus alunos, que estavam todos ali, desprotegidos, arrumadinhos, fazendo bagunça, talvez não tenham entendido a gravidade do desperdício humano que estava sendo mostrado. Na Avenida Brasil, bem próxima a entrada de Seropédica, fica a fábrica da Hermes. São muitos os estudantes que deixam a escola e se tornam operários precoces lá. Imaginei minhas menininhas, tão alegres e namoradeiras, dobrando calças. Tive vontade de trancar a porta e nunca deixá-los sair, para que a crueldade do mundo nunca os devore.
Logo em seguida, o filme vai ao Colégio Santa Cruz, escola privada, no Alto de Pinnheiros, em São Paulo. Lá, em 2004, ano das filmagens, já havia catracas eletrônicas. Ninguém usa uniforme. Não há negros. Os conflitos das alunas são sofisticados: Medicina ou Engenharia, Deus e a sociedade. Todos bem tratados e preparados para a crueldade (?) do mundo. Em um momento, uma menina diz que se sente mal por existirem pessoas pobres, mas é sincera e admite que não deixa de ir a sua aula de natação para lutar por ninguém. Depois, outra, fala que para passar de ano precisou da ajuda dos pais e de professores particulares. Estuda, em casa, cinco horas por dia. Penso que um dia eles farão análise para resolver seus conflitos existenciais. Todas farão caridade e permanecerão bonitas. Somos informados, ao final, que uma das entrevistadas, um ano depois, estava cursando Engenharia na USP. É a ordem natural das coisas, quase sempre são eles que mandam.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Em defesa de Valesca.

Na semana passada, conversado com alguns amigos, falei que acho algumas frases de baixíssimo calão presentes nas músicas da Valesca Popozuda, um grito de liberdade da mulher. Minha amiga sindicalista retrucou dizendo que nós não queimamos os sutians pra que uma mulher coloque 500 ml de silicone na bunda e, sem ser cantora, cante para quem quiser ouvir sobre sua disposição sexual diferenciada, por assim dizer. Fiquei calada diante da incisiva rejeição a Valesca, mas depois pensei muio sobre o assunto e eis aqui as conclusões:
Eu não queimei meus sutians. Eu não quero dominar o mundo. Eu adoro homens protagonistas.
Acho que Valesca, que se prestarmos atenção, é uma mulher de olhar meigo, muda sim o funcionamento das coisas quando afirma seus desejos sexuais e insinua que com ela o sexo não vai ser mais do mesmo, ela faz de tudo. O status quo não é esse. Ainda vivemos num mundo onde a mulher oficial faz sexo comportado e as amantes, se permitem o resto. A música do Mc Dido fala sobre isso, o vídeo da traição em Sorocaba também. Ao homem tudo, à mulher apenas o amor. Mulher não quer experimentar? Mulheres queimaram o sutian para cantar Miltom Nascimento e pronto? Deus me livre!
Valesca fala, em sua canção mais famosa, que queria andar "na linha", mas o homem em questão "não deu valor". Diante dessa constatação, ela decide se vingar indo pra cama com outros, fazendo o que moças de família ainda não perceberam que é bom. Ninguém mandou Valesca aumentar o tamanho de seu derrierre e ela não escreve suas letras indecentes para pertencer. Essa mulher quebra tudo. Vai no Piscinão do Complexo do Alemão, fica de fio dental no programa da Regina Cazé, canta "quero dar" pro Silvio Santos, sai fantasiada de banana na mão do King Kong no Carnaval e entra, toda trabalhada no macacão de strass, gritando "Manuel Bandeira!" no Prêmio anual da MTV - Brasil.
Quem desdenha da inteligência, mesmo que despretenciosa, dela, na minha opinião, não está entendendo nada. Pra mim, depois de queimar os sutians, as mulheres deveriam ser livres e felizes sexualmente, sem aquele papo de Revista Nova, Marrie Claire e Cláudia. Sexo tem que ser vulgar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eu nunca.

Eu nunca lanchei no Burguer King
Nunca vi um filme do Pasolini,
nem do George Lucas.
Nunca soube resolver aquela fórmula de delta s sobre delta t
Nunca li José Saramago
Eu nunca fui magra.
Nunca comi moqueca
Nunca fiz arroz
Nunca consegui segurar o choro.
Nunca fumei
Nunca viajei sozinha com um namorado.
Nunca fui a Europa,
nem aos Estados Unidos.
Tenho vinte e seis anos e nunca soube dançar.
Nunca fui boa na Educação Física
Nunca vi uma baleia,
e no meu aniversário nunca teve festa.
Mentira, teve sim. Quando eu fiz oito anos minha avó fez uma super festa, mas meus pais brigaram e se separaram nesse dia.
Não, pra mim nunca teve festa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A grande filha.

