segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A professora herege.

Aí tava dando aula pro segundo ano do Ensino Médio. Reforma Protestante. Lutero denunciou a venda de indulgências por parte da igreja católica. Todos evangélicos na sala assistem impávidos a explicação do que são as indulgências porque falar mal de católico é com eles mesmo.
Eu digo: "A igreja vendia, por exemplo, pedaços de madeira do caixão que enterrou Jesus..."
Eles gritam: "Jesus não foi enterrado!"
Eu digo: "Não?"
Eles: "Não. Ele foi enrolado num pano e colocado no santo sepulcro."
Aí eu disse: "Não era uma caverna?"
Eles: "Não, era uma pedra gigante!"
"Bom, tanto faz, um pedaço do pano que seja..."
Eles não gostaram nada.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A dor do fim.

A gente termina o namoro porque é mulher independente e descolada, cheia de convites para os sábados e domingos. Terminamos porque não faltarão amigos e o namorado tantas vezes não gosta da gente o suficiente como gostam todos os amigos. Terminamos porque ele não quis ir naquele dia, porque fez aquele comentário equivocado e, lógico, nós, tão cheias de valores, no final vamos encontrar alguém que nos ame de verdade e enxergue cada pedacinho de perfeição que temos escondido atrás dos espinhos.
Terminamos porque as discussões têm sido mais frequentes do que os carinhos e nos sentimos tolidas por ele dia sim, dia não. Terminamos porque sonhamos com alguém mais leve e despojado que seja mais adulto e tenha menos amarras.
Mas no dia de terminar, olhamos nos olhos dele e nos lembramos do quanto há inocência ali e de como queriamos que tivesse havido mais paixão naqueles beijos. E choramos porque novamente deu tudo errado e nós fomos imprudentes e nosso vocabulário por vezes é chulo e não fomos competentes o bastante para conquistá-lo de vez. E queríamos de verdade sentir por ele toda aquela admiração que nos enfraquece os tornozelos e queríamos que a relação inteira tivesse acontecido com a mesma intensidade que aconteceram os carinhos involuntários de um no outro durante o sono.
E no dia seguinte do fim está um domingo de sol, mas um amigo está estragado da noite de ontem, a outra foi visitar a família, tem o casal que não atende o telefone e a que está em casa cuidando da avó. Só quem te dá atenção é ele, pela internet, certo de que foi melhor terminar, mas que quer continuar seu amigo.
Sua irmã fica com pena e faz pastel pra você. São tantas, tantas lágrimas por este fim e você deseja tanto que vocês combinassem mais, que tivessem dado certo porque ele era um homem bom e os caras que correm atrás de você são todos casados, safados e desempregados.
E já faz um dia que tudo acabou e você ainda vai sentir mais saudade, mas faltou amor na coisa toda, você sabe.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

As angustias da professorinha.

