sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Diluvio em tempos de seca.

Eu tinha uma noite pra escrever. Não me restavam palavras. Morri de sono, chorei, liguei pra um, liguei pra outro e no final decidi falar com o meu pai. Meu pai não entende, vem sempre com aquelas lições de persistência que não funcionam. Eu não tinha o que escrever, não conseguia, era verdade. Quando disse isso a ele, ouvi que nesse momento da minha vida são as coisas que me levam. São tempos de calmaria. Nesses tempos é muito difícil lutar. Meu pai me mandou ir a luta. Eu fui. Pode ser que perca ainda mais essa batalha, que não alcance meus objetivos no tempo que me parece conveniente, mas dormirei tranquila. Eu lutei.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A moça e o caderno.

Fui a Argentina em fevereiro de 2007. Lá eu comprei um caderno muito bonito. A capa dele é aquele quadro do Berni que tem uma moça lora com os olhos pintados, nua, só de meia calça sentada na cama e afastando com as mãos a cortina rosa. Dá pra ver a os edifícios da cidade do lado de fora, mas a mulher parece tão concentrada em si mesma que eu e talvez todo mundo, se sinta compelido a se deitar com ela.
Custou 14 pesos o meu caderno na lojinha do MALBA (Museu de Artes Latino Americano de Buenos Aires) e eu gostei tanto dele que nunca tinha tido coragem de usar. Por dentro as folhas são brancas, sem linhas, livres, permissivas e assustadoras. Nunca me senti capaz de adentrar aquele mundo. Não estava preparada.
Foi então que na última segunda feira a noite eu senti muita vontade de escrever, mas estava sem internet. Decidi usar um dos muitos caderninhos que guardo na minha mesinha de cabeceira. Cheguei a pegar um que ganhei de presente da minha irmã quando ela voltou de Portugal, mas não era a hora dele. Fui na prateleira de baixo e tirei o meu Berni da sacola plástica em que ele estava. Peguei minha caneta preta favorita e fui. Contei minhas angustias sem rasuras. Escrever no papel é muito diferente. É mais humano. A possibilidade de vacilar é maior. Se a letra sai feia temos que aceitar. Se há excesso de pronomes uso os parenteses para me desculpar, não posso desperdiçar meu caderno. Não posso.
E agora que me senti preparada para o mundo do meu caderno novo, posso tudo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Recompensa.

Lanche de uma quarta feira chuvosa no fim da tarde
Nada a esperar
Projeto que eu não tenho
Pãezinhos, bolinhos, suco e mel
Minhas amigas aqui
os homens
todos os homens
lá.
Sou muito feliz.

sábado, 24 de outubro de 2009

O demônio da fé.

Minhas tentativas de seduzir os homens que eu quero pouco têm sido completamente frustradas. Talvez o fato de eu os querer pouco signifique que eles não são mesmo pra mim, mas a carência é tanta que volta e meia eu vou lá dar uma cutucada pra ver se daquele mato ainda sai cachorro. Me certifico que não e vou embora com o rabo entre as pernas. Foi assim hoje a tarde. Não quero mais as amizades que não são inteiras. Ao contrário do que acontece com os amores, consigo me afastar com êxito dos maus amigos. Transformo essas pessoas em conhecidos por quem eu tenho carinho e é claro que isso dói, mas a vida já é dura demais pra gente ter que ficar aguentando quem não trata a gente da forma devida.
Hoje a tarde eu sobrevivi ao ciúme que sinto da vida que levava e que não me pertence mais, relevei a busca incessante da minha supervisora neurótica por algum erro absolutamente sem importância para o todo do trabalho e mandei uma mensagem pro rapaz que está longe de ser o homem da minha vida, mas que é garantia de bom papo e beijos quentes. Ele me despistou. Fui na padaria e comprei um bolinho natural pra aplacar a tristeza. Pro outro não tem volta, pra frente não existe. Fui ver a peça da Clarice Lispector. Boa, na medida. Vi um menino por quem eu era apaixonada na faculdade. Nos olhamos e não nos falamos.
Meu pote até aqui de mágoa já transbordou faz tempo.
mas no pastel com os amigos de depois
no irmão da amiga
e na amiga da irmã
a minha sexta feira foi de paixão.
Vou dormir.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Niilismo de mocinha.