"Justamente a mim, me coube ser eu."
É essa frase que o Quino cedeu a sua Mafalda e que me foi relembrada há alguns dias por uma amiga muito sensível, que melhor define Anita Prestes pra mim. Não deve ser fácil ser ela. Nascer em Campo de Concentração, ter a mãe assassinada, só conhecer o pai aos 9 anos e herdar toda a ideologia comunista de um país. Não pode ser fácil.
Fui sua aluna no segundo semestre de 2005, exatamente seis meses antes de ela se aposentar. Me lembro dela sentada sempre na mesma posição, do tom de voz que não se alterava e dos eventuais brincos coloridos que se destacavam das roupas discretas. Os olhos azuis consternados, os poucos sorrisos, textos e mais textos. Era dura nas correções de prova, assinalava as frases desconexas e escrevia: "Consideração débil." ao lado.
Passaram-se seis anos (!) e hoje a entrevistei para o projeto de História Oral da Anistia em que trabalho. O mesmo blush impecável, a fala clara e rápida e a disponibilidade enorme para carregar em si tudo o que está acabando. Lúcida, Anita me faz querer ser marxista. Gostaria de abraçá-la.
Formada em Quimica, foi estudar História porque queria guardar a memória do pai.. Disse que sempre preferiu voltar do que partir do Brasil.
Ia pra casa de metrô a filha de Olga Benário e Luis Carlos Prestes. 
É uma pérola.

Pra não morrer na praia.

Há uns dois anos atrás eu sofri tanto por amor que decidi procurar uma psicóloga. Fui num desses institutos onde a gente preenche uma super ficha e eles te encaminham pra um profissional, aí lá você diz quanto pode pagar e ele, por alguma razão que eu desconheço, concorda em te atender por aquela quantia, na maior parte das vezes, irrisória.
A moça que me atendeu era novinha e usava tênis. Parecia muito nervosa e era gaga. Depois de eu dizer a ela que ele tinha me deixado há dois meses e que eu estava quase morrendo, a coitadinha perguntou se nós ainda nos víamos e eu pensei: Ela não entendeu NADA. Nunca mais voltei lá.
Decidi então procurar um pai de santo. Fui, numa segunda feira a noite, no Centro de Umbanda que uma grande amiga, solidária a minha dor, frequenta. Lá, depois de ouvir todas aquelas músicas, tirei meus sapatos e me sentei na frente do homem, que era negro e devia ter uns 40 anos. Ele me perguntou o que estava acontecendo e eu contei de forma que um preto velho do século XIX entendesse. Pensei que dificilmente o espirito entenderia o que são e-mails ou mensagens de celular, pois qual não foi a minha surpresa quando ele perguntou: "Mas vassuncê num ligou pra ele?" Não tinha ligado. Morria me medo de ouvir o não que já tinha sido dado sem palavras.
Foi então que decidi fazer um segundo furo na orelha e alisar o cabelo. Nada, a dor não diminuiu. Me enchi de roupas, tentei emagrecer, fui a Ilha Grande e nem assim o esquecia. Beijei outros, fui a festas, mudei de emprego, namorei um engenheiro (!) e lá estava ele, todos os dias latejando em mim.
Faz bem pouco tempo que eu o superei. Acomodei a dor e segui. Não tenho obtido sucesso em minhas novas investidas, mas entendi que a felicidade não estava com ele. Consigo admitir que é um homem de talento e nem lhe desejo mal.
Entretanto, evito os encontros.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Quase nenhuma culpa.

A amiga que faz fofoca da outra quando na verdade a errada é ela;
O ex-namorado que reconstruiu a vida com a namorada anterior a mim, os outros que se casaram;
Chocolate na solidão do quarto;
Dias em casa, praia que não é possível, preguiça.
Mensagem de colega antiga dizendo que quando leu o nome de fulano de tal se lembrou de mim. Eu não esqueci fulano de tal.
Atrasos, noites tristes; criticas necessárias, perdas;
Escolhas erradas, amor errado, palavra errada.
Inveja e dinheiro a toa.
Tenho isso tudo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A habilidade não vence o talento.

