quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Longe da casa no campo.

O mundo acontece e algumas pessoas preferem ficar em casa. Sempre me pergunto como deve ser isso. Em 2001, no Rock'n Rio, eu tinha 15 anos. Fui comprar meus ingressos no primeiro dia de vendas, custava 17 reais a meia. Comprei pra três dias e acabei indo a quatro. Vi REM, Oasis, Guns and Roses, Silverchair, entre muitos outros. Certamente foi um dos momentos mais importantes da minha adolescência. No entanto, conheço gente, meninos e meninas até mais velhos, que nem se importaram com aquela apoteose.
Tenho até hoje, amigos que são imunes a essas grandes comoções socio-culturais das quais eu gosto tanto, FLIP, Festival do Rio, show do Chico Buarque, Feira de filhotes e o que mais vier. E não é por falta de dinheiro. Muitos desses desinteressados têm boas condições financeiras e não vão por preguiça ou por alienação mesmo. Me arrependo amargamente de não ter ido ao show do Pearl Jam (estava enjoada deles na época, consequência da Rádio Cidade, que tocava "Black" a cada meia hora). Gosto de ir onde está todo mundo, de me sentir fazendo parte, de imaginar a minha voz nas gravações ao vivo e lembrar de tudo depois.
Não tenho paz de espírito, quero ser fundamental.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Espera premiada.

Filmes e beijos bons me alegram. Isso de ser triste é charme. Homens errados, reprovações e solidão passam. Definitivos são os mosquitos.
Aí eu choro um pouquinho ali, me lamento outro pouquinho aqui...
E nessa segunda feira a noite, quero ser a Marilyn Monroe*.

*O Jair, um funcionário do Museu onde eu trabalho, me contou, hoje a tarde, que quando a Marylin Monroe marcava uma entrevista as onze da manhã ela chagava as quatro da tarde. E como resposta aos produtores que ligavam desesperados ela mandava que seus assistentes dissessem: "Eu esperei muito por eles, agora eles que me esperem.".

domingo, 27 de setembro de 2009

"Viajo porque preciso, volto porque te amo" *

Eu casaria com você agora, largaria tudo, mudaria o que você pedisse, cuidaria dos seus medos e das suas roupas. Eu ouviria as mesmas histórias inventadas e os mesmos casos repetidos e acharia graça sempre. Eu te amaria sempre.
Com você é fácil. Com você funciona.
Quem me lê não entende.
Depois de você os outros não são nada. Deus me livre de ter novamente que beijar sem ter vontade.
Mas Deus se doeu da minha solidão e da minha amargura requentada e mandou outros. E eu beijei. E eu te amo.
Você não está aqui. Eu sinto o seu ciúme e mais nada. Rompi com o mundo, queimei meus navios, fiquei a deriva.
Estou vagando por esse mar sem peixes há meses. Estou cansada.
Eu não sei te dizer mais nada.
Não soube fazer você me amar.
Volta pra mim
Volta pra mim
Volta.

*O título do texto é uma homenagem ao novo filme de Karin Ainouz e Marcelo Gomes que conta a história da viagem solitária de um geólogo pelo nordeste. Com direito as melhores músicas cafonas e declarações de amor baratas, foi com certeza a dor de cotovelo mais bem contada que eu vi nos últimos tempos. A melhor parte é quando o homem abandonado diz que não volta porque ainda ama.
Por muito tempo eu também quis viajar pra te esquecer, mas não pude. E ainda te amo.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sexta feira santa.

Não quero mais entender os pesadelos dos outros. Tãopouco me interessa a pouca sensualidade das mulheres bonitas e não me importo com os prazos a serem cumpridos. Em meio aos amigos que procuram apartamento e iniciam novos projetos de vida, não cabe a minha mediocridade e os meus assuntos inertes. Me atraem os sentimentos que não fream e as rejeições latentes. Não tenho calendário. Paralisei meu trabalho faz tempo por conta da vontade de amar. Hoje todas as lágrimas que estavam em mim saíram. Doeu pra expulsar cada uma. Agora vou mergulhar na vida. Adeus.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem roupa.

E se hoje eu decidisse não ficar mais nervosa com a rua molhada em dia de chuva?
Se passasse a dormir mais cedo e lesse pelo menos cem páginas de qualquer livro por dia
Se me desapegasse das amizades pequenas, das pessoas pouco cuidadodas, que não administram bem o próprio caos e acabam se tornando brutas
Se não optasse pelo mais caro
e não mentisse mais
se deixasse de pensar em você
e a maçã, o chão da rua e a cama não fossem mais nada
certamente eu seria mais feliz
mas fui gostar de sol
e me entrego duas vezes antes de pensar
É como pode ser.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Verdade.

Um dia eu vou me chamar Estela, vou morar num país onde não existam mosquitos e toda manhã vai tocar "Hey Jude" no meu rádio. Vou comer Nha benta da Kopenhaguen no café e essa história de que um dia a gente acaba encontrando a pessoa certa vai ser verdade.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Antes que um aventureiro lance mão.

Brócolis comum, folha por folha lavadas e refogadas com alho, cebola e vontade de emagrecer. O mesmo pode ser feito com cenoura.
Champigons, palmitos e uma paixão não correspondida ajudam.
Água, nozes, alguma carne sem gordura e capsulas de feijão branco.
Esmalte roxo affair, sabonete, tônico para o rosto e desapego.
Batom vermelho, rímel, chefe mercenária e salário que atrasou.
Livro na bolsa.
Filmes no sábado.
Eu posso.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A chuva já passou por aqui.

Tenho inveja da forma como as pessoas se apropriam dos lugares. Queria ser dona do Leblon e de São Paulo, mas nem a praia da Barra me pertence. Passei o dia tentando ler sobre os estabelecidos e os outsiders. A busca por uma fórmula de emagrecimento a jato me desconcentra. Cismei de não ingerir mais carboidratos e produtos industrializados na esperança de recuperar minha autoestima rapidamente. Não sei até quando vou aguentar. Chove muito. Eu vou mudar, vou gostar de coisas que ele nunca imaginou, vou esquecer minha velha paixão. É muito tarde pra ligar.

domingo, 20 de setembro de 2009

Quero descer.

Tenho associado felicidade a passar no mestrado, é uma ilusão, mas não estou disposta a desistir dessa meta. O problema é que dada a derrota da primeira batalha, o meu time se desestruturou e agora o dobrado a ser cortado é grande. Existem três opções, cada uma com seus pormenores. Não sei que caminho privilegiar, nem que estratégias traçar. Quero mudar de área, estou certa disso, mas tenho medo de não estar preparada nem para uma prova sobre textos que me são familiares, que dirá para os autores distantes.
Não tem cabimento isso de os programas de pós graduação exigirem projetos detalhadíssimos e cronogramas de atividades. Como alguém pode planejar uma pesquisa que não começou? É a prova de que historiadores são pretenciosos a ponto de acharem que podem prever o futuro. Eu não sei nem o que vou fazer amanhã, que dirá daqui há dois anos! A venda antecipada para o Festival do Rio já vai começar e eu aqui cheia de dúvidas e textos pra ler. Fiz minha lista de filmes, mas a manhã da minha segunda feira me é muito cara nesse momento. Almodovar e Tarantino ou Norbert Elias? Quem me faz mais feliz?

