sexta-feira, 17 de junho de 2011

Deus não, Woody Allen.

Um dos desenhos animados mais importantes da minha infância foi "Cavalo de fogo", exibido pelo SBT nos anos 1990. Era a história de Sara, menina orfã de mãe, que vivia com o pai, o irmão e um cavalo encantado. Sua mãe teria sido rainha em um mundo paralelo, Darchan, dominado pela bruxa Diabolique, que apenas Sara era capaz de deter. Toda vez que a malvada aprontava, o cavalo a levava a Darchan. Lá, Sara era princesa, amada por todos. Mesmo nos momentos difíceis, não enfraquecia. Por mais ardilosas que fossem as artimanhas de Diabolique, Sara sempre vencia. Difícil pra ela era a hora de ir embora. Sofria a princesa, sofria eu. A vida normal de Sara não chegava aos pés de Darchan.
Pois Woody Allen entendeu muito bem essa sensação de conforto que só é possível na vida paralela e construiu em seu novo filme, "Meia noite em Paris", uma Darchan para adultos. Quantas vezes não nos perguntamos se Deus nos daria uma oportunidade para nos encontrarmos com os autores que nos entendem? Tantos são os momentos em que tudo estaria resolvido se aquele poeta estivesse lá, ou se pudéssemos deitar no colo no cantor que embalou os amores da adolescência. Deus, querido leitor, nada pode fazer em relação a isso. Já Woody Allen, demonstrou ter sim esse poder.
Um dos primeiros diálogos do filme é sobre a nostalgia ser a dificuldade de lidar com o presente. Ao protagonista, nostalgico e estagnado, é oferecida a possibilidade de visitar a Idade do Ouro que seu inconsciente escolheu: Os anos 20. Lá encontra seus ídolos, dissolve a inércia e se apaixona por uma mulher que ama os anos 10. E sua estada com ela na Belle epoque, o faz perceber que naquele tempo todos queriam ter vivido no Renascimento.
Assistindo esse filme pensei que Woody Allen não pode morrer. Não conheço diretor tão produtivo e inesgotável. A princesa Sara que existe em mim não queria ir embora da Paris dos anos 20, nem do cinema.
O personagem não mata seus monstros nesse filme, apenas os abandona. Eu e a princesa Sara também.

Um comentário:

  1. Eu também queria que o Woody tivesse a longevidade do Niemeyer. Ele é responsável pela minha educação sentimental, junto com o Almodóvar e o Gabriel Garcia Marquez. Quando ele for dessa para a melhor, me sentirei órfã e viúva. Bjos

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