Há pouco tempo minha irmã me disse que o Bruno Medina, tecladista do Los Hermanos que virou publicitário, escreveu em seu blog sobre o show do U2 ter pouca graça por se propor a ser um espetáculo sem erros. Não só o U2, mas os Rolling Stones e o próprio Paul McCartney prolongam seus dias proporcionando aos fãs, momentos de emoção guiada: Agora vocês riem, agora vocês dançam, agora os casais se beijam, etc. O talento mesmo, o auge, isso acabou. O que permanece é a habilidade em encaixar letras plausiveis com músicas cheias de instrumentos bem tocados, além dos sucessos antigos, do tempo em que eram sensacionais.
Chico Buarque, o grande ídolo do Brasil politizado, sofre, ao meu ver, do mesmo mal. Faz tempo que não compõe nada desconsertante. Seus últimos discos são sensíveis e previsíveis. Tem samba, amor e um quê de sensualidade. "Cecília" é a única música de "As cidades" que me emociona (sim, pode ser porque leva o meu nome), mas afirmo que pra mim se tornaram escassos os aforismos do homem que tem os olhos azuis mais convidativos do Brasil.
"Lá tem Jesus que está de costas", frase de "Suburbios", do último disco "Carioca" me parece ser, assim como Cecília, a salvação da obra. E vejam bem, eu tenho esses dois cds, gosto deles, os ouvi incessantemente e fui, inclusive, a dois shows do mais recente. No entanto, acho sim que a qualidade ali é produto de muito trabalho e pouca inspiração. Chico parece compor porque as contingências pedem. Já seus romances...explodem talento, inspiração e aforismos. "Leite derramado" me emocionou deveras.
Admiro Chico Buarque por sua discrição e sou grata a ele por ter dado sua cara a tapa pelo PT tantas vezes. Minha opinião é de que Dilma só saiu a frente de Serra na última eleição, depois do ato de artistas e intelectuais organizado por ele. Não é a toa que sua irmã se tornou ministra da cultura (não, não acho que ela esteja fazendo um bom trabalho).
Caetano Veloso, porém, apesar das recorrentes declarações equivocadas que dá, esbanja talento musical. Sua carreira retorna ao auge com bastante facilidade. "Zil e Zie" é cheia de instrumentos e inovações, mas é, principalmente, um compliado de letras acertadas e destemidas.
O show de Caetano também é cheio de sucessos antigos e tem alguns momentos over, mas surpreende.
Só li um livro seu, "Verdade tropical", que foi definitivo pra mim. Confesso que gosto um pouquinho mais dele.

terça-feira, 21 de junho de 2011

"que comam brioches"

O homem, Inácio Avelar, é professor de História. Dá aula em cursinhos pré-vestibulares. Quem não se apaixonou pelo professor de História do cursinho que jogue a primeira pedra (eu até hoje não consigo olhar uma dessas paixonites nos olhos quando o encontro na rua de tanta vergonha que sinto do enorme amor que sentia). Tem olhos azuis, voz mansa e cor de galã da Califórnia.
A mulher, Nathália, é casada com homem rico. Brigitte Bardot de Ipanema, filhos criados, vida sem sentido. Corte de cabelo moderno e empregados. Mentiras e mais mentiras.
Se apaixonaram quando a filha dela foi aluna dele. Nunca as futilidades de uma mulher o incomodaram tão pouco. Nunca o proletáriado a deixou tão feliz.
São personagens de Gilberto Braga e os anos eram rebeldes.
Enquanto ele estava viajando, ela reformou seu quarto. Quando voltou, ao ver a cama, os lençós, cortinas e armários novos, perguntou onde estavam suas coisas.
Tinham sido dados de presente.
Não disfarçou sua insatisfação e explicou a amante que não queria se sentir sustentado por ela.
Sua resposta foi que se não tivesse redecorado o cômodo que os abrigava, teria enlouquecido e que aquilo tudo tinha custado pouco, "o preço de dois ou três vestidos".
Os olhos azuis dele relevaram, cheios de desejo, a pouca, quase nenhuma, consciência de classe da mulher e ele disse: "Preciso te ensinar sobre a Revolução Francesa o mais rápido possível. Maria Antonieta!"
E se jogaram no colchão aos beijos.
Que coisa bonita!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Deus não, Woody Allen.