Receita nova.

Não quero ser igual a minha mãe, me desentendo com minhas amigas da escola e nem vestidos pretos me caem bem. Dei pra brigar. Saio dizendo tudo sem muito tato. Deixo as pessoas irem. O irmão de uma amiga da escola namorou por oito anos uma menina que conheceu na faculdade. Ele nunca foi apaixonado por ela. A menina não era vaidosa, não usava calcinhas provocantes e não gostava de praia. Surgiu então uma ruiva feliz que vai a praia e adora cachorros e o namoro morno terminou. O rapaz agora está feliz e aliviado. Estou feliz por ele e pela ruiva e me pergunto se a outra, que deve estar sofrendo consideravelmente, vai se tocar que precisava usar lingerries sensuais. Será que eu preciso perceber alguma coisa desse tipo? Será que dá pra querer ser feliz gordinha? Pra mim não dá, eu sei. Não fico bem, meus traços não são harmônicos.
Quero uma Revolução. Chega de planos mesmos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sol desperdiçado.

Quanto céu azul pra pouca comemoração! Não sei pra que serve isso de ser brasileiro, apaixonado e forte. Bom deve ser nascer entre os antigos, os estabelecidos. Estou disponível, lotada de tragédias mexicanas e de amores fora do padrão. Não tenho pra quem entregar o descontrole. Apego mata, fome não. Tinha um bolo de bolo mesmo que era muito gostoso no café da manhã dos domingos do ano passado. Passou. Não volto mais lá. Saudade nenhuma.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

No limite.

Passada a vontade de chorar de ontem, veio a vontade de chorar de hoje. Sou uma mulher sozinha e sem mestrado. Preciso arrumar paciência pra ler outros autores, escrever outro projeto e encontrar fontes e modelos teóricos. Dai-me forças, Senhor!
Estou me exibindo pra solidão. Fui rejeitada por um homem e por uma pós-graduação. Não sirvo nem para amar nem para estudar. Minha função no mundo é ouvir Legião Urbana. Tenho amigos, família e trabalho, mas não me contento. É pecado mesmo, nunca tive pretenções de ser resignada. Não quero ter atitudes grandiosas nesse momento. Estou cansada.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em linha reta.

O edital saiu em junho. Tirei xerox de todos os textos. Comecei pelo Weber. "Classe, estamento e partido". Depois Bourdieu, a introdução de "As regras da arte", Durkhein, "Métodos primitivos de classificação", Mauss, "A noção de pessoa", Sérgio Miceli e o programa da Hebe Camargo, Becker, "Outsiders", Roberto Damata com seu plágio relevante do Sérgio Buarque de Holanda, "Você sabe com quem está falando?" e Mary Douglas com "Pureza e perigo". Fichei os oito textos, escrevi resumos já com as idéias organizadas, li comentadores e pedi ajuda aos amigos da área. Antes disso teve o projeto e a carta de intenções que eu elaborei e reelaborei com todo o cuidado um milhão de vezes. Cheguei a escrever na minha agenda o nome das pessoas que me ajudaram pra não esquecer de agradecer. Veio a prova de inglês, 144 pessoas. Passei. Na prova dissertativa eram 96 concorrentes. Perguntavam a diferença entre um grupo de individuos e uma sociedade e na segunda questão questionavam se pensar é classificar e se classificar é constituir ordem social. Usei sete autores na primeira e cinco na segunda. Cinco laudas de prova. Enfase em Weber e Durkhein, todas as associações bem feitas. Rascunho lido e relido. Passei a limpo e saí faltando 10 minutos pro tempo acabar. Tive certeza de que tinha feito o meu melhor. Era uma quinta feira de sol e alivio. Aguardei por tês longas semanas e contei as minhas respostas até pro meu porteiro. Desde quinta feira passada eu já olhava o site pra ver se o resultado tinha saído. A porrada veio hoje as 11 da manhã. Tirei 4,5 na tal prova e não passei. Não entendi. Não é pra entender. Vou tentar outras duas ou três seleções e ler mais uns 30 grandes nomes do pensamento social brasileiro e mundial. Não quero mais ser historiadora, mas não sei se vão me aceitar em outro lugar. Não sei fazer melhor. Me envolvi e me empenhei por três meses e agora me resta aprender com essa nova modalidade de derrota. Que merda.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Métodos primitivos de classificação.

Tenho andado muito apegada a minha casa. Só de pensar em ter que dormir com outros lençóis e tomar banho em outros chuveiros já fico aborrecida. Isso quer dizer que eu não tenho dormido na casa dos outros e que não tenho viajado. Sinto sono cedo, mas não durmo direto. Acordo, ouço música, leio, escrevo, vejo televisão e durmo de novo. Só no meu quarto posso fazer tudo isso. Me tornei metódica com tudo que é meu. Minhas blusas ficam separadas das saias, que ficam separadas dos vestidos. Os batons estão arrumados de acordo com a frequencia de uso e os objetos que eu levo na bolsa ficam num lugar específico da estante. Meus livros são divididos entre os academicos e os de literatura. Numa outra prateleira ficam os que são sobre o meu tema de estudo. Tomo muitos banhos e detesto sabonetes verdes e roxos. Não gosto de sentir a toalha oleosa nem de ver frascos vazios de shampoo no boxe. A geladeira também tem que ser organizada. Nada de panelas destampadas ou produtos amontoados. Sou fresca. Fiquei velha. Preciso transar urgentemente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os amores de 1998.

Hoje encontrei o Hugo Da Cal.
Eu era apaixonada pelo Hugo Da Cal. Eram dele os meus recreios e as minhas esperas na saída da escola.
Dividimos a mesma rua, eu e ele. O mesmo cep, as eventuais faltas de luz e o caminho de ir e vir.
Acabou a escola e eu raramente o encontro.
Ele passou.
Passou?
Será que o Hugo Da Cal passou?
Não sei. Acho que ele também não sabe.
Viveremos eternamente frustrados por nunca termos sido nada um do outro. Por toda essa ilusão, esses olhares a toa...
Meu Hugo Da cal, magro, com carinha de menino...nunca foi meu.
Hoje dividiu novamente a calçada comigo,como no dia em que ficamos assistindo juntos ao prédio da esquina pegar fogo, no tempo em que não precisávamos de quase nada para sermos felizes.
Que vontade de chorar me dá encontar o Hugo Da Cal depois desses anos todos,
que vontade de conversar com ele.
Ficamos tão pertinho...
De onde ele estava vindo?
E eu?
Ele não sabe, nunca soube.
Somos nada um do outro e ele é tanta coisa.
Hoje eu tenho alguém, ele também tem.
E nós continuaremos vizinhos distantes
que se encontram de vez em quando
e que sofrem quietinhos.

