quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Henrique Campos Monnerat

Hoje eu li no livro de Sociologia dos meus alunos uma frase do Drummond que diz que a Democracia é o sistema político em que o povo imagina estar no poder. Achei sensacional a frase e comecei a discutir com eles quais são os métodos utilizados pelo sistema democrático para iludir as pessoas. Fomos, juntos, eu e vários adolescentes, nos dando conta de que o voto é uma mentira. Foi aí que os indaguei sobre quais as possibilidades de nós passarmos a dar as rédeas da realidade em que vivemos. E me lembrei do meu amigo Henrique, que está organizando esse movimento de resistência ao aumento abusivo da passagem da barca Rio-Niterói.
Henrique é historiador formado pela UFF, mestrando em Teoria Literária pela UFRJ. Vendeu cachorro quente na praia de Icaraí para conseguir fazer um intercâmbio de um ano em Buenos Aires. É gay assumido. Tem opiniões corajosas e drásticas sobre tudo. Adora a Alcione. Já leu todos os poetas e quase todos os livros importantes e por isso mesmo é muito solidário com o que sabe. Pisciano sensivel, cheio de amigos, decidiu não ser desrespeitado mais uma vez. Levantou cartazes na estação Araribóia com dizeres contrários a tarifa extorciva e foi segurado covardemente por um segurança enorme, desses que devem ganhar um salário mínimo. Quando vi no youtube a cena do meu bravo amigo Henrique sendo detido por aquele brutamontes me lembrei do menino chinês que enfrentou o tanque naquela foto famosa. Pensei que Henrique, como eu, é professor do estado e ganha setecentos e poucos reais por mês. Me lembrei das paixões de Henrique, do amor com que sempre tratou a mim e a todos os seus amigos. Recordei o dia da vitória de Dilma Vana, quando saímos juntos para comemorar.
Henrique, coração de São Gonçalo, me lembra José Celso. Tenho orgulho dele.
Foi aí que contei aos meus alunos, todos ricos, viajados e moradores de condomínios fechados, que ele sim, foi atrás dos seus direitos. Henrique nunca esteve na sala de jantar. Eu o admiro muito.

Peixe fora d'água.

Na escola estadual onde eu trabalho a coordenadora pedagógica e yo fazemos aniversário no mesmo dia. Comecei a dar aula lá em agosto de 2010. Em fevereiro do ano passado vi no mural que meu nome não constava entre os aniversariantes do mês e fiquei calada. Ainda não tinha me apropriado de nada ali. Mas esse ano, mesmo depois de toda aquela confusão com a diretora na época da seleção do mestrado, tendo percebido que várias pessoas me olharam de cara feia e sendo uma tijucana em meio de cinquenta campograndenses, quando vi que novamente não estava escrirto "Cecília" no tal quadrinho, peguei uma caneta e escrevi a mão o meu nome lá. É meu aniversário também, eu dou aula ali, adoro receber parabéns e cansei de ser esquecida. Pronto. Quando voltei a escola, tinham colocado um papel novo, com o meu nome impresso. Lindo.
Hoje quando cheguei na escola particular, apenas uma professora me deu parabéns pelo aniversário. Aí alguns outros, acanhados, acabaram vindo falar comigo também, forçadamente, é claro. Foi constrangedor. Me senti nada pertencente e essa é uma das piores sensações que existem.
Não sei de quem herdei esse incômodo em não participar das conversas, meus pais são do tipo que entram mudos e saem calados. Não me incomodo em destoar, com isso já me habituei desde a aula de balet, quando só eu usava polvilho antiséptico Granado embaixo dos braços e uma menina perguntou o que era aquilo branco nas minhas axilas, já que todas as outras além de saberem fazer aqueles malditos pliês com graciosidade, ainda tinham mães que haviam descoberto antes da minha a importância da vaidade para crianças pré-adolescentes.
Me chateia, sim, passar em branco. Isso me mata.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Receita.