Um dos desenhos animados mais importantes da minha infância foi "Cavalo de fogo", exibido pelo SBT nos anos 1990. Era a história de Sara, menina orfã de mãe, que vivia com o pai, o irmão e um cavalo encantado. Sua mãe teria sido rainha em um mundo paralelo, Darchan, dominado pela bruxa Diabolique, que apenas Sara era capaz de deter. Toda vez que a malvada aprontava, o cavalo a levava a Darchan. Lá, Sara era princesa, amada por todos. Mesmo nos momentos difíceis, não enfraquecia. Por mais ardilosas que fossem as artimanhas de Diabolique, Sara sempre vencia. Difícil pra ela era a hora de ir embora. Sofria a princesa, sofria eu. A vida normal de Sara não chegava aos pés de Darchan.
Pois Woody Allen entendeu muito bem essa sensação de conforto que só é possível na vida paralela e construiu em seu novo filme, "Meia noite em Paris", uma Darchan para adultos. Quantas vezes não nos perguntamos se Deus nos daria uma oportunidade para nos encontrarmos com os autores que nos entendem? Tantos são os momentos em que tudo estaria resolvido se aquele poeta estivesse lá, ou se pudéssemos deitar no colo no cantor que embalou os amores da adolescência. Deus, querido leitor, nada pode fazer em relação a isso. Já Woody Allen, demonstrou ter sim esse poder.
Um dos primeiros diálogos do filme é sobre a nostalgia ser a dificuldade de lidar com o presente. Ao protagonista, nostalgico e estagnado, é oferecida a possibilidade de visitar a Idade do Ouro que seu inconsciente escolheu: Os anos 20. Lá encontra seus ídolos, dissolve a inércia e se apaixona por uma mulher que ama os anos 10. E sua estada com ela na Belle epoque, o faz perceber que naquele tempo todos queriam ter vivido no Renascimento.
Assistindo esse filme pensei que Woody Allen não pode morrer. Não conheço diretor tão produtivo e inesgotável. A princesa Sara que existe em mim não queria ir embora da Paris dos anos 20, nem do cinema.
O personagem não mata seus monstros nesse filme, apenas os abandona. Eu e a princesa Sara também.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os mediocres não perdoam.

Hoje eu fui ao Leblon entrevistar uma professora universitária que foi perseguida pela Ditadura militar. Fomos eu, uma colega que como eu, trabalha nesse projeto e é professora, e alguns bolsistas de graduação. Eu e a colega, inevitavelmente, conversamos muito sobre a greve. Ela é do sindicato, acredita na Revolução, fez a dissertação de mestrado sobre luta armada e tal. Eu, vocês sabem, sou o ícone da esquerda festiva.
Depois da entrevista fomos lanchar no Shoping Leblon. Não posso dizer que estranho o ambiente, não minto, adoro sofisticação, comidinhas fru fru e lojas caras. Mas existe sim um ar hostil naquele emaranhado de gente bonita. Comemos, rimos, tomamos Ovomaltine, tiramos foto com o Fred do Fluminense, que estava na filha do Bob's e quando estávamos indo embora, vimos um tumulto na Livraria da Travessa. Andamos até lá e procuramos a causa da aglomeração.
Era o Sérgio Cabral.
Quantas vezes eu pensei que se um dia tivesse oportunidade, falaria pra ele sobre as minhas insatisfações, afinal, votei nele em 2006, é justo que eu possa opinar. Gosto do Sérgio Cabral, vejo muitas qualidades no governo dele e só não repeti meu voto em 2010 porque já era professora e, justamente, com a minha classe, ele deixou que o descaso prevalescesse.
Hoje, quando o vi, diante de toda aquela gente chique, dos jornalistas e da meninas, pensei: "É a hora." Minha colega sindicalizada disse: "Vamos gritar!" e eu morri de vergonha. Fiquei vendo ela falando coisas enquanto minha voz não saía. Mas não me acovardei, era a oportunidade.
Vi o governador e sua redoma de seguranças se afastarem, cheguei bem perto e falei:

"Eu ganho 681 reais, governador! Os professores estão em greve. Eu estou em greve."

Ele nos ignorou. Os repórteres que o entrevistavam também. Gritei para surdos. Uma jornalista veio me perguntar se eu era bombeira e quando eu disse que não, desistiu de me entrevistar. Fui embora me sentindo lixo.
Na escada rolante, descendo, vimos Marcelo Freixo, nosso redentor, subindo, provavelmente para o mesmo lançamento de livro, ao lado de uma mulher linda, ambos pertencentes aquele simulacro de Brasil feliz. Marcelo Freixo se faz ouvir, eu não.
E no caminho até o ponto de ônibus tudo o que eu sentia era vergonha e raiva. As meninas falavam, falavam e eu nem ouvia. Pensava que gosto dali, que achava que fazia parte e que nunca mais queria me sentir tão merda na vida. Murro em ponta de faca infernal esse.
Já dentro do ônibus recebi a mensagem de uma das bolsistas que dizia: "Tive que voltar ao shoping e vi que tinham seguranças atrás de nós. Fomos subversivas!". Sorri me sentindo menos desimportante, mas não me sinto aliviada.
Acho que escolhi o lado errado.

