quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Meu pai e o zepelim.

Desde que meus pais se separaram e meu pai foi morar em Itaguaí, há 17 anos, eu e minha irmã passamos a frequentar a Avenida Brasil pelo menos duas vezes por mês. No início, meu pai vinha nos buscar de ônibus. Eu tinha 9 anos e minha irmã 7. Quando a gente passava por Santa Cruz, meu pai sempre apontava o hangar do zepelim que fica na base que a Aeronáutica tem lá e pode ser visto, de forma discreta e imponente, da estrada.
Quando eu era criança me irritava um pouco porque nunca conseguia ver direito a tal garagem de um dirigivel que não existe mais. Não conseguia também entender qual era a função de se manter uma garagem que não guarda nada. Meu pai dizia que os alemães queriam levar a garagem de volta de tão importante que ela era. Eu pensava que o zepelim fosse francês, acho que porque tudo o que é elegante acaba sempre remetendo a França e dizem que o zepelim era muito elegante.
Meu pai comprou um carro e o tal monumento histórico de grande importância perdido no final da Zona Oeste, parecia cada vez mais distante, dada a pouca altura do veículo esportivo.
Chega a hora que os lugares se invertem e nós é que temos que cuidar dos nossos pais. Ontem fui visitar o meu, que é, sem dúvida nenhuma, a pessoa que eu mais amo no mundo. Me surpreendi quando olhei a esquerda o dia sem nuvens e a estrada com menos árvores do que antes, e vi o hangar inteiro, lindo e enorme, no silêncio dos limites da cidade. Fiquei olhando emocionada e virei o pescoço quando ele já sumia, igualzinho a como faço com o Pão de açúcar no Aterro.
É a garagem do romântismo que está ali. É o caminho até o meu pai.
Nada é mais útil.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Em 2010 eu cheguei ao fim da linha.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A empada.

Não há, na minha opinião, nada mais gostoso e deselegante do que uma boa empada quentinha. Adoro sentir o gosto da massa durinha de quebrando na boca. Desde criança, ficava atrás da minha avó quando ela fazia empadinha de queijo. Nas festinhas, disputava a tapa um desses salgados formosos que nessas ocasiões normalmente vêm na forminha de papel rosa.
Me lembro de quando a Casa da Empada ainda não era famosa e a fábrica deles ficava na Muda, aqui pertinho da minha casa. Lembro também de quando abriu o primeiro quiosque da marca no metrô e eu, gulosa, fui comendo durante a viagem. Passei vergonha. Empada não se come em movimento, requer concentração.
Hoje, quando saí do trabalho estava com muita fome, mas não queria almoçar porque não gosto de comer sozinha. Olhei o balcão do Palheta e quase comprei um pão de queijo, mas as velhinhas mal educadas não permitiram. Desisti e segui meu caminho. Me deparei com uma loja de empada. Pedi uma de palmito e uma de carne seca. Que delicia! Não dispenso nem os farelinhos que caem no prato. As empadas são simples e gostosas, como tudo na vida deveria ser.
Que vontade de comer mais uma...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Na semana passada fui fazer uma hidratação no cabelo e enquanto esperava o produto fazer efeito (permaneço esperando) fiquei lendo uma revista de fofoca que tinha feito uma entrevista com o Michel Melamed.
Tenho muita implicância com o Michel Melamed desde que li, há muito tempo, que ele não assistia televisão. Uma vez vi seu perfil no Orkut e lá tudo eram livros. Senti uma mistura de inveja, por não ter lido tudo aquilo, com raiva por considerar essa postura especialmente arrogante, já que ele era apresentador da TV Cultura.
No entanto, não podemos negar, o rapaz, além de charmosíssimo, é talentoso. E essas investidas dele com o Luís Fernando Carvalho, apesar do lirismo em excesso, têm sido bem interessantes.
O entrevistador da revista perguntou a ele: "Afinal, o que as mulheres querem?", aproveitando o trocadilho com o nome da minissérie atual. Melamed respondeu: "As mulheres querem o mesmo que eu: Paixão."
Na mosca.
As mulheres querem insensatêz, noites sem dormir, e-mails repentinos, ansiedade pelo sexo furtivo da segunda-feira a noite e mensagens no celular de madrugada. Querem também, e aí quem diz sou eu, vestido de noiva e casa de praia, mas isso, conforme a gente vai crescendo, vai ficando cada vez mais distante da paixão.
E com todos os traumas e estragos, vacilamos a cada flerte.
Somos frágeis, já disseram.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Hoje tive um sonho gostoso e longo: Estava arrumando minha mochila para ir para os Estados Unidos com um amigo. Nunca fui aos Estados Unidos. Poucas vezes pensei em ir, mas constatei recentemente que aquele clima Nova York de madrugada, que eu só vi em filmes, me excita muito. Acordei com vontade de pular da cama e ir pra lá. Dane-se o Palácio de Versalhes e Barcelona! É inglês que eu sei falar e 90% dos filmes e músicas que eu consumo são americanos. Fui tomada por um desejo súbito de participar de qualquer coisa por lá enquanto sou jovem e posso jogar tudo pro alto.
E já acordada, fiquei pensando:
Eu posso jogar tudo pro alto!
E o dia começou muito mais feliz.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A vitória da vida simples.

Eu estudei em escola particular a vida toda. Meu pai e minha mãe são dentistas, conquistaram tudo o que têm aos pouquinhos e venceram. O apartamento próprio, o carro, a casa na praia e as viagens de avião no verão. Eu e minha irmã fizemos natação no Tijuca Tênis Clube, curso de inglês desde a quinta série, aulas de redação e pré vestibular. Fui criada na base do todinho. Passei pra UFRJ na primeira tentativa. Me vi diante de um mundo novo onde algumas pessoas iam e voltavam da França como quem vai e volta de Madureira e outras mal sabiam onde era Botafogo. Fui me encaixando nos moldes da academia, frequentando laboratórios, estagiando com pesquisa e tomando café da tarde na Manon da rua do Ouvidor. Tudo o que eu queria pra mim era que aquilo continuasse. Eu passaria no mestrado, escreveria artigos, apresentaria trabalhos em seminários internacionais e nunca precisaria pegar trem lotado pro suburbio em dia de calor.
Mas eu me tornei professora. A vida no ar condicionado acabou na página 10 pra mim. Por vezes essa nova realidade é doce, mas é lógico que em alguns momentos assusta. Poeira, duas horas pra ir e voltar, salário baixo, alunos bagunceiros, pérolas aos porcos...tudo isso é muito duro. No entanto hoje, na inauguração do auditório da escola ,me dei conta de que essas vaidades da vida universitária não trazem felicidade.
Estava quente, mas quem se importava? A diretora da escola estava toda alegre, enfeitando com flores o pátio. Os professores aposentados foram, teve lanche, os alunos participaram comportadinhos e na homenagem ao ex-diretor teve uma cena do filme "Ao mestre com carinho". Tudo cafona, tudo simples e puro. Lágrimas, risoles de frango, nenhum refrigerante diet. Na minha escola existe gente que é feliz sem o prosseco dos lançamentos de livro.
É o mesmo mundo? A qual dessas realidades eu pertenço?
Ah, o Brasil...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu o amava tanto que nunca senti paz enquanto pensava nele. E com o tempo a minha paixão se acomodava, ia pro cantinho e doia em silêncio. Mas nos poucos, raros encontros, tudo mudava, tudo voltava, tudo ficava pior.
Era início de janeiro num desses anos de Copa do Mundo. Fazia frio em janeiro e eu, que nunca uso calça jeans, usei naquele dia. Olhei pra ele com a expressão de quem encontrou. Entendi que talvez a expressão dele fosse a mesma.
Por meses eu investi sem esperar muita coisa em troca. Era verão e no verão uma coisa é sempre mais encantadora do que a outra.
Um dia ele me convidou para uma palestra no Leblom. Lá havia poucas pessoas, algumas meninas intelectuais, uma italiana cineasta e uma senhora que usava apenas maiô e canga, mesmo a noite. Não foi ali que a coisa toda aconteceu, mas certamente se eu não tivesse aceitado o convite, nada teria acontecido.
De lá pra cá, passei grande parte dos meus suspiros me perguntando como teria sido se fosse diferente. O que foi é insatisfatório e talvez por isso mesmo seja marcante.
No dia do primeiro beijo ele me prometeu sopa de ervilha, discussões aprofundadas e imperfeições. Quis ele pra mim ali. Passou uma semana, duas... e ele não foi meu.
Houve poucos beijos. Grande mesmo era a minha ilusão.
Teve um dia que eu gritei com ele num show de rock enquanto o dj tocava Yelow submarine. Eu me superestimava. Não era nada pra ele.
E assim veio o ano seguinte e mais um e eu me acalmei.
Alguns verões mais tarde, o procurei novamente. Dessa vez fomos mais longe e eu não sei explicar o que era verdade e o que era mentira em mim e nele.
Quando ele foi embora, dessa última vez, aí sim, foi uma merda.
Não pude evitar que novos gritos acontecessem. Hesitei, mas não consegui impedir a minha cobrança anacrônica. Vieram palavras que eu não gostaria de ter ouvido. Não sei se me arrependi.
Na última primavera, que parecia verão, o vi em outro lugar, com outra pessoa.
Tenho a sensação de que ele bagunça tudo o que eu demoro longas noites para acomodar. Estou há dias enlouquecendo.
Não nego o caráter patológico e patético dos meus sentimentos.
Não sei se quero que ele seja feliz. Quem precisa ser feliz sou eu.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Os muitos espelhos de Narciso.

