terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quem quer morrer de amor se engana.

Quando eu tinha 17 anos e estava no terceiro ano do Ensino Médio, tinha uma professora chamada Corina, que as vezes vinha dar aula de História pra minha turma. Era como se fosse uma professora substituta. Ela era bem alta e um pouco gordinha. Tinha os olhos claros e o cabelo liso, cortado na altura dos ombros. Devia ter uns 40 anos. Tinha sido aluna do IFCS na graduação. Tive poucas aulas com ela, mas foi o suficiente para que eu não me esquecesse jamais. Tudo porque uma vez ela estava explicando a redemocratização e citou o Luiz Melodia em "Presente cotidiano" quando ele diz que "quem quer morrer de amor se engana".
Demorei pra conhecer essa música, mas nunca, nunca esqueci essa frase. E hoje, terça feira a noite, depois de uma traição, de um perdão e de muitas lágrimas, estou ouvindo repetindamente a versão da Gal Costa dessa obra prima. É tão bonito que me consola.
Tá tudo solto na minha vida. Momentos são momentos, muito drama. Meu corpo é natural da cama. Vou caminhar um pouco mais atrás sempre. Tudo gira, ai de mim. Tudo que é sólido desmancha no ar. Tá tão ruim, tá tão ruim...
Musica linda, vida merda.

Nacib

Recentemente li "Gabriela" do Jorge Amado, como vocês sabem, e, como talvez seja a tendência geral de todas as mulheres, me identifiquei com a protagonista em vários aspectos: na dificuldade para se adaptar aos sapatos fechados e no não saber disfarçar o sono em conferências de pessoas importantes. Gabriela não pertence ao mundo em que vive, essa é uma angustia e tanto.
Porém, no último feriado, a vida me concedeu a oportunidade de ocupar um outro lugar: o de quem, justamente por estar extremamente inserido no mundo em que vive, sofre. Passei a ser Nacib agora.
Nacib, homem corpulento, amável e empreendedor, ao se apaixonar por Gabriela, quis fazer para ela tudo o que pode ser feito de melhor a uma mulher. Quando se deu conta de que ela o fazia feliz, parou de pensar no que os outros diriam e a levou com ele. Algumas de suas imperfeições admitia, outras tentava consertar. E assim passando os dias, foram sendo um casal.
Mas acontece que um dia o desejo de liberdade de Gabriela foi maior do que o amor que ela sentia por Nacib porque para algumas pessoas o amor não é compátivel com amarras, mesmo que pequenas. E, sem grandes crises de consciência, ela o traiu. Não o fez por paixão, mas pela ousadia de achar que tinha esse direito. Fez porque precisava conquistar e se sentir conquistada.
Ah, se Gabriela soubesse a tristeza e a humilhação que causaria em Nacib, o enorme arrependimento que ele sentiria por ter entregado seu mundo nas mãos da moça, talvez não tivesse ficado quieta. Nacib se afasta de Gabriela no livro e retoma a sua antiga rotina depois de muito chorar. Volta a ver uma mulher hoje e outra amanhã, dorme sozinho e frequenta os eventos que a cidade proporciona. Nas últimas páginas, no entanto, ele aceita Gabriela novamente, mas entende que para ser feliz com ela, não poderia ser apaixonado. Nacib perde a candura e deixa para sua amada a tarefa de ser espontânea. Para ele isso não serve.
Pobre Nacib, sábio Nacib.
Duro pra mim.

sábado, 1 de setembro de 2012

Mulher não pode ser insegura. Não é bom demonstrar saudade demais. Homem não gosta de mulher fácil e não valoriza as que morrem de ciúmes.
E a mulher, do que gosta? O que ela valoriza?
Eu procuro me sentir conquistada constantemente. O segredo está na novidade. Quero me sentir avontade, ser recebida com amor a cada telefonema, a cada encontro, a cada manhã depois de cada noite. Cansei de tentar entender do que os homens gostam. Quero ser eu a entendida. Me importa muito pouco que o Facebook seja uma ficção e que as informações divulgadas lá sejam para os outros, acho lindo quem posta fotos (discretas) que remetam ao amor. Não me agradam as constantes teimosias. Isso de "você sabe que eu sou assim" é mentira. No início ninguém é de jeito nenhum. O homem só se torna "assim" quando tem certeza que é amado. Essa certeza é muito perigosa.
Chegará o dia em que a mulher juntará suas coisas e irá embora. Aí o homem vai chorar no sábado a noite. E será tarde.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sou uma pessoa que acorda cedo. Sempre foi assim. Acordo e penso na vida. Quando havia rádio Cidade ou Oi fm eu ligava o rádio. Depois passei a ligar a TV e assistia o Globo Rural, depois o RJ TV e o Bom dia Brasil, mas a TV do meu quarto deu defeito. Agora eu acordo e ligo o computador.
Como meu sucrilhos de café da manhã em frente ao computador, lendo sobre a vida de todas as pessoas que o Facebook me permite. Demoro muito para engrenar o dia. Tomar banho, ler, ir à feira...tudo isso leva mais tempo do que o normal. É como se por ter acordado cedo eu tivesse o direito de ser devagar.
Recentemente entendi que preciso me conformar em ser mediocre. Não completamente mediocre, só um pouco. Isso de querer ser a melhor faz a gente sofrer demais. E esse aprendizado é difícil. Fui criada com uma mentalidade que ambiciona o destaque: não reclamar, não faltar e não desobedecer. Mas entendi, com a idade, que ser assim não tráz felicidade. Me dou ao direito de faltar, de reclamar e de desobedecer. Me permito ser devagar.
Vejo as pessoas cheias de objetivos traçados para daqui a dez anos. Vejo as pessoas invertendo a ordem da realidade só para poder caber nela. Acho isso tudo muito chato.
Minhas circunstâncias são mais fortes do que eu. E eu gosto de ser assim.

terça-feira, 31 de julho de 2012

As atividades acadêmicas não têm me mobilizado. Não quero escrever artigos, trabalhos finais e relatórios. Estou num momento de cotemplação e transformação de ideias. Curar a micose das unhas dos pés, mudar a alimentação, ler literatura, ver novela, namorar, caminhar no Aterro do Flamengo no domingo de sol (sou tijucana e nunca tinha feito isso), assistir vídeos do Marcelo Freixo explicando suas propostas e fazer companhia a miha cachorra têm sido meus afazeres favoritos. Sou improdutiva quando estou feliz. Isso vai mudar.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Gabriela e o mundo proibido.

