quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Por amor.

Em 1998, quando Por amor foi exibida pela primeira vez eu tinha 13 anos. Discuti muito com minha melhor amiga da época, Roberta de Oliveira Bárcia, hoje procuradora geral do estado, sobre a tão falada chatice da Eduarda. Eu, cheia daquela razão que os adolescentes têm, dizia que achava um absurdo Eduarda não trabalhar, ser dependente da mãe, do marido e da babá. Já a minha amiga, a passividade da personagem não incomodava. Ela a achava linda, honesta e decidida. Me lembro que no dia seguinte dessa discussão assistimos Central do Brasil em um cinema do Barra Shoping e até hoje, ambas as obras são importantíssimas pra mim.
A novela reprisou em 2002 e, assistindo novamente, percebi o quanto era boa. Manoel Carlos tem mania de criar diálogos artificiais, mas ali a coisa funcionou a despeito disso.
O canal Viva, grande idéia da Globo, reprisou agora, novamente esse diamante televisivo e eu, lógico, deixei de estudar, trabalhar, ir ao cinema e namorar, sempre que pude para me deliciar com o espetáculo.
Além da história instigante e enxuta, Por amor teve os melhores atores possíveis. Viviane Pasmanter viveu ali seu auge de beleza, talento e sensualidade. Assim como Eduarda, também não trabalhava, mas era tão divertida que pouca gente, além da Roberta Bárcia, implicava com ela. A paixão de Laura por Marcelo era inescrupulosa e crivel. Conheço gente que, como ela, não esquece os grandes amores. Eu mesma as vezes não esqueço.
Fábio Assunção lindo, com aqueles lábios suculentos e olhos azuis, começou arrogante na trama e terminou uma bala de coco. Houve um diálogo em que Laura falou sobre o que Marcelo sentia por ela: Desejo; e o que sentia pela Eduarda: Amor. Em seguida Fábio Assunção e Gabriela Duarte apareciam num barquinho em Teresópolis, após uma reconciliação, se entreolhando e sorrindo. Nada de beijos lascivos ou toques de onde sai faísca. Ela era a sorte do amor tranquilo daquele Marcelo sedento por uma vida de comercial de margarina.
Eduarda, hoje enxergo, era sim, uma dondoca incapaz até de cuidar do próprio filho sozinha, mas era também, como pensava a Roberta em 98, bastante valente e cheia de valores. Gabriela Duarte defendeu com brilhantismo a fragilidade latente da sua mocinha, mas eu só me dei conta disso agora. Arthur Xéxeu escreveu sobre o tema recentemente na última página da Revista de domingo do Globo. Ele, como eu, para a vida pra assistir novela, a diferença é que a vida dele está ganha.
E o filé minhon da coisa toda era Suzana Vieira. Branca Letícia de Barros Motta, dona das melhores reflexões sobre amor e dinheiro. Terminou seus dias a beira da piscina suja de folhas secas, de papo com a empregada. Branca disse a Atílio, sua paixão, que o sentimento que nutria por ele a tornava mais jovem e remetia aos tempos em que tinha o mundo nas mãos e escolhas a serem feitas. Antônio Fagundes, o Atílio, era o calcanhar de aquiles do autor. Era nesse personagem que o machismo permissivo brasileiro reluzia. A condescendência da novela e do público com as galinhagens do Atilio me irritam bastante, em compensação é fato: ele era um charme.
François Fourton, que infelizmente está sumida, esbanjava classe e delicadeza como emergente da Barra da Tijuca. Sua cachorrinha pug, Inés, era uma das partes mais alegres de cada capítulo. E tantos outros se destacam, Carolina Ferraz como a esguia Milena, Murilo Benicio a frente do sensível Leonardo, Marcelo Serrado como o César, médico tijucano atormentado pelo amor que não aconteceu (mal de tijucanos), Paulo José e Regina Braga, Orestes e Lidia, levando aquela vidinha de quem mora no sobrado em cima do estabelecimento comercial, Eduardo Móscóvis lindo de pilito de helicóptero, Cássia Kiss com sua sorrateira Isabel e Carlos Eduardo Dolabela, como o velho Arnaldo, que de tão esperto se tornava bobo, mas sempre fofo.
Por último quero falar sobre a Helena de Regina Duarte. Na época da primeira exibição eu também impliquei com ela. Segui rejeitando-a mais e mais após a sua infeliz declaração de que tinha medo do Lula.
Hoje, passados tantos anos, consigo admitir que a danada trabalha bem. Estou dormindo mais tarde por causa de Vale Tudo, que desconfio ser a melhor coisa que já vi na televisão desde Roque Santeiro e talvez por conta da Raquel, da viúva Porcina e do meu amadurecimento, eu tenha entendido a que se propõe Regina Duarte e Helena. Ambas demandam papéis que envolvam amor, gritos e, com todo o respeito, alguma cafonice. Em Por amor a cafonice perdeu o lugar para o semblante de Maria Madalena arrependida. Funcionou tão bem que hoje a tarde, ao ver pela terceira vez o último capítulo, chorei a beça.

4 comentários:

  1. Adorei o texto! Por Amor é minha novela preferida. Desde 98 até hoje, eu e uma grande amiga usamos os nomes de alguns personagens para caracterizar situações ou sonhos de nossas vidas :D

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  2. Amiga, a melhor cena é a Branca solitária tomando seu beberico preferido com a empregada Zilá, sempre escorraçada por ela, e pedindo que ela fale de sua vida para distraí-la. É, o mundo da voltas e pelo visto o Manoel Carlos sabe bem disso. rs
    Bjs

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  3. Você não sabe amar, mas pode aprender!

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