Perto da minha casa tem uma padaria muito bonita. Quando eu digo onde moro, muita gente se lembra que é a rua dessa padaria. Na rua aqui perto tem uma farmácia Onofre. Eu tenho o cartão Onofre, que a minha avó fez. Compro lá com desconto o meu desodorante Dove que não mancha roupas escuras. Ainda nas redondezas tem uma loja Marisa, que é onde eu compro a maioria das minhas calcinhas e sutians. No Centro do Rio tem 4 livrarias da Travessa, todas charmosas e requintadas, umas graças. Sou apaixonada por sorvetes de iogurte. Dentre as muitas marcas que têm surgido diariamente, na minha humilde opinião nenhuma tinha superado o Yogoberry, até esse final de semana.
Fui pela terceira vez a São Paulo na última sexta feira. Não preciso explicar a grandiosidade paulistana, mas quero dizer como me senti diante das diferenças em relação ao nosso doce Rio de Janeiro machucado.
A padaria que tinha a duas ruas do meu hotel não era desse mundo. Tinha telões, biscoitinhos, sorvetes artesanais, artigos importados, pão doce, suco de milho, coxinha, sanduiches e muita gente o tempo inteiro. É uma padaria 24 horas. Como pode?
A Onofre da Avenida Paulista é megastore, tem 3 andares e vende até Lancome. A Livraria Cultura do Conjunto Nacional é maior do que as 4 Travessas do Centro juntas e eu juro que vi uma prateleira que dizia Biógrafos russos. Andando na rua Augusta na segunda feira de manhã me deparei com uma loja Marisa Lingerrie. Sim, era uma Marisa enorme que só vendia calcinha. Alguém acredita?
E o mais impressionante: Encontrei uma iogurteria que supera o yogoberry. É tão leve quanto e oferece os sabores lichia com chá branco e açaí, entre outros.
Em São Paulo qualquer corrida de taxi sai por 30 reais. Lá tem gente alternativa e orientais em todos os lugares.
Gosto de lá e me sinto bem diante de tantas possibilidades de entretenimento, estudo, cultura, gastronomia, música e pessoas.
No entanto no Rio, como diria Otto, meu grande ídolo, existe uma aura de final de semana, de leveza, de ventinho, cerveja e amor que não tem na Avenida Paulista.
Não é da praia que estou falando. Moro na Tijuca, aqui não tem calçadão, só Maracanã, mas ainda assim existe leveza. E mesmo com helicópteros e caveirões os sabiás ainda cantam nas palmeiras da minha terra.
Não sou monogâmica com lugares. Amo todos.
Um dia falo de Ouro Preto...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

(Bons) Resquicios machistas.

Homem que não tem frescura pra comer
Homem que dirige
Homem que paga a conta
Homem que dá presente
Homem que inventa o programa
Homem para o sábado a noite
Homem flamenguista
Homem que sabe o caminho
Homem que gosta de cachorro
Homem que conserta o computador
Homem sem pudor.
Homem que a gente gosta.

a senha para o coração vagabundo

As vezes eu me pego esperando o amor-aventura
Tipo naquela música da Cher que diz que o amor não vai pagar o aluguel
Tipo Cazuza
ou Brad Pitt em "Lendas da Paixão"
Mas as águas da minha praia estão calminhas
Meu peito é cheio de promessa
Procuro quem rife grandes emoções e não me deixe.
Too much fire for nothing.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As idéias dos outros.

Tenho inveja de quem já deu certo na vida. Não é o meu caso. Eu tenho as respostas das perguntas, resolvi as equações que não sabia e declarei todas as verdades. Só o que eu não sei por inteiro é como ganhar dinheiro. É a "Loteria da Babilônia" do Raul Seixas que eu gostava desde a adolescência, como se fosse um presságio.
Me sinto como a Scarlet Johanson em Vicky, Cristina e Barcelona, só o que faço bem é observar. Observo os grandes acontecimentos do mundo, os filmes e as novelas. Ultimamente tenho dado atenção especial as novelas. Gostaria de ser paga para fazer criticas de novelas.
Tenho esbarrado com frequencia nas impossibilidades que a falta de dinheiro proporciona. Certa vez uma grande amiga me contou sobre um diálogo que ela leu num livro, em que um personagem dizia assim sobre o outro: "E aí ele quer ganhar algum dinheiro, mas eu o trago de volta a realidade". As vezes tenho orgulho do que me tornei. Mas em certos momentos sinto raiva, vergonha e medo.
Na semana passada me peguei reproduzindo aquele velho discurso da importância que tem um objetivo de vida para os meus alunos. Depois pensei: E eu, qual o meu objetivo? Estou sempre diante do coelho, assim como a Alice no país das maravilhas, não sei pra onde ir, então qualquer lugar serve.
Queria ser a Doroty do Mágico de Oz, que identificou rápido quem ela era e o que queria. Dessa forma, já avisou o Bil Murray em Encontros e desencontros, fica mais fácil viver.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Depois que a vida continuou.

Hoje fui ao Itaú resolver pendências financeiras e enquanto estava na fila esperando, prestei atenção numa propaganda bonita do Banco. Era a foto de um homem, uma criança e uma mulher num dia de sol, na beira da piscina. O homem se parecia muito com ele.
Já tinha visto a mesma propaganda nas plataformas do metrô e sim, já tinha me dado conta da semelhança, mas nunca tinha parado pra pensar sobre isso.
Em pé ali naquela fila, as onze horas da manhã, eu sorri para a recordação. Sorri para o que existe dele em mim. Sorri porque valeu a pena.

domingo, 17 de outubro de 2010

A vida dos peixes.

Trouxeram os pães, a manteiga e o azeite.
Me lembrei de um filme que assisti na semana passada.
Veio o mate.
O filme era sobre Andrés e Beatriz, que foram namorados há dez anos atrás.
Começamos a conversar sobre tudo o que moveu a nossa vida nos últimos meses.
Torradas. Ele terminou o namoro.
No filme, Andrés continua bonito e solteiro. Beatriz se casou, engordou e teve duas filhas. Não se veste bem.
O sal grosso de um dos pães vai bem com o azeite aromatizado cor de abóbora. Não sinto o cheiro, estou gripada.
Ele quer ir embora pra França.
Andrés continua achando Beatriz linda como ela era antigamente.
Focaccia de limão e pedacinhos de fungui na manteiga. Ele está fazendo uma nova terapia.
Beatriz conta que sofreu muito quando Andrés a deixou.
Peço um prato leve e conto que consegui esquecer aquela paixão.
Andrés diz que não achava saudável se casar com a primeira namorada, mas que ainda a ama.
Vem a salada. Digo que gosto de outra pessoa.
Andrés propõe um novo começo a Beatriz. Quer ficar com ela e com as filhas dela.
Castanhas de caju misturadas a alface. Me sinto diante da sorte do amor tranquilo.
Beatriz aceita o recomeço proposto por Andrés.
Vinagrete de maracujá. Eu pisciana e ele escorpiano, adoramos sentimentos devastadores, mas na segunda metade dos vinte anos, temos consciência da nossa fragilidade e evitamos excessos.
Andrés e Beatriz saem juntos da festa em que estão e pela primeira vez se tocam, dando as mãos ansiosos.
Pedaços de queijo pela salada. Eu, ele e nossas possibilidades.
Beatriz hesita em ir com Andrés.
Terminamos de comer e ficamos conversando.
O filme acaba.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tropa de elite.