Estou lendo "Gabriela". Toquei o foda-se para os trabalhos finais das disciplinas do mestrado. Férias devem ser férias e não serei eu que vou subverter isso. Se as pessoas leêm mil textos a cada sábado, se dormem duas horas por noite, se se tornam melhores amigas das garrafas térmicas de café, fico (in)feliz por elas. Eu ainda não estou assim. Sei que esse momento chegará, mas não é agora. Agora não dá.
Agora decidi ler "Gabriela". Pensei em ler faz algum tempo. Pensei que devia ser uma história bonita. Não quis que a novela fosse exibida sem que eu tivesse lido o livro. Comprei no sábado, primeiro dia de recesso libertário, comecei a ler no domingo e não desgrudei mais da história. Ocorre que Gabriela não é só a história da morena bonita que conquista o patrão. Ela é só um enfeite. O livro fala mesmo sobre um mundo em decadência, dos coronéis, de mortes inexplicadas, cidades pequenas, trabalho semi-escravos, prostitutas felizes e esposas tristes; em conflito com a modernidade (tudo que e´sólido desmancha no ar) dos grandes investidores, do apreço a lei, das mulheres livres e da nova noção de honestidade.
O caso de Gabriela todo mundo conhece. O passarinho que canta bonito na árvore, mas que se entristece na gaiola, a mulher sem ambição, a disponibilidade total para servir sem que isso a torne passiva. Disso todos já sabemos faz tempo. O que surpreende é o embate entre o coronel Ramiro Bastos, que é obrigado a assistir seu reinado desabar, e o exportador carioca Mundinho Falcão, homem ousado e esperto, expoente do desenvolvimento. E fazem palpitar o coração, as histórias de Malvina, mulher de caráter, e de Sinhazinha, apaixonada pelo dentista.
Quanto prazer este livro está me dando! Lê-lo tem tido um sabor de renovação e crescimento que não senti o ano inteiro com os textos da faculdade. Me sinto na inquisição, lendo livros do Index. Não me arrependo.

sábado, 14 de julho de 2012

O inferno são os outros.

Para quem são nossas fotos no Facebook? Quando emagrecemos, fazemos isso por nós ou pelos outros? E quando passamos batom?
Se não houvesse os outros, certamente seríamos mais verdadeiros e felizes, mas não conhecemos a vida sem eles.
Os outros estão sempre lá, analisando nossos passos, sendo expectadores da luta e da tragédia. Eles desconfiam tanto da legitimidade das nossas ações que nós começamos a agir de forma a persuadi-los de que tudo em nós é impecável. Ah, os outros... Nascemos deles, como fugir?
Damos tantas satisfações aos outros que quando deitamos na cama nos resta dormir para não haver questionamento sobre o que, de fato, nos pertence.
Um dia, quando formos velhos e pudermos ser apenas o que somos, sem amarras e rodeios, talvez consigamos enxergar que uma vida de sinceridade teria sido muito mais bonita de se recordar e nos daremos conta do quanto fomos bestas.

sábado, 30 de junho de 2012

Vida saudável compulsória

Parei de tomar refrigerante e suco de caixinha ou em lata. Não como mais no Mc Donald's, que sempre foi uma referência de lugar feliz. Guaraná Antártica diet, zero ou light também faziam parte do meu cotidiano. Meus 27 anos levaram tudo isso ao me trazer uma insuportável consciência de vida saudável.
Estou de dieta. Ontem tinha cachorro quente na escola e eu resisti. Anoto tudo o que como. Comprei um pão de seis e cinquenta no Mundo Verde e tenho bebido água com gás de manhã.
Essas decisões têm a ver com o que eu quero pra mim no futuro. Minha orientadora há pouco tempo me recomendou ter cuidado para não me tornar uma velha obesa. Mamãe me acha obesa desde que eu nasci. Papai ofereceu pagar o Vigilantes do peso pra mim e vovó sempre se dispõe a financiar algum tipo de tratamento para emagrecer. Chega. Tomei a causa pra mim. E a causa não é ser magra. Ser magra é a consequência. O que me fez decidir adotar essa nova filosofia de alimentação foi a minha enorme vontade de ser feliz, de nunca mais ouvir esse tipo de coisa e de aparecer de biquini em fotos com tranquilidade. Ainda não consegui voltar para a academia, mas pretendo fazê-lo em breve. Gostaria também de fazer pilates, yoga ou qualquer coisa do tipo. Não fumo e bebo bem pouco. Acho que ainda está em tempo de eu assegurar que minha velhice não seja um tempo de tristezas. Quando eu for velhinha, quero ir todos os dias ao cinema. Vai ser lindo.

domingo, 3 de junho de 2012

A namorada.

Namorada é aquela que passa a noite sozinha no ônibus pra ver o amor recente que mora em outra cidade. Toma cerveja só pra fazer companhia, deixa de assistir a novela porque ele não gosta e ri junto durante as reprises de TV Pirata. Deixa ele esperando quando entra numa loja legal e se descobre um restaurante novo, conta toda contente.
Arruma as roupas, dobra tudo direitinho e faz a cama, crente que está resolvendo a vida dele, mas quando volta lá e vê tudo bagunçado de novo, desiste de querer botar ordem naquele espaço que por enquanto não é dela. Por enquanto sim, porque a namorada quer morar com o namorado e quer ser mulher dele. E aí sim, as roupas vão ficar definitivamente organizadas e os quadros pregados na parede.
Ela adora café da manhã no sofá vendo Globonews pra se atualizar sobre o mundo real porque a casa do namorado é um mundo encantado e dói muito voltar de lá. E adora quando ele compra um vinho, está frio e tem queijo na geladeira, é lindo, mas rapidamente ela sente falta de uma Coca Zero pra matar a sede.
Namorada é chata. Olha o e-mails dele escondida, descobre que a ex escreveu e dá um escândalo. Telefona de madrugada e diz que está preocupada com a segurança dele, mas é mentira, ela quer controlar tudo porque no fundo é obcessiva, mas sabe fingir direitinho que é normal. Fica até em paz no sábado de madrugada ouvindo Caetano Veloso, só de calcinha, sentadinha na cama e sente muita saudade.
Não tem paciência para explicar todos os seus conflitos a ele mais de uma vez. Quando percebe que ele não prestou atenção em alguma história, faz uma cara muito feia e suspira bem forte, parecendo um búfalo.
Demora meses até ir à casa dos pais do namorado e, quando os conhece, adora, mas fica com vergonha de demorar no banheiro enquanto está lá.
Tem pavor de se parecer com as outras porque quer ser mais especial, delicada, livre, cheirosa, macia, jovem, forte, esperta, compreensiva, e principalmente: mais gostosa. Quer ser pra sempre, quer que ele ligue, quer passear de dia e deitar pertinho a noite. 
Agora ela quer ir de avião pra chegar mais rápido, mas precisa do cartão de crédito dele para pagar as passagens. É chorona e gosta de conversar à noite, acordando ele de madrugada nos momentos de insônia.
Não quer ser mãe, nem faz questão de protocolos, mas se emociona com vestidos de noiva e filmes de amor. É neurótica a namorada, imagina que a qualquer momento outra mocinha vai aparecer e tirar o que é dela, pois é muito bom pra ser verdade que ele seja dela. Fica aliviada quando ele diz que a ama.
Apaixonada, escolheu ser namorada e é plena em sua condição, até nos momentos de insegurança. Nada pode ser mais importante do que ela.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ida à psiquiatra.