(Rio,16 de junho de 2008)

Hoje, 14 de setembro de 2009, eu novamente encontrei o Hugo Da Cal na minha rua. Não me senti tão angustiada quanto no ano passado, quando escrevi esse poema, mas por conta da ocasião, resolvi postá-lo. Ele é uma dessas coisas que não aconteceram e que por isso mesmo tem muita importância.

domingo, 13 de setembro de 2009

O pouco que sobrou.

Quando eu entrei na faculdade não me identifiquei rapidamente com ninguém. Depois de algum tempo conheci melhor as pessoas e fui me sentindo avontade com elas. Passados seis anos o afastamento é natural. Alguns colegas eu encontro diariamente e só falo amenidades, outros demonstraram não ser confiáveis e uns poucos permanecem. Com esses últimos não é preciso conversar todo dia, nem encontrar frequentemente. Nossa sintonia é imune a distância e a inveja natural dos seres humanos.
Não existe isso de melhor amiga na vida adulta, mas nós, certamente podemos contar umas com as outras para gargalhadas, lágrimas e problemas sexuais. Coincidentemente temos sentido necessidade de escrever em blogs. Queremos publicar a nossa dor. Sabemos que somos muita coisa, mas nos angustia tudo o que ainda falta. Nos expomos porque temos consciência de que o que nos habita interessa aos outros, mesmo que os outros sejam apenas nós mesmas.
Não nos compreendemos integralmente, mas somos fiéis. Não dissimulamos a preguiça, a indecisão e os fracassos. Somos gente de verdade, que faz fofoca, se engana, come muito e sente medo. Devido a nossa grande disponibilidade para amar, tentamos acertar o ponto da comida, as cores da moda, o amor e a profissão.
O mundo há de nos descobrir.

Noite feliz.

Lapa sábado a noite, vestido estampado e sombra verde. Lanchei numa padaria ótima, fui a casa de uns amigos, voltei pra rua, encontrei um professor, um antigo amor e uma meia duzia de conhecidos pouco importantes. O antigo amor estava beijando uma menina. Ele é muito especial. Quando a gente saía eu fingia que era madura e ele fingia não se importar. Deu tudo errado. Acabei mostrando que era uma bobona e ele passou a não se importar mesmo. Nós ficávamos de madrugada no parquinho da Praça Afonso Pena quase sem roupa. Era muito bom. Não temos mais nada a ver, mas eu queria poder conversar com ele. Sinto saudades.
A Lapa em noites claras como a de hoje, na temperatura certa e com pessoas agradáveis, é o melhor lugar do mundo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Se ele me chamar agora, eu vou.

Sonhei que eu passava na prova. Eu entrava no site do programa de pós graduação de Sociologia e Antropologia e via que tinha sido selecionada pra entrevista. Ainda dormindo me dei conta de que era sonho e parei de fantasiar. Comecei então a sonhar com o rapaz que me deixou. Nós nos encontrávamos numa espécie de jardim ingrime, que no sonho ficava atrás do Shoping Tijuca. Eu dizia muitas coisas a ele e o acusava de covardia e falta de sensibilidade. Ele, se sentindo atingido, dizia que eu estava gorda e que tinha envelhecido. Ele também tinha engordado. Eu falava "Que isso..." e as palavras duras dele amoleciam e nós combinávamos de nos encontrarmos mais tarde. Eu ia ao salão fazer a unha e só quando estava em casa me dava conta de que além de ter pintado de branco, coisa que eu nunca faço, a manicure tinha esquecido uma unha sem esmalte. Aí um mosquito me acordou. São sete e dez da manhã de mais um sábado sem aleluias. Isso precisa acabar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre o último capítulo da novela.

Não é novidade que a maioria dos escritores de telenovelas têm dificuldade para finalizar suas histórias. A sensação que eu tenho, como noveleira que sou, é de que no último capítulo a inteligência do telespectador não precisa mais ser testada. Não é mais necessário arrastar sofrimentos ou fazer transformações forçadas e brutas para encaminhar a história. Aí a obra pode ser impecável. Não vai fazer diferença se não gostarem.
Gilberto Braga é o rei das boas novelas e minisséries que têm finais terríveis e moralistas. Até hoje eu não me conformo com a morte da Laura, nem com a do Olavo. No entanto esses deslizes não apagam a delicia que era ver a Bebel ou o Marcos (Márcio Garcia num papel que deu certo) esbanjando com charme a pouca classe que tinham.
"A favorita" foi uma das poucas novelas que respeitou a inteligência do telespectador não só no último capítulo, mas durante quase todo o período em que foi exibida. Digo com segurança que ali se tinha uma obra-prima.
Não sou do tipo que chora o leite derramado. "Vale tudo" era excelente. "Roque Santeiro então, nem se fala, mas até o Manoel Carlos tem bons momentos, como a Laura da Viviane Pasmanter em "Por amor". Além disso, ver novela é uma delícia. Quando eu não me interesso pelas que estão passando fico até triste.
Pois bem, "Caminho das índias", na minha opinião foi um sucesso. A Juliana Paes é uma mulher linda e carismática que fez da Maya uma protagonista doce como poucas. O elenco era recheado de estrelas que brilhavam em harmonia. Houve problemas sim, como a Leticia Sabatela, mas nada que ofuscasse o bom andamento da trama.
Hoje, no entanto, por alguma razão misteriosa, a coisa desandou. A Maya estava quase se afogando no Ganges quando o Raj apareceu. Sem o filho, descalça e com o cabelo oleoso, a mocinha tava na merda. De repente ele veio e SHAZAN! Ela ficou toda enfeitada e maquiada, os dois se beijaram e tudo se explicou. Ah, a verossimilhança...
Não precisavam raspar a cabeça dela, mas a reconciliação relâmpago sem nenhum tipo de aprofundamento da situação não fez sentido. O desenvolvimento da novela vinha de forma plena e num rompante de artificialidade surgem o casamento da Tônia e do Tarso, a insossa Leinha indo pra Holywood, a passeata contra o banco de semém e a Inês dando mole pro Ademir esquisofrênico. Não precisava.
Porém, ah porém...também houve bons desencadeamentos. A Laura Cardoso, o Toni Ramos e o Lima Duarte, talentosíssimos sem perder o tom, foram respeitados e tiveram finais coerentes. O final da Norminha também me pareceu bem pensado, assim como o da Ivone. A Surya teve o que merecia e as crianças, milagrosamente deram conta dos diálogos direitinho. Até o bebezinho Niraj parecia participar atentamente das discussões da família Ananda. O Duda também teve um bom desfecho. Eu entendo isso do bom coração sem limites. Na minha escola o que mais tinham eram meninos assim. E de pais como a Ilana e o Cesar o mundo está cheio. Também gostei da última cena deles.
A Maya dançando pro Raj foi uma boa escolha para o final. E embora os problemas não tenham sido redimidos, pra mim, esses nove meses de India na Lapa valeram a pena.