Fui ver Tropa de elite II hoje, terceiro dia de exibição do filme. Tentei ontem e ante-ontem em vários cinemas, mas dei com a cara na porta. Era tanta gente nas bilheterias que me lembrei de Titanic. Nunca na minha história de cinéfila nesse país vi um filme brasileiro causar tamanha comoção. Qual a razão?
Tropa de elite é uma catarse. Nos sentimos amparados pelo Capitão Nascimento, pela honestidade e firmeza dele. Apertamos o gatilho junto com ele a cada tiro sem misericórdia que é dado no filme.
Em 2007 o filme marcou não só por ter sido distribuído ilegalmente antes entrar em cartaz, mas por ter jogado a merda no ventilador. Ao ver o filme, eu, aspirante a intelectual, engoli a seco minhas posturas e senti vergonha da minha ignorância e inutilidade.
O primeiro Tropa de elite é engraçado. As expressões lançadas ali são recorrentes até hoje. Rimos dos policiais corruptos sendo mal sucedidos. Rimos da forma despojada com que o diretor do filme escancarou a PM. Rimos para não chorar. Poderíamos ter saído incólumes dali. Alguns saíram se sentindo vingados. A pulga atrás da orelha não é para todos. A reflexão fantasiada de fanfarronice parecia leve, mas era apenas uma preparação. Era um aperitivo para a porrada que veio agora.
Multidões estão indo ao cinema para levar a porrada. Cidadãos que votam em Dilma ou Serra, que comem no Mc Donald's ou no Porcão, que frequentam os cinemas do grupo Estação ou que só gostam de blockbusters, todos estão enfrentando filas para levar uma porrada irreversível.
Tropa de elite II é para sentar e chorar. Desse ninguém sai da mesma forma como entrou. Agora não se tem mais do que rir. É um tratado sobre o Brasil que está doente, mas é também um fio de esperança sobre gente honesta. Existe gente honesta, pouca, mas existe.
Saí do cinema triste. Demorei pra levantar da cadeira.
Jantei fora depois. Não sei se a vida continua.

sábado, 9 de outubro de 2010

Propaganda.

Sou uma entusiasta do governo Lula.
Votei nele da primeira e da segunda vez sem nenhum tipo de dúvida.
Na época do mensalão não desacreditei do sucesso da empreitada chamada PT. Lamentei, lógico, mas minha fé no projeto de estado que estava sendo implantado não diminuiu.
Acredito no sucesso do Pro-Uni e acho que paralelamente as bolsas em faculdades particulares, é possível enxergar sim um investimento maciço nas universidades públicas.
Vimos empregos de todos os tipos serem criados nesses últimos 8 anos. A diplomacia se tornou um pouco menos elitizada, o Instituto Brasileiro de Museus foi construído e o Ministério da Cultura cresceu. Com olhos retos e apaixonados, assisti aos discursos de um presidente realmente brasileiro, equivocado as vezes, mas que se manteve fiel ao projeto de diminuir a desigualdade social que por aqui sempre pareceu vitalicia.
Somos um país que vota há tão pouco tempo, não podemos desacreditar da luta com facilidade. Estamos no caminho, os fatos estão aí. O ensino superior qualificado está se espalhando para o interior, as áreas rurais têm tido atenção real e os latifundiários não são mais o foco, hoje em dia o pequeno produtor faz a diferença. Até vendo o Globo Rural se pode constatar isso (e a insônia).
Gosto da trajetória da Dilma, guerrilheira, foi do PDT, mulher inegavelmente forte, sobrevivente as calunias cristãs e a direita filha da puta que insiste em se manter no poder.
Não me interessa se ela nunca governou um estado, se faz ou não concessões em relação a suas opiniões sobre o aborto e o casamento gay ou se era ou não conivente com a corrupção. Tenho que escolher entre ela e o José Serra e não tenho dúvidas, é ela quem me representa. O PSDB esconde o lixo embaixo do tapete, mas é tanta sujeira que é preciso recorrer ao moralismo pra segurar as rédeas da vergonha. É preciso demitir jornalistas, ressucitar o anticomunismo e até forjar uma fantasia de novidade, quando sabemos que ali é o reduto de quem esteve no poder desde o tempo das sesmarias e que, com sacrificio, está começando a perder a força.
Desisti de esperar o principe encantado e o candidato ideal. Não vou me eximir nessa eleição. Quero o PT no poder, com todos os defeitos que eles têm.
Fingir que não há diferenças substanciais entre os dois candidatos é largar de mão o Brasil e no alto dos meus 25 anos, me sinto muito jovem pra isso.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Derrubar as prateleiras, as estátuas e as estantes."

Como explicar aos meus alunos tão jovens que a Veja é uma revista reacionária?
Como explicar Esquerda e Direita?
Esquerda e Direita não existem mais, mas nunca vão deixar de existir.
Quando eu tinha 16 anos, em 2001, antes de o PT ser governo, ainda existia polarização partidária. O que vemos depois é uma reconstrução dos agrupamentos políticos nacionais. Ao meu ver, isso não é ruim, mas envolve desapego.
Eu, Cecília, simpatizante eterna no socialismo cubano, não consigo votar no PFL. Não consigo sequer chamar o PFL de Democratas. Não consigo esquecer que eles vieram da ARENA, mesmo já tendo entendido que nem na Ditadura existiam somente bons e maus.
Sempre existem bons e maus, mas as vezes se pode escolher entre ser vítima ou algoz.
Tenho dificuldade em explicar aos meus alunos como pode a União Soviética não ter dado certo. Me amedontra a idéia de o Socialismo estar, para eles, sempre atrelado a governos autoritários.
Me sinto como o Daniel Brül em "Adeus Lenin", construindo um Socialismo que não existiu para preservar o sonho da mãe idealista.
Tenho lembrado de "Edukators". Ecoa na minha cabeça o diálogo em que o senhor sequestrado explica aos três jovens inconsequentes que ele também foi como eles, mas que conforme foi construindo um patrimônio e uma família, foi se modificando e quando viu, já votava em partidos de Centro. Me lembro do final do filme, das coisas que nunca mudam.
Gostaria de poder passar esses e tantos outros filmes para os meus alunos, mas não dá tempo. Nenhum filme dura apenas 50 minutos. E nas turmas em que eu tenho mais tempo, tenho absoluta certeza de que daria pérolas aos porcos.
Um dia levei "O diabo veste Prada" para falar sobre consumo. Coloquei a TV no último volume, tirei as legendas e deixei a dublagem em português. Mesmo assim, se cinco dos cerca de 80 estudantes das minhas duas turmas de sétima série, entenderam alguma coisa do que estava acontecendo ali, foi muito.
Quando levei "A vida é bela", no entanto, após terminar o conteúdo de Segunda Guerra Mundial, consegui que eles (dessa vez a oitava série) entendessem e até gostassem.
Tenho pensado muito sobre a Revolução...Sei que ela acontece todos os dias, nas pequenas estruturas e nos detalhes, mas as vezes tenho vontade de tacar fogo em tudo pra ver se a coisa anda.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Perder ou perder.

Sonhei a vida inteira com um principe encantado que fosse ao cinema comigo aos sábados a noite.
Queria votar em partidos sem escândalos de corrupção no curriculo.
Água poluida e árvores destruídas me doem no coração desde pequena.
Estudei em instituições de qualidade, fiz curso disso e daquilo pra ter um bom emprego.
Acreditei que todas as amizades fossem pra sempre.

Mas gosto de um homem que viaja, voto num partido que faz concessões as quais muitas vezes eu não estou de acordo, meu emprego é cheio de problemas graves e algumas amizades, mesmo verdadeiras, demonstraram ter prazo de validade. Continuo sensivel as questões do meio ambiente, mas essa por enquanto não é a minha causa prioritária.

É o que tem pra hoje. E é o melhor que pode ser.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Engarrafamento compartilhado.

Hoje teve Festa da Primavera na escola estadual onde eu dou aula, que fica em Seropédica. Pra chegar lá eu pego duas conduções, sendo que uma delas custa o dobro da tarifa normal. Demoro uma hora e meia para ir e duas horas para voltar. Tive muita preguiça de sair de casa hoje, mas fui.
Seropédica é um lugar peculiar. Lá se misturam poeira e funk. Não existe adequação. As meninas fazem escova por qualquer razão, a diretora da escola usa vestidos curtos, e hoje, como era um dia especial, os sapatos altos se multiplicavam pelo chão de terra batida.
Fiquei por pouco tempo vendendo canjica na barraca dos professores. Vim embora assim que pude.
Esperei muito tempo pelo ônibus parador que me deixa na Central. Quando ele apareceu estava lotado. Fui em pé. Em um determinado ponto do caminho o trânsito parou de andar. Fiquei nervosa, minha perna doeu, senti raiva das pessoas que estavam sentadas reclamando e comecei a chorar quietinha na frente de todo mundo. Segurava as lágrimas, mas elas vinham tão fortes que não houve jeito de disfarçar.
Foi então que mandei uma mensagem para o Mauricio, meu grande amigo.
Eu e o Mauricio estagiamos juntos por menos de um ano. Estudamos na mesma universidade, compartilhamos gostos, sonhos, romântismo e angustias. Fizemos esse concurso juntos. Ele foi aprovado seis meses antes de mim. Por pouco não fui dar aula na mesma escola que ele. Nós dois nos deslocamos pra longe, sem saber muito bem porquê, focando em realizações tangentes a dura realidade da educação pública brasileira. Assim que o Mauricio me respondeu a mensagem, eu olhei para o ônibus ao lado do meu e procurei por ele, descrente de que fosse encontrá-lo.
Acontece que Deus não queria que eu desistisse.
Acontece que eu tinha que parar de chorar.
E lá estava o Mauricio, meu doce amigo tão querido, ao meu lado, no engarrafamento.
Chamei por ele e nós dois começamos a rir contentes e satisfeitos.
Sou feliz por ter o Mauricio comigo, por fazer parte da vida dele e ele da minha, por conhecer o coração inocente que a ele pertence e por me reconhecer nele tantas vezes.
A viagem parou de doer depois do encontro. Vim pra casa mais feliz.

domingo, 19 de setembro de 2010

Frase.