No último domingo, quando voltei da casa do meu namorado e sentei em frente ao computador para fazer todas as minhas tarefas, tive um surto. Me desesperei, comecei a chorar, senti dores no corpo e tremedeiras. Travei e não consegui resolver nada. Também não consegui dormir bem e na segunda-feira de manhã acordei pior, muito triste, com vontade de morrer e sem saber como fazer tanta coisa.
Saí para o trabalho, almocei, dei minhas aulas, enfrentei a fraqueza e a dor de cabeça, e vim embora. Quando estava na escola, a tarde, tomei a decisão de marcar uma consulta com a mesma psiquiatra que tratou da minha irmã há uns anos atrás. Marquei para terça mesmo.
Acordei ainda mal, fui para a aula do mestrado, almocei com duas amigas, peguei o metrô até Copacabana e as 14 horas estava lá, pronta para soluções instantâneas.
Foram duas horas e alguns minutos de consulta. Eu contei a ela a história da minha escolha profissional, da minha trajetória de trabalho, das escolas, do mestrado, do cansaço, da falta de dinheiro, da minha mãe que joga na minha cara que sempre me avisou que professor ganha pouco, das minhas noites mal dormidas, das dores no corpo e etc.
Foi então que ela me disse que o nosso corpo não aceita os esforços que não considera legítimos e que não me receitaria nenhum remédio, que eu tenho que mudar a minha vida. Ela me explicou que o investimento emocional e financeiro que eu faria em um remédio seria muito alto e não transformaria em nada a rotina, que o que eu preciso é me sentir amparada e compreendida e que nenhum remédio traz essa sensação. E disse ainda que eu não deveria tentar me enganar, que se eu não tivesse coragem de mudar a minha vida e fazer escolhas, continuaria me dando pela metade a todas as minhas atividades e que isso não seria problema nenhum se não me causasse sofrimento, mas já que causa, é preciso arranjar outra estratégia. Quando eu disse a ela que não consigo estudar com a cabeça cheia, ela falou que estudar é sempre á última coisa, justamente por ser a mais importante. Para estudar, é preciso ter a cabeça tranquila e os problemas resolvidas. Ou seja: sem paz de espírito, nada feito. E se há pessoas que funcionam de forma diferente, não é necessária a comparação. Eu sou eu e o inferno são os outros.
Saí de lá pensando nas minhas três atividades predominantes: Mestrado, que não é o que me sustenta financeiramente, mas é a minha prioridade, não sei se por intuição, amor, ou vaidade, escola do estado, que é longe e paga mal, mas cobra pouco e me permite uma maior flexibilidade para faltar quando há simpósios ou congressos, além de ser um lugar onde eu já me habituei a ir, fiz amigos e desenvolvi relações de carinho com os estudantes. E por último vem a escola particular, que me paga muito bem e é mais perto da minha casa, mas que me cobra MUITO, apesar de ter alunos super inteligentes e de valorizar os professores que se especializam. Me sinto bem nos dois lugares e sofreria para sair de ambos.
Ainda não sei bem o que fazer, mas estou tendendo a deixar a escola particular.
Estou mais calma. Fiquei feliz de a médica ter dito que eu não tenho nenhuma desconpensação hormonal e que a mudança está nas minhas mãos.
E me lembrei de um professor de Economia que eu tive no segundo período da faculdade que nos ensinou sobre o "custo de oportunidade", que é o valor de se fazer uma escolha. Quando deixamos de ir a praia para ir a uma aula, nunca saberemos o quanto teria sido bom ou ruim a praia. E vice-versa. Acho que a vida é isso. Nunca vamos saber o que é melhor ou não, mas temos que ter coragem para arriscar. É isso que nos leva pra frente.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A pessoa me liga e fala de si mesma initerruptamente durante toda a conversa. Conta detalhes da tragédia que está o trabalho dela. Declama palavra.por.palavra do e-mail que vai enviar "amanhã ou no máximo quarta-feira" para a chefe e diz que na sexta, quando saiu para jantar com o marido, conheceu um amigo dele que trabalha com endomarketing, que deu uma boa sugestão de mudança.
Em nenhum momento essa pessoa me pergunta como anda o meu trabalho, o meu chefe, a minha vida.
Lá pelas tantas ela diz que quer trocar o salário alto e as oito horas de trabalho diárias por um estágio que pague mil reais e que dê a ela tempo pra estudar, enquanto outra pessoa segura as pontas. Não soube como responder a ela. Não soube como dizer a ela que isso também é o que eu queria.

Envelhecendo e amargando e seguindo a canção.

