quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Imperador.

Torço para o Vasco, Não me lembro com que idade escolhi meu time. Sei que meu pai me ensinou que de time não se troca. Nunca entendi de futebol, mas sempre me emocionei com os jogos da copa do mundo. Presto atenção no Romário, fui ao Maracanã algumas vezes e no último domingo desejei de coração que o Flamengo fosse vitorioso.
Apesar da raiva que o barulho dos fogos de artifício me causa, considero única a comoção que o Flamengo causa. Ricos, pobres, mulheres, gays e velhinhos choram por um time que é para todos. Me sinto feliz de assistir a esse espetáculo e de, de alguma maneira, fazer parte dele.
Há na vitória do Flamengo muitas conquistas pessoais que chamam a atenção. Nenhuma delas me encanta tanto quanto a do Adriano. Adriano, menino pobre com jeito de imperador, acordou cedo para treinar. Jogou no Flamengo, viajou o mundo, foi pra seleção, encontrou sua angústia e quis voltar. Voltou para o seu Flamengo, para a Vila Cruzeiro e para o mundo onde é rei de si.
Tenho pensado muito na saudade que a gente sente de coisas datadas. Penso em quem fugiu da Alemanha Oriental e, quando já estava inserido no Capitalismo, sentiu saudade. Penso em quem nasceu em Bonsucesso, cresceu na Penha e hoje, morando na Zona Sul, tem o coração longe dos percursos que faz. Esses não podem voltar. Eu não posso voltar as férias de verão de Iguaba Grande, com sorvete a quilo e funk alto do vizinho. Não posso voltar aos beijos despretenciosos, nem aos shortinhos jeans fora de moda comprados pela minha mãe na C&A. Hoje vou a Ipanema de vestido. Me molho no chuveiro da praia e almejo beijos com futuro.
Adriano, ao contrário de mim e dos meus companheiros saudosistas, pode voltar. O homem com nome de imperador e rosto de menino, voltou porque queria ser feliz e não encontra felicidade fora de onde nasceu. Sua atitude dispensou psicólogos e evitou crises existenciais eternas.
Na segunda a noite, enquanto o Flamengo inteiro estava na CBF, de terno, recebendo a taça, era no churrasquinho da Vila Cruzeiro que Adriano comemorava. Ele não precisa de troféu, não quer ser herói de um mundo ao qual não pertence.
Olho o Ronaldo fenômeno e agradeço a Deus por existir o Adriano.

12 comentários:

  1. Esse texto me disse muito. Feliz daquele que tenta voltar.. seu esforço em não esquecer já vale a tentativa.

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  2. Achei muito bonitinho seu argumento sobre o Adriano. Embora eu não curta muito o mundo do futebol, até tenho muitas críticas em relação a postura de muitos torcedores, fiquei sensibilizada com a história do Adriano. Você apresentou um lado do Adriano que não é muito enfatizado pelos meios de comunicação...gostei!

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  3. é...feliz de quem pode voltar...
    apesar de eu não concordar com a parte de q o Imperador não teve crises existenciais... teve sim, e por isso voltou... não sei se é o melhor pra ele, acho bonito ele continuar se sentindo de onde ele realmente é, mas será q faz bem a ele? isso é q me pergunto...

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  4. crises existenciais ele teve sim, mas evitou que elas fossem eternas.
    Quanto a fazer bem, eu acho que certamente nesse momento resolve as questões. Se vai ser assim pra sempre, eu não sei, mas achei sábia a coragem de voltar.

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  5. Ai que saudade do seu blog! Andei numa exclusão digital! rs
    Te Adoro!
    Beijos,
    F.

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  6. O Adriano voltou. Havia feito belos jogos pelo Flamengo antes de ir, cometeu os erros esperados de um jovem que começa a carreira sob tanta pressão. A maior torcida do mundo o perseguiu, o pressionou; e, o clube que era a sua casa o usou como moeda de troca. Se a adaptação lá fora foi difícil, compensa a percepção de o quanto ele cresceu, de tudo o que conquistou, de tantas vitórias em que brilhou. Na Itália, o garoto se livrou do peso dos milhões de torcedores do flamengo, e se tornou Imperador. Se não tivesse saído, jamais teria voltado como voltou.

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  7. Adorei, Cecilia!
    Parabéns!
    André Schimidt, que não sabe como colocar seu nome em cima como os outros, e que, por enquanto, só pensa em sair e não em voltar...

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  8. Consegui colocar o nome! E com florzinha!

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