Domingo nublado e sem amor pra esquentar o friozinho causado pela distância do homem que meu coração escolheu para amargar e adoçar assim que nem café preto de padaria cheia as cinco e meia na Zona Sul ou Zona Norte sem sonhos bons porque se assustou com a palpitação paralela do amor tranquilo que ainda era tão novidade por fora e por dentro da caixa que guardava o brinquedo novo pouco usado já quase trocado pela ciranda antiga ainda mais inimiga do sono solto de gente feliz na calçada vendo novelas de paixões que gritam e querem mais.

sábado, 18 de setembro de 2010

As palavras mais bonitas.

Açúcar
Revolução
Inexorável
Glacê
Bumbum
Bombom
Gostosa
Manguariba
Papucaia
Maçambaba
Água doce
Terra
Leite condensado
Mar
Mel
Pão
Moça
Sobremesa
Paçoca
Sal.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Atrás da Central.

As onze da manhã lá é sujo
Também é sujo as oito da noite
É cheio de gente com pressa
Pernas brancas, pretas e amarelas
e corações que perguntam tudo.
Não tem música de bom gosto
Nem calmaria
ou comida dietética.
De lá se vai para Avenidas longas
com ruas de terra em volta.
De lá se vai para o Brasil descalça
purgatório eletrônico
De lá pro Céu são dois minutos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

De quem não sabe mudar.

Tenho tido conflitos internos por conta dessa nova condição de professora. Todo mundo sabe que aluno faz bagunça e que o magistério paga pouco. Todo mundo também sabe o quanto é gostoso fazer diferença na vida de qualquer pessoa e como são engraçados os adolescentes. Dor e delicia caminham juntos aí e isso não me surpreende profundamente. O que me angustia é não estar no mestrado.
Me sinto estagnada e medíocre. Parece que não ocupo um espaço que é meu por direito. Não sei se eu quero isso de verdade ou se são os outros que querem por mim, mas é fato que a pós graduação nunca rimou tanto com obcessão in all my life.
Hoje a tarde, contando a situação pra uma amiga, ela me perguntou se eu estou feliz. Percebi que há muito tempo não me sinto tão livre e tão potente. É urgente ocupar os espaços todos, mas ninguém ainda desatou as tais sangrias tão famosas.
Não sei se vou vencer distraída, mas é assim que eu sou agora.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Passione.

Não costumo assistir primeiros capítulos de novela. Vou aprendendo os nomes dos personagens pelas revistas, perguntando aos outros e ouvindo trechos. Quando começo a me sentir familiarizada com a trama, aí sim, me torno expectadora assídua.
Ontem, segunda-feira atípica, véspera de feríado, assisti Passione só por assistir, antes de fazer outra coisa melhor, esperando alguém voltar. Valeu a pena. Os diálogos, as sequencias, cada pedacinho da história estava reluzindo.
Mariana Ximenes é bonita demais, tem elegância e olhar triste, combinação perfeita para a personagem muito bem construída que lhe coube defender. Não consigo saber se tenho raiva da Clara. Torço por ela as vezes.
Carolina Dieckmann também é linda. Beleza de azulejo, que só se percebe staring at her. Seu papel flui bem. Ela não é frágil, não é boba. Sua bondade não desrespeita a inteligência de quem a assiste, como é de costume acontecer com as mocinhas. A conversa da Diana, vivida por ela, com a magnânima Beth Gouveia, foi emocionante. Fernanda Montenegro dispensa adjetivos. Suas roupas sóbrias, seu tom de voz pouco oscilante e as marcas da sua idade a fazem ainda maior do que já é, e eu não sei se isso é possível.
Daisy Lucidi, a avó filha da puta da Clara e da Kelly, é outra pérola. Como pode ela ser tão real, meu Deus? Até eu as vezes me engano. Me pergunto se ela é ruim mesmo. Prostituir a neta adolescente é maldade, claro que é. Mas qual é a moral daquela senhora? Qual é a minha? A situação me intriga.
E o Marcelo Antony? Conseguiram a proeza de deixar ele feio, disgusting.
É um homem gentil? É doente? Certamente é apaixonado. Não torcemos por ele, mas o odiamos? Claro que em comparação ao Rodrigo Lombardi, charmosérrimo, encantador e com cheiro de homem, não hesitamos. Mas é fato que a rejeição a ele não é completa.
Só Bruno Gagliasso destoa e faz Leandra Leal e Gabriela Duarte serem desperdiçadas. A sorte é existir Irene Ravache salvando a pátria com seus drapeados bregas a la Barra da Tijuca, no mesmo núcleo.
Larissa Maciel e Vera Holtz tão glamurosas em outros papéis, ficam quase irreconhecíveis despidas de sofisticação. Sem tinta no cabelo ou salto alto, as duas são paulistas daquelas que a gente vê no Bom Retiro com carrinhos de supermercado a tiracolo. Nada demais even if you stare.
E são tantos outros personagens bons, a novela é tão rica e tão boa, que ocupou todo o espaço que eu me permito escrever. Não sobrou tempo pra falar da preguiça, das reflexões sobre a educação brasileira e nem sobre os lençóis e beijos dos últimos dias.

sábado, 21 de agosto de 2010

Exposições.

Me diga quais exposições mudaram a sua vida e te direi quem és.
As minhas foram muitas:

"O pensador" do Rodin no Museu de Belas artes, quando eu tinha 10 anos (Camille Claudel no MAM quando eu tinha 12 infelizmente mudou pouco, apesar do filme sobre ela ter mudado tudo).

Um quadro que se chamava "Porta aberta para o mar" no Surrealismo do CCBB em 2001.

Os cartazes de propaganda da Revolução Russa em 2002, também no CCBB (começavam alegres e no final eram austeros e tristes, com o Stalin convocando as mulheres a servirem ao povo).

Fui com a minha irmã numa exposição no CCBB em 2003 em que a gente entrava numa sala e tinham vários telões com ondas do mar. Era só ficar sentado escutando e sentindo. Lindo!

"Tudo é Brasil" no Paço Imperial em 2004. - E eis que o Tropicalismo surgiu pra mim com unhas, dentes e tudo o que não podia dar certo.

"Quem é você, geração 80?", no CCBB também em 2004 - Foi onde eu conheci a Beatriz Milhazes, todas as suas formas redondas e cores fortes, com as quais me identifico tanto.

"Chico Buarque" na Biblioteca Nacional, ainda em 2004. Foi desenganado por uma professora e quer ter escrito em seu epitáfio que foi um sambista que escrevia livros. Clichê melhor não há.

Em 2005 teve uma exposição no CCBB que colocou pássaros no andar térreo. Não me lembro de mais nada, mas adorava ficar lá vendo os bichinhos.

"Anish Kapoor" no CCBB em 2006 - Me lembro de uma instalação que era uma grande sala cheia de argamassa roxa. Que vontade de mergulhar ali, meu Deus!

"Bauhaus" no MASP em 2007. Tinha um quadro enorme em neom que dizia "(NOW!)". Define direitinho a urgência imperativa e obsoleta da modernidade.

As listas da Clarice Lispector no Museu da Lingua Portuguesa, também em 2007. Ela queria comprar um vestido preto. Mulherzinha mesmo.

"Beatriz Milhazes" na Estação Pinacoteca, em 2008 - Não apenas formas redondas, mas janelas para uma São Paulo de todas as cores.


"Ziraldo" no CCBB esse ano. - Ziraldo, em telas que humanizam com classe os super-heróis, mostra que é um homem do seu tempo. Destaco a tela em que a Mulher-Maravilha, sozinha no quarto, olha pela janela o super-homem ir embora. O nome é "Hopper e a solidão norte-americana".

E muitas outras. Exposições, quando são boas, mudam a nossa vida, quando são ruins cansam a beça.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Jane em terras hostis.

Ainda não me recuperei completamente da última vez que queimei meus návios. Já não estou mais a deriva, mas sei que não cheguei em terra firme. Paixão igual aquela i don't want anymore. Desaprendi a lidar com os amores dos outros. Quero tudo pra mim e tudo pra cima.
No último sábado fui ao show no Mombojó. Fiquei pensando que realmente está todo mundo dançando a nostalgia do verão e que eu também quero dançar. Uma das músicas que eles tocaram no show, um homem ja cantou pra mim. Gostei de lembrar disso.
Tenho saudade da sensação de segurança que esse homem me dava. Não era a segurança de ser forte e decidido, era gostar de mim de verdade.
Não é fácil encontrar quem perdoe os nossos excessos. E é ruim ter que controlar as atitudes, "agora eu beijo, agora eu transo, agora eu digo que amo".
Tenho muita preguiça de me envolver com as pessoas. Devia ter nascido Tarzan, mas fui ser Jane, aí fudeu.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Imagem não é nada, sede é tudo.