Antes eu não me importava se o filme escolhido fosse ruim porque em pouco tempo iria ao cinema de novo e teria outra oportunidade de sair satisfeita.
Antes, bem antes, eu podia ir ao motel em dias de semana.
Antes eu gostava de ir ao motel.
Antes eu conseguia fazer dieta.
Antes eu tinha paciência para shows.
Antes eu podia viajar sem culpa.
Antes eu ouvia música alta no quarto.
Antes eu saía para dançar.
Agora ir ao cinema é um acontecimento
Eu não danço mais.
Dormir bem se tornou raro
Meu rádio deu defeito.
E vendi meu ingresso do show dos Los Hermanos em cima da hora porque achei que cem reais valiam mais a pena do que aquela confusão.
Quero minha vida de volta.

domingo, 27 de maio de 2012

Sonhos superfaturados

Li esse post no blog da Patricia, que é sobre a experiência dela, com seus vinte e muitos anos, no cursinho pré-vestibular. Em um determinado momento do texto ela diz que quando ouve o que os jovenzinhos falam sobre seus grandes objetivos de vida, tem vontade de dizer a eles que o mundo é um moinho, que vai triturar cada um dos sonhos deles.
É exatamente isso.
Decidi ser historiadora quando era bem novinha, lendo uma revistinha da Barbie na qual ela ia ao Egito pesquisar fósseis e descobria vários tesouros do Tutankamon. Passei cada um dos longos anos da escola esperando pela faculdade e enfrentando a minha mãe, que sempre me avisou que professor ganhava mal e que ela não iria me ajudar, etc. Fui aprovada no vestibular, foi aquela festa bonita, veio a faculdade, os amigos, estágios, mesas de bar, filmes e mais filmes, amores e descobertas. Os historiadores entendem o mundo, mas o mundo não é para os historiadores. Passada a formatura, vieram os trabalhos e agora o mestrado. É um mundo cor-de-rosa, como a baleia, daquela música do Sá e Guarabira. Sou o mestre Jonas e a minha baleia é o IFCS.
Acontece QUE existe a vida real. E na vida real eu sou professora de duas escolas. Na vida real eu quero dormir, olhar as paisagens e ter dinheiro. O que me sustenta é o meu trabalho, não é o mundo encantado da academia. Tem sido muito doloroso pra mim fazer o mestrado sem poder me dedicar como eu gostaria. Ando em pânico com os prazos e atribuições.
No entanto, se me perguntarem se eu me arrependo, respondo no ato que não. Acredito que cada pessoa tem a sua função no mundo e a minha é essa. Acho que não seria realizada se tivesse sido qualquer outra coisa e tenho muito orgulho do que sou.
Mas se eu vir um desses jovenzinhos sonhando com a História, vou ter vontade de dizer a ele que se o pai dele não tiver grana, cada um dos seus anseios de participar da trasnformação do mundo vão ser triturados. Ser professor é lindo, mas é muito duro. Ser historiador é ainda mais difícil.
Não temo a arrogância do meio acadêmico, o que me aflige é a inflexibilidade para com os que, como eu, não podem estar ali por inteiro.
Tenho percebido que, de forma inconsciente, condicionei o meu sucesso à vida na academia e não ao meu trabalho. Eu reproduzo a ideia de que é a pós-graduação que vai me trazer louros, mas construí uma identidade de trabalhadora e esse caminho não tem volta. O jeito é aguentar o tranco e me conformar de que não serei a melhor, mas farei o que é possível.
O preço que eu estou pagando por ter seguido os meus sonhos é muito alto. É o preço de pertencer à parte do mundo onde eu escolhi viver. Existem outras, mas por enquanto, mesmo com todas as tristezas e limitações, vou insistir nessa.

Férias da minha vida.

Toda vez que passo o final de semana em Niterói com meu namorado, tenho a sensação de que estou de férias. Niterói ainda tem um aspecto de Região dos Lagos, com ruas tranquilas e ensolaradas, padarias cheias e a orla ao alcance dos olhos. Certamente essa é uma das razões para eu me sentir tão bem lá, mas há, também, outros motivos.
Me tornei mais uma dessas pessoas que só são felizes no final de semana. Tenho tido dias desgastantes demais, mal paro para ver se está chovendo ou fazendo sol. Por isso, sinto uma necessidade enorme de me abandonar quando chega o sábado. Talvez seja irresponsabilidade, pois muitos textos permanecem sem serem lidos e tarefas dos diversos trabalhos acabam sendo realizadas com pressa, mas se eu não puder parar, tenho certeza de que vou surtar. Ainda não me conformei com essa vida nova de correria, sem cinema, sem cafézinho no final da tarde e sem tempo para novelas. Não é isso que eu quero pra mim, mas estou na parte tortuósa do caminho. Se vou chegar a algum lugar, é um mistério.
A outra razão para o gostinho de férias é o enorme amor que eu sinto pelo homem que é a causa das minhas idas ao outro lado da Baía de Guanabara. Ficamos juntos pela primeira vez em agosto, mês longo e conhecido pelas tragédias que abriga em seus dias. De lá pra cá é ele quem melhor me compreende. São para ele a minha saudade, os telefonemas noturnos, queixas, desejos e fotografias. Verão e inverno, sempre ao lado dele eu estou de férias. Abençoado agosto.
Essa felicidade, é, no entanto, um convite ao silêncio. Os dias dolorosos também são. Cada vez mais tenho percebido que há poucos companheiros nessa jornada. E justamente os que permanecem são os que se mantém à margem, disponíveis, mas distantes. Pessoas muito próximas decepcionam, ou porque me julgam, ou porque não são aprovadas nos meus julgmanetos. Os rompimentos tornam tudo mais difícil. Sonhei há pouco tempo que fazia uma besteira enorme na frente de duas amigas e que elas riam de mim com desaprovação. Como fazer algumas pessoas entenderem que estou dando o meu máximo? Como diálogar com quem só faz o mínimo? Estou no limbo entre os pretenciosos e os preguiçosos, mas sou parecida com eles. Quero férias.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Casamento da amiga.