"Passa então a amar tudo aquilo que não ganhou..."

Na última Revista de Domingo do Globo, a Martha Medeiros escreveu sobre as melhores coisas que a gente não fez na vida. Decidi pensar sobre o assunto. Essa é clichê a beça, mas tem bons momentos e essa coluna certamente foi um deles.
Pra mim o que de melhor não aconteceu foi um pircing que eu queria fazer na sobrancelha quando tinha 13 anos. Eu sonhava com o pircing, achava que ia ser a minha redenção, que com ele eu seria poderosa e diferente. Minha mãe concordou com a idéia e foi me levar na Banzai Tattoo e Pircing que tem na Praça Sães Peña. Fui toda contente com a minha camisa do Kurt Kobain. Só que quando o rapaz que ia furar viu que eu tinha 13 anos o sonho acabou. Ele não deixou de jeito nenhum e explicou que eu ainda ia crescer e que o furo poderia alterar alguma característica do meu rosto e tal. Chorei horrores quando saí de lá. Hoje, no entanto, eu odeio pircing na sobrancelha, não gosto da marca que fica quando o pircing sai e já não uso mais camisas de bandas de Rock.
Outra coisa muito importante que não me aconteceu foi a aprovação do segundo para o terceiro ano do Ensino Médio da escola que eu estudava. Como a maioria das pessoas, eu nunca gostei de matemática. A diferença era que eu me recusava a aprender. Achava aquilo inútil e, por ser muito boa nas disciplinas humanas e razoável em biologia, ficou claro pra mim que entender os números não era necessário. Até o primeiro ano a escola me aprovava pelo Conselho de classe por conta da minha boa conduta e pelo meu bom desempenho nas demais áreas. Só que justamente naquele ano, eu me juntei a duas amigas fofoqueiras e puxa-saco, que iam contar aos professores que ao invés de ir para as aulas de apoio de matemática, eu ficava em casa vendo Vale a Pena ver de novo ou ia para reuniões do PT. Jutando essas informações com a neurose do vestibular, o conselho não me considerou merecedora da aprovação. Foi uma merda. Eu não sabia o que fazer. Minha mãe praticamente desistiu de mim. Decidi procurar escolas que tivessem sistema de dependência e acabei indo estudar num colégio pequeno, perto da minha casa, onde fui muito feliz. Passei no vestibular pra UFRJ e pra UNIRIO na primeira classificação e esfreguei a minha vitória na cara das duas fofoqueiras infelizes e dos professores que me subestimaram. Lógico que eu fiz isso com toda a classe e óbviamente todos eles fingiram que estavam super arrependidos de terem me julgado incompetente.
Não ter sido correspondida por alguns dos meninos de quem eu gostava também foi bom, não pelo aprendizado, que sinceramente, é dispensável, mas porque hoje um deles é líder de um grupo neo-Nazista em Dakota do Norte nos EUA e o outro além de ter o pau minúsculo ainda é limitado e invejoso.
Espero que um dia eu olhe pra essa última grande paixão que eu não vivi a minha revelia e pense o mesmo. O homem que não me quis é uma pessoa muito interessante e jamais eu vou poder dizer o contrário. Não funcionaria. O que pode me fazer compreender as razões dessa impossibilidade eu ainda não sei, mas aí eu vou fazendo as minhas coisas e as peças vão se encaixando. O que sobrar fica no congelador.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Com a alma aberta.

Eu não paro de pensar na peça do Zé Celso. Foi uma das experiências mais marcantes que eu já tive. Só de lembrar me alegro. A proposta ali é realmente diferente. Só o fato de o espetáculo ser em dia de semana e de durar cinco horas já difere do tipo de teatro ao qual eu estou acostumada.
Isso de a arte ficar martelando na mente é muito gostoso. Já me aconteceu com algumas novelas, Roque Santeiro foi a principal delas. O segundo show do White Stripes no Brasil também me fez uma pessoa melhor, assim como o último show dos Los Hermanos no dia 09 de junho de 2007 na Fundição Progresso. O Big Brother que o Jean ganhou foi um outro motivo de emoção. "A festa da menina morta", filme do Matheus Nachtergale e tema do primeiro post dese blog, ficou dias e mais dias comigo. A Matilde, personagem do "Leite derramado" foi uma outra razão de encantamento. No filme "Se nada mais der certo", que está ainda em cartaz, tem um momento em que ao som de "Todos juntos" dos Saltimbancos, os protaginistas obtém êxito num assalto. É uma associação sensacional.
O bolinho de grão de bico frito (esqueci o nome correto) do restaurante árabe que tem dentro de uma galeria na Avenida Paulista, na altura do metrô Consolação, em São Paulo, também me expandiu os horizontes. A exposição "Tudo é Brasil" que eu vi no Paço Imperial em 2004, foi determinante para o meu desejo de estudar o Tropicalismo. "Domingo no parque" sempre me faz transgredir a realidade, assim como o gol que a gente não sabe se acontece em "Linha de passe".
Ser sensível tem os seus momentos vantajosos. Se eu fosse imune a tudo isso, talvez não sofresse tanto por amor, mas de nada valeria.

A primeira vez.

Esse ano eu fiz várias coisas pela primeira vez. Transei com um homem por quem eu era apaixonada, viajei pra Ilha Grande, tentei uma seleção de mestrado e, hoje, fui a uma peça do Zé Celso.
Eu tenho pouquíssima sensibilidade para peças de teatro. "A inveja dos anjos" do grupo Armazém foi, das mais recentes que eu assisti, a única que me emocionou de verdade. Eu costumo não gostar dos exageros e implico com os diálogos artificiais. No entanto, existe um fascínio que as atrizes exercem sobre mim, que me faz querer ficar olhando pra cada detalhe do corpo delas, enxergando as pintas, o cabelo, tentando sentir o cheiro e imaginando como deve ser a voz delas normalmente. Também sinto isso em relação as bailarinas.
Eu fiz teatro na escola, quando era adolescente. Foi fácil perceber que aquilo não era pra mim. Chorei horrores antes de entrar na apresentação para os pais. Me sentia feia e exposta em cena. Ator que é ator fica avontade no palco, gosta do cheiro dos outros, não se incomoda com o suor e nem com o cabelo desarrumado. Eu admiro profundamente essas pessoas.
A peça de hoje, "O Banquete" de Platão, foi, de fato, uma experiência inesquecível. Eu estava com preguiça de ir, hesitei em passar cinco horas sentada, em perder a novela que está terminando e em pagar o taxi pra voltar do Jardim Botânico até a minha casa. Só que como eu poderia estudar o movimento Tropicalista sem ter assistido a nenhuma peça do Zé Celso? Eu nunca ia entender do que se tratava aquilo tudo se continuasse só lendo sobre "O rei da vela". Eu precisava ver e sentir de perto essa proposta tão diferenciada. Os atores são despojados. A nudez, o sexo e as músicas (lindas) se misturam. As provocações são exatas, o figurino e o cenário são impecáveis e nada opressores. E o Zé Celso é impressionante. O homem atua, mostra o pau, beija homens e mulheres, canta e é feliz como poucos. Me deu a sensação de que a peça era uma ode a felicidade e um tapa na hipocrisia.
É um artista que se recicla. De Michael Jackson a Obama, estava tudo ali.
Era um mundo de cores e cheiros que eu não conhecia e que me deixou assustada no início (por medo de ser chamada para interagir com os atores) e encantada no final. As frutas, os sons e as palavras que estavam ali são tão brasileiros que se tornam universais. Fiquei pensando, em meio a vários jovens cults e globais que estavam na platéia, que saber desistir é importante, mas a regra é tentar. Vale a pena embarcar naquela orgia. Tem muito amor ali.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O longo e árduo caminho para o mundo encantado do amor.