I wish i was a bad girl, a Tarantino's bad girl, mas estou mais para melanie griffith em "Uma secretária do futuro". Tenho pensado em ficar lora, blondie with style e quando estou mais gordinha encontro dificuldade em me sentir interessante. Roupas querem dizer alguma coisa, sempre, mas quando se tem que disfarçar a barriga, o esforço para se fazer entender dobra.
Essa semana fui a uma reunião super cool no Leblon e me arrumei para parecer uma mulher séria. Quando cheguei lá encontrei homens que queriam parecer garotos despojados. Nos entendemos, mas saí dali me perguntando se a minha calça social para a ocasião, foi usada por eu ser tijucana, ou por eu não ficar exatamente bem com roupas from the beach.
Ficar lora talvez queira dizer que eu preciso mesmo ser mais vulgar e menos naive.
Me perguntaram numa pesquisa de rua, há dois dias, se eu tenho empréstimo no banco, respondi que sim. Me perguntaram se eu pretendo fazer novos empréstimos nos próximos 12 meses. Respondi que sim. Me perguntaram se eu faço questão que as pessoas pensem que eu ganho bem. Disse que não.
Eu quero que as pessoas me achem gostosa, foda-se a remuneração. Me recuso a andar no vagão das mulheres. Não dispenso os flertes no metrô.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Les mots qui son naive.

Dei pra escrever em inglês. There's no man like you. "This isn't a love song", Jon Bon Jovi would say and when my friends ask me if i'm in love i always answer yes. I got my pain in my arms, i put it in a red plastic bag and now i think it's hide in the right place. Pero yo voy a hacer una cancion para ella e va a ser singela, brasileña, para cantar despues del carnaval. Voy a hacer un ieieie romantico.
Os poetas roubam. That's why i'm here.
I wanna be free.

That's all.


(Now)!

sábado, 17 de julho de 2010

Pausa no bom humor.

Da quinta a oitava série eu gostei de um menino chamado Fernando. Era um amor platônico, ele era um ano mais velho que eu e me esnobava. Sofri que nem uma condenada. Muito de mim é resultado dessa rejeição. Devo muito da minha insegurança a expectátiva frustrada de que ele correspondesse aos meus olhares durante os recreio de 1996, 97, 98 e 99. Nunca tive raiva do Fernando. Ele não tinha culpa de não gostar de mim. Inclusive uns anos depois ele me procurou no ICQ e pediu desculpas. Tinha bom coração.
A adolescencia passou, outras paixonites vieram, umas correspondidas,outras não e aqui estou eu, sem grandes sequelas dos traumas antigos.
Hoje, no entanto, eu senti muita raiva desse passado de merda. Minha irmã faz aula de tecido acrobático aqui na Tijuca com uma menina que estudou na mesma escola que eu e que era da turma do Fernando. Quando ela descobriu que nós somos irmãs, não hesitou em dizer que eu era apaixonada pelo amigo dela, que vivia enchendo o saco dele e ele fugia de mim, desesperado. A filha da puta disse isso pra minha IRMÃ.
Fiquei em pé as seis da tarde na Praça Sães Peña chorando de raiva, sem conseguir me mexer. Pensava em tudo, em todos os homens que eu já gostei, no quanto eu sempre faço o possível pra não ser chata e inconveniente com eles e em como eu padecia por não fazer parte do grupo padrão da minha escola.
Essa menina que falou isso...essa menina não é bonita. Ela também não pertencia. Também era outsider, mas ao invés de ser solidária, não, ela preferiu me machucar, sem ter razão nenhuma pra isso. Tenho a sensação de que ela vai ser infeliz pra sempre.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Happinness today.

Acordar tarde
Filme bom
Caetano
Biscoito amanteigado da Kopenhaguen
Cachaça docinha
Amigas no fim do dia
Todas as músicas
Yogoberry misto com nozes, banana e mel
A hora que a Beatrix Kiddo consegue sair do caixão em Kill Bill
Minha cama quando chove
Revista Piauí
Sonhar as seis da manhã
Sol
Piscina depois da praia
Cheiro de vento quente no verão
Buldogues

...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"Certa manhã acordei de sonhos intranquilos."

Famosos são que nem poesia, estão aí para que as nossas dores pareçam menos solitárias. Conheço o Otto, cantor, há uns dez anos, da época que ele saiu do Mundo Livre S.A. e aquela música do tempo do Bob lá do pina de Copacabana fez sucesso. Nunca parei pra ouvir mais do que essa música, mas simpatizava com o sotaque pernambucano e com a aparência bruta e ao mesmo tempo doce do rapaz. Voi la, ele se casou com a Alessandra Negrinni.
Alessandre Negrinni é a eterna engraçadinha rodriguiana. Louca, linda e de voz mansa, teve filho jovem, usa saias curtas e dá poucas entrevistas. Saiu na Playboy porque queria dinheiro e causou polêmica quando foi ao cinema ver "A lenda do cavaleiro sem cabeça" tarde da noite acompanhada do seu bebê de um ano.
Quando se apaixonaram, Alessandra rapidamente tatuou o nome do amado no braço. Eram fotografados sorridentes nas colunas sociais. Quase a bela e a fera. Uma vez entrando no show do Mombojó no Circo Voador, fui entrevistada pelo Otto, mandei um beijo pra Alessandra e ele disse, alegre, que ela também estava lá. Tiveram uma filha e o amor acabou. Ele deu uma entrevista dura ao Globo confessando o sofrimento. Como esquecer Alessandra Negrinni? Me lembro de tê-lo visto perambulando sozinho pelo Festival do Rio de 2008. Parecia triste.
Passado um tempo fui ao cinema uma sexta-feira a noite em Botafogo e o encontrei com uma namorada alta, de vestido curto, bota e cabelo despenteado propositalmente. Não conversavam. Ele só batucava "Sem compromisso" do Geraldo Pereira na mesa do café high society e ela eu não sei o que fazia.
Fui aconselhada por pessoas diferentes a ouvir seu novo cd "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos", que saiu no ano passado. Só o fiz agora, há dois meses. Tenho a impressão de que é uma fossa pra frente, ressaca de uma paixão inacabada. Versos como: "Você me falou de uma casa pequena com uma varanda, chamando as crianças pra jantar. Isso é pra morrer." ou "Num dia assim calado você me mostrou a vida, e agora vem dizer pra mim que é despedida..." se misturam com guitarras e tambores, obra-prima. Sem dúvidas a melhor coisa que eu ouvi nos últimos meses.
Sábado o Otto tocou no Circo. Hace tiempo que yo no me quedo tan completamente ansiosa por un expetáculo como me quede para este. E fui. É um artista completo. Tira a roupa, fala muito, cantarola musiquinhas outras e surpreende. Sua atual namoradinha global-modelete, dançava esprivitada e cochichava com amigas. Mas ali é tudo dor de cotovelo por Alessandra. E a modelete-gostosinha, nem sequer conhecia as letras.
A primeira música do show foi "Filha": "Aqui há paz, aqui a paz e alegria, antes que você perceba que não deu, não deu, não deu...". Durante a apresentação disse em que rua mora e que ônibus pega da Lapa até lá. Desceu do palco, se molhou e explicou diversas vezes as razões que o fazem amar o Rio de Janeiro. Está na trilha sonora da novela das oito e tinha na platéia, vários atores cults. É mais um outsider que se estabeleceu.
Me pergunto se Alessandra Negrinni não se emociona. Acho que, como eu, que só agora, passado um ano e meio, me sinto um pouco melhor em relação a minha última paixonite braba, ele também deve estar começando a sobreviver. E infelizmente, penso que assim como quem me deixou, de fato, não me ama, o sentimento de Alessandra provavelmente se esgotou. Ficaram as músicas. Grandes músicas.

Obs: Esse texto é uma licença poética. Nada disso tem qualquer fundamento. São afirmações ficcionais em cima de pessoas públicas. Pero que las hay, las hay.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

As unhas.

Na semana passada, quando eu fui na manicure, levei um esmalte azul-escuro, quase preto, meio cintilante, que eu estava procurando há um tempão e que achei numa lojinha perto do meu trabalho. Ia pintar as unhas com ele, mas me lembrei que durante a semana teria um encontro e que homens não são muito afeitos a essas cores modernosas. Optei por um rosa clássico para garantir o sucesso das minhas mãos. Passei todos os dias, desde então, cuidando para que nenhuma unha descascasse. Não lavei louça, nem mexi com álcool. Olhei contente, várias vezes, para as minhas unhas, pensando no quanto elas estavam impecáveis. Hoje de manhã percebi que a unha do dedinho mindinho da mão direita estava quebrada. Cortei com alicate e lamentei o desfalque, mas não me abalei. Minhas unhas com certeza ainda agradariam. Quando deu meio dia recebi um e-mail desmarcando o encontro. Agora minhas unhas estão aqui, cor-de-rosa, solitárias e quase perfeitas. Tudo a toa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A atriz.