Me tornei professora do estado em agosto do ano passado. Entrei na escola que trabalho, substituindo uma professora de História que se tornou coordenadora pedagógica e que hoje é diretora adjunta. Herdei as turmas dela, que eram dois oitavos anos (sétima série do nosso tempo), um nono, um primeiro e um segundo ano do Ensino Médio.
Dar aula para o Ensino Médio é um sossego pra mim. Consigo estabelecer diálogos inteligentes com eles, me sinto compreendida e, por mais que haja bagunça, e há, nunca me senti desrespeitada. No estado e na escola particular em que dou aula, até agora me sinto no céu quando estou no Ensino Médio.
Acontece que as duas sétimas séries do ano passado eram O CÃO CHUPANDO MANGA. Hardcore na veia mesmo! Todo mundo conversa o tempo todo, as meninas se penteiam, cochicham, debocham e eventualmente gritam. Os meninos, ainda pequenos, jogam infinitas bolinhas de papel uns nos outros, riem, se agridem e levantam o tempo todo da cadeira. Ambos os sexos pedem para beber água o tempo inteiro. Em comum têm muito pouco. As meninas, já interessadas pelos alunos mais velhos, não economizam no creme de modelar o cabelo e nas diversas tonalidades de tinta loura e sombra. Usam calças apertadíssimas e, muitas fazem o que podem para mostrar a barriga levantando a blusa do uniforme, que graças aos desenhos a caneta, vê-se que é usada por dias e dias sem ser lavada.
Ensinar Revolução Francesa pra essa gente é impossível. Eles mal sabem o que é América, pensam que a Dilma é esposa do Lula e têm dificuldades sérias pra escrever mais de 3 linhas. São raras as excessões. Penei até dezembro do ano passado, passei pelo Napoleão, tentei enfiar a Carlota Joaquina na cabeça deles contando todos os rumores de infidelidade que a envolvem e consegui pouco sucesso. Na época da eleição presidencial uma aluna evangélica pediu a mim pra dar um aviso a turma e começou a dizer que era pra todo mundo avisar aos pais pra que eles não votassem na Dilma porque ela tinha pacto com o demônio. Mandei ela parar na hora, ela chorou e foi uma merda!
Acabei o ano esgotada dessas turmas, de uma delas em especial, a da aluna evangélica. Se eu pudesse nunca mais daria aula pra eles. Só que eu nada posso por enquanto. Começou o ano e lá estavam eles, no nono ano, meus alunos outra vez.
Faz só duas semanas que as aulas começaram. Estive com eles, portanto, em apenas 4 dias. Os 4 foram in-su-por-tá-veis. Na última segunda feira briguei com eles, botei dois pra fora de sala, perguntei o que queriam da vida, etc. Toda aquela ladainha infernal que eu ouvi quando era aluna e reproduzo hoje (que dor).
Ontem quando cheguei na sala deles, depois de 4 tempos em outras turmas (sendo uma delas quinta série que dá trabalho em dobro), eles continuavam terríveis.
Comecei o esporro de um jeito diferente. Falei que eles não sabem escrever, que eu dou provas facílimas e mesmo assim eles não vão bem, que um dia os pais deles vão morrer e aí, quem vai sustentar? Não querem nada, não me respeitam e blá blá blá. Alguns alunos repetentes chiaram dizendo que se sentiram humilhados por eu ter dito que eles não sabiam escrever. Continuei a bronca e, enquanto isso, uma menina ria debochada com a colega do lado. Perguntei a ela o que ela pensava que aquele lugar é. Ela respondeu que é uma escola. Eu disse que da forma como ela se comporta parece que aquilo é um baile. Ela gritou e falou que eu estava chamando ela de piranha e dizendo que ela roda bolsinha no baile. Eu naquele momento pensei: Meu Deus, quanto Luis Felipe de Alencastro eu caminhei pra chegar até aqui e aguentar essa filha da puta! Respondi a ela que pra mim quem vai a baile não é piranha e que eu não tinha dito aquilo, mas que naquele momento, comigo, ela estava agindo sim, com a mesma vulgaridade de quem roda bolsinha na rua. Me descontrolei, comecei a chorar, chamei as diretoras e quis morrer. Vieram os meus alunos de outras turmas, principalmente do Ensino Médio, me abraçar. Os professores, a servente, todo mundo veio me apoiar no momento difícil. A aluna gritou comigo, disse que ia me processar, fazer um abaixo-assinado, que não ia ficar barato e ela ia me tirar daquela escola. Eu, imatura, ainda respondi a ela que estou ali porque passei num concurso, que se não desse aula naquela escola, daria em outra, mas sem emprego não ficaria.
Depois, com as diretoras em sala de aula, fui conversar sozinha com ela, nós duas chorando, duas crianças. Ela pediu desculpas, eu também, mas nenhuma das duas parou de chorar.
Minha vontade é de nunca mais voltar aquela turma, ficar dando minhas pérolas aqueles porcos pra que? Sair da Tijuca pra ir a Seropédica dar aula pra uma turma que não quer ter aula pra que? O que me faz continuar são duas coisas: Uma é que eu sou uma boa professora, sou muito querida até, esse foi um caso isolado. E o outro é que eu preciso de dinheiro.
A educação brasileira é problemática sim, mas nesse caso, o problema envolve menos a classe social dessa menina, que nem é pobre aliás, e mais a irreverência típica dos adolescentes. Não vou reproduzir aqui aquele discurso chato de que nada tem jeito, eu não sou assim. Acredito nas mudanças. Acredito em mim como agente dessas mudanças. Mas ontem não houve talento nem coração que me ajudassem.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O voto do Tiririca.