Hoje, mais uma vez, eu decidi começar uma dieta. As razões vão desde a minha ida a praia ontem, o que facilita a constatação dos meus 30 quilos a mais, até o meu desejo de atrair homens interessantes. Eu tenho a impressão de que mulheres grandes atraem homens pequenos. É sério. Os homens que se apaixonam por mim são frágeis, na maior parte das vezes. Talvez eles olhem pra mim, grande, sorridente e sempre de saia e vejam uma figura maternal. É inconsciente, mas é verdade. O problema é que eu quero um homem forte. Não que eu seja frágil, mas me agrada ser a mulher da relação. Esses rapazes prontos a amparar gostam de mulheres pequenas ou magrinhas e eu não sou nem uma coisa, nem outra.
Portanto, lá vou eu enfrentar o mal humor inerente a qualquer tipo de restrição alimentar. É por uma boa causa.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Filmes.

Os dez filmes da minha vida:

1 - "Lost in translation" - "Encontros e desencontros" em português. É de Sophia Coppola a mais bela história sobre a coexistência do vazio de expectátivas e do desejo de se aventurar pelo mundo desordenado do amor. Mudou a minha vida muitas vezes. Tem diálogos meticulosamente bem cuidados, músicas excelentes e o final mais cheio de significados que já houve pra mim.

2 - "Forrest Gump" - De Robert Zemeckis, é um filme completo, tem romance, aventura, amizade e moral da história muito bem construídos. Quem mais me emociona é a personagem da Robin Wright Penn, a Jenny, que é o mais amável dos seres errantes. Tudo em "Forrest Gump" se tornou emblemático, a frase "run, Forrest, run", a interpretação comedida e sensível do Tom Hanks e o final, que diz muito sobre os EUA.

3 - "Perfume de mulher - De Martin Brest, esse filme é uma obra-prima. O Al Pacino não se contentou com "O poderoso chefão" e mostrou que é, de fato, um ator definitivo. A história prova que lembranças gloriosas não são suficientes para conter a mediocridade. Os diálogos em que o Coronel Slade quer se matar no hotel e a defesa de Charlie(Chris O'Donnel bonitinho), acusado injustamente por ter se mantido em silêncio a respeito de uma travessura de seus colegas ricos ecoam sempre na minha memória.

4 - "Adeus Lenin" - De Wolfgang Becker esse filme tem a sequencia que melhor representa, na minha opinião, a ilusão do Socialismo. As cenas em que Anna (Katrin Sab) sai do quarto e se depara com a estátua do Lenin sendo levada por um helicóptero são muito fortes. O Lenin ali, exposto, estendendo a mão para um país que não existe mais é contundente .

5 - "O primeiro ano do resto de nossas vidas" - De Joel Schumacher, é a história de amizade que mais me toca. Eu sempre choro no final e o meu quarto é rosa igual ao apartamento da Demi Moore.

6 - "Meu primeiro amor - Parte II" - De Howard Zieff, foi o filme que eu mais vi na vida, sem sombra de dúvida. A busca da menina Vada (Anna Chlumsky) pelo passado da mãe foi um dos pilares da minha formação. É o único filme que eu ainda assisto dublado e sei decor todas as falas. O diálogo em que o poeta preferido de Vada a aconselha a não ser escritora e sim técnica de televisão me marcou muito. "Don't Worry baby" no final é a cereja do bolo.

7 - "Escola atrapalhada" - De Antônio Rangel, foi filmado na escola que eu estudei. Tem a Angélica, o Supla, o Gugu e o Selton Melo, entre outros, bem novinhos. É um grande filme. Eu destaco o diálogo em que a Jandira Martins, dona Alma, a diretora do Colégio Matheus Rose, diz que o amor é simples, a gente que complica. E estala os dedos em seguida.

8 - "Maria Antonieta" - Sofia Coppola é o meu herói. E tudo nesse filme é perfeito, na minha opinião. As sequencias da festa em Versalles tocando New Order e o diálogo final em que o principe (Rip Torn) está com a Maria Antonieta (Kirsten Dunst de porcelana) na carruagem rumo a prisão são emocionantes. Ele pergunta se ela está contemplando seus limoeiros e ela responde: "I'm saying goodbye". Fico até arrepiada.

9 - "Amores expressos" - De Wong Kar Wai, o mago da sutileza, esse filme usa "California dreamming" do The Mammas and the papas para falar de amor. A sequencia da Faye Wong cantando Crambarries em japonês e o final feliz são os destaques.
Não existe nada nem parecido no mundo inteiro.

10 - "A noviça rebelde" - Assim como Forrest Gump, é um filme completo. O conflito da candidata a freira Maria (Julie Andrews cafona, mas encantadora) entre a segurança do celibato e a humanidade do mundo lá fora, é a história mais aconchegante de todas. Eu sempre morro de vontade de ser uma Von Trapp. De Robert Wise, é uma obra insuperável.


Os injustiçados que não couberam nos dez:

11 - "Closer", de Mike Nichols. É o filme que melhor define os desencontros amorosos dessa vida de meu Deus. Não tem mocinhos, nem vilões. E cada vez que eu vejo sinto pena de alguém diferente.

12 - "Kill Bill" - Tarantino entende as mulheres. E atrilha sonora é impecável.

13 - "Vicky, Cristina e Barcelona" - Woody Allen nunca vai envelhecer. Tá aí a prova. E a Penelope Cruz é um desacato.

14 - "A culpa é do Fidel" - De Julie Gravas, esse filme é um pé na bunda das certezas que o século XX prometeu e não cumpriu.

15 - "Fale com ela" - Almodovar sabe que amar é um verbo intransitivo e sabe principalmente que os homens também choram. Aqui o pé na bunda vai para os limitados. E o Caetano faz toda a diferença.

16 - "Um Lugar Chamado Notting Hill" - De Roger Mitchell. É o filme mais açucarado do mundo. Me toca profundamente isso de se apaixonar por alguém que está em todos os lugares. O diálogo final da livraria em que a Julia Roberts diz ao Hugh Grant: "I'm also just a girl standing in front of a boy asking him to love her" é tudo.

