quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os fantasmas da adolescência.

Eu fui uma adolescente incompreendida e arrogante.
Esses dias, vi que o professor de História mais querido de toda a minha vida escolar criou um perfil no Facebook e adicionou muitos ex-alunos. Eu era apaixonada por esse professor. Suas aulas, que eram nos dois últimos tempos das segundas feiras de 2001, eram o momento da semana mais esperado por mim, quase minha única felicidade.
Não sei explicar porque não pertencia ao ambiente da minha escola. Era feliz lá, tinha amigos, era querida pelos professores... mas me sentia despercebida. Esse professor, apesar de toda a minha devoção, nunca se interessou por mim, nunca me fez perguntas, era sempre eu que o procurava no fim das aulas e esperava que ele me respondesse dúvidas inventadas só para que seus olhos azuis durassem mais tempo ao meu lado. Não era nada sexual, mas eu queria atenção. Se com as outras meninas não fosse assim, eu certamente me importaria menos, mas com elas era diferente. Ele dizia frases bonitas, chamava pra almoçar, queria ouvi-las, saber o que elas, todas mediocres, pensavam. Comigo era só a aula. Como doía!
No final desse ano de aulas de História espetaculares, fiquei reprovada por causa das matérias exatas, e ele, comovido, ficou ao meu lado por cerca de duas horas, praticamente em silêncio, até que uma amiga chegasse para me consolar. Eu chorava muito, mas a presença dele naquele momento fez tudo doer muito menos.
No entanto, nunca esqueci que era com as alunas bonitas, de cabelo liso, que ele queria assunto. Eis um recalque eterno. Sempre achei que um dia ia mostrar a ele e a todas essas insuportáveis que agora são suas amigas no Facebook, que eu sou melhor. Mas vejam como a vida é: Onde foi que eu cheguei? No que sou melhor do que elas? Meus quilos a mais só se multiplicam, sou inerte para os estudos e até entregar a monografia foi difícil, que dirá chegar a Pós Graduação. Sou professora do estado, ganho menos do que um motorista de madame e tenho dívidas impublicáveis.
Tá, sou uma professora muito querida, trabalho também em uma escola bilingue cheia de exigências e minhas aulas sobre Hegel e Walter Benjamim foram lindas. Sou bem bonita e um mendigo esses dias até disse que eu pareço a Madonna. Faço parte da equipe de um projeto que entrevista pessoas que foram anistiadas após a Ditadura Militar e ganho pra isso. Tenho bom gosto para me vestir e para comer, amigos nunca me faltaram e apesar dos amores mal sucedidos, encontrei uma pessoa legal por quem estou realmente apaixonada e é recíproco. Durante os anos de graduação, muitos professores enxergaram o meu valor e é por isso que até hoje eu estou ligada a UFRJ. Minhas dívidas parecem irreversíveis, mas não são, assim como o meu salário. Eu estou dando certo. Só que por causa desse conflito e pra não ter que me lembrar das derrotas daquele tempo, eu não adiciono esse professor. Fico com as segundas feiras e com os olhos azuis, o resto não me diz respeito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Motel.

