sábado, 23 de julho de 2011

Amy

Quando Cássia Eller morreu, eu tinha 16 anos. Era aquela semana entre Natal e ano novo e eu estava em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, visitando minha família que mora lá. Cheguei na casa da minha avó e vi, num daqueles plantões que Cássia, doce Cássia, tinha nos deixado. Me senti orfã daquela voz de mulher que ama, dos seios lindos que ela exibiu no Rock in Rio, da coragem e do talento. Minha dor foi subitamente substituída pela raiva do pastor da igreja que minhas tias frequentam, que durante o culto (quando eu vou lá, faço questão de participar da vida deles integralmente e por isso vou ao culto) disse que ela tinha procurado tudo isso.
Não uso drogas, nunca usei, mas acredito que isso não me diga respeito. Cássia Eller era uma mulher inteira e faz uma falta enorme até hoje. Se usava drogas, se morreu por causa delas, não me importa. Espero apenas que ela tenha sido feliz.
No momento da morte de Renato Russo, em 1996, eu estava no meu quarto ouvindo rádio. Eram férias de julho e meus amigos tinham viajado para o parque do Beto Carreiro, em Santa Catarina. O locutor anunciou a notícia e eu fiquei ali parada pensando na merda que estava acontecendo. Nessa época eu já tinha me apoderado do "Quatro estações" da minha mãe e o clipe de "strani amori" frequentemente alcançava o primeiro lugar do Disk MTV. De noite, lembro de ter deitado na cama e chorado.
Amy Waynehouse também me deixa nas férias de julho, com apenas um ano a mais do que eu. Queria eu ser grande como ela. Vejo essas reportagens que dizem que ela deveria ter sido ajudada e que precisava de tratamento e só tenho a lamentar. Me sinto como quando o pastor ignorante atropelou a minha dor. Acho que não enternderam nada. Quem somos e o que sabemos para falar sobre o que ela precisava ou sentia? Nós conseguimos deixar pra trás nossos vícios? Somos todos fortes? Damos a volta por cima e encaramos nossos medos? Ou apenas tivemos mais sorte e trazemos conosco dificuldades e manias menos destrutivas?
We are all in black now. She went back to blue.

2 comentários:

  1. Vc vê o mundo de uma forma muito estranha, pra mim... Ñ consigo entender, pra ser sincero.


    Morro de saudades da Cássia. Eu era muito fã mesmo... Tenho ainda fotos, set list de shos (fui em vários), onde aqueles peitinhos sempre vinham dar o ar de sua graça.
    Fico triste e mto puto qnd lembro q uma vida tão talentosa e bem sucedida foi desperdiçada. E pior: deixando pra trás outra vida q dependia da presença dela, como mãe!
    Ñ vejo nada de bonito ou admirável na autodestruição. Apenas coisas pra se lamentar...

    Amy Winehouse? "Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar".

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  2. Entendo o que você disse e comparo com o que o Foucault chama de "vida fascista". É facil defender o nosso direito de escolha e a nossa liberdade, mas aceitar que outras pessoas tem o mesmo direito é dificil. Podemos não concordar com as escolhas alheias, mas se estas não nos afetam diretamente temos a obrigação de respeitar. Impor nossa verdade é fascismo!

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