sexta-feira, 24 de julho de 2009

loosing my religion

Eu ainda não entendi muito bem como funciona a prevenção a nova gripe, mas vi ontem no Jornal da Globo que o arcebispo de São Paulo pediu que nas missas os fiéis não dessem as mãos durante o "Pai Nosso" e que o rito da "paz de Cristo" fosse evitado. Oras, as pessoas estão ali compartilhando fé, cantando, uma do lado da outra naqueles bancos estreitinhos de igreja. Gente com reumatismo se ajoelhando, homem chorando, adolescentes pedindo pra passar de ano, mulheres pedindo pro marido largar a bebida, amantes pedindo para serem assumidas, traídos pedindo consolo, entre uma infinidade de outras possibilidades.
Como dizer a essas pessoas para que elas não deêm as mãos? Será que esse padre realmente acha que entre o toque e a respiração existe muita diferença? Eu posso estar enganada, posso ser uma total ignorante sobre os sintomas da doença, mas me parece um equivoco. A cerimonia perde completamente o seu sentido. Se é para não tocar no próximo, talvez fosse melhor suspender o encontro, não?
Houve um tempo, durante a adolescência, em que eu frequentei a missa. Nossa, Além dos hinos, que eu adorava e que me acompanham até hoje nos momentos de desespero(sempre que eu acho que vou ser assaltada eu tiro um hino antigo do baú e canto baixinho), a parte que eu mais gostava era a Paz de Cristo. É um momento tão feliz, todo mundo é igual, todo mundo se abraça. É super emocionante. E o homem manda evitar justamente isso?
A Igreja Católica tem muitos problemas, todos nós sabemos, mas apesar de não frequentar mais, eu acho interessantíssima a forma como ela se constituiu no Brasil. Não existe o apelo da Salvação, que na minha opinião é o grande erro dos evangélicos, essa mania de achar que o céu é deles, a pretenção de levar a verdade as almas perdidas...
Na Igreja Católica brasileira ou pelo menos na carioca, que é a única que eu conheço, o processo é mais individualizado. Eu nunca fui abordada e indagada sobre a razão da minha presença ali. Eu ficava na minha, discordava de um monte de coisas, mas ué, eu também não compartilho da opinião do Diogo Mainardi e no entanto gosto de ler o que ele escreve. O objetivo final não é o convencimento, mas sim a paz de espírito. O negócio é você sair dali se sentindo bem.
A adoração de imagens, que tanto os crentes criticam, é apenas uma forma de lembrar que o suporte daquela fé são os homens, pecadores, frágeis e inconstantes. Deus, sinceramente deve ter mais o que fazer do que ficar mandando gente pro Inferno porque gostava mais de São Francisco de Assis do que dele.
Parece que em terras que foram colonias Ibéricas, a Reforma religiosa que pretendia moralizar o cristianismo, no século XVI europeu, ainda não aconteceu. Portanto por aqui se vendem convicções a preços que não compensam. Crentes, na nossa terra, não são protestantes, são conformados. O caráter questionador e Revolucionário da coisa toda não veio nas caravelas. Só trouxeram o moralismo e o medo do demônio.
Mas são dez pras seis da manhã e está tocando David Bowie no Clássicos da OI-FM. Deus deve estar cantarolando no Céu, ou dormindo, que era o que eu também deveria estar fazendo se tivesse a tal paz de espírito que a missa um dia me proporcionou e que se perdeu com o tempo.
Paz de espírito, dignidade, bom senso e noites bem dormidas me foram roubados. Eu nem me preocupo com isso. É que nem a Andrea Beltrão falou ontem pra fiscal do imposto de renda no "Som e furia". Ela disse que só sabe reagir. Eu também. Pra ir ao cinema eu ajo, pra procurar emprego eu também sempre agi, pra arrumar bagunças então eu sou super ativa, mas pra esquecer pessoas, eu não tenho forças. Não é uma questão de gostar de sofrer, inclusive eu fico MUITO puta quando alguém me manda "esquecer". Vai tomar no cu! Pensa que eu sou retardada? Quem estando apaixonado sem ser correspondido não sabe que tem que esquecer? Se fosse uma opção eu não estava aqui curtindo uma dor de cotovelo de cinco meses, tava era na Casa da Matriz dançando Bohemian Rapsody, que é o que sempre toca essa hora e beijando frenéticamente algum leonino web designer alternátivo.
É como diz a canção mais sábia de todos os tempos, o "Canto de Ossanha": "Não vou que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer a tristeza de um amor que passou...".
Eu escreveria uma tese sobre o Canto de Ossanha. É engraçado. Eu fiquei viciada nessa música no final do ano passado, mas prestei tanta atenção nesse verso que eu citei, justamente por eu saber que sou exatamente assim, que esqueci da pate mais importante: "Se é Canto de Ossanha não vá que muito vai se arrepender/ Pergunte pro seu orixá/O amor só é bom se doer".
E dói a beça.

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