Comecei um trabalho novo no mesmo lugar recentemente. Agora não vejo mais a baía de Guanabara azul e sem ondas. Vejo a Lapa do sexto andar. É gente indo e vindo, a lateral da escola de música da UFRJ, a Escola de Desenho Industrial da UERJ e o Passeio Público. Volta e meia tem um rapaz negro de dread que pluga uma gritarra não sei onde e fica cantando o dia inteiro. É bom o repertório dele, tem Legião, Cidade Negra e Cazuza. Antes eu trabalhava com fotografias, agora são textos. Peguei hoje a Coleção Nara Leão. Eram letras e mais letras escritas a mão por ela. Ninguém mais escreve músicas inteiras a caneta, só adolescentes, eu acho. Me lembro que eu e minha amiga Patricia queríamos a letra de "Smels like teen spirit" e não encontrávamos em lugar nenhum. Aí veio a internet e os limites se perderam. Queria ser que nem charmosa e interessante como a Nara. Queria ter a importância dela. Penso que é ela o grande sujeito da Revolução da Música Brasileira. Nessa onda que a História está de atribuir a devida importância aos individuos, posso dizer que é da Nara a minha trajetória artística favorita.
Tô afinzaça de um carinha aí, acho que ele corresponde, mas não há sintonia. Não consigo dizer a ele o quanto me sinto atraída. Tenho vontade de dizer: "Oi, quero dar pra você", mas tenho que ficar nessa ladainha ridícula de "E aí, como vai a vida?". Uma merda isso. A Nara não devia ser assim. Com toda a delicadeza dela os homens deviam brotar no chão. Ai ai ai, meu Deus, cadê as minahs estratégias de sedução?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O quereres.

Esse beijo que eu guardo na garganta e que insiste em sair murcha e ascende a cada segundo. Foi num plim plim que eu deixei de te amar. E quando passo perto da sua casa ainda te amo. Como ameixas e nozes a tarde pra não te querer de novo. Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz e de nada adiantou. Não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim. Terminou.

Genealogia.

Tenho cinco minutos, sou mulher, bebo, como, gosto de pimenta e não adoço suco de laranja. Não me atraio por homens fardados e vejo minhas hierarquias internas cairem por terra todos os dias. Vi uma mulher sem perna tentar seduzir o homem que era pra ser meu, homem esse que eu entendo de longe e que amo de longe, mas isso não é uma questão anymore. Era linda a moça, mas não tinha uma das pernas. Joguei todo o meu ciúme na perna ausente e me alegrei com a Macy Gray que está tocanco agora no rádio. Fiz um cd pra ele. Tinha essa música, mas ele não ouviu. Quanta coisa ele não sabe, quanta coisa ele não quis saber...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Deus não dá asas a cobra.

Segunda feira de manhã no trabalho ela fez uma reunião de emergência. Tinha passado o domingo inteiro conferindo as atividades da semana e encontrou dois problemas pequenos, mas que devem ser investigados. A tarefa já foi terminada, mas ela não admite deixar qualquer furo. Por estar cansada de associar sequências numéricas infinitas, pediu ajuda ao marido. Eram folhas e mais folhas de anotações dela e dele. Estava de cabelo em pé e rouca.
Seu salário não compra um buldogue francês.
Alguém manda ela ser feliz?

Alforria.

Se eu fosse uma mulher poderosa
e se eu soubesse ficar quieta
eu diria o "Volta pra mim" que tanto venho ensaiando
e mandava o resto pro Inferno.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O mundo só é grande pra quem esquece.