Desde que eu tinha dezoito anos e era uma ingênua caloura de História da UFRJ, a palavra "Motel" faz parte da minha vida. Meu primeiro namorado e eu eramos virgens antes de nos conhecermos e, sendo assim, ambos nunca tinhamos ido ao motel. Ele, que era três anos mais velho do que eu, recebia uma mesada de 200 reais do pai, dos quais 60 reais, iam para a mega-sena. Sobrava pouco para passeios, filmes e para o motel, o que era motivo de muitas brigas. Descobrimos um lugar confortável e barato, que em dias de semana, no período de 12 horas, dava direito a almoço. Levávamos o refrigerante na mochila e passávamos o dia lá. Era a Disneylandia..
Posteriormente namorei novamente e o rapaz morava longe. Passávamos noites inteiras num motel claustofóbrico que ele, apaixonado, adorava, e que eu, deslocada, cada vez gostava menos. No café da manhã desse lugar, que estava incluído no pernoite, tinha um pedaço de bolo gostoso, mas todo o resto era ruim. Não sinto saudade.
Aí achei que tinha conquistado o grande amor da minha vida e ele morava sozinho, mas eu, infantil, disse que não queria ir a casa dele porque não me sentiria bem pela mulher que morou com ele lá pouco tempo antes. Homem quando quer transar faz tudo o que a gente pede e aí fomos ao motel. Na primeira vez ele quis passar a noite inteira e eu quis ir embora. Na segunda, ele me avisou que tinha um compromisso e ficamos juntos por menos de 4 horas.
No namoro seguinte,em uma das vezes que fomos ao motel, num domingo a noite depois de passear na Barra (namorado tijucano é assim), faltou luz, nós nos lembramos rapidamente do assalto que acontece em "Cidade de Deus" e saímos correndo desesperados.
E esses dias, um amigo que foi pouco a motéis, certamente porque mora sozinho desde novinho, me perguntou o que significa um motel ser bom. E eu, que estou apaixonadíssima, namorando um niteroiense que mora em São Paulo, e que por isso, quando estou por aqui com ele, preciso recorrer a motéis, disse que a limpeza e o conforto são iténs importantíssimos. E de fato são, mas no último final de semana, acabamos variando o estabelecimento e trocamos o chique da Zona Sul que andávamos indo, por um na orla de São Francisco. E lá tinha espelho no teto. Digo a vocês: Como é bom!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O amor - Que preguiça!

Em "A noviça rebelde", filme mais antigo da vida de quase todos nós, a personagem que mais me chama atenção é a Baronesa Elza Schraeder. Não é dela que eu mais gosto, absolutamente. Divido com o mundo inteiro o clichê de amar Fraulain Maria, mas me identifico mesmo é com a baronesa rejeitada.
Georg Von Trapp, pai da  criançada, é um homem rico e sedutor. Foi na elegância de Elza, que após a morte de sua mulher, ele buscou sentido para sua vida. Ela, moradora de Viena, sorria de forma comedida e simpática e não queria filhos. Suas roupas, com laços avant-garde e cores quentes, denunciavam o bom gosto e a herança generosa que havia recebido quando ficou viúva. Era uma mulher feliz, que estava apaixonada por um homem que não pertencia ao seu mundo.
Em sua primeira incursão a Salzburg, habitat de Georg, ela se esforçou para se portar com naturalidade diante dos filhos que não eram seus e que não queria para si e tomou com gosto a limonada rosa (e por isso mais famosa do cinema) que lhe foi servida.
No entanto, ao perceber que a simplicidade de Maria (se fosse no Brasil a chamaríamos de chucra) tocou fundo o coração do homem que julgava ser seu, Elza tirou seu time de campo. E a sua fala de despedida do Capitão é, para mim, a mais bonita do filme inteiro. Eis um trecho:
"Eu preciso de alguém que precise desesperadamente de mim ou do meu dinheiro. Esse não é o seu caso. Vou voltar pra Viena, que é o meu lugar". E sai, cheia da dignidade própria dos derrotados.
Sou como Elza, quando me dou conta de que minha existência não é absolutamente essencial para o homem que decidi amar, sinto vontade de deixar tudo ali como está, sem dar maiores explicações e sumir.
Mas aí penso no Jânio Quadros, que renunciou crente crente que iam implorar pela sua volta, e tudo o que conseguiu foi ser um ex-presidente lembrado pelo português pronunciado corretamente.
É como a frase do Gabriel Garcia Marques que uma amiga minha sempre lembra: "Nada nessa vida era mais difícil do que o amor". Ai ai...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A vitória da tentação.

A parte do "Pai nosso" que diz "não nos deixeis cair em tentação" na minha vida se refere a não gastar dinheiro. Cada vez mais a questão central das minhas angustias se confirma como sendo a dicotomia adorar gastar - não ter como pagar.
Surge um emprego novo, mas as dívidas estão lá.
Estou apaixonada, é recíproco, tudo lindo, mas como se gasta...
Depilação, lingerrie jantarzinhos...Estou pobre.
As contas precisam ser pagas em dia. Como?
Se sou feliz, sou inadimplente, se quito tudo, não vivo.
Estou sem dormir, acho que é castigo.