Ah, os casamentos, essas putas...
No domingo passado fui ao casamento de uma grande amiga dos tempos de escola. Choveu muito no dia e a festa era num sitio em Ilha de Guaratiba. Alugamos uma van, eu e os demais amigos daquela época (que nos vemos até hoje unica e exclusivamente por consideração ao passado) e fomos. Meu namorado não quis ir. Ficou em casa quietinho. Doeu deixar ele lá e pensar que um potencial lindo dia de amor em baixo do edredom ficava para tráz.
Fui madrinha dessa amiga e as exigências não eram poucas, cor de vestido diferente das demais mulheres presentes no altar, longo e sem brilho. Fiz o meu melhor e fui adequadamente arrumada.
Quando chegamos, por termos saído da Tijuca na hora do almoço, estávamos todos com fome, mas a chuva fez com que tudo atrasasse. Esperei impaciente em cima de um implacável salto alto. Já no altar, vi o irmão da noiva, paquerinha antiga, com a esposa, do outro lado do ambiente que representava uma igreja. Vi ainda a mãe dela, tia Karla, linda, sempre magrinha e discreta, e a prima dela, que as vezes saia com a gente. E quando ela entrou, com o pai surfista que costumava nos levar a praia, me lembrei de quando ela me deu cola na prova de Quimica em 2001, em nós duas indo juntas para o cursinho pré-vestibular paralelo ao terceiro ano em 2002, e na aprovação dela em segundo lugar geral para a UFF. Me recordei ainda das vezes que ela dormiu na minha casa e nós ficamos conversando sobre aquele namoro e dos anos que ela ficou reclusa estudando pra passar em algum concurso, sem sequer ir a praia, seu lazer favorito. Pensei em quando ela foi aprovada para o emprego que sempre sonhou e por essa razão, teve que se mudar para Rondônia. Pensei em quando nós, ainda novinhas, passavamos as noites de sexta-feira no shoping Tijuca. E me dei conta de que quem estava ali era uma grande amiga, num momento mágico, de particular importância para a vida dela. E pensei que a chuva veio para que todos nós entendessemos que nenhum plano é maior do que o amor. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que o padre escolhido por ela era o mesmo que celebrava as nossas missas do colégio. Muito emocionante. Chorei a beça.

domingo, 29 de abril de 2012

Não suporto sair feia nas fotos.

Uma amiga comemorou o aniversário hoje numa boate. Hesitei em ir, mas fui convencida pela reação triste dela quando eu telefonei pra falar que não iria. Me vesti com o meu vestido mais novo e mais bonito. Pus um brinco vermelho, cordão e perfume. Quando encontrei o casal que me acompanharia, o rapaz me perguntou a razão do meu rosto estar inxado. Não soube responder, mas entendi: estava feia. Ao chegar no local, uma boate moderninha na Praça Tiradentes, percebi instantaneamente que a faixa etária dos frequentadores era muito diferente da nossa. Me mantive firme na intensão de me divertir, apesar desses detalhes. O dj do primeiro andar, velho conhecido meu dos tempos de Casa da Matriz, tocava boas músicas, mas era tanta gente jovem reunida que eu fui ficando nervosa. Cantei "The dog days are over" como se esse fosse o hit do momento e subi, atrás da amiga aniversariante. No terraço o espaço era maior e estava mais fresco, mas a música era péssima. Fiquei ali com ela um pouco, ensaiei alguns movimentos para acompanhar o bate estava insuportável e foi então que veio a merda que coroou a noite: Pedi ao namorado de um amigo para tirar uma foto nossa. Saí horrorosa, fiquei acabada. Meu cabelo saiu de duas cores e de duas texturas, como se fosse alisado, assustador. Meu braço transbordava de tal forma do espaço que é reservado a ele no meu corpo que invadia as minhas costas e os meus seios, e o meu rosto, de fato inxado, foi o toque final da desarmonia. Aquela imagem de mim mesma me entristeceu muito. Decidi ir embora sozinha, sem falar com ninguém. Enfrentei o maremoto de pós-adolescentes, peguei um taxi e vim pra casa. Me lembrei que quando fui estava me achando bonita e inclusive me perguntei o que faria se por ventura fosse assediada de alguma forma, já que sou apaixonada pelo meu namorado, ele está em São Paulo e eu não tenho a mínima vontade de beijar mais ninguém. Doce ilusão. Ninguém quis me beijar, nem eu mesma.
Agora estou em casa, cansada, amargurada e com saudade dele. Vi que hoje teve um show do Kid Abelha, que completou 30 anos. Queria ter assistido.

sábado, 14 de abril de 2012

difícil a beça

Meu namorado quando bebe fica igual a uma criança. Não sei lidar com isso. Hoje ele, que está lá em SP, saiu com uns amigos para beber as cinco da tarde. Já são onze da noite e ele ainda está lá bêbado e feliz. Tenho vontade de desligar o celular, ir pra casa da Matriz, me embreagar e só retornar na segunda-feira pra casa sem nem lembrar que ele existe.
Entretanto, não posso fazer isso porque estou sem dinheiro, preciso estudar e corrigir provas. Aí cá estou eu nessa invenção do diabo que é o sábado a noite, escrevendo longos testamentos ao lado de cada resposta errada dos meus alunos na prova e com uma vontade enorme de chorar porque não estou com ele e ele está longe e eu ando insegura e louca.

Prosac resolve?

Dando aula para as paredes.

Estou tendo sérias dificuldades para trabalhar como professora de duas escolas e fazer mestrado simultaneamente. São exercícios, testes, provas, simulados, textos e mais textos, tudo ao mesmo tempo. Não é fácil. Sinto muita inveja de quem, como diz aquela música do Pato Fu, é "sustentado pelo mundo", mas não esmoreço, sigo em frente sem pensar muito. Não tem outro jeito.
Hoje, no entanto, me questionei se não é a hora de desistir.
Durante toda a semana meus alunos da escola particular e do estado fizeram as primeiras provas bimestrais do ano. Na primeira sou professora de Sociologia e Filosofia e tenho apenas um tempo por semana de cada uma dessas disciplinas. Procuro construir reflexões com as turmas, a partir do conteúdo. Os alunos são poucos, viajados e cultos, mas muito alienados politicamente. Sinto que desenvolveram um carinho enorme por mim, me abraçam, beijam, elogiam e respeitam. Normalmente as discussões são proveitosas e eu saio de lá com a sensação de dever cumprido.
No estado é tudo completamente diferente. São crianças pobres, desinteressadas e cheias de dificuldades. A maior parte nunca viajou. Também me tratam com carinho, mas participam pouco das discussões. Nas turmas da noite então... tudo tem que ser simplificado ao extremo para se tornar palatável. Dureza.
Ao corrigir as provas de ambos os colégios, percebi, com tristeza, que nem lá nem cá, ninguém entendeu nada. Na escola particular, onde eu encho a prova de textos bons e questões interessantes, as respostas parecem conter de forma implicita a negação daqueles meninos e meninas a qualquer exercício novo de raciocínio. Não lêem os textos até o final e escrevem coisas sem sentido nas respostas.
No estado basta dizer que em uma questão de múltipla escolha que perguntava o que era o Brasil antes da chegada da Família Real e que deveria ter resposta correta a letra "a) colônia", foi a letra "d) ilha deserta" a mais assinalada. Com a turma da noite deixei que houvesse consulta ao caderno e nem assim alguns alunos conseguiam responder as questões mais fáceis.
Tenho a sensação de estar falando para as paredes. Me sinto inútil. Não posso dar notas baixíssimas em nenhum dos dois lugares, no primeiro porque os pais certamente reclamariam e eu seria mandada embora e no segundo porque o governo do estado do Rio de Janeiro (meu patrão) não permite, ameaçando inclusive diminuir a verba das escolas com pior rendimento bimestral.
Hoje, no almoço, contei isso tudo para o meu pai, que disse que deve haver uma parcela de culpa minha nisso daí. Segundo ele, quando o professor envolve o aluno na aula e torna a matéria interessante, esse tipo de situação se torna menos frequente. Talvez ele esteja certo. Tive professores ao longo da minha vida escolar que davam verdadeiros shows. Tenho consciência que não sou igual a eles, mas faço com carinho e dedicação um trabalho digno.
Noto que as disciplinas humanas instigam pouco os alunos a estudar. Eles sentem que podem enrolar com facilidade. Não sei se é culpa minha, mas nossa, que vontade de jogar tudo pro alto.