Enquanto isso durante um intervalo nas palestras de um Seminário sobre a História do Individuo:
- Oi, você é aqui do Rio?
- Não, sou de Porto Alegre.
- Humm...Qual o seu nome?
- Igor?
- Hummmm! Você veio ao Rock'n Rio?
- Vim no show do Guns, por que?
- Porque eu te conheci lá.
- É?
- É. Foi no meio do show do Oasis. Eu e uma amiga [a gente] tava tentando passar e não conseguia. Aí você e um amigo seu também tavam tentando e ajudaram a gente.
- Nossa! E você lembra disso?
- Não, é que depois a gente ficou conversando...
- Ficou?
- Ficamos. Você até me ligou de Porto Alegre...
- Bah, que memória a tua!
- Pois é!
- E aí, você fez Historia?
- Fiz sim. Faço Doutorado na Unicamp. Você fez História também?
- Fiz sim, fiz aqui na UFRJ mesmo. Vou tentar o o mestrado esse ano.
- Legal! Estuda o que?
- Estudo Tropicalismo. Na verdade eu quero estudar as referências populares que o Tropicalismo usa pra discutir o interesse que existe nisso, a colaboração desse movimento para a flexibilização da idéia de cultura popular e erudita no Brasil e tal...
- Hum...Legal.
- E você estuda o que?
- Estudo escravidão, mais especificamente eu análiso os escravos de uma fazenda algodoeira do Sul do Rio Grande na segunda metade do século XIX.
- Hummmmmm! Legal! Você tá livre agora?
- Tô..
- Quer tomar um café?
- Pode ser... Aqui mesmo?
- Não, lá fora. Tem uma confeitaria boa aqui perto.
- Vamo então.
- Vamo.
- Mas aí...você gostou do show do Guns?
- Pô, pra caralho!
...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Distraídos venceremos.

" O que óbviamente não presta sempre me interessou."
Clarice Lispector se tornou o ídolo das mulheres que não tem nada a dizer. Confesso que gosto muito das frases, dos contos e dos livros dela, mas me irrito com algumas citações da autora jogadas ao vento no Orkut. No entanto a afirmação acima, postada por uma amiga antiga que tem muito pouco a dizer, serviu tão certinho para o meu momento de ode ao óssio que não pude evitar falar sobre ela.
Nesse momento da minha vida TUDO é mais interessante do que estudar. Eu durmo, ouço música, procuro um cachorro pra chamar de meu, me meto a escrever sobre os restaurantes que frequento e até mando e-mail para o colunista pseudo-bonzinho e quase chato que escreve sobre bares no Jornal do Brasil. Mas estudar que é bom nada.
A seleção para o programa de pós graduação que eu não quero pra mim, mas que é o único pláusivel nesse momento de vastas emoções, pensamentos imperfeitos e dias cansativos no trabalho, começa daqui a menos de um mês e isso não me diz nada. Quero tentar, mas não tenho forças. E não há justificativa. Não estou sofrendo, não tenho traumas, tenho tema e uma vontade enorme de fazer o mestrado. Arrisco dizer que a essa altura da vida esse é o meu objetivo maior. Tenho pressa sim, não vim ao mundo a passeio, mas estou com preguiça. E quer saber? Não me sinto culpada.

sábado, 17 de outubro de 2009

De uma Vila Isabel verdadeira

Dos sete aos dez anos eu estudei numa escola de Vila Isabel. O ônibus que me trazia pra casa dava a volta pelo bairro todos os dias a tarde. A última menina a ser deixada em casa era a Vanessa, que morava no Méier. Eu adorava quando o motorista aceitava deixar o pessoal da Tijuca depois dela, só pra ir até lá.
O tal homem que me fez perder o sono recentemente costuma dizer que sonha em morar em Vila Isabel, mas mora no Flamengo. O româmtismo do suburbio quase metropolitano presente ali o seduz, mas não o pertence. Só Freud pode resolver.
Fui a uma vidente na rua Torres Homem há uns três anos. Da rua do lado, um amigo meu se mudou, foi morar na Barra. Comprei minha saia jeans mais versatil na Cantão do Shoping Iguatemi.
Vila Isabel pra mim é um lugar que se segurou no tempo que já foi. São as ruazinhas doces e o comércio simples, as calçadas cheias, a Tijuca aqui e o Grajaú ali. Não tem tiro que diminua a pompa do nome de princesa. Não tem helicóptero que amargue a 28 de setembro.
Sinto muito por esse sábado cinza. Falta samba. Falta escola.
E eu nunca mais andei por lá.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O céu de Suely.

