domingo, 5 de fevereiro de 2012

As pessoas mais especiais do Brasil

Estive em São Paulo na semana passada para fazer entrevistas com perseguidos políticos do período da Ditadura que moram lá. Uma das entrevistadas nos disse que tem a sensação de que as pessoas mais especiais que existem estavam presas junto com ela. É fato, durante esse trabalho, que vai terminar agora em março, percebi que esses homens e mulheres cheios de ideologia e força são uma das coisas mais bonitas que o Brasil pode ostentar. É evidente que ainda existe gente desapegada e engajada em grandes causas, mas as circunstâncias, nós sabemos, são menos propícias. Vejo com indignação e tristeza o que está acontecendo em Pinheirinho, mas não posso parar minha vida para protestar. A TV Globo e o seu conservadorismo impiedoso me deixa cheia de vontade de gritar, mas o máximo que eu fiz foi me recusar a assistir essa edição do Big Brother em razão da falta de sinceridade com que o caso do abuso sexual ocorrido no programa foi tratado. Não vejo a Globo como um grande bloco de porcaria, acho que lá dentro existem pessoas merda e pessoas legais e a consequencia disso é uma programação bastante variada. Que eles foram beneficiados pela Ditadura todos sabemos, mas não vou deixar de assistir novela por causa disso.
Entrevistamos também uma mulher que esteve presa junto com a Dilma e ela nos contou que recentemente, no dia em que a Comissão da Verdade foi aprovada, todas as presas daquela cela se reencontraram. Me lembrei de Dilma Vana no dia de sua posse, andando sozinha rumo ao planalto e pensei na foto recentemente publicada em que ela olha valente para a frente e seus torturadores escondem os rostos com as mãos. Me emocionei. Tenho orgulho de ter votado nela.
Tivemos também a oportunidade de conversar com Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, que aos 86 anos, está mais lúcida do que a minha avó de 78 foi a vida inteira. Saí de lá me perguntando o que determina que essa mulher tenha sido e se mantenha tão consciente e que a minha avó nunca tenha nem querido sair da caverna. É recorrente na minha imaginação a imagem da sala de jantar, com uma mesa enorme e várias pessoas sentadas, penteadas e bem vestidas, ocupadas em nascer e morrer. Entre elas está minha avó. Entre elas estou eu.

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