segunda-feira, 13 de junho de 2011

O produto e o meio.

Hoje eu tava no curso de inglês e o tópico para discussão era "nature ou nurture?" (natureza ou criação) e nós tinhamos que conversar sobre o que mais nos influenciou durante toda a vida e eu parei pra pensar que não sei o que me fez ser outsider porque eu sou tijucana, estudei em escola católica e todos os meus amigos foram ganhar milhões. Meus pais são dentistas e nas novelas as pessoas são magras. Não sei bem o que eu estou tentando negar e sei menos ainda pra onde eu vou. Tenho um grande amigo com quem converso muito sobre essas questões e ele está desiludido. Vejo com pesar e compaixão a sublimação que ele, sempre transgressor, está tendo que se impor, mas por valentia ou covardia nem me passa pela cabeça seguir os mesmos passos. Fico até o fim do sonho, já falei.
Conheci o blog da Patricia A. no início desse ano e, nossa, tem feito muita diferença na minha vida. É tipo um livro bom o que ela escreve. E nesse post ela fala sobre os trajetos errados que nós percorremos por anos e eu fico pensando que, como ela, fui estudar História porque queria ser o suprassumo da sabedoria, mas tudo o que descobri nesse caminho foi que gosto de vulgaridade e fofoca. Essa realidade com a qual eu lido todos os dias, a verdade que eu ensino todos os dias, é cheia de licenças poéticas que eu permito porque senão acho tudo um saco.
E aí depois de sair da aula de inglês, peguei o metrô e quando tava na plataforma vi dois meninos que estudaram comigo no segundo grau e que me zoavam o tempo inteiro, eram cuéis, maus e desrespeitosos. Eles estavam a menos de 50 metros de mim, no metrô da Carioca, um de terno e o outro de roupa social, conversando felizes, impunes por todo o mal que me causaram. E quem desviou o olhar fui eu. Tenho orgulho de não ser mediocre como eles, de nunca ter sido mediocre como eles, mas morro de medo dos dois.
Passei o dia explicando aos meus alunos sobre essa greve e sobre esse salário irrisório que eu ganho e cheguei a ouvir de um menino que é filho de pastor que ainda ganho muito. E acho esse conflito tão nobre e tão ingênuo que acabo não conseguindo superar.
No sábado fui com dois amigos na Travessa do CCBB e quis comprar três livros e dois DVDs, mas não tinha dinheiro. Pensei em roubar, mas me lembrei que Jesus disse: "Dai a Cesar o que é de Cesar" e me dei conta de que sou sim um pouco produto da minha criação cristã. Aí deixei tudo lá e tentei acreditar que um dia haverá recompensa.

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