Quero romance. Ofereço sexo selvagem, comidinhas gostosas e um amplo horizonte de novas sensações. Sou alta, voluptosa, tenho a pele macia e a parte mais bonita do meu corpo são as sardas dos meus ombros. Raramente não pinto os lábios e tenho uma mecha branca bastante charmosa em meio aos cabelos castanhos lascivos. Sou inteligente e tenho olhos de boa moça. Mordo.
Os interessados devem mandar e-mail para cecitah@ig.com.br respondendo qual é a passagem artística (música, filme, escultura, atletismo...) que melhor expressa a vontade de amar.
Garanto momentos inesquecíveis.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Resignação.

Nada dói mais do que o amor. Não tem problema no trabalho que seja mais difícil. Me sinto aliviada quando me dou conta disso porque as minhas angustias dessa semana nada têm a ver com os homens. Não acredito na inteligência pura, nas demonstrações de erudição e perspicácia nos bares e esquina da vida. Preciso empregar o que há de sagaz em mim. Isso é o que diferencia os espertos do resto da humanidade e não sei de que lado eu estou.
Já cansei de ver pessoas que começaram a vida depois de mim me passarem a frente e conheço dúzias de incompetentes que são poderosíssimos. Isso não me incomoda. Preciso dar um jeito de fazer com que a minha voz faça diferença. Demora, eu sei, mas é por aí.
Por conta da peça que eu assisti no sábado ("Nu de mim mesmo" da Cia autônoma de teatro) tenho pensado sobre as coisas que eu mudaria no passado. As vezes acho que se eu tivesse conhecido ele agora, e não há 4 longos anos, nós poderíamos ter dado certo. Mas aí eu não estaria onde estou hoje. E eu gosto de onde estou hoje. Gosto do que sou hoje.
Aprender a silenciar e agradecer é o que falta pra mim.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sem talento.

Eu sou uma mentira.
Não entendo porra nenhuma de amor, História, livros e documentos.
Não mando em ninguém e invirto situações todos os dias pra poder acreditar no meu potencial de conquista.
Sou um quinto do que a minha autopropaganda promete.
Nunca tirei dez e desisti de aprender francês.
Meus sacrificios são relativos.
Não nasci pra ser star.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Brasil é o país do futuro.

Ontem quando eu saí de uma peça no CCBB vi o final do show do Paulinho da Viola. Como é bonito ver "Um rio que passou em minha vida" ao vivo! Todo mundo começa a dançar, cantar e sorrir. Não sei se é possível não se contagiar com aquele espetáculo. Não foi a primeira vez que eu vi um show do Paulinho da Viola, mas nessa música a emoção foi inédita. Fiquei pensando no Brasil, no Rio de Janeiro e na Portela e me senti uma ufanista cheia de causa e cafonice. Me sinto assim também diante dos comerciais da Petrobrás que passam antes dos filmes no Odeon. Tenho vergonha do nacionalismo desmedido, mas não posso negar, compactuo com ele.
No dia da escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpiadas de 2016, fiquei rindo sozinha na rua de tão feliz. Quando vejo o Lula me emociono, gosto demais dessa nossa ausência de austeridade. As nossas poucas glórias nos fizeram permissivos e talvez desiludidos. Tem um lado bom nisso. A Argentina, que é uma eterna casa de avó, com tudo de mais delicioso que isso inclui, me parece ainda acreditar na Revolução (e nos mullets), assim como a mãe de uma grande amiga minha que hoje num almoço divertidíssimo no Árabe da Lagoa, me disse que o Socialismo está só começando. Não tenho argumentos. É uma questão de fé.
Estamos longe do fim do homem cordial, mas mastigamos cada pedacinho que nos interessa do que é dos outros para sermos fortes. Não ignoro a miséria, a fome e o baixo salário dos professores, mas cansei dessa retórica da perda. Quero tudo pra cima.

sábado, 10 de outubro de 2009

Reclamações.