17 - "Nunca fui beijada" - De Raja Gosnell, com a Drew Barrimore é filme de menina que sofreu booling, cresceu e apareceu, como eu.

18 - "Edifício Master" - De Eduardo Coutinho. Em Copacabana se ouve a vida dos outros pelo basculhante.

19 - "Invasões Bárbaras" - De Dennys Arcand. Ah, as utopias perdidas...

20 - "Dotty e a Baleia" - É um desenho animado australiano que o meu pai sempre alugava pra mim quando eu era criança. A menina Dotty mobiliza seus amiguinhos para salvar a baleia Donga, encalhada numa praia próxima a sua casa. É lindo.

PS: Eu não entendo nada de clássicos cult. Não tem Goddard, Truffaut ou Felini nessa lista porque eu conheço pouquíssimo a obra deles. E a maioria dos nomes dos diretores acima citados veio do Google, não da minha memória.

Minha casa sou eu.

Naquele filme "Sou feia, mas tô na moda" tem uma sequencia que mostra o compositor do "rap da felicidade", explicando em que circunstâncias ele compôs essa música. Foi num dia que ele estava num taxi com os dois filhos pequenos, voltando de algum passeio e quando o taxista chegou na entrada da Cidade de Deus disse que dali não passava. Ele tentou argumentar dizendo que estava pagando e que tinha direito ao serviço, mas não adiantou, o motorista disse que nem fazia questão de receber, só não queria entrar ali. O tal mc, cujo nome eu acho que é Cidinho ou Doca, mas não tenho certeza, disse que naquele momento ele se deu conta do quanto se sentia ofendido por alguém não querer entrar na casa dele. Ali era a casa dele.
Eu nunca tinha sentido isso até pouco tempo atrás, quando comecei a ouvir comentários de algumas pessoas, até bastante próximas, sobre o meu bairro. E hoje, numa reuniãozinha na casa de um amigo, eu entendi que realmente dói muito ver alguém falando mal do lugar onde você mora.
Eu praticamente nasci na Tijuca, a minha mãe trabalhou a vida inteira aqui, eu sempre estudei em escolas daqui. É aqui que eu faço a unha, que eu corto o cabelo e que saio de casa sem me arrumar. Foi na Tijuca que eu fiz cursos de inglês, francês, amigos e terapia. Não há lugar no mundo que me pertença mais do que esse. E eu não pertenço mais a nenhum outro lugar. Falar mal daqui é falar mal de mim, da minha história, de tudo o que eu vivi. Esse papo de "A Tijuca já foi boa, eu conheço tudo por lá, a minha avó morou lá nos anos 70...", isso é ridículo. Eu não fico me questionando se a Tijuca é boa ou não. Esse é o lugar que eu moro, tudo aqui é meu, sendo feio ou bonito, perigoso ou não. Quem conhece a Tijuca sou eu, que moro aqui há 17 dos meus 24 anos. Eu me sinto ofendida e machucada de verdade quando ouço pessoas dizerem que não vêm ao meu bairro, ou que não sabem como andar por aqui depois das oito da noite.
Vão tomar no cu todos esses elitistas de merda que pensam que o Ipanema é o centro do mundo. Quer sair daqui pra morar na Zona Sul? Ótimo. Eu também adoraria morar perto do cinema e iria se tivesse oportunidade. Mas não fale mal do lugar de onde eu vim, não seja pretencioso a esse ponto. Eu não sou uma inocente do Leblom, nunca fui e não lamento. Minha vida longe da praia teve como único problema grave, os amores contrariados, que existem aqui, no Pão de Açúcar e em Nova York.
Será possível que as pessoas não entendem que precisam ser humildes? Meu Deus! Enquanto esses setores bestas da classe média não perceberem que o barco é o mesmo pra todo mundo, vai tudo continuar uma merda. É arrastão no túnel Zuzu Angel, sequestro relâmpago em Copacabana, ônibus queimados em Bonsucesso e crianças arrastadas na Tijuca. É uma cidade partida, suja e cheia de miseráveis por todos os lados. Tem gente talentosa, futil e filha da puta aqui e lá. Quem não entende isso, pra mim não vale a pena. Quem tem um mínimo de consciência e bom senso não fala mal da casa dos outros.
Agora de madrugada, no taxi, debaixo de um temporal arrebatador, eu fiquei olhando essas ruas por onde eu passo todo dia e acho que nunca fui tão apaixonada por elas. Pra mim tudo começa e termina aqui.

domingo, 6 de setembro de 2009

A descompostura do homem moderno.

Tem algumas relações que nasceram pra ser platônicas. Nasceram pra não existir, pra criar expectativas divertidas e só. Eu gosto de cultivar esse tipo de intriga nos homens, de fazer eles se confundirem, se perguntarem se eu sou pra casar ou se comigo os romances têm que ser passageiros. Sempre tem alguém que sai magoado porque acaba acreditando nas palavras bonitas de um possível sábado de aleluias. No fundo eu faço isso pra tentar me sentir no controle do desejo dos outros já que o meu desejo eu nunca consigo conter.
Eu não nasci pra destruir lares. Não quero ser amante, tenho dificuldade em lidar com homens mais velhos e gosto de me sentir honesta, bem ao estilo Nelson Rodrigues. Pra mim casamento é coisa séria. Eu valorizo o vestido de noiva e os lençóis desarrumados. Não quero quem não é meu, por mais disponível que ele possa estar.
No fundo eu sou a tal mulherzinha que Clarice Lispector tanto fala. Estou cansada dessa fraqueza masculina pós-moderna. Homens que não fazem escolhas, que não querem trabalhar e que reclamam da gordura na comida.
São namorados e casados infelizes e covardes, que se acomodam nas traições cronometradas de quarta feira a noite, na hora do futebol porque têm medo de sair de uma redoma que não existe. São filhos que vão ser sempre sustentados pela família porque estão eternamente estudando pra um concurso público que paga 15 mil e não podem trabalhar enquanto isso. É uma preguiça de ir a luta que me faz sentir náuseas. Eu sou machista sim. Se não fosse não estaria sozinha porque só os hipocondriacos confusos me querem. Eu digo não. Está tudo invertido, Gugu na Record, Dado Dolabela ganhando "A Fazenda" e as mulheres pagando a conta do restaurante. Pra mim chega.

Os comunistas não solucionam a minha solidão.

