quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os mediocres não perdoam.

Hoje eu fui ao Leblon entrevistar uma professora universitária que foi perseguida pela Ditadura militar. Fomos eu, uma colega que como eu, trabalha nesse projeto e é professora, e alguns bolsistas de graduação. Eu e a colega, inevitavelmente, conversamos muito sobre a greve. Ela é do sindicato, acredita na Revolução, fez a dissertação de mestrado sobre luta armada e tal. Eu, vocês sabem, sou o ícone da esquerda festiva.
Depois da entrevista fomos lanchar no Shoping Leblon. Não posso dizer que estranho o ambiente, não minto, adoro sofisticação, comidinhas fru fru e lojas caras. Mas existe sim um ar hostil naquele emaranhado de gente bonita. Comemos, rimos, tomamos Ovomaltine, tiramos foto com o Fred do Fluminense, que estava na filha do Bob's e quando estávamos indo embora, vimos um tumulto na Livraria da Travessa. Andamos até lá e procuramos a causa da aglomeração.
Era o Sérgio Cabral.
Quantas vezes eu pensei que se um dia tivesse oportunidade, falaria pra ele sobre as minhas insatisfações, afinal, votei nele em 2006, é justo que eu possa opinar. Gosto do Sérgio Cabral, vejo muitas qualidades no governo dele e só não repeti meu voto em 2010 porque já era professora e, justamente, com a minha classe, ele deixou que o descaso prevalescesse.
Hoje, quando o vi, diante de toda aquela gente chique, dos jornalistas e da meninas, pensei: "É a hora." Minha colega sindicalizada disse: "Vamos gritar!" e eu morri de vergonha. Fiquei vendo ela falando coisas enquanto minha voz não saía. Mas não me acovardei, era a oportunidade.
Vi o governador e sua redoma de seguranças se afastarem, cheguei bem perto e falei:

"Eu ganho 681 reais, governador! Os professores estão em greve. Eu estou em greve."

Ele nos ignorou. Os repórteres que o entrevistavam também. Gritei para surdos. Uma jornalista veio me perguntar se eu era bombeira e quando eu disse que não, desistiu de me entrevistar. Fui embora me sentindo lixo.
Na escada rolante, descendo, vimos Marcelo Freixo, nosso redentor, subindo, provavelmente para o mesmo lançamento de livro, ao lado de uma mulher linda, ambos pertencentes aquele simulacro de Brasil feliz. Marcelo Freixo se faz ouvir, eu não.
E no caminho até o ponto de ônibus tudo o que eu sentia era vergonha e raiva. As meninas falavam, falavam e eu nem ouvia. Pensava que gosto dali, que achava que fazia parte e que nunca mais queria me sentir tão merda na vida. Murro em ponta de faca infernal esse.
Já dentro do ônibus recebi a mensagem de uma das bolsistas que dizia: "Tive que voltar ao shoping e vi que tinham seguranças atrás de nós. Fomos subversivas!". Sorri me sentindo menos desimportante, mas não me sinto aliviada.
Acho que escolhi o lado errado.

6 comentários:

  1. Essa sensação de se sentir um "lixo", de não ter voz, de não ser ouvida, pelo simples fato de ter escolhido ser professor, num país onde isso é sinônimo de que algo deu errado, que a gente não consegui ter sucesso em mais nada, é horrível, dá uma vontade, sei lá do quê, só sei que a gente morre um pouco por dentro toda vez que isso acontece.

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  2. Não amiga, vc não escolheu o lado errado. Fui estudante de escola estadual a minha vida toda, do jardim ao terceiro ano do ensino médio e tenho muito orgulho disso. Devo muito aos professores o que sou hoje, principalmente daqueles que faziam greve, nunca senti raiva deles, nunca. Sempre tinham o apoio dos alunos. Lembro-me sempre com carinho de um professor de Biologia que dava aula para os alunos na praça que ficava na frente do colégio no período de greve para não prejudicar os alunos que estavam prestando vestibular, isso mudou a minha vida. Admirava muito ele, sabia que seria professora. Tenho muito orgulho dessas lembranças, como tenho muito orgulho de vc.

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  3. NÓS não escolhemos o lado errado... falta uma mobilização como a dos bombeiros para nos darem valor? Falta um Sindicato forte? Vamos correr atrás! Somos jovens, temos tanto o que fazer, e eu, juro que ainda acredito que podemos MUDAR O MUNDO!
    VAMOS EM FRENTE!

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  4. Um dia eu espero que as pessoas entendam porque eu não voto em ninguém... e que façam o mesmo... essa é a nossa única forma efetiva de revolta...

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  5. Não é lado errado, xará!

    Fiquei pensando no que pensaram os seguranças. Como será seguir pessoas que ganham o que eles ganham, que comem o que eles comem, seguir pessoas pra agradar outras pessoas que vai ver nem lembram que os seguranças também são mais que um terno preto?

    Não é subversão. São muitos buracos e um mais embaixo que o outro.

    Ninguém tentou falar com o Freixo? Do que que adianta ser personagem de Tropa de Elite?

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  6. Nota - o fato de ser subversão não quer dizer que é comodismo.

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