quinta-feira, 9 de junho de 2011

água mole em pedra dura

Quando eu tinha lá meus 15, 16 anos queria cantar minhas canções iluminadas de sol e soltar os tigres e os leões nos quintais. Hoje, com 26, sou a pessoa da sala de jantar.
A solidão é antiga, mas os conflitos são novos: Como entrar em greve se eu gosto tanto da diretora da minha escola e da maioria dos meus alunos? Como interromper as aulas do terceiro ano se o ENEM é em outubro? Como deixar esfriar o conteúdo que eu me esforço tanto pra fazer eles entenderem?
Mas como não entrar em greve se o salário é de irremediáveis 681 reais? Como não se revoltar com a recomendação dissimulada de que nós não podemos reprovar? É impossivel não me questionar sobre a inutilidade dos computadores que o Sérgio Cabral mandou colocar nas salas de aula e que custaram milhões, enquanto pra mim é só prejuizo. Ter reuniões aos sábados, preencher diários online e no papel, criar planejamentos e projetos é sim o trabalho do professor, mas há que se ter uma recompensa.
Na minha escola, no entanto, ninguém vai entrar em greve. A sala dos professores é um muro das lamentações, mas todo mundo fica com o bumbum apertadinho só de pensar em ser descontado ou em se indispor com a diretora, inclusive eu.
Vivemos na era da covardia. Liguei para o meu pai e expliquei a situação. Ele disse: "Você não precisa se queimar, tem gente que pode fazer isso por você." Meu pai, que nunca perdoou o Gabeira por ter votado a favor da privatização da Vale, que não pode ver o Alexandre Garcia e o Jabor que enche a boca pra dizer que eles puxavam saco da Ditadura, ouvi isso dele. É duro.
Preciso confessar a vocês, não sei se tenho disponibilidade pra a essa altura da minha vida, já adulta pra dar murros em ponta de faca. Mas sei também que ser o tal bom cabrito que não berra, que aconselhou meu pai não é a melhor atitude.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, eu sei, mas como é difícil!

Um comentário:

  1. É duro admitir que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais, de quem tanto queremos nos diferenciar. Acho engraçado minha mãe ver telejornal e dizer que no Brasil as coisas são como são porque ninguém se revolta, ninguém vai para as ruas. Quando eu fiz paralisação de um dia no município, ouvi da boca dela para ter cuidado para não me prejudicar no trabalho. Pais e mães são assim mesmo. Podem ser idealistas e tudo, mas não querem que a gente sofra.

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