Tudo o que eu mais queria da minha vida hoje a tarde era alguém pra ir comigo ao cinema. Liguei pra um amigo que se dispôs a me acompanhar, mas quando eu estava pronta pra sair, ele disse que não iria conseguir chegar a tempo. Fui sozinha. Comprei um monte de chocolates da Kopenhaguen e sentei lá na frente, como eu gosto. O filme, "Casamento silencioso", era a história de um povoado romeno na década de 1950, que vive distante da vida política do país, dominado pela URSS. No dia da união do casal protagonista, no entanto, dois soldados chegam para avisar que devido a morte do Stalin na noite anterior, qualquer tipo de comemoração estaria proíbida por uma semana. Eles decidem, então, fazer a festa em silêncio. É angustiante. Os talheres são recolhidos, as crianças têm as bocas tampadas, tudo para que ninguém saiba que ali está havendo um momento feliz. A noiva, no entanto, chora quando se dá conta do absurdo do que está acontecendo e o resto eu não posso mais contar. A parte mais bonita do filme é quando está sendo exibido um filme pró-URSS e todos estão sentados e compenetrados prestando atenção nas imagens. De repente um desses circos itinerantes de cidades do interior, com mulher barbada, elefantes de plástico e anões malabaristas, chega ao lugar. Todos se levantam imediatamente para ver o espetáculo. Ninguém ali ligava pro Stalin.
Esses filmes que falam sobre tudo o que o socialismo não conseguiu ser me tocam profundamente. Eu fiquei horas e horas abalada com aquilo tudo. Acho que ainda estou. Depois o meu amigo chegou e nós vimos "Up" da Pixar, que é lindo, emocionante, feliz e fofo.
E eu voltei pra casa mais uma vez sozinha, mais uma vez tendo desperdiçado o meu decote e o meu desejo de amar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Me chama.

Hoje eu queria ir ao cinema. Peguei o metrô pra ir pro trabalho anotando os horários dos filmes que eu ainda não vi, liguei pra alguns amigos, me certifiquei de que eles não estavam disponíveis e fui ficando triste aos poucos. Ir ao cinema sozinha não é um problema, mas na sexta feira a noite é duro. Uma amiga do trabalho, no entanto, me convidou para ir com ela e com mais dois amigos, tomar chope. Eu fui. Um dos caras, que é casado, passou todo o tempo em que nós estivemos juntos me dando as cantadas mais baratas do mundo e interrompendo qualquer pessoa que tentava esboçar algum diálogo comigo. Inventei uma desculpa, me levantei e fui embora. Na primeira esquina que eu virei ouvi alguém chamar meu nome. Era um rapaz super querido de um lugar que eu estagiei há dois anos. Ele estava numa mesa com 892 pessoas que eu nunca mais queria encontrar na vida. Fiz cara de susto feliz, inventei que estava atrasada e antes de atravessar a Presidente Vargas para pegar o ônibus rumo a minha residência, comprei um brownie no CCBB.
É impossivel não sentir autopiedade numa hora dessas. Foi por isso que Deus inventou a novela das oito, pra pessoas sozinhas como eu, terem companhia na sexta feira a noite.

Incompreendida.

Novamente com insônia eu me pergunto se vou chegar aos 33 anos solteira. Começo a achar que não vou ser aprovada na prova do mestrado de Sociologia e que terei que fazer a seleção de História no final do ano, mas História não é mais o que eu quero. Estou com fome, o Jô Soares não está interessante e eu não consigo inventar alguém para amar. Ninguém se encaixa. Se eu continuar infeliz no amor e não passar no mestrado o que me restará nessa vida?
Escrever bem não leva ninguém a nada. Eu não sou a melhor em nada. Eu me sinto dona de determinados filmes e de alguns escritores e atores, mas sempre tem alguém que se acha mais dono do que eu. "Encontros e desencontros" é o meu filme. Ninguém fez da Avenida Paulista a sua Tokio como eu fiz e ninguém chorou as mesmas lágrimas que eu quando ouviu "more than this" cantada pelo Bill Muray de olhos pintados. Não adianta, o diálogo da cama, em que a Scarlet Johanson diz que é medíocre e o conselho pra ela continuar escrevendo são pra mim.
O Marcelo Rubens Paiva é meu, as aulas de História Moderna I foram minhas e a verdade sobre as minhas amigas está comigo. Eu sou a rainha da cocada preta.
E não durmo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desistindo e cantando e seguindo a canção...

"É preciso desistir de algumas pessoas e coisas." - Essa frase postada no Twitter por uma grande amiga ontem a noite está martelando na minha cabeça até agora. Fiquei pensando em algumas das coisas que eu quis durante a vida e sobre o que não pode ser.
Eu aprendi rápido que eu não ia ser aluna de tirar 10 e mesmo quando eu sentia inveja das minhas amiguinhas CDFs (essa sigla ainda existe?) da escola, a situação já estava resolvida. Eu não era estudiosa, odiava matemática e gostava de ser assim, uma existencialista precoce. Tive que me conformar.
Outra desistencia importante foi a de ser uma adolescente popular pela beleza. Rapidamente eu percebi que eu não era o tipo dos meninos da minha idade e quando eu ia na matinê do Terceiro Milênio (uma boate chinfrim aqui da Tijuca) ninguém chegava em mim. Era um tormento. A mãe de alguma amiguinha ia levar a gente e quando ia chegando perto eu ia ficando com medo. Lá dentro eu não pertencia, eu queria ir embora. Demorou um pouco pra eu entender que ali não era pra mim, que eu não dançava aquelas músicas e que aqueles menininhos nunca iriam me enxergar. Eu até tinha algumas amigas mais Rock'n Roll, mas elas saiam pra lugares tipo o Garage e chegavam tarde. A minha mãe nunca me deixaria ir.
Até hoje, quando eu vou a Casa da Matriz, ainda dá esse medo antes de entrar, é uma reminiscência. Mas aí eu penso que ali eu pertenço e entro feliz. Me lembro da primeira vez que eu fui a Bunker, em 2003, quando lá já estava quase decadente. Nossa, eu fui muito feliz naquele dia. Eu estava de blusinha amarela de rendinha e saia branca com sandalinha riponga nada a ver com o lugar, mas eu conhecia todas as músicas, dançava e me sentia bem. Saí de lá as seis da manhã. Por muito tempo eu saí da Casa da Matriz essa hora. Depois a vida ficou movimentada e eu passei a sentir sono mais cedo, além de uma certa preguiça de lugares lotados. Mas é fato que nem nesses lugares eu sou uma mulher cobiçada. Comigo a coisa é diferente, eu preciso conversar pros caras se interessarem e mesmo assim tem vezes que não funciona. Se eu não tivesse me dado conta disso, as rejeições doeriam bem mais.
Eu também desisti de querer ser magra, de fazer teatro, de ir a praia toda semana, de voltar sozinha a pé pra casa as quatro da manhã e de usar sapato alto.
Dos homens, normalmente, eu deixo a vida desistir por mim. Eu não tenho força pra desistir sozinha. Aí eu vou empurrando a paixão com a barriga até ela cair. Isso aconteceu muitas vezes. Eu costumo esquecer definitivamente as pessoas. Se passou eu não sinto mais nada. Teve uma vez que eu tentei resgatar os sentimentos que já tinham morrido por um cara ultrapassado. Eu tinha gostado dele por longos e dolorosos três anos e estava muito carente. Foi tão ruim que eu quase me arrependo.
Hoje, uma quinta-feira de quase primavera, eu entendi que não posso mais gostar do homem que me habita. Não posso mais querer sentir isso. É assim, não dá pra cogitar. Acabou. Se pra ser historiadora eu tive que entender que o dinheiro teria que ser controlado, pra me sentir inteira outra vez, eu preciso deixar esse homem pra trás. Preciso jogar ele fora. E aí outras pessoas estarão livres para desistir de mim. E as pessoas novas chegarão.
Eu precisei desistir de ser um prodígio. Vi muita gente entrar na faculdade depois de mim e passar no mestrado antes. E só agora eu estou investindo nessa tentativa. Tem gente que já casou e eu estou sozinha. Tem gente que já viajou o mundo e eu me contento com São Paulo (afinal São Paulo é como o mundo inteiro e no mundo um grande amor perdi) e tem gente que não faz nada pra ser interessante e é. Uma melancia na cabeça não vai me trazer a pessoa amada em 3 dias. O jeito é desistir. Amém.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Carta para H. que precisa ir embora.