Herança da mãe equivocada.

Minha psicóloga uma vez me chamou atenção por eu sorrir ao falar sobre a minha mãe. Não tenho uma boa relação com a minha mãe. A maioria das pessoas tem tragédias pessoais que ressoam para todo o sempre. Minha mãe é isso pra mim. Não vou me ater a detalhes porque não dá pra contar isso sem ser cafona. Posso apenas dizer que ela costuma dizer que que minha bunda parece um aleijão de tão grande.
A terapeuta tem razão, não se pode debochar desse tipo de comentário. Enquanto eu rio não enfrento o problema. O fato é que não estou podendo mais pagar a terapia, mas os resquicios dessa pegada down da minha projenitora são eternos e profundos.
Tenho crises de carência esporádicas. Fico um saco. Quero um tipo de amor que ninguém pode me dar. Teimo em achar que meu namorado é muito menos meu do que aparenta ser. Sofro muito.
Faço todas as idiotices de mulheres chatas, ligo várias vezes, choro, começo discussões intermináveis, procuro resquicios de possíveis deslealdades, encontro, escrevo poemas de amor ridículos, não durmo e me pergunto se essa relação vai dar certo, por quanto tempo nos amaremos e nos desejaremos tanto assim, entre muitas outras  interrogações niilistas.
Gostaria de ser mais segura e autonoma, de não precisar falar com ele antes de dormir, por exemplo. Acho que cobro dele o que não tenho na minha mãe. Maldito Freud que acertou tudo.

domingo, 1 de abril de 2012

Hildegard Angel

Deus existe. Eu sei porque se não fosse assim Hildegard Angel não estaria passando pela Avenida Rio Branco no último dia 29/03 justamente no momento em que meninos e meninas protestavam contra os militares que trucidaram toda uma geração de revolucionários.
Estou farta de longas opiniões iguais sobre a ditadura. Já sabemos que foi e que é uma merda ter que suportar esses velhos malditos, dormindo confortáveis em casa e pegando o metrô impunemente depois de nos ter arrancado tantos sonhos. Já sabemos que eles não se cansam de expressar seu orgulho por ter deixado que Carlos Lamarca seja até hoje só uma foto na parede e um diário de cartas de amor para uma mulher que não era sua.
O que queremos saber não pode ser dito por estes militares.
Eles, como disse nossa colunista social, serão sempre magros de ruins, magros de valentia invertida e de amor. Essa gente nunca vai entender nenhuma palavra do que diz Caetano Veloso. São podres.
Ao contrário dos "quixotinhos" docemente defendidos por Hildegard, que transbordam paixão e coragem.
Só de pensar na dor dessa senhora, que perdeu irmão, cunhada e mãe por causa desses merdas, ao ve-los livres, sinto vontade de chorar. Mas há quem grite por ela. Que bom.

sábado, 31 de março de 2012

Minhas manhãs no salão.

Minha vida não é futil. Segundo Reinado, Cisma do Oriente, desigualdades brasileiras, Maquiavel, lugares de memória e prolongamento do presente são alguns dos assuntos que tenho aprendido e ensinado. Vejo, com cada vez menos frequencia, é verdade, filmes que me interessam e últimamente nenhum deles tem tido final feliz. Desde o final do ano passado não comprei mais roupas para me manter no controle dos gastos. Vou a bons restaurantes, isso sim, mas é só. A praia não cabe no meu dia-a-dia, mas quando dá tempo vou a exposições. Bijouterias e sandálias na liquidação eu compro. Namoro. Tenho amigos. Falo um pouco ao telefone. Passo bastante tempo na internet. E é isso.
Quando chego no salão, sabe o que eu quero? Ler revista Caraaaaaaaas! Ler Contigo! Ler Quem! Quero falar sobre novela! Escolher esmalte com calma, fofocar e ouvir as rádio old times ambiente. No salão eu quero não saber que existe pobreza. É ali o espaço da redenção.
Depois vem essa gente chata falar mal de "Mulheres ricas". Ai, como eu gostava! Heloou!

sábado, 17 de março de 2012

Despreocupação.

Troquei de pilula, não me senti bem, interrompi a cartela no meio e minha menstruação acabou atrasando mais de 15 dias. Achei que estivesse grávida. Quero tudo na vida nesse momento, menos estar grávida. Foram muitos dias de angustia. E nesses dias eu me lembrava sempre daquela música da Marina "Eu tô grávida".
Hoje menstruei. E quando liguei o rádio essa foi a primeira música a tocar. Que alivio!

domingo, 11 de março de 2012

Pedra pra que te quero.

No meio do caminho a pedra é você.
Nunca houve pedra igual a você.
Caminho cheio de pedras
Pedras brancas, pretas e amarelas
Pra que tanta pedra, meu Deus?     
Árduo caminho de pedregulhos
E você, diamante lapidado,
pedra preciosa, amorosa,
mingau de aveia com canela antes de dormir
é a pedra que faltava.

terça-feira, 6 de março de 2012

A novidade é o máximo.