Meus votos no PT envolvem esperança, mas não ingenuidade. Confiei em Dilma Vana porque pra mim, além de ser evidente que ela é competente, forte e honesta, o governo Lula teve todos os méritos que eu esperava. No entanto sei que esquerda e direita, especialmente quando a esquerda está na situação, se confundem cada vez mais. Essa votação do valor do salário mínimo elucida bem isso.
A atual oposição,DEM e PSDB, que é direita desde pequenininha, defendeu o salário mínimo de 600 reais, que na prática não resolve o problema do brasileiro, mas seria um agrado bem vindo. A eterna esquerda, PSOL, queria um salário de 700 reais porque está ali para lembrar a nós todos que um outro mundo é possível. E a esquerda que governa mais ao centro, venceu com a proposta de 545 reais. Duro.
Não deixei deconfiar em Dilma Vana por conta disso e se vocês querem saber, acho difícil que algum acontecimento abale a minha admiração pela primeira presidente mulher do Brasil (acho feio falar presidenta), mas que é doloroso e estranhíssimo ver os seus candidatos votando por um salário mais baixo do queo resto do pessoal, disso não tenho dúvidas.
Sei, porém, que se a proposta foi essa é porque Dilva Vana sabe onde o calo aperta e pra não apertar mais, bancou com coragem esse aumento menos expressivo. Estar no poder é diferente de querer ter o poder. Quem tem rebola mais, a vida adulta nos ensina todos os dias.
Mas quero ressaltar aqui, o voto do deputado Tiririca, esse sim, em alguma medida, ingênuo. Seu partido é aliado do governo e, portanto seu voto teria que ir de acordo com o menor aumento. Acontece que na cabeça do homem mais votado do Brasil, as coisas são simples: Bom é aumentar salário. Ele está do lado dos bons, logo, ele votou pelos 600 reais.
Como explicar ao chucro ex-cantor de um sucesso só, que ele teria que estar do outro lado? Não é uma presidente do PT, meu Deus? Que problema! As inversões causadas pela pós modernidade não estão claras para o Tiririca. E as vezes também não estão claras pra mim.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Por amor.

Em 1998, quando Por amor foi exibida pela primeira vez eu tinha 13 anos. Discuti muito com minha melhor amiga da época, Roberta de Oliveira Bárcia, hoje procuradora geral do estado, sobre a tão falada chatice da Eduarda. Eu, cheia daquela razão que os adolescentes têm, dizia que achava um absurdo Eduarda não trabalhar, ser dependente da mãe, do marido e da babá. Já a minha amiga, a passividade da personagem não incomodava. Ela a achava linda, honesta e decidida. Me lembro que no dia seguinte dessa discussão assistimos Central do Brasil em um cinema do Barra Shoping e até hoje, ambas as obras são importantíssimas pra mim.
A novela reprisou em 2002 e, assistindo novamente, percebi o quanto era boa. Manoel Carlos tem mania de criar diálogos artificiais, mas ali a coisa funcionou a despeito disso.
O canal Viva, grande idéia da Globo, reprisou agora, novamente esse diamante televisivo e eu, lógico, deixei de estudar, trabalhar, ir ao cinema e namorar, sempre que pude para me deliciar com o espetáculo.
Além da história instigante e enxuta, Por amor teve os melhores atores possíveis. Viviane Pasmanter viveu ali seu auge de beleza, talento e sensualidade. Assim como Eduarda, também não trabalhava, mas era tão divertida que pouca gente, além da Roberta Bárcia, implicava com ela. A paixão de Laura por Marcelo era inescrupulosa e crivel. Conheço gente que, como ela, não esquece os grandes amores. Eu mesma as vezes não esqueço.
Fábio Assunção lindo, com aqueles lábios suculentos e olhos azuis, começou arrogante na trama e terminou uma bala de coco. Houve um diálogo em que Laura falou sobre o que Marcelo sentia por ela: Desejo; e o que sentia pela Eduarda: Amor. Em seguida Fábio Assunção e Gabriela Duarte apareciam num barquinho em Teresópolis, após uma reconciliação, se entreolhando e sorrindo. Nada de beijos lascivos ou toques de onde sai faísca. Ela era a sorte do amor tranquilo daquele Marcelo sedento por uma vida de comercial de margarina.
Eduarda, hoje enxergo, era sim, uma dondoca incapaz até de cuidar do próprio filho sozinha, mas era também, como pensava a Roberta em 98, bastante valente e cheia de valores. Gabriela Duarte defendeu com brilhantismo a fragilidade latente da sua mocinha, mas eu só me dei conta disso agora. Arthur Xéxeu escreveu sobre o tema recentemente na última página da Revista de domingo do Globo. Ele, como eu, para a vida pra assistir novela, a diferença é que a vida dele está ganha.
E o filé minhon da coisa toda era Suzana Vieira. Branca Letícia de Barros Motta, dona das melhores reflexões sobre amor e dinheiro. Terminou seus dias a beira da piscina suja de folhas secas, de papo com a empregada. Branca disse a Atílio, sua paixão, que o sentimento que nutria por ele a tornava mais jovem e remetia aos tempos em que tinha o mundo nas mãos e escolhas a serem feitas. Antônio Fagundes, o Atílio, era o calcanhar de aquiles do autor. Era nesse personagem que o machismo permissivo brasileiro reluzia. A condescendência da novela e do público com as galinhagens do Atilio me irritam bastante, em compensação é fato: ele era um charme.
François Fourton, que infelizmente está sumida, esbanjava classe e delicadeza como emergente da Barra da Tijuca. Sua cachorrinha pug, Inés, era uma das partes mais alegres de cada capítulo. E tantos outros se destacam, Carolina Ferraz como a esguia Milena, Murilo Benicio a frente do sensível Leonardo, Marcelo Serrado como o César, médico tijucano atormentado pelo amor que não aconteceu (mal de tijucanos), Paulo José e Regina Braga, Orestes e Lidia, levando aquela vidinha de quem mora no sobrado em cima do estabelecimento comercial, Eduardo Móscóvis lindo de pilito de helicóptero, Cássia Kiss com sua sorrateira Isabel e Carlos Eduardo Dolabela, como o velho Arnaldo, que de tão esperto se tornava bobo, mas sempre fofo.
Por último quero falar sobre a Helena de Regina Duarte. Na época da primeira exibição eu também impliquei com ela. Segui rejeitando-a mais e mais após a sua infeliz declaração de que tinha medo do Lula.
Hoje, passados tantos anos, consigo admitir que a danada trabalha bem. Estou dormindo mais tarde por causa de Vale Tudo, que desconfio ser a melhor coisa que já vi na televisão desde Roque Santeiro e talvez por conta da Raquel, da viúva Porcina e do meu amadurecimento, eu tenha entendido a que se propõe Regina Duarte e Helena. Ambas demandam papéis que envolvam amor, gritos e, com todo o respeito, alguma cafonice. Em Por amor a cafonice perdeu o lugar para o semblante de Maria Madalena arrependida. Funcionou tão bem que hoje a tarde, ao ver pela terceira vez o último capítulo, chorei a beça.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O conflito de Maria.

