quinta-feira, 31 de março de 2011

O casal.

Nunca achei que ser homem fosse fácil.
Se conhecem há anos, sempre de "oi-tchau", da fila do café e dos amigos em comum. Ele era de um casal, ela de outro e o mundo era o mesmo. Uma impressão equivocada dele, num dia em que as circunstâncias falavam por ela, fez com que se aproximassem. Combinaram as duas da tarde numa quinta-feira, mas ele desistiu. Homem aprende a ser covarde. Mulher aprende a sublimar.
Meses depois ele a procurou novamente sem obter resposta.
Insistiu sinalizando mudanças e ela foi. Dia de semana a noite, cerveja na livraria, mãos, professores, alunos e beijos no final. Cerveja na calçada e o casamento acabou. Sofia Coppola era uma das poucas interceções de entendimento dos dois. Se beijaram mais, na rua de madrugada, mãos e dentes. Não esperavam querer tanto um ao outro, mas por prudência dela foram cada um pra sua casa. Homem aprende a sempre fazer a proposta. Mulher aprende a sublimar.
E no final de semana, toda a nobreza do sábado ele entregou a outra mulher bem diferente dela, com decote maior, fala cortante e desejos expostos. A entrega do sábado dele nos braços de outras doeria, mas sendo essa outra tão distante do que era ela, a dor foi pior. Depois de três horas no telefone e de algumas delicadezas ela relevou. Mulher aprende a sublimar.
E num outro dia de semana, sem combinarem com antecedência, se encontraram. Seus beijos fecharam o bar e dessa vez ela deixou de lado quase tudo o que aprendeu. Se beijaram no carro, nas curvas das ruas escuras, nas escadas e na cama. Mãos, pés, boca e cabelos. Toda a novidade sonhada por ele, recém-liberto da vida a dois, estava ali, só e para ele. Outro corpo, outros olhos, outra mulher.
E era tanta liberdade que ele se perdeu. Não conseguia canalizar sua vontade. Estranhava ser outra. Outra não o completava. Homem não aprende a sublimar.
E ela, que em razão das desmarcações dele e do ciúme que sentiu da moça de sábado, estava evitando a doçura, achou que era a hora de dizer que o queria muito. E disse com todo o carinho que a habitava. Na hora da fragilidade dele, ela o quis mais.
E se acertaram. Ele cheio de palavras e ela de sentimentos.
Homem não aprende a falhar, mas mulher aprende a ser esperta.

terça-feira, 29 de março de 2011

Papel pra sempre.

Estou aqui o dia inteiro olhando pro Word. Não sai nada. São questões de prova, textos e resumos. Nenhuma palavrinha sequer pula de mim. Já parei pra falar no telefone, já vi entrevistas no You Tube, já comi, tomei café e bebi Coca Zero. Já tomei banho duas vezes, acordei minha cachorra pra brincar e agora, só agora, decidi ouvir música. "Every body hurts" do R.E.M. bem alto, duas vezes, três vezes, para sempre.
Hoje é o último dia do Big Brother e quando o Big Brother acaba, eu que sou audiência para solidão, me sinto desamparada. Li que Diana e Natália foram ontem a um shoping comprar roupa juntas. Eu não participo mais da vida delas. Sentirei saudades.
Estou lendo na Piauí uma reportagem sobre Rodolfo Landin, ex-presidente da BR Distribuidora que tornou Eike Batista ainda mais rico. Os dois brigaram e Landin usou um bilhete do Luma guy para incriminá-lo. Ah, quanta força tem um bilhete! Como é profunda a verdade do pedaço de papel escrito sem cautela, letra bonita ou folha branca. É dura a página de Word que está diante de mim. Quero de hoje em diante só escrever bilhetes cheios de verdades como os do Veneno da madrugada ou cheios de amor, como o que eu recebi uma vez num debate sobre aquele filme "O ano em que meus pais saíram de férias" e nunca esqueci.
E tinham os bilhetes que eu e a Maria Isabel, minha amiga do Ensino Médio, trocávamos na aula de Física do João Luís, professor pequenininho de cabelo branco que insistia sem sucesso em me mandar sentar lá na frente, coitado.
Vejo as pessoas soltando tigres e leões por conta do Obama e do Bolsonaro e enquanto isso o dono dos bichos, José Celso Martinez Correia, por ternura ou por dinheiro, confirma sua participação na próxima novela das seis. E eu vou dizer pra vocês, gostei da Courtney Love antes de gostar do Kurt Cobain. Comprei meu primeiro cd do Hole no dia 8 de dezembro de 1995 e nunca esqueci. Mas eterno mesmo é o Nirvanna. E os bilhetes.

***

E eu ainda ouço a sua voz na voz de todos eles e vejo o seu rosto no rosto deles, como em Paris Texas, mas já te deixei ir embora e já nem sei mais onde estão seus bilhetes.

domingo, 20 de março de 2011

Amadorismo.