Ontem a noite eu fui a Lapa com uns amigos. Fui a primeira a chegar no bar marcado e enquanto esperava os outros, fiquei do lado de fora, não gosto de sentar sozinha e muito menos de comer sozinha. Chegou a primeira amiga. Escolhemos a mesa do canto. Depois vieram os homens, pedimos mate, guaraná e pastel. Conversamos e rimos, os que fumam foram na rua, quem trabalha longe chegou atrasado e as mulheres comeram sobremesa. Quando já estávamos pedindo a conta, minha amiga me perguntou se a menina que estava sentada na mesa perto do banheiro era aquela atriz. Olhei e vi que era. É uma atriz nova, nordestina. Fez um filme recente,muito bom, que eu assisti do lado do Arthur Xexéu no Artplex um sábado a noite. No filme ela tinha cabelo grande, ontem estava curto. Que mulher bonita! Magra, bem magrinha, com uma faixa cor-de-rosa no cabelo, blusa de bolinhas e meia calça de bailarina. Estava sozinha, toamando chope e comendo pastel. Sozinha na segunda a noite gelada da Lapa, véspera de jogo do Brasil. Não sei se tenho inveja dela, acho que um pouquinho, mas a admiro muito.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Anoitecendo o sonho.

Sempre gostei de vestido de noiva. "Quatro casamentos e um funeral" foi um dos filmes que eu vi mais vezes justamente por adorar festas de casamento. Fui madrinha de dois amigos, me maquiei, fiz penteado e subi no altar. Confesso que gosto dessa cafonice toda. Talvez alguns juramentos sejam mentira, mas e daí? Se é verdade na hora, vale a pena.

Desde que entrei na vida adulta, me acostumei com a idéia de que jogar o buquê não era pra mim. Não cheguei a sofrer com isso, foi uma constatação. No entanto, de uns tempos pra cá, especialmente depois que eu assisti a um programa sobre noivas em que foi feita uma entrevista com o costureiro do vestido da Juliana Paes (a mulher mais linda, simpática e feliz do mundo), meu desejo mulherzinha reprimido veio a tona.

Passei a me imaginar constantemente vestida de branco, com um vestido clássico, sem muita frescura. Penso no meu cabelo, nas flores que usaria para os arranjos da igreja e nas pintinhas dos meus ombros sendo exibidas saudáveis e imperfeitas.

Li um texto na Piauí sobre um casal que convidou um poeta para celebrar o casamento deles. Não poderia ter sido melhor a idéia. O artista, cujo nome eu esqueci (imperdoável), disse no seu rápido discurso anterior ao "sim" que quando um dia foi bom a noite chega rápido, e que portanto, casar é anoitecer, é perguntar: "Como chegamos aqui?". Achei emocionante.

Meu primeiro namorado vai se casar agora em julho. Vai ter igreja, festa, padrinhos e etc. Meu primeiro namorado era mais apaixonado por mim do que qualquer homem já foi (e alguns foram). Nós queríamos um casamento com toda a pompa e circunstância, imaginávamos casas pequenas com varandas e crianças. Eu desisti da coisa toda, pulei do barco, naufraguei sozinha daquele amor. Fui atrás de uma angustia que não me abandonou até hoje, 5 anos depois.

Desejo toda a felicidade do mundo a esse meu primeiro namorado, mas sinto inveja dele. Sinto inveja por ele ter encontrado um amor, por ter sido feliz com uma pessoa, coisa que eu sonho tanto em conseguir. Sinto inveja por ele ter me superado, já que eu estou demorando tanto a superar a minha última investida amorosa. E o que dá mais raiva é a certeza de que não podia ser eu ao lado dele. Amar esse rapaz não era uma opção. Ele não é pra mim e eu não sou pra ele. Me sinto como naquela música do Legião, "Maurício", "a solidão até que me cai bem".

No sábado de madrugada um grande amigo que estava num casamentaço na Mansão Rosa, me mandou uma mensagem com um verso de um funk que eu vivo cantando. Quando a música tocou na festa ele se lembrou de mim. Por causa disso, tenho me imaginado vestida de noiva dançando até o chão e beijando o homem da minha vida até o fim da festa. Lamento a impossibilidade quase total disso acontecer, de eu anoitecer (e amanhecer) com alguém e espero que esses devaneios burgueses passem rápido. Eles doem muito.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

América de veias abertas.

"Olhos azuis" é um desses filmes que surpreende justamente por não esconder o final. Da mesma forma que todos sabem como termina a história de Jesus e, no entanto, qualquer nova versão rende bilheteria, aqui também a graça está no passar dos minutos.
O filme nos confronta com verdades e mentiras dolorosas sobre a América que não descobrimos. Nossa ferida de subdesenvolvimento se abre quando ouvimos o inglês com mel dos nordestinos Nonato e Beatriz. Nos enchemos de orgulho por el corazon latinoamericano , mas nos envergonhamos da nossa ausência de nós mesmos.
Somos um continente partido. Não queremos ser culpados, odiamos quem nos rouba tudo o que o nosso suor construiu. Sonhamos com praias tropicais e neve de verdade. Sofremos com enchentes aqui e lá. Não falamos a mesma língua, mas compartilhamos o arroz e feijão de cada dia. O Mc Donald's de cada dia. Democratizamos a solidão e temos o corpo cheio de estrelas. Nessa terra olhos azuis não movem moinhos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

No elevador.

Tenho mania de falar sozinha no elevador. Me olho no espelho e imagino diálogos amorosos definitivos, beijos catárticos, sim, não e talvez. No elevador é bom ficar sozinho. Dá pra pensar alto, arrumar a calcinha, dançar a última música antes da chegada ao destino final ou só aproveitar o silêncio. Há algum tempo foram colocadas câmeras nos elevadores de edifícios comerciais. Me sinto tolida por elas, mas compreendo que são necessárias. Meu refúgio exclusivo se tornou o elevador do meu prédio. Moro num edifício antigo, que tem oito andares e dois apartamentos por andar. O elevador social só funciona a noite e como no de serviço não há espelho, a brincadeira lá tem pouca graça. Já cansei de chorar no elevador. Já cansei de rir no elevador. O espelho do elevador é o meu Freud particular, antigo, com cada manchinha previsível, sou eu do outro lado. Hoje de manhã percebi que não estava mais sozinha. Agora no meu elevador também tem câmera. Terão fim os meus acertos de contas ou eu deixarei meus porteiros acharem que sou maluca? Consertar o sutian não dá. E se um dia, porventura, eu estiver com o homem da minha vida? E se for o homem de terno que eu sempre fantasiei? E se for só um homem qualquer pra quem eu sinta necessidade de tirar a roupa? Os devaneios do elevador parado que resolvem conflitos de anos não têm mais lugar.
Essa vida moderna é terrível.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vinte e nove pretenções e a conta.

Se eu pudesse escolher teria sido escorpiana, flamenguista, aluna do Pedro II e atriz de cinema. Meu cabelo seria igual ao da minha amiga Karina, da sétima série e eu já teria viajado pelo mundo de mochila com amigos.
Se eu pudesse usaria vestido de noiva, saberia Dostoiévski de cor e circularia pela high society acompanhada pelo Matheus Nachtergaele.
Viveria affairs futivos com as personalidades alternátivas do momento (Luis Fernando Carvalho seria o mais importante deles) e conseguiria materializar pelo menos a metade das minhas grandes paixões.
Se eu pudesse teria transado na escada e tiraria fotos de biquini ao lado do meu mais recente romance de verão.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Biscoitos e beijos.

Hoje de tarde no trabalho eu estava com muita vontade de comer biscoito maizena. Falei isso alto e a menina do meu lado disse:
-Eu tenho biscoito maizena. - E tirou um pacotinho da mochila.
Aí eu fiquei muito feliz e falei que comer uma coisa que você está com muita vontade na hora que a vontade vem, é quase como beijar alguém que a gente é muito afim.
O menino do meu lado disse:
-Acho que eu não sei como é isso.
Minha resposta foi que eu sei muito pouco.
E fomos os três comer biscoito maizena.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Noah.