Descobri resquicios machistas em mim há pouco tempo. Gosto de homens que me levam em casa, que pagam a conta e que demonstram segurança. A postura sexual ativa e a responsabilidade pela conta do motel são, no entanto, os únicos quesitos obrigatórios para a demarcação dos lugares masculino e feminino nas minhas relações.
Só que mesmo assim, faço questão também que minhas opiniões fortes sejam respeitadas. Ouvi, no último final de semana, criticas em relação as minhas recorrentes discordâncias e caras feias diante do que fala meu namorado. Fiquei acabada. Me lembrei de todas as vezes que fui intransigente na vida, de todos os momentos que banquei discussões desnecessárias e pensamentos equivocados. Pensei no quanto o meu autoritarismo é ingênuo e cafona, quase como o de uma ex-orientadora dos tempos de graduação. Não quero ser como ela.
Mas depois me perguntei se a reclamação não tinha ocorrido em razão da falta de costume do meu respectivo com mulheres dispostas a se expor. Ainda não cheguei a uma conclusão, mas não descarto ambas as possibilidades. A gente que é de Ciências Humanas, dá aula, fez análise em algum momento da vida e leu Marx, sempre oferece hipóteses muito elaboradas para os problemas da vida e o nosso problema, que é a remuneração inexpressiva, não sabemos solucionar.
Deêm 20 mil reais na mão do Eike Batista e ele fará virar um milhão. Se dão pra nós, torramos tudo em noites com amigos, filmes, livros, música e viagens econômicas. Empreendedorismo zero, devaneios mil.
Mas meu namorado é engenheiro e oferece respostas rápidas, prontas, exatas para as minhas constantes dúvidas. Não sei quem é o inteligente dessa história, eu ou ele.
Voltando ao machismo, quero fazer um breve comentário sobre o Big Brother: Maria, a doce atriz pornô mineira, fez a besteira sem tamanho de pegar o carioca mala Maurício. Quando ele foi eliminado, surgiu um médico bonitinho dando mole instantâneo pra ela. Maria, preocupada com sua reputação no mundo real, não beijou o rapaz, apesar da tentação ter sido visivelmente forte. O povo brasileiro, que assim como os homens da minha vida, quer dividir a conta e deixar a mulher ir embora sozinha, não gosta de ver o sexo frágil com muitas vontades. Além de terem condenado a transexsual Ariadna, por ter escolhido ser mulher, permitiram que o mala de Copacabana voltasse ao programa e cobrasse fidelidade da bela Maria.
São hipócritas os brasileiros. São burros os brasileiros. Não são cavalheiros os brasileiros. Se eu fosse Maria (e todas somos um pouco), dava uns bons gritos com os homens da casa, pegava o médico e foda-se.
Estou farta desse machismo pós-moderno. O pênis de vocês é muito bom, mas não salva a relação. Try a litle harder.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dívida.