A falta de autonomia no trabalho, o ciúme que eu venho sentindo de uma grande amiga com um grande amigo, a conversa pouco elucidativa que eu tive ontem com um homem por quem eu não sou apaixonada, mas que é o único que habita o meu horizonte de expectativas nesse momento e que em plena sexta feira me perguntou se eu não queria sair com ele durante a semana, o Caetano saindo com a amiga do amigo e a ausência de um traje adequado para o casameno vespertino de hoje me tiraram o sono.
Conectei a Rádio Cidade online e está tocando aquela música póstuma do Nirvanna, "Make you happy". Fico feliz. Me sinto estagnada. Não estou com a mínima vontade de ler nenhum autor a essa altura do campeonato e as provas dos possíveis mestrados que eu quero tentar são daqui há um mês. Tenho vontade de jogar isso pro alto. Estou trabalhando num lugar novo, com pessoas diferentes, cumprindo atividades com as quais tive que adquirir uma intimidade relâmpago e que têm prazos rígidos para serem terminadas. Não posso ser um desses cabritos que berram o tempo inteiro. Me sinto sufocada e tolida. Tenho tomado cápsulas de feijão branco, chá branco e um litro de água no início do dia pra tentar emagrecer, mas não me libertei do brownie da padaria mais próxima. Saí com o cara mais bonito do mundo na quarta feira e fiquei incomodada com o fato de ele me achar certinha demais. No entanto acho que é isso mesmo, não fumo, tenho evitado até os refrigerantes, quero a sorte de um amor tranquilo e minhas experiências sexuais só vão até a página dois. Quero mesmo uma dessas relações de mulherzinha, com cinema, jantar e cama. Meus valores burgueses estão entranhados. Me importo com dinheiro sim, não escondo. Me incomodo profundamente com essa chuva torrencial interminável dos últimos dias.
Não sei se fico ou se vou, nunca sei.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A ressaca da paixão.

Estive pensando sobre o "cara estranho" e o "cara valente" do Marcelo Camelo serem a mesma pessoa. Suponho ainda que seja esse homem um dos "bravos sãos e salvos de sofrer" a que se refere "O vencedor". Quem tem medo de ficar sozinho outra vez em "Santa chuva" também é ele. É ele que está do lado de dentro. É por ele que ela não quer viver as coisas. Eu não quis.
Estou deixando o moço bater, cansei da fuga. Quero paz, me exibo pra solidão e devagar me dedico cada vez mais. Não sou muito de ganhar, quero dançar com outro par pra variar e hei de encontrar um encantador, um novo ou velho amor.
Me identifico muito com a forma que o Camelo fala da covardia nas letras dele. "Acho que não vai dar, tô cansado demais..." é uma frase recorrente na minha cabeça desde o ano passado.
Ontem vi o filme novo do Tarantino. É realmente uma história de personagens bastardos e inglórios construídos de forma meticulosa e envolvente. Estou com a Shoshanna Dreyfus latejando aqui. Penso no strudel com creme que ela dividiu com o homem que ordenou a morte da sua família inteira e no olhar de misericórdia após o tiro no Daniel Brühl, que denuncia o quanto os dois eram diferentes. Me dói o letreiro do cinema, o negro amante e os olhos azuis arregalados da mocinha.
É um desacato o Tarantino, um desacato.

Na bagunça do teu coração.

Com isso de trabalhar o dia inteiro, a hora do almoço ganha toda uma importância diferenciada. É o momento das novidades. Hoje, procurando um restaurante com uma amiga, me senti cheia de poderes por ter tantas opções de escolha. O Centro do Rio meio dia é o mundo. Optei por comida árabe com hot filadelfia e gengibre. Tenho a sensação de ser tão dona de mim nesse momento do dia que até me estimula pensar em amanhã.
São camelôs, homens de terno, doces baratos, ingressos pro cinema de mais tarde e controles remotos universais. Preciso de um que desligue o botão da esperança enganada que eu tenho no outro e que ative o comando "sensualidade" do menu principal.
Quero um guia. Não sei onde vende.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Devassa encantada.