"eu queria que o mundo fosse outro"

Foi em 2001 que uma amiga da escola me emprestou o cd com a trilha sonora de "Anos rebeldes". Por meses foi a trilha sonora da minha vida. A minissérie, no entanto, não tinha assistido porque em 1992, quando foi exibida, eu só tinha 7 aninhos.
"Baby", do Caetano, na voz da  Gal Costa com aquele violino lindo de início, era a música que mais me emocionava no cd. É "Baby" uma das músicas que mais me emocionam no mundo. E hoje, na reprise do folhetim sobre a Ditadura, numa cena em que o engajado João Alfredo percebe que se continuar a só ver panfletos e manifestos à sua frente, perderá a doce e cautelosa Maria Lúcia, foi essa música que tocou.
E é exatamente isso o que a faz tão bonita: A vida é muito maior do que as lutas políticas. A Carolina, a margarina e a gasolina, aprender inglês e viver na melhor cidade da América do Sul são o motor da felicidade. O futuro do mundo é muito menos importante do que o nosso presente.
Hoje tomei café com um amigo. Pedi água, chocolate, sanduiche, olhei livros... Como fui feliz!
Levantar bandeiras é muito chato, eu se pudesse escolher, já falei, me ocuparia de nascer e morrer para todo o sempre, mas as vezes as canções iluminadas de sol tocam o coração e, voilà, a gente entra na briga.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O produto e o meio.

Hoje eu tava no curso de inglês e o tópico para discussão era "nature ou nurture?" (natureza ou criação) e nós tinhamos que conversar sobre o que mais nos influenciou durante toda a vida e eu parei pra pensar que não sei o que me fez ser outsider porque eu sou tijucana, estudei em escola católica e todos os meus amigos foram ganhar milhões. Meus pais são dentistas e nas novelas as pessoas são magras. Não sei bem o que eu estou tentando negar e sei menos ainda pra onde eu vou. Tenho um grande amigo com quem converso muito sobre essas questões e ele está desiludido. Vejo com pesar e compaixão a sublimação que ele, sempre transgressor, está tendo que se impor, mas por valentia ou covardia nem me passa pela cabeça seguir os mesmos passos. Fico até o fim do sonho, já falei.
Conheci o blog da Patricia A. no início desse ano e, nossa, tem feito muita diferença na minha vida. É tipo um livro bom o que ela escreve. E nesse post ela fala sobre os trajetos errados que nós percorremos por anos e eu fico pensando que, como ela, fui estudar História porque queria ser o suprassumo da sabedoria, mas tudo o que descobri nesse caminho foi que gosto de vulgaridade e fofoca. Essa realidade com a qual eu lido todos os dias, a verdade que eu ensino todos os dias, é cheia de licenças poéticas que eu permito porque senão acho tudo um saco.
E aí depois de sair da aula de inglês, peguei o metrô e quando tava na plataforma vi dois meninos que estudaram comigo no segundo grau e que me zoavam o tempo inteiro, eram cuéis, maus e desrespeitosos. Eles estavam a menos de 50 metros de mim, no metrô da Carioca, um de terno e o outro de roupa social, conversando felizes, impunes por todo o mal que me causaram. E quem desviou o olhar fui eu. Tenho orgulho de não ser mediocre como eles, de nunca ter sido mediocre como eles, mas morro de medo dos dois.
Passei o dia explicando aos meus alunos sobre essa greve e sobre esse salário irrisório que eu ganho e cheguei a ouvir de um menino que é filho de pastor que ainda ganho muito. E acho esse conflito tão nobre e tão ingênuo que acabo não conseguindo superar.
No sábado fui com dois amigos na Travessa do CCBB e quis comprar três livros e dois DVDs, mas não tinha dinheiro. Pensei em roubar, mas me lembrei que Jesus disse: "Dai a Cesar o que é de Cesar" e me dei conta de que sou sim um pouco produto da minha criação cristã. Aí deixei tudo lá e tentei acreditar que um dia haverá recompensa.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

água mole em pedra dura

Quando eu tinha lá meus 15, 16 anos queria cantar minhas canções iluminadas de sol e soltar os tigres e os leões nos quintais. Hoje, com 26, sou a pessoa da sala de jantar.
A solidão é antiga, mas os conflitos são novos: Como entrar em greve se eu gosto tanto da diretora da minha escola e da maioria dos meus alunos? Como interromper as aulas do terceiro ano se o ENEM é em outubro? Como deixar esfriar o conteúdo que eu me esforço tanto pra fazer eles entenderem?
Mas como não entrar em greve se o salário é de irremediáveis 681 reais? Como não se revoltar com a recomendação dissimulada de que nós não podemos reprovar? É impossivel não me questionar sobre a inutilidade dos computadores que o Sérgio Cabral mandou colocar nas salas de aula e que custaram milhões, enquanto pra mim é só prejuizo. Ter reuniões aos sábados, preencher diários online e no papel, criar planejamentos e projetos é sim o trabalho do professor, mas há que se ter uma recompensa.
Na minha escola, no entanto, ninguém vai entrar em greve. A sala dos professores é um muro das lamentações, mas todo mundo fica com o bumbum apertadinho só de pensar em ser descontado ou em se indispor com a diretora, inclusive eu.
Vivemos na era da covardia. Liguei para o meu pai e expliquei a situação. Ele disse: "Você não precisa se queimar, tem gente que pode fazer isso por você." Meu pai, que nunca perdoou o Gabeira por ter votado a favor da privatização da Vale, que não pode ver o Alexandre Garcia e o Jabor que enche a boca pra dizer que eles puxavam saco da Ditadura, ouvi isso dele. É duro.
Preciso confessar a vocês, não sei se tenho disponibilidade pra a essa altura da minha vida, já adulta pra dar murros em ponta de faca. Mas sei também que ser o tal bom cabrito que não berra, que aconselhou meu pai não é a melhor atitude.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, eu sei, mas como é difícil!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pai e mãe.