O molho:Pegue seis dentes de alho, corte-os ao meio e deixe dourando no azeite em fogo baixo. Corte a cebola de forma irregular e acrescente na frigideira. Corte seis tomates orgânicos em pequenos pedaços e retire as sementes. Leve para a frigideira. Mexa tudo com uma colher de pau e acrescente uma colher de sopa de pimenta dedo de moça (só o liquido). Deixe chegar a consistência de um molho de cachorro quente e ponha no liquidificador. Despeje junto um copo de requeijão light de qualquer tipo.
Volte a frigideira e misture berinjelas semi-cruas, cogumelho shimeiji, mais alguns pequenos dentes de alho, azeite, duas colheres de sopa de mostarda dijon e castanha do Pará em pedaços. Bata no liquidificador junto com o restante do molho e vá experimentando o sal e a pimemta a gosto.

O macarrão:
Em uma panela grande deixe ferver a água com duas colheres de sopa de sal e dois dentes de alho. Quando a água borbulhar, despeje o macarrão integral do tipo espagueti e espere cozinhar.

O prato: Em uma travessa grande despeje em camadas o macarrão e o molho. Rale queijo parmesão e jogue por cima. Sirva felicidade.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Gordinha.

Essa semana tomei coragem e me pesei. Tomei um susto e comecei a controlar minha alimentação. É impublicável e doloroso o número que aparece na balança. Sou bonita, desejada, bem vestida e tenho bom gosto, mas estou bolotão, é fato.
Conversando sobre dieta com um amigo, ele me disse que também pisou na balança há pouco tempo e confessou seu peso. Exatamente o mesmo que o meu. Fiquei em silêncio, com vergonha de dizer: "Igual!" e só sorri e o abracei. Momento de coragem pra ele e de vergonha pra mim.
Minha relação com o peso nunca foi tranquila. Desde novinha minha mãe me repreende por comer demais. De biquini nunca fiquei avontade, mas não deixo de ir a praia. Fico avontade nua, mas de roupa... A barriga incomoda, a perna é grossa demais e o rosto constantemente sai monstruoso em fotografias.
Tenho sentido algumas dores atrás do joelho, não sei se é alguma coisa séria. Há tempos não vou ao médico. Sonho em ser magra, mas acho que seria consideravelmente mais feliz se me aceitasse assim. No entanto, sei que o padrão do mundo a que pertenço é outro. Meu namorado me acha linda, inteira, sem tirar nada. Queria pensar como ele.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

As pessoas mais especiais do Brasil

Estive em São Paulo na semana passada para fazer entrevistas com perseguidos políticos do período da Ditadura que moram lá. Uma das entrevistadas nos disse que tem a sensação de que as pessoas mais especiais que existem estavam presas junto com ela. É fato, durante esse trabalho, que vai terminar agora em março, percebi que esses homens e mulheres cheios de ideologia e força são uma das coisas mais bonitas que o Brasil pode ostentar. É evidente que ainda existe gente desapegada e engajada em grandes causas, mas as circunstâncias, nós sabemos, são menos propícias. Vejo com indignação e tristeza o que está acontecendo em Pinheirinho, mas não posso parar minha vida para protestar. A TV Globo e o seu conservadorismo impiedoso me deixa cheia de vontade de gritar, mas o máximo que eu fiz foi me recusar a assistir essa edição do Big Brother em razão da falta de sinceridade com que o caso do abuso sexual ocorrido no programa foi tratado. Não vejo a Globo como um grande bloco de porcaria, acho que lá dentro existem pessoas merda e pessoas legais e a consequencia disso é uma programação bastante variada. Que eles foram beneficiados pela Ditadura todos sabemos, mas não vou deixar de assistir novela por causa disso.
Entrevistamos também uma mulher que esteve presa junto com a Dilma e ela nos contou que recentemente, no dia em que a Comissão da Verdade foi aprovada, todas as presas daquela cela se reencontraram. Me lembrei de Dilma Vana no dia de sua posse, andando sozinha rumo ao planalto e pensei na foto recentemente publicada em que ela olha valente para a frente e seus torturadores escondem os rostos com as mãos. Me emocionei. Tenho orgulho de ter votado nela.
Tivemos também a oportunidade de conversar com Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, que aos 86 anos, está mais lúcida do que a minha avó de 78 foi a vida inteira. Saí de lá me perguntando o que determina que essa mulher tenha sido e se mantenha tão consciente e que a minha avó nunca tenha nem querido sair da caverna. É recorrente na minha imaginação a imagem da sala de jantar, com uma mesa enorme e várias pessoas sentadas, penteadas e bem vestidas, ocupadas em nascer e morrer. Entre elas está minha avó. Entre elas estou eu.