H.,
não faz nem duas semanas que eu te escrevi e você já é tão grande pra mim que parece que faz cinco anos. Eu te procurei pra me confessar. Eu chorava de amor e não porque sofria. Fui atrás de você quase por compensação. Ou te escrevia ou escrevia pra ele e hoje entendi que foi bom ter escolhido a primeira opção.
Você com todo o seu carinho, com toda a sua disponibilidade para amar, para chorar junto, parara rir alto tomando suco no fim do dia e para passar tardes de domingo ao meu lado me fez sentir recompensada. Se eu não tenho o meu amor, eu tenho a minha dor. E tenho você. Eu precisava de alguém que entendesse as paixões que não passam e me senti levada até você, não por solidariedade, mas por um certo desejo de autocompreenção. Te conhecer me fez entender que o valor da gente é pra poucos. E ter perdido o outro me trouxe você. A longo prazo eu tenho certeza de que você ficará e essa paixão, se Deus quiser, vai passar.
Seja feliz, H.. Corra o mundo, de Salvador a Santelmo, passando pela França. Eu vou te visitar e te contar sobre a Elizeth Cardoso. Agora que você me abriu os braços, eu posso fazer todo um novo país.
Me perdoe cada cafonice aqui escrita.
Um beijo.

Das onze boas atitudes dos homens para com as mulheres nos primeiros encontros

1-Mostrar interesse pela vida da mulher. Perguntar sobre ela, saber ouvir o que ela diz, prestar atenção no que ela gosta e principalmente no que ela não gosta e não tentar monopolizar o assunto.

2-Não falar das pessoas que você conhece como se a mulher também conhecesse. Se um homem acha necessário citar um amigo, pode explicar de forma sintética de onde o conhece e o que ele faz da vida para aí sim falar dele. Caso contrário, o assunto vai ficando desinteressante.

3-Mulheres gostam de homens que conduzem as situações com destreza. Se estiver num bar ou restaurante, o cara deve pedir o cardápio e deve chamar o garçon. Se estiver no cinema deve comprar os ingressos e assim por diante, dando opções de escolha, mas se mantendo no controle.

4-Homem legal é aquele que conversa com os amigos da mulher que está com ele. Se por um acaso o casal inscipiente encontra alguém conhecido da moça, é de bom tom que o rapaz seja simpático e interaja na medida do possível. Homens autistas são terríveis.

5-Elogiar a mulher com comentários pouco óbvios e progressivamente indecentes. O homem pode dizer que a sua batata da perna da moça é linda, ou que aquela pinta dela no rosto é desconcertante para depois falar do decote ou se o clima já tiver esquentado usar intensamente a sua criatividade.

6-O homem precisa tomar cuidado com a possibilidade de super exposição que a Internet possibilita nos dias atuais. Nada de fotos aparentemente artísticas, isso só é legal (quando é) para o sexo feminino. Nada de frases do Chico Xavier também, pelo amor de Deus. A melhor opção são fotos da última viagem ou dos melhores amigos. Ao mandar scraps é melhor que o conteúdo da mensagem seja discreto. Por e-mail as coisas podem fluir melhor. MSN é o pior inimigo de casais inscipientes porque o silêncio é inevitável e quando o assunto acaba, a relação parece estar esgotada.

7-Nunca atender as ligações da mocinha usando vocativos clichês, do tipo "Oi querida" ou "E aí gata...". É importante que a mulher se sinta especial, pra ela o rapaz tem que parecer estar disposto a dar atenção. E as mensagens de celular são um coringa. É muito bom receber mensagens com pequenos comentários ou elogios, faz com que nós nos sintamos especiais. No entanto é importante frisar que não pode haver exagero no número de torpedos porque aí tudo perde a graça.

8-Homem tem que falar baixo.

9-Homem jamais usar blusa polo pra dentro da calça jeans e deve evitar os chinelos pouco estilosos. Não deixar de lavar o cabelo e de renovar o desodorante também é importantíssimo. As mulheres valorizam homens que se mostram bem cuidados e que não se atrasam. No entanto vaidade ao extremo não é legal, homens que malham o dia inteiro ou que fazem comentários sobre mulheres que precisam emagrecer não são legais.

10- Homem tem que ter bom humor e não pode ser formal.

11- Homem tem que pagar a conta. É machista, eu sei, mas é a verdade. Se o homem não paga a conta nos primeiros encontros ele não está sendo cavalheiro e tudo que as mulheres querem é se sentir protegidas e amparadas. É claro que com o tempo as contas poderão ser divididas, mas é de muito bom tom que no bar ou em almoços ou jantares não muito caros, o homem pague. O ingresso do cinema fica a critério do rapaz. Já o motel, se necessário, não tem escolha, é o homem que paga.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Teatro dos vampiros.

Desde que eu era adolescente passo horas fazendo entrevistas imaginárias comigo mesma. Nelas eu conto sobre as superações das dificuldades amorosas com bom humor e maturidade. Me sinto inteligente, evoluída e charmosa quando acabo de falar. Um outro gênero de criação que me acompanha desde a tenra juventude são os momentos de clemência em relação aos amores passados. A dramatização consiste em eu me imaginar uma pessoa de grandes poderes, super respeitada e bem resolvida, que em um dado momento precisará ajudar o homem que um dia a maltratou. É claro que eu opto pela opção nobre de fazer o bem, mas não sem ter a oportunidade de discursar sobre toda a dor que eu senti durante o tempo de abandono. No final nós, eu e o homem que eu amo (sim, porque eu não imaginaria esse tipo do teatrinho com alguém que já fosse passado) nos beijamos e somos felizes para sempre. Acontece que a vida não costuma ser justa e na maioria das vezes o que acontece é justamente o contrário. É muito provável que eu, na minha humilde insignificância, ainda precise de favores desses filhos da puta que machucaram o meu coração. Tudo bem, eu relevo. Eu ajo com naturalidade diante dos foras, eu viro o rosto e pronto, está tudo normal de novo. No amor não existe justiça. E eu fico aqui esperando as voltas do mundo enquanto na terra dos outros os outros estão contentes...