domingo, 27 de maio de 2012

Sonhos superfaturados

Li esse post no blog da Patricia, que é sobre a experiência dela, com seus vinte e muitos anos, no cursinho pré-vestibular. Em um determinado momento do texto ela diz que quando ouve o que os jovenzinhos falam sobre seus grandes objetivos de vida, tem vontade de dizer a eles que o mundo é um moinho, que vai triturar cada um dos sonhos deles.
É exatamente isso.
Decidi ser historiadora quando era bem novinha, lendo uma revistinha da Barbie na qual ela ia ao Egito pesquisar fósseis e descobria vários tesouros do Tutankamon. Passei cada um dos longos anos da escola esperando pela faculdade e enfrentando a minha mãe, que sempre me avisou que professor ganhava mal e que ela não iria me ajudar, etc. Fui aprovada no vestibular, foi aquela festa bonita, veio a faculdade, os amigos, estágios, mesas de bar, filmes e mais filmes, amores e descobertas. Os historiadores entendem o mundo, mas o mundo não é para os historiadores. Passada a formatura, vieram os trabalhos e agora o mestrado. É um mundo cor-de-rosa, como a baleia, daquela música do Sá e Guarabira. Sou o mestre Jonas e a minha baleia é o IFCS.
Acontece QUE existe a vida real. E na vida real eu sou professora de duas escolas. Na vida real eu quero dormir, olhar as paisagens e ter dinheiro. O que me sustenta é o meu trabalho, não é o mundo encantado da academia. Tem sido muito doloroso pra mim fazer o mestrado sem poder me dedicar como eu gostaria. Ando em pânico com os prazos e atribuições.
No entanto, se me perguntarem se eu me arrependo, respondo no ato que não. Acredito que cada pessoa tem a sua função no mundo e a minha é essa. Acho que não seria realizada se tivesse sido qualquer outra coisa e tenho muito orgulho do que sou.
Mas se eu vir um desses jovenzinhos sonhando com a História, vou ter vontade de dizer a ele que se o pai dele não tiver grana, cada um dos seus anseios de participar da trasnformação do mundo vão ser triturados. Ser professor é lindo, mas é muito duro. Ser historiador é ainda mais difícil.
Não temo a arrogância do meio acadêmico, o que me aflige é a inflexibilidade para com os que, como eu, não podem estar ali por inteiro.
Tenho percebido que, de forma inconsciente, condicionei o meu sucesso à vida na academia e não ao meu trabalho. Eu reproduzo a ideia de que é a pós-graduação que vai me trazer louros, mas construí uma identidade de trabalhadora e esse caminho não tem volta. O jeito é aguentar o tranco e me conformar de que não serei a melhor, mas farei o que é possível.
O preço que eu estou pagando por ter seguido os meus sonhos é muito alto. É o preço de pertencer à parte do mundo onde eu escolhi viver. Existem outras, mas por enquanto, mesmo com todas as tristezas e limitações, vou insistir nessa.

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