segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Caciques e índios.

É público e notório que historiador não ganha bem. O auge da nossa carreira é ser professor universitário e o salário atribuído a essa nobre ocupação é de seis mil reais. Ainda há todos os beneficios sensacionais da previdência integral, licenças premiuns e reajustes progressivos, mas com as reformas que estão ocorrendo acho difícil que a coisa continue assim.
Enquanto advogados e engenheiros ganham tranquilos cinco mil reais de salário inicial, nós nos estapeamos por muito menos do que isso. Em concursos pra professor secundarista estapeia-se por menos de um terço desse valor. Sobra espaço paras as vaidades.
Adoro o que eu escolhi pra fazer da vida e estou super engajada em estudar, mas fico passada a ferro quente das freias medievais quando vejo como esses pós doutores se sentem o supra sumo da humanidade.
Esses dias um, com quem eu sempre nutri uma boa relação virou a cara pra mim na porta da faculdade. Fez isso porque não aceitei trabalhar com ele. Tive vontade de ir atrás e perguntar quem ele pensa que é, mas preferi evitar a fadiga.
Hoje soube de uma louca (bem inteligente, é verdade) que disse por aí que eu e uma outra ex-aluna da raia miúda brigamos por causa de não sei quem. Mulher que tem apartamento na França, é amiga pessoal de ex-presidentes e cantoras famosas falando da minha vida? Nem sequer encontro mais a menina com quem supostamente briguei e a detentora da fofoca então, não vejo há mais de um ano. Meu nome em boca de Matildes acadêmicas, queimação total.
É tanta idiossincrasia que essa gente tem, tanta falta de tato com a vida real que dá vontade de gritar. Mas dependo deles. Então entendi que tenho que ser humilde e ficar bem quietinha sempre. Tô vendo que o cara tá falando merda? Deixo. Tô sabendo de um fato desmoralizador sobre ele? Rio sozinha. Gosta dele a ponto de querer abraçá-lo? Não demonstro, quase todos são avessos a carinho.
Quando a gente vive no meio dos caciques, o negócio é vestir a carapuça de índio e deixar eles se degladearem.
Porque no fundo a verdade é que dos assuntos que eles são especialistas, eu entendo pouquíssimo. E em alguns raros momentos eles deixam transparecer o amor ao próximo, aí a coisa toda fica um pouco menos dura.

3 comentários:

  1. Outro dia ouvi uma senhora historiadora dizer: "Esses jovens se formam e se intitulam historiadores. Precisam comer muito arroz e feijão pra dizerem isso." Fiquei pensando, quem se forma em História vai dizer que é o que? Bacharel em História? Vai saber o que passa na cabeça desse povo da "elite intelectual"...

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  2. Olá Cecília, tudo bem?!
    É a primeira vez que tenho coragem de postar aqui em seu blog, muito embora já venho lendo há algumas semanas, senão, 2 meses...rs
    Queria de verdade, parabenizá-la e dizer, que você é sim, uma pessoa brilhante, e não deveria se desmerecer, embora seja um desabafo de sua parte. Mas vim aqui para dizer apenas que me sinto altamente representada, pois faço história da arte, ainda como graduanda, na mesma instituição que você, porém lá no LOST(diga-se ilha do Fundão). É exatamente desta mesma forma que as coisas acontecem...os professores se acham deuses, tem egos elevadíssimos, ética quase nula, e raramente, algum vestígio de didática, com exceção a um ou outro que fazem toda minha graduação valer a pena e agradecer a Deus pela oportunidade...rs.
    E mais uma sugestão...sei que você certamente deve ter seus motivos por não deixá-lo com o link de partilhar do face, mas realmente senti tanto orgulho e me identifiquei tanto que acho que ele deveria ser aberto para redes sociais, mas aí seriam outros quinhentos, né?!
    Parabéns pelo blog,
    Mariana Malaquias, 21 anos e futura sofredora, ops, historiadora da arte.

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  3. A diplomacia é necessidade, a resistência é fundamental. Não dá pra abaixar a cabeça, não. Não pode, xará. O que pode é a gente encarar essas agruras enquanto não chegamos lá, e azer um esforço pra, quando chegarmos lá (seja onde for), não estarmos corroídas o suficiente pra azemos comomfizeram com a gente. Mas baixar a cabeça, não. Agüentar orientador que te xinga, que não te lê, que sobrevive de vaidade vã, que viva - sem a gente. Por favor.

    Existem brigas de clã antigas demais pra que a gente as perdure. Acho que vocês da história sofrem mais com isso do que a gente, com conflito mais explicito, e tal.

    Agora, não é verdade que você entende pouco do assunto do qual são especialistas. O conteúdo acadêmico é um; a especialidade é uma briga de ego que, sinceramente, eu prefiro saber o básico pra sobreviver a isso e fim de papo. Malices da academia... Temo focar nesse rumo, sério mesmo.

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