quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Derrubar as prateleiras, as estátuas e as estantes."

Como explicar aos meus alunos tão jovens que a Veja é uma revista reacionária?
Como explicar Esquerda e Direita?
Esquerda e Direita não existem mais, mas nunca vão deixar de existir.
Quando eu tinha 16 anos, em 2001, antes de o PT ser governo, ainda existia polarização partidária. O que vemos depois é uma reconstrução dos agrupamentos políticos nacionais. Ao meu ver, isso não é ruim, mas envolve desapego.
Eu, Cecília, simpatizante eterna no socialismo cubano, não consigo votar no PFL. Não consigo sequer chamar o PFL de Democratas. Não consigo esquecer que eles vieram da ARENA, mesmo já tendo entendido que nem na Ditadura existiam somente bons e maus.
Sempre existem bons e maus, mas as vezes se pode escolher entre ser vítima ou algoz.
Tenho dificuldade em explicar aos meus alunos como pode a União Soviética não ter dado certo. Me amedontra a idéia de o Socialismo estar, para eles, sempre atrelado a governos autoritários.
Me sinto como o Daniel Brül em "Adeus Lenin", construindo um Socialismo que não existiu para preservar o sonho da mãe idealista.
Tenho lembrado de "Edukators". Ecoa na minha cabeça o diálogo em que o senhor sequestrado explica aos três jovens inconsequentes que ele também foi como eles, mas que conforme foi construindo um patrimônio e uma família, foi se modificando e quando viu, já votava em partidos de Centro. Me lembro do final do filme, das coisas que nunca mudam.
Gostaria de poder passar esses e tantos outros filmes para os meus alunos, mas não dá tempo. Nenhum filme dura apenas 50 minutos. E nas turmas em que eu tenho mais tempo, tenho absoluta certeza de que daria pérolas aos porcos.
Um dia levei "O diabo veste Prada" para falar sobre consumo. Coloquei a TV no último volume, tirei as legendas e deixei a dublagem em português. Mesmo assim, se cinco dos cerca de 80 estudantes das minhas duas turmas de sétima série, entenderam alguma coisa do que estava acontecendo ali, foi muito.
Quando levei "A vida é bela", no entanto, após terminar o conteúdo de Segunda Guerra Mundial, consegui que eles (dessa vez a oitava série) entendessem e até gostassem.
Tenho pensado muito sobre a Revolução...Sei que ela acontece todos os dias, nas pequenas estruturas e nos detalhes, mas as vezes tenho vontade de tacar fogo em tudo pra ver se a coisa anda.

5 comentários:

  1. Em 2008, eu passei 20 dias em Cuba. Eu e o marido (que ainda não era marido) cruzamos a ilha toda de carro. Eu chorei porque não queria vir embora.

    Existe pobreza? Existe. Mas existe uma calma, um ritmo completamente diferente do capitalismo "é tarde! é tarde". Em Havana, as crianças brincavam na rua à noite - coisa que eu fazia quando criança em cidade do interior. As crianças jogavam xadrez nas calçadas e tinha campeonato adulto de dominó no meio da praça em Santiago. Os velhinhos tinham um personal do governo pra fazer ginástica de manhã. A cozinheira de uma das casas que eu fiquei sabia o que era Art Noveau. O mendigo sabia o nome do presidente do Brasil. Aqui no Brasil, a gente tem poder de compra e não tem conhecimento, não tem cultura. Gente com ensino superior completo não tem conhecimento geral das coisas.

    Um dos episódios da biografia do Che que mais me mostraram o porquê do socialismo não ter funcionado: a mulher do Che ganha um par de sapatos do embaixador francês (ou coisa que o valha). E Che faz ela devolver, "porque se o cubano não pode ter, você também não pode". Fôssemos todos assim, esse seria um lugar melhor.

    E desculpaí pelo comentário gigantesco.

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  2. é amiga, esse é o verdadeiro desafio do verdadeiro professor! tentar sem desistir, sem enfraquecer... desanimar com os 90% que não estão nem aí, mas se alegrar com os 10% que se importam... a centralização nas escolas ainda é muito grande, vc ouve falar de multidisciplinaridade e tudo é mt bonito, mas ñ tem tempo para pôr em prática suas idéias.. que são sempre bem aceitas, mas que ninguem ajuda a botar pra frente...
    mas não desistir é o lema... a revolução está nas esferas de poder, e talvez através de pequenas correntes consigamos fazer grandes correntes e por aí vai...
    bjooos

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  3. É, eu acho q a revolução está com a gente mesmo...Comece pelo voto, comece com uma reação silenciosa!!

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  4. Cecília, vc é tão linda! e ainda por cima escreve tão bonito!!!

    saudades de cecília...

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