quarta-feira, 22 de junho de 2011

A habilidade não vence o talento.

Há pouco tempo minha irmã me disse que o Bruno Medina, tecladista do Los Hermanos que virou publicitário, escreveu em seu blog sobre o show do U2 ter pouca graça por se propor a ser um espetáculo sem erros. Não só o U2, mas os Rolling Stones e o próprio Paul McCartney prolongam seus dias proporcionando aos fãs, momentos de emoção guiada: Agora vocês riem, agora vocês dançam, agora os casais se beijam, etc. O talento mesmo, o auge, isso acabou. O que permanece é a habilidade em encaixar letras plausiveis com músicas cheias de instrumentos bem tocados, além dos sucessos antigos, do tempo em que eram sensacionais.
Chico Buarque, o grande ídolo do Brasil politizado, sofre, ao meu ver, do mesmo mal. Faz tempo que não compõe nada desconsertante. Seus últimos discos são sensíveis e previsíveis. Tem samba, amor e um quê de sensualidade. "Cecília" é a única música de "As cidades" que me emociona (sim, pode ser porque leva o meu nome), mas afirmo que pra mim se tornaram escassos os aforismos do homem que tem os olhos azuis mais convidativos do Brasil.
"Lá tem Jesus que está de costas", frase de "Suburbios", do último disco "Carioca" me parece ser, assim como Cecília, a salvação da obra. E vejam bem, eu tenho esses dois cds, gosto deles, os ouvi incessantemente e fui, inclusive, a dois shows do mais recente. No entanto, acho sim que a qualidade ali é produto de muito trabalho e pouca inspiração. Chico parece compor porque as contingências pedem. Já seus romances...explodem talento, inspiração e aforismos. "Leite derramado" me emocionou deveras.
Admiro Chico Buarque por sua discrição e sou grata a ele por ter dado sua cara a tapa pelo PT tantas vezes. Minha opinião é de que Dilma só saiu a frente de Serra na última eleição, depois do ato de artistas e intelectuais organizado por ele. Não é a toa que sua irmã se tornou ministra da cultura (não, não acho que ela esteja fazendo um bom trabalho).
Caetano Veloso, porém, apesar das recorrentes declarações equivocadas que dá, esbanja talento musical. Sua carreira retorna ao auge com bastante facilidade. "Zil e Zie" é cheia de instrumentos e inovações, mas é, principalmente, um compliado de letras acertadas e destemidas.
O show de Caetano também é cheio de sucessos antigos e tem alguns momentos over, mas surpreende.
Só li um livro seu, "Verdade tropical", que foi definitivo pra mim. Confesso que gosto um pouquinho mais dele.

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