quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Depois que a vida continuou.

Hoje fui ao Itaú resolver pendências financeiras e enquanto estava na fila esperando, prestei atenção numa propaganda bonita do Banco. Era a foto de um homem, uma criança e uma mulher num dia de sol, na beira da piscina. O homem se parecia muito com ele.
Já tinha visto a mesma propaganda nas plataformas do metrô e sim, já tinha me dado conta da semelhança, mas nunca tinha parado pra pensar sobre isso.
Em pé ali naquela fila, as onze horas da manhã, eu sorri para a recordação. Sorri para o que existe dele em mim. Sorri porque valeu a pena.

domingo, 17 de outubro de 2010

A vida dos peixes.

Trouxeram os pães, a manteiga e o azeite.
Me lembrei de um filme que assisti na semana passada.
Veio o mate.
O filme era sobre Andrés e Beatriz, que foram namorados há dez anos atrás.
Começamos a conversar sobre tudo o que moveu a nossa vida nos últimos meses.
Torradas. Ele terminou o namoro.
No filme, Andrés continua bonito e solteiro. Beatriz se casou, engordou e teve duas filhas. Não se veste bem.
O sal grosso de um dos pães vai bem com o azeite aromatizado cor de abóbora. Não sinto o cheiro, estou gripada.
Ele quer ir embora pra França.
Andrés continua achando Beatriz linda como ela era antigamente.
Focaccia de limão e pedacinhos de fungui na manteiga. Ele está fazendo uma nova terapia.
Beatriz conta que sofreu muito quando Andrés a deixou.
Peço um prato leve e conto que consegui esquecer aquela paixão.
Andrés diz que não achava saudável se casar com a primeira namorada, mas que ainda a ama.
Vem a salada. Digo que gosto de outra pessoa.
Andrés propõe um novo começo a Beatriz. Quer ficar com ela e com as filhas dela.
Castanhas de caju misturadas a alface. Me sinto diante da sorte do amor tranquilo.
Beatriz aceita o recomeço proposto por Andrés.
Vinagrete de maracujá. Eu pisciana e ele escorpiano, adoramos sentimentos devastadores, mas na segunda metade dos vinte anos, temos consciência da nossa fragilidade e evitamos excessos.
Andrés e Beatriz saem juntos da festa em que estão e pela primeira vez se tocam, dando as mãos ansiosos.
Pedaços de queijo pela salada. Eu, ele e nossas possibilidades.
Beatriz hesita em ir com Andrés.
Terminamos de comer e ficamos conversando.
O filme acaba.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tropa de elite.

Fui ver Tropa de elite II hoje, terceiro dia de exibição do filme. Tentei ontem e ante-ontem em vários cinemas, mas dei com a cara na porta. Era tanta gente nas bilheterias que me lembrei de Titanic. Nunca na minha história de cinéfila nesse país vi um filme brasileiro causar tamanha comoção. Qual a razão?
Tropa de elite é uma catarse. Nos sentimos amparados pelo Capitão Nascimento, pela honestidade e firmeza dele. Apertamos o gatilho junto com ele a cada tiro sem misericórdia que é dado no filme.
Em 2007 o filme marcou não só por ter sido distribuído ilegalmente antes entrar em cartaz, mas por ter jogado a merda no ventilador. Ao ver o filme, eu, aspirante a intelectual, engoli a seco minhas posturas e senti vergonha da minha ignorância e inutilidade.
O primeiro Tropa de elite é engraçado. As expressões lançadas ali são recorrentes até hoje. Rimos dos policiais corruptos sendo mal sucedidos. Rimos da forma despojada com que o diretor do filme escancarou a PM. Rimos para não chorar. Poderíamos ter saído incólumes dali. Alguns saíram se sentindo vingados. A pulga atrás da orelha não é para todos. A reflexão fantasiada de fanfarronice parecia leve, mas era apenas uma preparação. Era um aperitivo para a porrada que veio agora.
Multidões estão indo ao cinema para levar a porrada. Cidadãos que votam em Dilma ou Serra, que comem no Mc Donald's ou no Porcão, que frequentam os cinemas do grupo Estação ou que só gostam de blockbusters, todos estão enfrentando filas para levar uma porrada irreversível.
Tropa de elite II é para sentar e chorar. Desse ninguém sai da mesma forma como entrou. Agora não se tem mais do que rir. É um tratado sobre o Brasil que está doente, mas é também um fio de esperança sobre gente honesta. Existe gente honesta, pouca, mas existe.
Saí do cinema triste. Demorei pra levantar da cadeira.
Jantei fora depois. Não sei se a vida continua.

sábado, 9 de outubro de 2010

Propaganda.

Sou uma entusiasta do governo Lula.
Votei nele da primeira e da segunda vez sem nenhum tipo de dúvida.
Na época do mensalão não desacreditei do sucesso da empreitada chamada PT. Lamentei, lógico, mas minha fé no projeto de estado que estava sendo implantado não diminuiu.
Acredito no sucesso do Pro-Uni e acho que paralelamente as bolsas em faculdades particulares, é possível enxergar sim um investimento maciço nas universidades públicas.
Vimos empregos de todos os tipos serem criados nesses últimos 8 anos. A diplomacia se tornou um pouco menos elitizada, o Instituto Brasileiro de Museus foi construído e o Ministério da Cultura cresceu. Com olhos retos e apaixonados, assisti aos discursos de um presidente realmente brasileiro, equivocado as vezes, mas que se manteve fiel ao projeto de diminuir a desigualdade social que por aqui sempre pareceu vitalicia.
Somos um país que vota há tão pouco tempo, não podemos desacreditar da luta com facilidade. Estamos no caminho, os fatos estão aí. O ensino superior qualificado está se espalhando para o interior, as áreas rurais têm tido atenção real e os latifundiários não são mais o foco, hoje em dia o pequeno produtor faz a diferença. Até vendo o Globo Rural se pode constatar isso (e a insônia).
Gosto da trajetória da Dilma, guerrilheira, foi do PDT, mulher inegavelmente forte, sobrevivente as calunias cristãs e a direita filha da puta que insiste em se manter no poder.
Não me interessa se ela nunca governou um estado, se faz ou não concessões em relação a suas opiniões sobre o aborto e o casamento gay ou se era ou não conivente com a corrupção. Tenho que escolher entre ela e o José Serra e não tenho dúvidas, é ela quem me representa. O PSDB esconde o lixo embaixo do tapete, mas é tanta sujeira que é preciso recorrer ao moralismo pra segurar as rédeas da vergonha. É preciso demitir jornalistas, ressucitar o anticomunismo e até forjar uma fantasia de novidade, quando sabemos que ali é o reduto de quem esteve no poder desde o tempo das sesmarias e que, com sacrificio, está começando a perder a força.
Desisti de esperar o principe encantado e o candidato ideal. Não vou me eximir nessa eleição. Quero o PT no poder, com todos os defeitos que eles têm.
Fingir que não há diferenças substanciais entre os dois candidatos é largar de mão o Brasil e no alto dos meus 25 anos, me sinto muito jovem pra isso.