Então eu, nas investidas dessa vida, saio com um rapaz que é MUITO interessante. É um homem bonito, que é inteligente, tem a voz deliciosa, é simpático, gostoso pra caralho e que ainda me trata com carinho. Beleza, marcamos um cinema. Chegando lá eu percebi que ele me acha um bibelô, estudiosa, boazinha, tímida e discreta. Fico sem saber como explicar a ele o garnde equivoco. A gente bate papo, vê o filme e vai embora. Ninguém se usa mutuamente e os assuntos relacionados a libído não parecem ter lugar.
Alguém diz a ele que eu falaria as sacanagens mais baixas no ouvido dele agora? Alguém diz?

domingo, 4 de outubro de 2009

Desencanar.

Ok, isso de amor acabar não existe. E como já dizia o "Canto de Ossanha", "O homem que diz sou não é porque quem é mesmo é não sou.." não vou ficar me prometendo o repentino esgotamento dessa paixão. O ponto final que eu posso dar é na teimosia de achar que ainda há o que fazer. Não há. Tenho que ser livre.

sábado, 3 de outubro de 2009

Dor de cotovelo.

Dormi, acordei e as lágrimas não chegaram. Tenho vontade de espalhar faixas enormes com os defeitos dele pelo Rio de Janeiro olimpico. Quero que ele lamente cada mentira que me contou. Quantas histórias patéticas eu fingi achar bonitas! Quantos incômodos eu relevei por estar apaixonada! Quanto amor eu desperdicei, meu Deus!
É recalque sim, não tem outro nome. Passei o ano inteiro sem conseguir beijar ninguém na boca de tão apaixonada e ele lá, repetindo a mesma ladainha pra outra na minha frente sem se importar. E por que raios ele teria que se importar? Ele não é seu, Cecília, entende isso!
Vou deixar ele ir embora de mim, está na hora.

O dia que o amor acabou.

Hoje eu vi o homem da minha vida beijando uma mulher na boca duas fileiras na minha frente no cinema. Ele sabia que eu estava ali. Não vi o filme. Fiquei do lado de fora batendo papo com uma amiga. Estou sofrendo por esse filho da puta há seis meses. Nos reencontramos há uma semana e desde então ele tem tentado ser demasiadamente agradável comigo. Tenho reagido com sorrisos e só. Não expus minha saudade nem a minha indignação. Dissimulei, causei ciúmes e sorri. Não funcionou.
Hoje quando eu o vi, tão carinhoso com a outra, foi muito difícil. Não é certo comigo.
Tanto investimento num cara que me considera tão pouco...
E eu querendo casar com ele, que idiotice! O balde de água fria foi tão forte que me deu sono. Ainda não chorei, estou até alegrezinha porque o resto da noite foi ótimo, mas é provável que as lágrimas não tardem a chegar.
Não quero mais ele. As verdades dele são muito pouco paupáveis. De que adianta tanto talento se ele não pode amar?
Desejo que ele seja gordo, sujo, brocha e complexado para sempre. Já eu vou continuar linda, macia, selvagem e querida. Pode ser que lá no fundo eu continue pensando nele e que nunca entenda qual a razão para não ter sido correspondida, mas na minha vida as entregas vão ter que ser reais. Chega.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tijolo por tijolo.

Meu potencial de mulher perfeita foi de encontro a uma repentina indiferença. Bati de frente com o personagem que ele veste e com a gentileza que eu queria que fosse desejo. Procurei o outro na mesma hora. Não quero o outro, quero ele. É tão simples...
Tive vontade de ir pra casa dormir, de não ir nunca mais a lugares aos quais eu não pertenço e de comer chocolate. Meus personagens são menos distantes de mim do que os dele. Minhas invenções comportam pouca coisa além de dissimulações estratégicas. Não finjo ser estudiosa. Tenho preguiça em cada cantinho de mim. Os dedos vão estalar, sai ele, entra o Bourdieu. E eu não me importo com a expansão do universo. Não tem mais clima. Haja cimento nessa vida, puta que pariu.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Argila.

Não posso voltar de onde eu nunca saí. Estive no mesmo lugar esse tempo todo, ele foi embora. Não sei como reagir aos agrados dele, nem como demonstrar o meu carinho sem parecer obsecada. Me proibi de fazer perguntas, de dizer que estou com saudade e de reclamar de qualquer coisa. Pra alguma coisa tem que servir sofrer tanto. Meu potencial de mulher ideal precisa vencer.