Quando eu era criança era minha mãe quem me levava à escola. Também era ela que ia ao supermercado. Nos finais de semana quem ia comigo e com minha irmã, ao teatro e ao cinema, era ela. Nas viagens pra Iguaba Grande no verão era minha mãe quem dirigia o carro.
Meu pai só aprendeu a dirigir depois que se separou. Fui apenas uma vez ao cinema com ele, embora tenha vindo de sua parte os primeiros incentivo cinematográficos, quando pegava filmes pra eu assistir nos finais de semana. Meu pai me deu livros, contou histórias e por muitas vezes me ouviu chorar com paciência, coisa rara em minha mãe.
Houve um dia que eu cheguei no quarto deles e vi minha mãe chorando enquanto lia "Olga" do Fernando Moraes. Perguntei o por quê do choro e ela respondeu que na história tinham matado a moça. Quis saber a razão e ela disse que o motivo era a Olga querer um mundo onde todos fossem iguais. Minha mãe é sensivel.
Vem dela o meu gosto musical, Legião Urbana e Pink Floyd eu conheci pelas suas mãos.
É da minha mãe a mania de ouvir rádio e dela eu trago a frase "Não dê bom dia a cavalo".
Meu pai já diz que não se deve dar "pérolas aos porcos" e que "o bom cabrito não berra".
Por conta da inércia do meu pai admiro homens que dirigem.
De minha mãe herdei o desejo de não conduzir nenhum homem a lugar nenhum e de chorar sozinha no quarto a noite.
Somos eu, meu pai e minha mãe de peixes.
Eles dois detestam novela.

O muro que eu não pulei.

Minha aluna pulou o muro da escola pra encontrar um rapazinho que estava de moto do lado de fora enquanto eu dava aula sobre a Primeira Guerra Mundial. Estava lá explicando sobre os sentimentos nacionalistas serem uma construção quando a diretora entrou na sala e avisou a turma que a aluna estava suspensa. Senti pena da menina. Desejei que nada daquilo tivesse acontecido, movida pelo que resta de romantismo adolescente em mim. Quis de verdade que a aventura da mocinha tivesse sido bem sucedida.
E continuei falando sobre a Triplice Aliança e a Triplice Entente, me esforçando para tornar palatável o pan-eslavismo e o pan-germanismo.
Eram quatro e vinte da tarde quando eu saí da escola me perguntando se deveria ser menos flexivel. Rapidamente abandonei as reflexões sobre o trabalho e pensei no perfume que quero comprar e no chocolate que comeria antes da aula de inglês que começaria as sete. Cochilei no ônibus e quando abri os olhos já tinha anoitecido. Na aula fiz dupla com um rapaz que é engenheiro,divorciado e tem um filho. Voltei pra casa com certeza de que filhos não são pra mim. Quando estava na esquina da minha rua uma música muito boa tocou no rádio baixo do meu celular. Dancei e cantei alto até chegar no meu prédio. Subi no elevador fingindo que sou rock star.
Já de banho tomado sentei pra ver um dos últimos capítulos da odisséia de Maria de Fátima e dormi fingindo que as minhas aventuras amorosas têm final feliz e que há alguém disposto a me dar as mãos.
Hoje me ocupei de nascer e morrer e soube, agora a noite, que o sindicato dos professores decidiu por entrar em greve. Pensei na aluna que pulou o muro, na guerra, no perfume e no dia dos namorados vazio que me espera. Não sei o que fazer.

domingo, 5 de junho de 2011

Um pecado a mais.

Meus pecados:

1 - Há pouco tempo saí de um restaurante sem pagar.

2 - Já deixei de sair com vários caras porque eles não tem grana e eu associo sim dinheiro a poder porque namorei um rapaz paupérrimo e quem pagava o motel era eu, o que me desagradava deveras.

