quarta-feira, 8 de junho de 2011

O muro que eu não pulei.

Minha aluna pulou o muro da escola pra encontrar um rapazinho que estava de moto do lado de fora enquanto eu dava aula sobre a Primeira Guerra Mundial. Estava lá explicando sobre os sentimentos nacionalistas serem uma construção quando a diretora entrou na sala e avisou a turma que a aluna estava suspensa. Senti pena da menina. Desejei que nada daquilo tivesse acontecido, movida pelo que resta de romantismo adolescente em mim. Quis de verdade que a aventura da mocinha tivesse sido bem sucedida.
E continuei falando sobre a Triplice Aliança e a Triplice Entente, me esforçando para tornar palatável o pan-eslavismo e o pan-germanismo.
Eram quatro e vinte da tarde quando eu saí da escola me perguntando se deveria ser menos flexivel. Rapidamente abandonei as reflexões sobre o trabalho e pensei no perfume que quero comprar e no chocolate que comeria antes da aula de inglês que começaria as sete. Cochilei no ônibus e quando abri os olhos já tinha anoitecido. Na aula fiz dupla com um rapaz que é engenheiro,divorciado e tem um filho. Voltei pra casa com certeza de que filhos não são pra mim. Quando estava na esquina da minha rua uma música muito boa tocou no rádio baixo do meu celular. Dancei e cantei alto até chegar no meu prédio. Subi no elevador fingindo que sou rock star.
Já de banho tomado sentei pra ver um dos últimos capítulos da odisséia de Maria de Fátima e dormi fingindo que as minhas aventuras amorosas têm final feliz e que há alguém disposto a me dar as mãos.
Hoje me ocupei de nascer e morrer e soube, agora a noite, que o sindicato dos professores decidiu por entrar em greve. Pensei na aluna que pulou o muro, na guerra, no perfume e no dia dos namorados vazio que me espera. Não sei o que fazer.

2 comentários:

  1. Nunca ser amada por alguém, como me dói. De todos os problemas, este e o central. Eu tenho 19 anos e todas as minhas amigas namoram. Eu estou sempre so. Que desperdicio meu deus, eu tenho tanto amor no peito.

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