Em uma das turmas em que eu fui licencianda no CAP da UFRJ em 2008 tinha um menino chamado Noah. Ele era muito bonito, simpático e flamenguista. Estava no segundo ano quando eu fiz a minha regência.
Em 2008 o Noah namorava uma menina chamada Marília. Ela era baixinha e vascaína. Eles eram apaixonados.
Eu sempre corrigia as provas deles, me lembro da letra dos dois, a dele agarranchada e a dela muito bonita. Ele não enrolava nas respostas, ela em compensação, abusava das linhas estreitas com suas vogais redondinhas.
O Noah ia para o CAP, que é na Lagoa, de bicicleta. A Marilia pegava o mesmo ônibus que eu, 409, mas entrava no Rio Comprido, no primeiro ponto da Paulo de Frontin. O sobrenome dele é Shünermann (assim, com trema), o dela é Jordão. Os dois eram populares, alegres e cheios de amigos. Eu raramente falava com eles, mas prestava atenção de longe. Eu gostava deles.
Hoje, voltando do trabalho, vi o Noah no metrô indo para o jogo do Flamengo. Ele estava de mãos dadas com uma menina que não era a Marília. Tive vontade de chorar. Cheguei a ter que segurar as lágrimas.
Fiquei pensando no quanto, na idade do Noah, a vida muda rápido. Ele agora, provavelmente, está na faculdade, faz outras coisas e sai com outra menina. Na minha memória o Noah vai ser sempre o namorado da Marília porque eu só convivi com eles durante o tempo em que estavam juntos.
Pensei no quanto, apesar de ter apenas sete anos a mais do que eles, na minha idade os amores são estáticos.
Hoje eu queria ter falado com o Noah. Tenho um enorme carinho por ele e por todos os alunos do CAP com quem eu convivi. Foi uma época muito feliz. Escola é um lugar feliz. Pra eles, nós, licenciandos, estávamos ali todo ano. Pra mim, eles foram únicos. Eu não tinha o que falar com ele e acabei passando direto, me faltou tato.
Ele mora no meu coração.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Colando os cacos.

Maio ainda não está no final, como na música do Kid Abelha, but i need to tell you what's new. Todo dia 31 de dezembro, meia noite ao som dos fogos, eu me pergunto se o ano que vem será o melhor da minha vida.
Esse ano começou sem prometer nenhum explendor. Em janeiro as dores de amor não passaram, em fevereiro eu tive poucos amigos e em março fiquei sem emprego. Tragédia armada, decidi entrar na academia. Não me restava nada a não ser emagrecer.
Em abril recebi uma proposta de emprego vergonhosa que subestimava a minha inteligência e o meu bom senso. Disse um sonoro NÃO e continuei indo a academia. Entre lágrimas, medos e lamentos, fui todos os dias a academia.
Encontrei num sábado a noite, na rua, assim passando, o tal homem de quem eu gosto tanto. Podia ter sido um encontro cordial e agradável, mas eu fiz com que fosse uma discussão cheia de palavras feias. Saí aliviada. Amenidades não resolveriam nada pra mim. Não me importo de ter saído humilhada, nem de ter sido tratada como louca. Eu precisava falar aquilo tudo.
Na semana passada chegou um e-mail de um amigo que tentava explicar o que não tem explicação. Deixei ele ir. Não me pertence mais.
Maio começou com uma nova oportunidade e escolhas a serem feitas. Estou me sentindo valorizada e feliz. É lógico que a saudade as vezes aparece. Gosto de me lembrar da Sulamerica Paradiso tocando na sala que eu trabalhava antes, das ligações apaixonadas repentinas e das longas conversas cheias de resoluções com o amigo perdido. Isso quer dizer que valeu a pena.
Vou continuar indo a academia, está funcionando.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Metal contra as nuvens.

Quando eu tinha 15 anos e estava no primeiro ano do Segundo Grau, Ensino Médio, whatever, minha professora de quimica se chamava Jussara. Eu não sabia quimica, nunca soube, e um dia a Jussara fez uma piadinha comigo por conta do meu baixo rendimento na matéria. Era a aula imediatamente posterior ao recreio e eu, que estava cagando baldes e mais baldes, para toda aquela merda inútil de hidrocarbonetos, comecei a escrever uma carta pra ela a lápis numa folha de caderno. Na carta eu dizia que não sabia mesmo contar carbonos, que não entendia e nem pretendia entender o que são metais, gases, bases e ácidos, mas que naquela escola católica tijucana de adolescentes futeis que pixavam muros e destruiam os banheiros, que desrespeitavam professores, diretores, Deus e quem mais viesse, que eram ricos e bonitos e que não conehciam nada diferente daquele mundinho deles, mundinho de merda. Naquela escola, eu achava que era mais importante ler jornal, se importar com a Reforma Agrária (eu me importava) e com o futuro do Brasil do que entender como reagiam o enxofre, a água e o ar em contato com o ácido sulfúrico. Me lembro que passei linhas e mais linhas falando de tudo o que eu sabia no alto dos meus 15 anos ingênuos e concluí explicando que, em outras palavras, queria que ela e aquelas substâncias e números todos tomassem no cu.
Entreguei a carta no final da aula. A resposta veio rápido. A Jussara na entrega da prova seguinte, a qual eu teria tirado zero porque não tinha escrevido NADA (em uma questão que falava de metais eu escrevi a letra de "Metal contra as nuvens" do Legião e só), disse que tinha perdido a minha avaliação e que por isso eu tiraria dez. Eu sempre soube que ela não perdeu a minha prova. Houve mães de amigas minhas que foram a escola reclamar do meu dez nada suado. Mas aquela foi a forma da Jussara de me valorizar. E eu agradeço e lembro disso com carinho. Queria que a vida inteira eu pudesse argumentar assim com quem não vê tudo o que eu sou. Queria poder dizer todos os filmes que eu vi, os livros que li, os textos difíceis, as minhas idéias e percepções geniais, o meu inglês desinibido, o bom humor e o bom gosto, as palavras certas e outras infinitas qualidades. Mas infelizmente a Jussara ficou lá no ano 2000. Hoje eu lido com gente mesquinha de verdade, gente que explora mesmo e foda-se. Dizer "Não" é só o que eu posso fazer porque tenho juízo. Não sou escrava de ninguém e nem senhora do meu domínio, mas quando eu for, vou rir dessa porcaria toda, sem carinho. Bando de filhos da puta!

sexta-feira, 12 de março de 2010

O dia dele.

Todos os dias ele toma café antes de sair. Não ouve músicas repetidas, sempre vai de metrô e evita os eventuais conhecidos que encontra pelo caminho. Quando chega lava o rosto. Olha pela janela o movimento dos carros, sente fome, se distrai com um telefonema qualquer e trabalha. Chega a moça de saia preta. Sempre repara no quanto as roupas dela são bem passadas e sóbrias. Trabalha concentrado. Ouve o som ambiente, rádio modernosa, a obra na casa do funcionário ao lado, instruções vãs dadas por um supervisor qualquer a um errante, bom dia bom dia e já são onze e meia. Não come arroz, sente sede quando pede suco e hoje reparou que no prato da moça impecável tinha sushi, feijão e farofa. Volta no sol, sente sono e ri de uma piada qualquer que ouve no elevador. Se surpreende com a morte de um ator de novelas, não vê muita novela, mas se lembra de uma com esse ator. Passou há uns 15 anos, as meninas da escola comentavam. Uma delas se chamava Maria e usava fitinhas de pano amarradas ao tornozelo. Não sabe o que foi feito dela. Da última vez que a viu estava lora e não se falaram. Tomou mais café, respondeu perguntas, escreveu e-mails e atendeu a mãe no telefone. Saiu as seis, olhou o jornal, foi ao cinema e voltou de ônibus. Tomou cerveja com colegas da faculdade. Voltou tarde e feliz. Vou casar com ele.

terça-feira, 2 de março de 2010

Minha manicure não assiste Big Brother.

Toda semana eu faço as unhas no salão. Há dois anos é assim. Minha manicure fez as unhas da minha mãe por muitos anos e agora faz as minhas. Minha mãe deciciu aprender a fazer as próprias unhas, eu não. No início eu ia ao salão durante a semana, depois, por conta do aumento de horas no trabalho, passei a ir aos sábados. Adoro ir ao salão, fico ali entregue a pensar em nada, prestando atenção nas cabelereiras e cabelereiros, nas clientes jovens, nas velhinhas, nas fofocas e na música de rádios Old Times que sempre tocam nesses ambientes.
Alessandra é o nome da minha manicure. Ela é calada e rápida. Só de uns cinco meses pra cá começamos a conversar mais. Do lado dela fica a Denize, que é muito engraçada e conta as melhores histórias. A melhor foi uma sobre o vendedor de bala do ônibus que dava em cima dela. Um dia ele disse que ia chamar ela pra almoçar, que estava comprando um bar e que eles poderiam ir lá. Ela falou que sim, que eles poderiam tomar uma geladinha e tal. Ele disse que não, "mulher minha não toma cerveja".
As duas não assistem televisão, não falam sobre novela, nem sobre Big Brother. Uma é canceriana e a outra leonina. Os cabelos são bem curtos e elas usam brincos pequenos. Os filhos de ambas foram criados pelas avós. Elas são casadas há muito tempo e adoram Carnaval. Trabalham no mesmo lugar há mais de 15 anos. Chegam as nove, não têm hora pra sair.
Minhas unhas estão sempre bonitas. De uns tempos pra cá passei a deixar a Alessandra escolher o esmalte, contanto que seja vermelho. Sempre dá certo.
A Reese Wintherspoon em "Legalmente Loira" diz que manicure é terapia. Talvez não seja pra tanto, mas é um oásis no meu mundinho intelectualóide sem amor.
E eu adoro.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Te vi assim que te amei.