Hoje foi a minha primeira aula do mestrado. Não vim esperando nada. Terminei as matérias da faculdade em 2008.
Desde então só trabalho.
Desde então não me sinto estudante.
Tive medo de ficar deslocada, em uma turma cheia de jovenzinhos recém formados, bolsistas, filhos de pais que os sustentam (ui ui ui). Tive vergonha dos meus 27 anos.
Até chegar lá.
Na sala tem um antropólogo do Maranhão que estuda a oposição dos evagélicos ao Sarney (Uau!), tem uma baiana que estuda um vice-rei do Brasil e da índia durante o Império português, tem uma potiguar (norteriograndense não existe) que estuda alguma coisa que eu esqueci, uma mineira que estuda jornais de bairro, uma carioca que vai análisar as historinhas do Carlos Zéfiro, um gaúcho que estuda a Guarda Nacional, gente que estuda México, Grécia, Chile... Gente de 20 e poucos anos ou vinte e muitos anos. Todos alegres por estarem ali. Eu estou muito alegre por estar ali também.
A professora, que me deu aula quando eu era caloura, quando me viu comentou que eu me tornei uma mulher. Plenitude, teu nome é mulher. Inconstância é para as meninas.
Ontem dei aula, amanhã também darei. Meu dinheiro é pouco e a consciência de que o mundo lá fora é duro já me atingiu faz tempo, but how warm is this place.
Subindo as escadas, depois da aula, vi todos aqueles estudantes de graduação, alguns muito jovens, vestidos daquele jeito próprio dos calouros de História, com o saião da mãe que não, não é mais bonito, e com uma blusinha da Cantão. Cabelos vermelhos pintados em casa. Mochilas. Relatos sobre os melhores blocos de Carnaval. Eu poderia contar a eles toda a verdade, mas prefiro esquecer. Estudei, caminhei, fiz tudo para estar aqui. Não faz sentido não ser feliz.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Henrique Campos Monnerat

Hoje eu li no livro de Sociologia dos meus alunos uma frase do Drummond que diz que a Democracia é o sistema político em que o povo imagina estar no poder. Achei sensacional a frase e comecei a discutir com eles quais são os métodos utilizados pelo sistema democrático para iludir as pessoas. Fomos, juntos, eu e vários adolescentes, nos dando conta de que o voto é uma mentira. Foi aí que os indaguei sobre quais as possibilidades de nós passarmos a dar as rédeas da realidade em que vivemos. E me lembrei do meu amigo Henrique, que está organizando esse movimento de resistência ao aumento abusivo da passagem da barca Rio-Niterói.
Henrique é historiador formado pela UFF, mestrando em Teoria Literária pela UFRJ. Vendeu cachorro quente na praia de Icaraí para conseguir fazer um intercâmbio de um ano em Buenos Aires. É gay assumido. Tem opiniões corajosas e drásticas sobre tudo. Adora a Alcione. Já leu todos os poetas e quase todos os livros importantes e por isso mesmo é muito solidário com o que sabe. Pisciano sensivel, cheio de amigos, decidiu não ser desrespeitado mais uma vez. Levantou cartazes na estação Araribóia com dizeres contrários a tarifa extorciva e foi segurado covardemente por um segurança enorme, desses que devem ganhar um salário mínimo. Quando vi no youtube a cena do meu bravo amigo Henrique sendo detido por aquele brutamontes me lembrei do menino chinês que enfrentou o tanque naquela foto famosa. Pensei que Henrique, como eu, é professor do estado e ganha setecentos e poucos reais por mês. Me lembrei das paixões de Henrique, do amor com que sempre tratou a mim e a todos os seus amigos. Recordei o dia da vitória de Dilma Vana, quando saímos juntos para comemorar.
Henrique, coração de São Gonçalo, me lembra José Celso. Tenho orgulho dele.
Foi aí que contei aos meus alunos, todos ricos, viajados e moradores de condomínios fechados, que ele sim, foi atrás dos seus direitos. Henrique nunca esteve na sala de jantar. Eu o admiro muito.

Peixe fora d'água.

Na escola estadual onde eu trabalho a coordenadora pedagógica e yo fazemos aniversário no mesmo dia. Comecei a dar aula lá em agosto de 2010. Em fevereiro do ano passado vi no mural que meu nome não constava entre os aniversariantes do mês e fiquei calada. Ainda não tinha me apropriado de nada ali. Mas esse ano, mesmo depois de toda aquela confusão com a diretora na época da seleção do mestrado, tendo percebido que várias pessoas me olharam de cara feia e sendo uma tijucana em meio de cinquenta campograndenses, quando vi que novamente não estava escrirto "Cecília" no tal quadrinho, peguei uma caneta e escrevi a mão o meu nome lá. É meu aniversário também, eu dou aula ali, adoro receber parabéns e cansei de ser esquecida. Pronto. Quando voltei a escola, tinham colocado um papel novo, com o meu nome impresso. Lindo.
Hoje quando cheguei na escola particular, apenas uma professora me deu parabéns pelo aniversário. Aí alguns outros, acanhados, acabaram vindo falar comigo também, forçadamente, é claro. Foi constrangedor. Me senti nada pertencente e essa é uma das piores sensações que existem.
Não sei de quem herdei esse incômodo em não participar das conversas, meus pais são do tipo que entram mudos e saem calados. Não me incomodo em destoar, com isso já me habituei desde a aula de balet, quando só eu usava polvilho antiséptico Granado embaixo dos braços e uma menina perguntou o que era aquilo branco nas minhas axilas, já que todas as outras além de saberem fazer aqueles malditos pliês com graciosidade, ainda tinham mães que haviam descoberto antes da minha a importância da vaidade para crianças pré-adolescentes.
Me chateia, sim, passar em branco. Isso me mata.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Receita.

O molho:Pegue seis dentes de alho, corte-os ao meio e deixe dourando no azeite em fogo baixo. Corte a cebola de forma irregular e acrescente na frigideira. Corte seis tomates orgânicos em pequenos pedaços e retire as sementes. Leve para a frigideira. Mexa tudo com uma colher de pau e acrescente uma colher de sopa de pimenta dedo de moça (só o liquido). Deixe chegar a consistência de um molho de cachorro quente e ponha no liquidificador. Despeje junto um copo de requeijão light de qualquer tipo.
Volte a frigideira e misture berinjelas semi-cruas, cogumelho shimeiji, mais alguns pequenos dentes de alho, azeite, duas colheres de sopa de mostarda dijon e castanha do Pará em pedaços. Bata no liquidificador junto com o restante do molho e vá experimentando o sal e a pimemta a gosto.