3 - Contei pra todo mundo que o desempenho sexual desse e daquele rapaz não era lá essas coisas.

4 - Gasto com restaurantes e com a Kopenhague o que deveria gastar em livros.

5 - Gasto em roupas o que deveria gastar pagando o que devo a Mastercard.

6 - Adoro falar de autores que não li.

Meu perdão:

1 - Não cobiço homens alheios e não destruo famílias em nenhuma hipótese.

2 - Não decepciono amigas.

3 - Confesso meus pecados quase todos.

4 - Encontro sofisticação em quase tudo o que não presta.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Monotemática.

Ontem quando eu saí de casa as cinco da manhã naquele frio aterrorizante e me deparei com a rua completamente deserta, antes que sentisse medo ou raiva, comecei a falar sozinha. Desde fevereiro minhas segundas feiras têm sido assim, as cinco horas lá estou eu: Indo trabalhar. Mas nunca o caminho tinha estado tão silencioso e hermo como ontem. Com certeza foi o frio.
Falei sozinha sobre a razão que me faz aceitar a condição de sair essa hora de casa para ir tão longe. Certamente não são os 681 reais que eu ganho. Também não é, por mais que isso exista, a preocupação com o futuro dos meus alunos. Faço o que está ao meu alcance e só, sem grandes culpas e martirios. O que me tira da cama tão cedo mesmo no frio é a fidelidade para com os meus sonhos. Teimei em fazer essa faculdade, larguei o projeto temporário em que trabalhava quando fui convocada pelo estado mesmo sabendo que iria ganhar menos porque tinha convicção de que os papéis que eu organizava faziam muito menos sentido do que as aulas que eu poderia dar. Eu queria pertencer e ser fundamental.
Li o artigo do Pérsio Arida, presidente do BNDS na Piauí do mês passado, no qual ele conta sobre a Ditadura pra ele, fala da participação na VAR-PALMARES de Lamarca, da tentativa de escapar da prisão, da prisão, da tortura e da liberdade, sempre a luz de seus pais. Arida quase se arrepende daquilo tudo porque a tortura lhe doeu muito, mas termina seu texto com uma conclusão bonita: Em tempos de egoísmo, como não se orgulhar de ter tentado salvar a pátria?
Pois me sinto como ele, sou o filho que não foge a luta, não vou desistir agora. Sonhei isso pra mim, tive coragem de chegar até aqui e não quero desistir de tudo pra ser bancária. 681 reais é uma merda de salário, são os centavos do que ganham as minhas amigas do Ensino Médio, é uma vergonha. Eu queria poder comprar a bolsa que vi numa vitrine recentemente, queria um sapato bege, um tênis, eu queria viajar! Mas com 681 reais mal se vai e volta de Seropédica. Não tenho a ilusão de que serei feliz se permanecer pobre, mas acredito que vai chegar o dia em que eu vou ser melhor remunerada pelo que gosto de fazer. Se jogar tudo pro alto agora como vou me olhar no espelho? Quem eu vou ser? Sentirei ainda mais vergonha.
Não estou ali porque era a única opção. Eu escolhi aquilo pra mim. Vou até o fim.

sábado, 28 de maio de 2011

Os calhordas também amam.

Hoje em Vale tudo, capítulo 170, a Fátima reencontrou o Cesar depois de 6 meses separados e ao vê-lo com um carrão comentou que ele devia estar numa boa. Ele respondeu a ela que aquele carro não era dele, que nada do que ele tem é dele, nem ela. Em seguida numa conversa com a benevolente tia Celina, Raquel disse não acreditar no amor de Fátima por Cesar. Para ela eles seriam apenas sócios, cumplices em empreitadas desonestas. Sua filha, ao seu ver, é incapaz de amar.
Está enganada Regina Duarte, a Fátima ama o Cesar sim. Os cafajestes também amam.
Fui apaixonada por um cafajeste por sei lá quantos anos. Era um cafajeste intelectual para as massas, gordinho de óculos e All Star. Aparentemente inofensivo. Sofri que nem um cachorrinho vira lata na chuva quando percebi que tinha sido só mais uma, apesar das palavras bonitas e dos momentos felizes. No entanto, em minhas investigações enlouquecidas pelas redes sociais, descobri a mulher que esse homem amava. Ela tem a minha idade, um nome estranho e uma pinta EXATAMENTE no mesmo lugar que a minha: do lado da boca. É magrinha, suburbana e lutadora. Ela que largou ele. Acredito que até hoje ele desconte a falta que sente dela em mocinhas como eu, cheias de esperança de serem especiais pra ele.
Recentemente me envolvi com um outro tipo de filho da puta, também gordinho, também de óculos e também intelectual, mas dessa vez acadêmico. Tudo muito parecido: Palavras bonitas, risadas, muito assunto, mas a bomba de que eu não era especial estourou logo nos primeiros dias. Acreditei que ele deveria estar num momento de galinhagem e bipolaridade, mas soube posteriormente que o danado tinha se apaixonado.
É lógico que o Carlos Alberto Ricceli deixa esses intelectuais de óculos no chinelo. Já disse num outro post que o Cesar não é para principiantes e esses rapazes serão principiantes para sempre. Eu só caí na conversa deles porque também sou principiante inclusive.
Acho o Cesar o personagem mais rico, dono dos melhores diálogos de Vale tudo.Temo que na vida real sejam os seus semelhantes os homens mais interessantes. Mas esses, os cafajestes sofisticados, eu ainda não conheci. Pela minha vida só passaram os mediocres.

