sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A vitória da vida simples.

Eu estudei em escola particular a vida toda. Meu pai e minha mãe são dentistas, conquistaram tudo o que têm aos pouquinhos e venceram. O apartamento próprio, o carro, a casa na praia e as viagens de avião no verão. Eu e minha irmã fizemos natação no Tijuca Tênis Clube, curso de inglês desde a quinta série, aulas de redação e pré vestibular. Fui criada na base do todinho. Passei pra UFRJ na primeira tentativa. Me vi diante de um mundo novo onde algumas pessoas iam e voltavam da França como quem vai e volta de Madureira e outras mal sabiam onde era Botafogo. Fui me encaixando nos moldes da academia, frequentando laboratórios, estagiando com pesquisa e tomando café da tarde na Manon da rua do Ouvidor. Tudo o que eu queria pra mim era que aquilo continuasse. Eu passaria no mestrado, escreveria artigos, apresentaria trabalhos em seminários internacionais e nunca precisaria pegar trem lotado pro suburbio em dia de calor.
Mas eu me tornei professora. A vida no ar condicionado acabou na página 10 pra mim. Por vezes essa nova realidade é doce, mas é lógico que em alguns momentos assusta. Poeira, duas horas pra ir e voltar, salário baixo, alunos bagunceiros, pérolas aos porcos...tudo isso é muito duro. No entanto hoje, na inauguração do auditório da escola ,me dei conta de que essas vaidades da vida universitária não trazem felicidade.
Estava quente, mas quem se importava? A diretora da escola estava toda alegre, enfeitando com flores o pátio. Os professores aposentados foram, teve lanche, os alunos participaram comportadinhos e na homenagem ao ex-diretor teve uma cena do filme "Ao mestre com carinho". Tudo cafona, tudo simples e puro. Lágrimas, risoles de frango, nenhum refrigerante diet. Na minha escola existe gente que é feliz sem o prosseco dos lançamentos de livro.
É o mesmo mundo? A qual dessas realidades eu pertenço?
Ah, o Brasil...

4 comentários:

  1. Lindo esse post, Ci.
    Eu escrevi um monte de coisas, mas fiquei com vergonha de postar...

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  2. Ah, eu adoro essa cultura da ralé! Me sinto mais a vontade!

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  3. Eu me pergunto isso todos os dias.

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  4. nossa, sei exatamente como é isso, e posso afirmar, hoje eu sou muito mais feliz... (chorei rs)

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