sábado, 1 de agosto de 2009

A separação e o batom vermelho

Hoje é sábado. São dez pra onze da noite. Eu estou de saia preta e blusa de botãozinho. Passei um batom vermelhaço e coloquei o cd do Echo and the Bunnyman. Vou sair. Não sei se vou de taxi. Taxi é caro, mas a essa hora não deve ter mais ônibus pra onde eu vou.
Eu moro num prédio antigo, desses que a garagem antigamente era uma área de lazer. Tinham dois porteiros que eram irmãos aqui, o Ivanildo e o Zé Carlos. Eles são da Paraíba, são lindos, tem os olhos verdes enormes e são muito simpáticos. O Ivanildo é o mais velho; Uma vez ele ganhou no Jogo do Bicho e trouxe a família toda pro Rio. Há uns três anos ele brigou com a síndica e foi mandado embora. Eu fiquei triste. Eu gosto muito dele. Ficou só o Zé Carlos. O Zé Carlos é O CARA. Deve ter uns 28 anos, é bem quieto, sorridente, todas as empregadas da rua são apaixonadas por ele, mas ele gostava mesmo era da que trabalha no sexto andar daqui e olha que ela nem é bonita e é casada. Eu criei uma afeição muito grande pelo Zé Carlos. Ele sempre ria porque eu dizia "Bom dia" quando estava de noite e "Boa noite" quando eu chegava de manhã das noitadas (ah, meus tempos...). Uma vez, num desses impulsos bobos, eu cheguei a dizer a ele que odiava os homens. Eu gosto tanto do Zé Carlos que chego a ficar feliz quando vejo que é ele que está na portaria. Ele tirou férias em junho. Eu senti falta dele. Fiquei tão contente quando ele voltou que até falei isso pra ele. (Não, ele não pensava que eu dava em cima dele, até porque eu não dava). Ele é o único porteiro que eu chamo pelo nome sempre. Enfim, ele faz parte mesmo da minha vida. Pois hoje de manhã a minha mãe não veio me dizer que ele também foi mandado embora? Parece que ele pediu a síndica pra ser demitido porque precisava do dinheiro. E ela, que como eu, deve ser apaixonada por ele (sem segundas intenções), consentiu.
Nossa, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim. Estou muito triste. Acho que até choro se eu me aprofundar muito nesse assunto.
Agora, por exemplo, eu vou sair e ele não vai estar lá. E amanhã quando eu voltar, ele também não vai estar lá. Muito triste isso.
A gente sofre por amor, sofre pelas amizades falidas, pelo dinheiro que falta, pelas viagens que não faz e ainda tem que perder o porteiro que mais amamos?
Não é certo.
Vou-me embora agora testar o poder de conquista do meu batom.
Au revoir.

2 comentários:

  1. Ahhh meus pais tbm jogam no bicho rsrs uma vez meu pai sonhou q Arnaldo tinha tirado duas cobras de dentro da minha casa ( e ele detesta cobra, isso só em sonho mesmo rs)meu pai resolveu apostar na cobra e ganhou hahahaha (coisa rara de acontecer), isso ñ é um hábito mto legal, mas desde q me entendo por gente eles jogam. B-jinhus Cecilinha

    < Clarinha >

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  2. Às vezes a gente se apega demais.
    Seja porteiro, supermercado, cachorro, professor, programa de televisão, condicionador de cabelo, batom vermelho, cigarro, música...

    Já esqueci a conclusão.

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