Quanta luta, quanta luta!

Sexta feira a noite com chuva e chocolate. Último capítulo de Anos dourados.
Gilberto Braga, dono de todas as respostas que eu tenho procurado, fez do último capítulo dessa obra sem pecados um dos melhores finais que já assisti. Lurdinha e Marcos, depois de tantos percalços, duraram para sempre, Marina, neta do brigadeiro, namorou uma mulher, Marli, filha de mãe sensata, se casou duas vezes e Rosemery, a mal falada do grupo, essa sim, se casou virgem. Pedrinho, irmão de Lurdinha, sumiu nos porões escuros da ditadura e Claudionor, o amigo nerd, e portanto recalcado, de Marcos, que por ser militar poderia ajudar, não moveu uma palha sequer. Sapatinhos de cristal se esparramam pelo chão e a vida segue.
Estou trabalhando num projeto de pesquisa sobre o processo de anistia no Brasil. Nosso grupo entrevista pessoas que foram, de alguma forma, prejudicadas pelo governo por discordarem do status quo implantado pelos generais em 1964. Cada um dos entrevistados tem a sua verdade e a sua dor. As mulheres parecem ter sofrido mais, como de costume, mas são as que melhor superaram. Os homens ainda têm planos de heróis para o Brasil que sonharam e querem falar mais.
Reencontrei a história de Iara Iavelberg e Carlos Lamarca essa semana e tive inveja do amor dos dois. Acho que todos aqueles generais deviam morrer de inveja da capacidade de sonhar dessa gente que vai ser jovem pra sempre porque morreu no auge.
E "Anos dourados", com piscinas, margarinas e carolinas, conquistou meu coração.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Recalque.

Só não me jogo da janela porque minha cachorra não entenderia nada e sentiria muito a minha falta. Só minha cachorra me ama de verdade, só ela não me julga e não me abandona. Hoje chorei todas as lágrimas que tinha disponíveis. Depois dormi pesado em pleno meio dia de quinta feira. Desliguei os telefones e quis ir embora desse mundo cruel que não me permite amar.
Ainda não acordei.
Não sou uma pessoa triste, odeio gente triste e reclamona, mas olhar para os lados e perceber que tudo o que eu sou, cada pedacinho meu construído ao longo de 26 anos, cada palavra dita com cuidado, os vestidos, as mãos e o desejo de acertar, nada disso é suficiente pra fazer qualquer pessoa querer estar ao meu lado é muito difícil.
Vejo os homens que passaram pela minha vida seguindo em frente, sendo contemplados com diversas possibilidades de vida a dois e eu aqui, a moça feia debruçada na janela sem banda nenhuma tocando pra mim.
Me lembro daquele filme "Alfie, o sedutor", em que o Judie Law maltrata todas as menininhas inocentes e termina fudido encontrando a ex numa cafeteria com o namorado. Queria ser ela. Penso também nas frases finais do conto do Caio Fernando Abreu, "Aqueles dois", que dizem: "  Quase todos ali tinham a sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.". Queria que todos esses homens que já sabiam que eu era fraca e mesmo assim se aproximaram, esses que me beijam e não telefonam, os que me mandam emagrecer durante o namoro e depois vêm me perguntar onde era mesmo aquele restaurante que nós fomos pra ele ir com a nova namorada e os que se sentem no direito de me usar, apesar de todos os sentimentos que eu demonstro, que todos eles sejam infelizes pra sempre, que descubram que o mundo não é grande como eles acham e que nem todas as mulheres têm a minha disponibilidade para relacionamentos. Que sejam frustrados e ridículos para toda a eternidade.
Mas se a vida os deixar impune, que pelo menos eu me conforme e não espere mais companhia para o cinema. E que não os encontre nunca mais.
Amém.