segunda-feira, 24 de maio de 2010

No elevador.

Tenho mania de falar sozinha no elevador. Me olho no espelho e imagino diálogos amorosos definitivos, beijos catárticos, sim, não e talvez. No elevador é bom ficar sozinho. Dá pra pensar alto, arrumar a calcinha, dançar a última música antes da chegada ao destino final ou só aproveitar o silêncio. Há algum tempo foram colocadas câmeras nos elevadores de edifícios comerciais. Me sinto tolida por elas, mas compreendo que são necessárias. Meu refúgio exclusivo se tornou o elevador do meu prédio. Moro num edifício antigo, que tem oito andares e dois apartamentos por andar. O elevador social só funciona a noite e como no de serviço não há espelho, a brincadeira lá tem pouca graça. Já cansei de chorar no elevador. Já cansei de rir no elevador. O espelho do elevador é o meu Freud particular, antigo, com cada manchinha previsível, sou eu do outro lado. Hoje de manhã percebi que não estava mais sozinha. Agora no meu elevador também tem câmera. Terão fim os meus acertos de contas ou eu deixarei meus porteiros acharem que sou maluca? Consertar o sutian não dá. E se um dia, porventura, eu estiver com o homem da minha vida? E se for o homem de terno que eu sempre fantasiei? E se for só um homem qualquer pra quem eu sinta necessidade de tirar a roupa? Os devaneios do elevador parado que resolvem conflitos de anos não têm mais lugar.
Essa vida moderna é terrível.

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