O macarrão:
Em uma panela grande deixe ferver a água com duas colheres de sopa de sal e dois dentes de alho. Quando a água borbulhar, despeje o macarrão integral do tipo espagueti e espere cozinhar.

O prato: Em uma travessa grande despeje em camadas o macarrão e o molho. Rale queijo parmesão e jogue por cima. Sirva felicidade.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Gordinha.

Essa semana tomei coragem e me pesei. Tomei um susto e comecei a controlar minha alimentação. É impublicável e doloroso o número que aparece na balança. Sou bonita, desejada, bem vestida e tenho bom gosto, mas estou bolotão, é fato.
Conversando sobre dieta com um amigo, ele me disse que também pisou na balança há pouco tempo e confessou seu peso. Exatamente o mesmo que o meu. Fiquei em silêncio, com vergonha de dizer: "Igual!" e só sorri e o abracei. Momento de coragem pra ele e de vergonha pra mim.
Minha relação com o peso nunca foi tranquila. Desde novinha minha mãe me repreende por comer demais. De biquini nunca fiquei avontade, mas não deixo de ir a praia. Fico avontade nua, mas de roupa... A barriga incomoda, a perna é grossa demais e o rosto constantemente sai monstruoso em fotografias.
Tenho sentido algumas dores atrás do joelho, não sei se é alguma coisa séria. Há tempos não vou ao médico. Sonho em ser magra, mas acho que seria consideravelmente mais feliz se me aceitasse assim. No entanto, sei que o padrão do mundo a que pertenço é outro. Meu namorado me acha linda, inteira, sem tirar nada. Queria pensar como ele.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

As pessoas mais especiais do Brasil

Estive em São Paulo na semana passada para fazer entrevistas com perseguidos políticos do período da Ditadura que moram lá. Uma das entrevistadas nos disse que tem a sensação de que as pessoas mais especiais que existem estavam presas junto com ela. É fato, durante esse trabalho, que vai terminar agora em março, percebi que esses homens e mulheres cheios de ideologia e força são uma das coisas mais bonitas que o Brasil pode ostentar. É evidente que ainda existe gente desapegada e engajada em grandes causas, mas as circunstâncias, nós sabemos, são menos propícias. Vejo com indignação e tristeza o que está acontecendo em Pinheirinho, mas não posso parar minha vida para protestar. A TV Globo e o seu conservadorismo impiedoso me deixa cheia de vontade de gritar, mas o máximo que eu fiz foi me recusar a assistir essa edição do Big Brother em razão da falta de sinceridade com que o caso do abuso sexual ocorrido no programa foi tratado. Não vejo a Globo como um grande bloco de porcaria, acho que lá dentro existem pessoas merda e pessoas legais e a consequencia disso é uma programação bastante variada. Que eles foram beneficiados pela Ditadura todos sabemos, mas não vou deixar de assistir novela por causa disso.
Entrevistamos também uma mulher que esteve presa junto com a Dilma e ela nos contou que recentemente, no dia em que a Comissão da Verdade foi aprovada, todas as presas daquela cela se reencontraram. Me lembrei de Dilma Vana no dia de sua posse, andando sozinha rumo ao planalto e pensei na foto recentemente publicada em que ela olha valente para a frente e seus torturadores escondem os rostos com as mãos. Me emocionei. Tenho orgulho de ter votado nela.
Tivemos também a oportunidade de conversar com Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, que aos 86 anos, está mais lúcida do que a minha avó de 78 foi a vida inteira. Saí de lá me perguntando o que determina que essa mulher tenha sido e se mantenha tão consciente e que a minha avó nunca tenha nem querido sair da caverna. É recorrente na minha imaginação a imagem da sala de jantar, com uma mesa enorme e várias pessoas sentadas, penteadas e bem vestidas, ocupadas em nascer e morrer. Entre elas está minha avó. Entre elas estou eu.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O não casamento.

Duas amigas da época de escola vão se casar esse ano. Um amigo da faculdade também vai. Todos farão festa. Vou ser madrinha de uma das meninas e pra isso terei que usar vestido longo. Não poderei repetir o figurino das outras duas vezes que apadrinhei matrimônios porque dessa vez o casório será de dia e a indumentária não pode ter brilho.
Terei que emagrecer porque vestido longo em gordinha não fica legal. Vi hoje um penteado bonito em uma revista antiga, que consiste em um rabo de cavalo com trança e uma mecha solta. Fica lindo, mas eu preciso deixar o cabelo crescer e permanecer loira. Gosto de mim loira, mas fico chateada em gastar uma fortuna pra retocar a tinta a cada dois meses.
Acho vestido de noiva um sonho. Adoro festança, marcha nupcial e docinhos confeitados. Acho cafona a parte da família distante ali presente, mãe da noiva de braço dado com pai do noivo, etc. Mas os amigos dançando felizes e alcoolizados me parece encantador.
No entanto, tenho clareza de que nada disso é pra mim. Não ganho bem o suficiente pra pagar o evento e minha família, como vocês sabem, não gosta de protocolos. Meu pai e minha mãe nunca investiriam em me ver de véu e grinalda porque eles mesmos não quiseram nada disso, casaram no civil e foram almoçar. Eu é que sou a brega da história e gosto de pompa e circunstância.
Mas meu namorado é igual aos meus pais e ao Raul Seixas, acha tudo isso um saco. Ele, muito menos, daria dinheiro pra esse tipo de futilidade.
Acredito que quando estamos apaixonados a ponto de decidirmos nos unir efetivamente, dividir a alegria com o mundo é importante. Mas não sei se a pessoa que eu amo está disposta a conciliar objetivos e aparecer em fotos.
Essa certamente será uma frustração que eu levarei para sempre.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Coisas que aprendi no reveilon em Maromba

Formigas assustam

Cachaça com mel e queijo minas meia cura antes de entrar na cachoeira faz muito bem

Se está lá, truta é a melhor opção

A meia noite do dia 31 dormindo ao lado de quem eu amo é mais bonita do que qualquer Copacabana

Água gelada limpa mais do que sabonete

Comprar presentes para a família é furada

A MTV se recuperou do Reestart

Paulistas ricos podem ser muito chatos

Estar de carro faz diferença sim

Maringá é uma delícia, mas Maromba é mais perto da natureza e é isso que faz diferença no fim das contas

A chuva potencializa o amor, vontade de fazer xixi a noite não.