Cheguei de óculos escuros. Passei pelo detector de metais. Esperei minha vez. A atendente deve ter a minha idade. Unhas com algum esmalte rosa óbvio, provavelmente da Colorama, calça jeans, blusinha apertada e sombra nos olhos. Sobrava um pouquinho da barriga. Nada que a tornasse gorda.
Expliquei a ela que não tenho condições de pagar o que me cobram. Ela não é simpática. O atendente ao seu lado intervém. Vou embora sem resolver nada.
Tenho pesadelos com as palavras dela: "Para a vida inteira", quase um casamento.
Volto outro dia escondendo a vergonha. Finjo não me importar com a humilhação que é não ter dinheiro. Simpática realmente ela não é, mas consigo estabelecer algum diálogo. Deus me livre encontrá-la na rua!
Já sofri muito por amor. Só eu sei. Mas não ter como pagar uma dívida é, claramente, a dor mais degradante que se pode sentir.
Começa o mês e eu volto ao Banco. Ela está mais magra, dessa vez de calça social. Está mais bonita. Ri com os colegas e fala de assuntos alheios a mim enquanto analisa a minha situação pelo computador.
Novamente não resolvo nada e o pior, quase choro.
Não estou me recusando a pagar, só preciso de parcelas menores.
Saio de lá me sentindo uma merda. Professora, gordinha, sem dinheiro. Ela é o gigante Golias naquele ar condicionado potente, cheia de bijouterias, com o nome limpo e o esmalte sem classe.
Me pergunto onde foi que eu cheguei. Seja lá qual tenha sido o pecado que eu cometi, estou pagando.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Egito.

Foi uma revistinha da Bárbie que me fez querer ser historiadora. Era uma história em que a Bárbie era paleontóloga e ia participar de uma importante escavação no Egito. Lá ela encontrava um escaravelho e descobria um grande tesouro.
Não me lembro em que ano li essa historinha, mas sei que em 1996, já na quinta série, estudei a Mesopotâmia e o Egito e me apaixonei. Hoje em dia sei pouco sobre essas duas civilizações, na faculdade quase não as estudamos. Uma vez fui a uma exposição e comprei um cordão que vinha com um escaravelho, igual ao da Bárbie. Tenho ele até hoje.
Assisti triste a Guerra do Iraque destruir os palácios dourados da Mesopotâmia. Assisto hoje, sem resignação, ao Egito resistindo a uma ditadura a qual eu não sabia da existência, tamanha a imponência do muro que cerca as redomas ocidentais, tão alto quanto o meu comodismo.
Lendo agora sobre o levante popular, senti o coração palpitar com a palavra Alexandria. Me lembrei das cheias do rio Nilo e da Esfinge. Dizem que o Egito é quente e que as Pirâmides tem um cheiro de mofo inconfundível. Li que um grupo de jovens está em volta do Museu do Cairo tentando proteger os objetos históricos que são importantes pra eles e pra nós.
O primeiro ministro inglês não quis se meter. Disse que é importante que nem ele, nem o Obama palpitem sobre quem deve ou não ser presidente do Egito. Já de Israel veio a opinião de que ao manter a ditadura o tal governante que está no poder há 30 anos (ele tem 82) abre espaço para o fundamentalismo islâmico que pode gerar um novo Irã.
Israel é um dos países que, ao meu ver, mais desperdiça oportunidades de ser revolucionário e grandioso.
Vou dar aula para a quinta série esse ano (agora é o sexto ano do Ensino Fundamental) e terei que falar do Egito para os alunos. Sinto que é uma missão a ser cumprida. Tudo de mim começou lá. É pra lá que tudo vai agora.