Você voltou pra mim nessa última tarde de verão
Intervalo dos dias de Sol
De você eu quero muito pouco
Mãos dadas e voz baixa me preenchem
Estive aqui todo esse tempo
quente, errante, sua
e hoje recupero os sentidos
Chorei na cama numa quarta feira de manhã
de dia chuvoso como esse
porque sabia que te amava
Toques, tapas, tecidos
e eu volto pra você.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Solidão ultramarina.

Sábado a noite sozinha. Não tenho amor e o sexo ready made que eu arranjei não estava disponível. Pensei em me jogar pela janela e escrever uma declaração explicando de quem era a culpa da minha desistência: De um homem e da minha chefe, mais dela do que dele.
Comi todos os chocolates, telefonei, li o que era possível e nada. Solidão não derrete com o calor. Decidi entrar no Bate Papo da UOL e exercitar a paciência que eu tinha aos 16 anos. O problema é que aos 24, quase 25 anos, a pergunta "Tc de onde?" soa péssima. Ainda assim continuei. Aos dois dias dos 25 anos nenhuma sala tem gente, só a de sexo. Entro com o nome "Deborah". Vejo os nicks menos sutis: "Pau grande come cu", "Buceta encandescente", "Garota molhada" e O "Casado safado" de sempre. Nada me apetece.
Num cantinho desse espaço virtual gelado tinha um "sozinho" assim, com letra minúscula. Puxei assunto. Me perguntou se eu também estava sozinha e por que. Não paramos de conversar. Não falamos sobre sexo. Os assuntos se estreitaram. Ele é angolano. Eu e ele buscamos companhia para os sábados vazios em salas de bate papo que se tornaram obsoletas.
Meu ready sex boy, que só serve pra isso e faz isso muito bem, não tem habilidade com a minha carência. O homem que eu amo conhece cada centímetro da minha tristeza, mas tem tumulto suficiente pra se manter longe pelos próximos 15 anos. Minha mãe me acha vulgar e minhas amigas são casadas. O "sozinho" angolano salvou a minha noite.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Again.

No Carnaval do ano passado eu estava com ele. Na quinta feira antes do início das festas todas, eu tinha ido ao cinema com ele. Eu não trabalhei na sexta-feira e passei com ele toda a noite. Lá pelas tantas a gente sentou na calçada do meu prédio e eu me deixei envolver pelas mãos que até hoje não foram embora de mim.
Amanhã é sexta e já é Carnaval de novo, mas ele não é meu. Ele não está. Nunca sei se a minha insistência em gostar dele sem esperança é maluquice ou intuição. Nunca sei.
Durante esse tempo eu tentei me envolver com as minhas coisas, foi assim que me aconselharam. Estudei, trabalhei, dancei, beijei outros, não beijei, liguei, fui, falei e aqui estou, de volta.
Hoje no jornal lá estava ele. E aqui estou eu. Ele não me lê. Nem precisa. Cada uma dessas palavras é desnecessária quando eu olho pra ele. Quando eu vejo homens parecidos com ele na rua e o meu coração acelera, não é preciso falar.
Juro que fiz o possível. Me entreguei a quem não queria e a quem me era conveniente. Não me arrpendo de nada, mas não posso arriscar sofrer mais. Tenho desgaste suficiente already.
Em "Paris, Texas", Jane, a personagem da Nastassja Kinski, diz que por meses teve conversas imaginárias com o homem que a tinha deixado. Ela conversava tanto e os diálogos eram tão reais que as respostas vinham instantâneas. Lentamente ela foi parando de ouvir a voz dele e falando sozinha. Quando foi trabalhar se exibindo em cabines eróticas, anos depois, disse achar que todos os homens tinham a voz dele.
Já esse homem, abdicou de rever a mulher que amava porque sabia do potencial insano daquele sentimento.
Eu sei o estrago que o Carnaval do ano passado fez em mim. Eu não esqueço. Pode haver homens melhores. Podem haver os que me amaram mais. Mas não há, nesse momento, ninguém que eu queira mais.
Foda-se a escrita repetitiva. Eu preciso falar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Carnaval.

Eu queria ter sido uma criança que se fantasiava de melindrosa no Carnaval. Queria ter ido aos bailes infantis do Clube Palmeiras de Iguaba Grande com as minhas amiguinhas, que passavam a tarde se arrumando para a festa. Mas quem tem avó evangélica e mãe antisocial não pula Carnaval.
Carnaval pra mim tem quase o mesmo gosto do Natal e do Ano-Novo. É sabor de desencanto, de utopia e quarta-feira de cinzas. Hoje, quando saí do cinema e vi a Cinelândia cheia, me dei conta do pré-desfile do Bola Preta. Pensei na disponibilidade para a diversão daquelas pessoas de chinelo e camiseta que como eu, trabalharam o dia inteiro, mas ainda estão animadas as dez da noite.
Na esquina da minha rua tinha um bloco passando. Passistas, baianas, bateria e gente feliz. Fiquei vendo aquilo tudo sozinha. Queria participar. Queria saias de tule e porpurina. É bonito demais o Carnaval. Atrás dele só não vai quem já morreu.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Cama de tatame.

Quarto claro, banheiro com azulejos antigos, limpos, sem cheiro. Chão de ladrilhos. Cama dura. Eu te amo nesse final de tarde quente de verão cansado, de verão de dores acumuladas e de desejos soltos. Não te quero pra mim, não me interessam o seguro de vida, a madrugada e o portão de casa. Quero de você a rua e a cama. São beijos ansiosos, mãos no rosto, dentes e cabelo preso. Você é meu. Eu sou sua.
Tem força, sussuros, pedidos, blefes. O quarto, a cama, o jogo. A noite começa, é você quem manda.
Não durmo mais.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Acomodação.

Tenho horror a pessoas que param a vida para fazer concurso público. Me sinto angustiada só de pensar no quanto é mediocre ter que frequentar aulas de cursinho, reaprender o que é ditongo, tritongo e hiato e escolher na sorte as respostas da prova de matemática em tardes de domingos de sol. Pra mim é uma ilusão. O salário de 17 mil vem de verdade para poucos. Os brilhantes passam de primeira, sem Academia do Concurso ou qualquer genérico e deixam do lado de fora homens e mulheres que só queriam estabilidade.
O sonho da casa própria, com carro na garagem e viagem de férias com os possíveis filhos depende dos 17 mil. É preciso estar atento e forte sempre. Eu sou distraída. Não nasci pra isso.
Minha mãe conta que uma paciente dela que é juíza, estudou tanto pra passar que só soube que o muro de Berlin tinha caído um ano depois. Que juíza pode arbitrar qualquer coisa se ignora a queda do Socialismo? Que pessoa pode se isolar assim impunemente?
Vou ao cinema depois do trabalho, pago quase todas as minhas contas e só. Minhas ilusões amorosas já são suficientes. Entre fazer a hora e esperar acontecer estou eu, feliz.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cotidiano.

Às seis da manhã de uma quinta-feira de verão fazer dieta parece fácil. Bebo água e quero ele de volta. As nove e meia saio de casa certa de que minhas intenções de ser mais magra são tão nobres que certamente serão recompensadas no caminho. A manhã é rápida e se eu almoçar ainda tenho o resto do dia inteiro para alcançar meu objetivo de entrar numa calça 42. Três da tarde e eu não consigo esquecer. Seis horas a Ave Maria toca sorrateira e eu estou livre. Ele não é meu. Posso ser feliz comendo chocolate. No ônibus, as oito da noite, i'm dancing whith myself-oh oh oh oh. Em casa a madrugada é dura. Sinto sono. Perdi.
E é assim sempre.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Eu não tenho talento, só coração.

Algumas pessoas são contempladas com a materialização do amor. Outras são presenteadas com a magreza e algumas nascem sabendo cantar, desenhar ou fazer contas. Constantemente penso em como deve ser a convivência com esses talentos que não possuo e percebo que, por conta das demais dificuldades inerentes a existência, quase ninguém se dá conta do que têm.
Nessa época muito se fala sobre os planos para o ano que se inicia. Meus objetivos para 2010 são os mesmos de 2009 e são poucos. Não sei construir metas, datas-limite ou revanches. Não planejo caber numa calça 42, a Europa não deve vir por agora, não tenho perspectivas de me casar e minha inteligência continua indo até a página sete.
Hoje, um domingo de sol bonito, me senti sozinha e entediada. Nada para fazer, ninguém para amar e telefone sem tocar.
Eu certamente seria mais feliz se soubesse rebolar, mas não fui questionada sobre o que queria pra mim. Continuarei assistindo o mundo acontecer.