quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A primeira vez.

Esse ano eu fiz várias coisas pela primeira vez. Transei com um homem por quem eu era apaixonada, viajei pra Ilha Grande, tentei uma seleção de mestrado e, hoje, fui a uma peça do Zé Celso.
Eu tenho pouquíssima sensibilidade para peças de teatro. "A inveja dos anjos" do grupo Armazém foi, das mais recentes que eu assisti, a única que me emocionou de verdade. Eu costumo não gostar dos exageros e implico com os diálogos artificiais. No entanto, existe um fascínio que as atrizes exercem sobre mim, que me faz querer ficar olhando pra cada detalhe do corpo delas, enxergando as pintas, o cabelo, tentando sentir o cheiro e imaginando como deve ser a voz delas normalmente. Também sinto isso em relação as bailarinas.
Eu fiz teatro na escola, quando era adolescente. Foi fácil perceber que aquilo não era pra mim. Chorei horrores antes de entrar na apresentação para os pais. Me sentia feia e exposta em cena. Ator que é ator fica avontade no palco, gosta do cheiro dos outros, não se incomoda com o suor e nem com o cabelo desarrumado. Eu admiro profundamente essas pessoas.
A peça de hoje, "O Banquete" de Platão, foi, de fato, uma experiência inesquecível. Eu estava com preguiça de ir, hesitei em passar cinco horas sentada, em perder a novela que está terminando e em pagar o taxi pra voltar do Jardim Botânico até a minha casa. Só que como eu poderia estudar o movimento Tropicalista sem ter assistido a nenhuma peça do Zé Celso? Eu nunca ia entender do que se tratava aquilo tudo se continuasse só lendo sobre "O rei da vela". Eu precisava ver e sentir de perto essa proposta tão diferenciada. Os atores são despojados. A nudez, o sexo e as músicas (lindas) se misturam. As provocações são exatas, o figurino e o cenário são impecáveis e nada opressores. E o Zé Celso é impressionante. O homem atua, mostra o pau, beija homens e mulheres, canta e é feliz como poucos. Me deu a sensação de que a peça era uma ode a felicidade e um tapa na hipocrisia.
É um artista que se recicla. De Michael Jackson a Obama, estava tudo ali.
Era um mundo de cores e cheiros que eu não conhecia e que me deixou assustada no início (por medo de ser chamada para interagir com os atores) e encantada no final. As frutas, os sons e as palavras que estavam ali são tão brasileiros que se tornam universais. Fiquei pensando, em meio a vários jovens cults e globais que estavam na platéia, que saber desistir é importante, mas a regra é tentar. Vale a pena embarcar naquela orgia. Tem muito amor ali.

2 comentários:

  1. Morro de medo de ser chamada pra interagir nessas peças, acho que é meio igual ao seu medo de parecer descabelada, exposta, burra. Mas deve ser pq eu nunca tentei, tentar é bom, encurta o caminho! ;)

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