quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As (mini) regras da arte.

Esses dias uma amiga me disse que detestou o último filme de Mademoiselle Coppola e que não entende como eu posso ter gostado tanto. Respondi a ela que me identifiquei com a história de desconforto, falta de intimidade e cumplicidade entre pai e filha que convivem pouco. E é verdade, quando meus pais se separaram e meu pai ainda não tinha se casado novamente, íamos eu e minha irmã para a casa dele a cada15 dias. Ele nos comprava revistinhas e cds e, enquanto assistia programas esportivos, nos deixava livres. Eramos sozinhos os três. Quando ele se aventurava na cozinha, sempre fazia aipim frito ou omelete com muita gordura. Havia amor, mas faltava tato. Completei dizendo que esse é o estilo de Sofia Coppola e que se ela prestasse atenção aos outros filmes, com certeza, veria mais sentido no (incompreendido?) "Somewhere".
Ainda assim, minha amiga insistiu e falou que se o filme em questão não fosse de uma Coppola, ninguém, nem mesmo eu, teria gostado.
Meus argumentos para deter a critica dela são embasados no mais importante guru contemporâneo, Pierre Bourdieu: Não há possibilidade de esse filme não ser dela. E não se isola um itém do restante da obra de um artista. "Somewhere" pode não ser tão rebelde como "As virgens suicidas", enlouquecedor como "Lost in translation", nem sublime como "Maria Antonieta", mas não existiria sem eles.
E Sofia Coppola não teria tanta facilidade para contar a história de meninas enclausuradas, se não fosse ela mesma, filha de quem é. A mim, grande pseudointelectual brasileira, a moça agrada muito, mas se não houver sensibilidade para os silêncios, nem experiência suficiente para que a verve indie das trilhas sonoras não seja vã, a verdade é que pouca coisa ali fará sentido.
Capital cultural não tem preço.

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