sábado, 30 de janeiro de 2010

Cama de tatame.

Quarto claro, banheiro com azulejos antigos, limpos, sem cheiro. Chão de ladrilhos. Cama dura. Eu te amo nesse final de tarde quente de verão cansado, de verão de dores acumuladas e de desejos soltos. Não te quero pra mim, não me interessam o seguro de vida, a madrugada e o portão de casa. Quero de você a rua e a cama. São beijos ansiosos, mãos no rosto, dentes e cabelo preso. Você é meu. Eu sou sua.
Tem força, sussuros, pedidos, blefes. O quarto, a cama, o jogo. A noite começa, é você quem manda.
Não durmo mais.

3 comentários:

  1. Ela sabe quem manda, mas finge que não sabe. Se nega, questiona autoridade, provoca. Ela quer o Estado Maior e o AI-5, ela quer a Ditadura de 4 paredes numa cela de decoração antiga numa rua qualquer da Lapa. Ela quer ser punida. Ela ouve os avisos. E houve avisos, mas ela se nega a aceitar. Na verdade ela aceita, e finge que não aceita. Provoca só para se certificar que não manda. Obedece as ordens meio sem querer querendo, meio que fazendo uma falsa revolução, fingindo que quer ganhar autoridade, como um riponga da PUC fugindo para o mato com o cartão de crédito do pai. Ela sofre, e não sofre. Sofrer é bom, sofrer é legal. Seu castigo vem, e seu prêmio também. Ajoelhada, se entrega ao castigo máximo do carrasco. Traz para dentro de si tudo que provocou. Rosto vermelho, cabelo desgrenhado, quem se importa? Logo logo o interrogatório recomeça. Presa pelos cabelos e pela alma, não esboça mais reação. Sente dentro dela que a revolução só existe quando a desejamos. No hay revolución hoy. Solo hay a mais gostosa das torturas. Treme por dentro. Deixa que o carrasco perceba que ela tremeu por dentro. Tremendo por dentro, ela assume que o AI-5 está certo, que Fulgencio Batista está certo, que o 3º Reich está certo. Não adianta protestar, o Estado sempre vence. E ela gosta.

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  2. Nossa! Super arrepiada com esse anônimo... delícia!

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