sábado, 14 de abril de 2012

Dando aula para as paredes.

Estou tendo sérias dificuldades para trabalhar como professora de duas escolas e fazer mestrado simultaneamente. São exercícios, testes, provas, simulados, textos e mais textos, tudo ao mesmo tempo. Não é fácil. Sinto muita inveja de quem, como diz aquela música do Pato Fu, é "sustentado pelo mundo", mas não esmoreço, sigo em frente sem pensar muito. Não tem outro jeito.
Hoje, no entanto, me questionei se não é a hora de desistir.
Durante toda a semana meus alunos da escola particular e do estado fizeram as primeiras provas bimestrais do ano. Na primeira sou professora de Sociologia e Filosofia e tenho apenas um tempo por semana de cada uma dessas disciplinas. Procuro construir reflexões com as turmas, a partir do conteúdo. Os alunos são poucos, viajados e cultos, mas muito alienados politicamente. Sinto que desenvolveram um carinho enorme por mim, me abraçam, beijam, elogiam e respeitam. Normalmente as discussões são proveitosas e eu saio de lá com a sensação de dever cumprido.
No estado é tudo completamente diferente. São crianças pobres, desinteressadas e cheias de dificuldades. A maior parte nunca viajou. Também me tratam com carinho, mas participam pouco das discussões. Nas turmas da noite então... tudo tem que ser simplificado ao extremo para se tornar palatável. Dureza.
Ao corrigir as provas de ambos os colégios, percebi, com tristeza, que nem lá nem cá, ninguém entendeu nada. Na escola particular, onde eu encho a prova de textos bons e questões interessantes, as respostas parecem conter de forma implicita a negação daqueles meninos e meninas a qualquer exercício novo de raciocínio. Não lêem os textos até o final e escrevem coisas sem sentido nas respostas.
No estado basta dizer que em uma questão de múltipla escolha que perguntava o que era o Brasil antes da chegada da Família Real e que deveria ter resposta correta a letra "a) colônia", foi a letra "d) ilha deserta" a mais assinalada. Com a turma da noite deixei que houvesse consulta ao caderno e nem assim alguns alunos conseguiam responder as questões mais fáceis.
Tenho a sensação de estar falando para as paredes. Me sinto inútil. Não posso dar notas baixíssimas em nenhum dos dois lugares, no primeiro porque os pais certamente reclamariam e eu seria mandada embora e no segundo porque o governo do estado do Rio de Janeiro (meu patrão) não permite, ameaçando inclusive diminuir a verba das escolas com pior rendimento bimestral.
Hoje, no almoço, contei isso tudo para o meu pai, que disse que deve haver uma parcela de culpa minha nisso daí. Segundo ele, quando o professor envolve o aluno na aula e torna a matéria interessante, esse tipo de situação se torna menos frequente. Talvez ele esteja certo. Tive professores ao longo da minha vida escolar que davam verdadeiros shows. Tenho consciência que não sou igual a eles, mas faço com carinho e dedicação um trabalho digno.
Noto que as disciplinas humanas instigam pouco os alunos a estudar. Eles sentem que podem enrolar com facilidade. Não sei se é culpa minha, mas nossa, que vontade de jogar tudo pro alto.

2 comentários:

  1. Querida, poderia fazer uma extensa lista de "culpados", e certamente seu nome ñ apareceria. Quero nem falar sobre isso agora... Depois, num barzinho, eu topo.
    Beijos, gata.

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  2. Nixon, sempre delicinha! kkkk


    Sério, te culpar não leva a nada.
    Ontem (Domingo) meu pai me disse que eu não passei na prova de direção pq eu não treinei o suficiente. Tive muita raiva dele, raiva dele talvez, ter razão.

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