Foi na sexta feira a noite que eu passei por uma pracinha em Santa Teresa, dessas que têm parquinho e bancos com mesa pros velhinhos jogarem dama. E em uma das mesas tinha um casal. Eles deviam ter a minha idade. E o rapaz estava tocando violão e a moça cantando. E a música era "more than words" do Extreme,que eu ouvia muito quando era adolescente. E pensei que o rapaz e a moça tinham a mesma disponibilidade inocente para o amor, de ficar na rua sexta a noite, tocando violão e cantando aquela música antiga, que eu tinha aos 14 anos.
E fiquei com uma certa inveja deles porque eu, depois que me tornei adulta, tenho tido dificuldade para viver encontros espontâneos. Porque quando a gente é novinha não importa muito se o cara tem futuro, é a identificação que conta, mas aí crescemos e todas essas preocupações chatíssimas aparecem e no momento em que você encontra um homem com futuro ele não gosta de você do jeito que você é e dos que não têm futuro não adianta, é você que não gosta. E tem o que até tem futuro, mas você já comeu naquele prato e sabe que não dá samba.
E acordando cedo todos os dias, indo e vindo, comendo, gastando e vivendo você se sente sozinha a beça, mas não é mais vulnerável e não vai mais com qualquer um.
A última investida fez você definir que com qualquer um você realmente não vai mais.
Teve uma mãe de santo há alguns anos que te disse que você casaria tarde, tem tudo o que você quer fazer enquanto é solteira, toda a sua liberdade intrinseca e a sua amiga da escola que fez um blog contando as etapas de preparação do casamento.
E eu acho os homens muito meninos, mas sou mulher só até a página 4.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Lixo.

Ontem fiquei com preguiça de ir para os últimos blocos de Carnaval e fiquei em casa o dia inteiro. Recebi um e-mail muito esperado, dormi, vi novela e ouvi Legião Urbana. Só a noite me animei, passei uma porpurina nos olhos e fui pra Lapa bater papo.
É dispensável que eu fale aqui sobre o quanto todos nós nos sentimos amparados pelos Arcos tão democráticos e alegres da Lapa, no entanto se faz necessário que alguém limpe aquele lugar. Se em dias normais lá já tem valas de esgoto permanentes, no Carnaval a situação se agrava bastante. A Lapa parece uma piscina de xixi.
Eu, quando bebo ou como biscoito, guardo na bolsa o lixo até encontrar uma lata de lixo. Já trouxe lixo pra casa inúmeras vezes. Trato a rua com o mesmo respeito com que trato tudo o que é meu, por isso ainda, aguento esperar para fazer xixi no banheiro. É naive, eu sei, mas por que as pessoas não podem esperar? Eduardo Paes, que não foi em quem eu votei, mas a quem respeito bastante, tem tentado melhorar a situação instalando banheiros quimicos pela maioria das áreas por onde passam blocos, mas a eficiência dessa medida vai até a página 2. Os banheiros ficam imundos já nas primeiras horas e há pouca vigilância. Esses fatores somados a falta de educação da população carioca de qualquer classe social, nível cultural e amor no coração, faz com que a cidade fique suja de uma forma assustadora.
Me lembro de quando ter ido estudar no IFCS, que fica no Largo de São Francisco, ali atrás da Rua do Ouvidor, ter sonhado umas quatro vezes com uma grande faxina na área. Vejo, com olhos de furia, as pessoas que não limpam o cocô dos seus cachorrinhos, quando os levam, tão inocentes, para passear. Me pergunto como deve ser a casa dessas pessoas, a comida que cozinham e o banho que tomam.
Há quem se incomode com beijos gays. Há quem se incomode com gente gorda de barriga de fora. Há quem se incomode com o baixo-nível dos frequentadores do seu bairro. Eu me incomodo com sujeira. Me incomodo com a guimba de cigarro jogada no chão pelos meus amigos fumantes tão queridos e com a Avenida Brasil, que antes das seis da manhã de segunda feira, quando eu passo por ela para ir trabalhar, do Caju a Ramos, com destaque para o Parque União, parece um lixão a céu aberto. Me entristece a falta de carinho do povo carioca com a areia da praia e com o mar.
Quando vou a Ilha do Governador são constantes os devaneios sobre o dia em que eu, Cecília, ganharia os tais três desejos do gênio azul da lâmpada e pediria para que todas as águas fossem limpas.
Soa clichê meu discurso. É didático, políticamente correto e chato, mas é verdadeiro e, convenhamos, coerente.
Mudando de assunto, devo dizer, que talvez a parte mais emocionante do meu dia de ontem não tenha sido nem o e-mail, nem a novela, nem a Lapa. Me emociono sempre é com a Legião Urbana. Cantando "Faroeste Caboclo" me lembrei de quando eu e minha amiga Roberta Bárcia, aquela que gostava da Eduarda, levamos essa música para ler na aula de português da sexta série. O professor adorou, mas pouca gente entendeu.