quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Brasil de Amanda Gurgel.

O que mais me chama atenção no fenômeno Amanda Gurgel é o fato de colegas publicitários, engenheiros, museólogos, donas de casa e até advogados que ganham 17 mil reais por mês (não ganho isso nem em dois anos) terem postado esse link apoiando a fala da professorinha.
Quero dizer aos nobres apoiadores que agradeço a solidariedade, mas não me comovo. Vocês não se importam mais com o Brasil ao propagarem esse vídeo. Vocês não entendem mais do Brasil porque mostram, em suas redes sociais a revolta da jovem potiguara. O mundo em que vocês vivem não é o mesmo que o dela e a maioria de vocês não move uma palha para modificar isso.
Quantas vezes ouvi que não deveria ser professora? Quantas vezes ouvi que com os meus alunos é melhor desistir? Quantas vezes, queridos amigos, eu não assisti aulas de acadêmicos que discorrem com propriedade sobre a educação básica, mas que nunca estiveram em uma sala de aula com 55 adolescentes pobres? Alguns até estiveram, mas correram assim que puderam dessa experiência tão enriquecedora quanto dolorosa.
Os filhos de vocês, que ao aplaudir esse vídeo pretendem se sentir brasileiros mais participantes, estudarão em escolas particulares de qualidade e farão cursos de lingua estrangeira desde cedo. Comigo foi assim. Curso de inglês, francês, informática, redação, teatro, coral, aula particular...pra ganhar pouco. Pra pegar dois ônibus e demorar duas horas pra chegar no trabalho. Pra muitas vezes falar sozinha.
Tocar corações? Ser fundamental? Receber abraços e carinhos quando atravesso a rua em frente a escola? Gostar de verdade de tantos meninos e de tantas meninas e perdoar, sem muita reflexão, os que me desrespeitam? Isso também tem.
No entanto, eu vos digo: Esse Brasil é meu.
Meu, de Amanda e de quem mais tiver coragem.
Não finjam que entendem a nossa realidade.
O Brasil de vocês é outro.

3 comentários:

  1. Eu entendo, Ceci. Entendo essa realidade não do lado de quem estudou em bons colégios e fez cursos caros. Até hoje sou a negação da negação em inglês e aprendi informática e redação na marra, por necessidade. Fiz teatro e coral em projetos sociais e francês acordando 5h30min da manhã para ir para o Fundão no sábado. Ganhar pouco para mim sendo professora é ascender socialmente, pois de outra forma, estaria trabalhando como garçonete ou vendedora, ganhando pouco e trabalhando nos fins de semana e feriados. Eu falo do lado de quem acredita no ensino público porque nunca teve outra opção, porque apostou todas as suas fichas nisso. Também me comovo quando recebo abraços e também falo sozinha muitas vezes. Fico muito chateada quando vejo alguns de meus colegas subestimar os meus alunos. Digo, na lata, que dez anos antes era eu que estava no lugar deles e que tive bons professores que não me subestimaram, que fizeram a diferença na minha vida, que não desanimaram. Nós nos contentamos com muito pouco e se um dia um aluno meu me disser que eu fiz a diferença na vida dele eu tenho certeza que vou me debulhar em lágrimas.
    C' est la vie. Só hoje entendo as limitações e as dificuldades que pesam sobre os professores. Só hoje, professora, eu entendo que menos do que ensinar, fazemos apenas política pública. O meu Brasil é esse. Eu, assim como a Amanda, não o quero desse jeito. Quero poder mais, mas sozinha, infelizmente, não tenho conseguido.

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  2. Sabe o que me constrangeu no vídeo? É que, ao que parece, a professora Amanda recebeu um "parabéns" ao sair do palanque e a coisa ficou por isso mesmo.

    Qualquer professor do Estado enumera de trás pra frente os problemas mais urgentes pra sua escola - mais até do que qualquer ambição, afinal de contas, ousar sonhar quando não se tem nem carteira é... sei lá o que é.

    Mas eu sempre fico embaraçada é com o E Depois dessas reivindicações. Como é que muda? Esperar atitude governamental a gente já viu que n não funciona. Chama ONG? Resolve no braço? Denunciar é preciso, mas e as mudanças? Porque pra mim não é questão de falta de denúncia.

    O que você acha, xará? Você sabe mais que eu. Afinal de contas, eu fiz estágio no Pedro II. Não dou palpite.

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  3. Mto bom. Concordo com vc em absolutamente tudo.
    Bjs

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