terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Calendário da Copa do Mundo.

Ontem fui jantar com dois grandes amigos. Enquanto comíamos, um deles comentou sobre a intenção do governo do estado em modificar o calendário letivo em 2014 com o objetivo de transferir as férias de um mês de janeiro para julho. Fui taxativa em afirmar que sou contra. Me indagaram por que razão e eu falei apenas que não acho justo que a minha vida seja desestruturada em razão de um evento que não foi escolhido por mim. Um deles retrucou dizendo que o meu empregador escolheu e que eu tenho que ter disponibilidade para obedecer e lidar com mudanças. O assunto acabou deixando um ar desagradável entre nós por algum tempo.
Fiquei com isso na cabeça. Expliquei a situação a minha mãe, que não só concordou com o meu amigo, como acrescentou que "quem sou eu para discordar do meu empregador?" e disse que na vida nós temos que acatar as ordens que nos são dadas e blá blá blá.
Aprendi sozinha que a opinião de mamãe não é exatamente correta, pois vocês sabem bem que eu optei por não fazer greve para não entrar em conflitos com o meu empregador, e quando o mesmo teve a oportunidade de retribuir a minha lealdade, permitindo que eu me ausentasse por duas semanas por conta dos estudos para a seleção de mestrado, quase fui desligada do emprego. Com isso entendi que se eu discordar, não devo ter problemas em expressar minha opinião e agir de forma consonante a dos meus colegas, pois eles não deixarão de exercer o papel castrador que lhes cabe por consideração a mim.
Não sou contrária a Copa do Mundo. Pelo contrário, me emociono muito a cada quatro anos torcendo para os países com os quais simpatizo, como Argentina, Portugal, Uruguai, Gana, etc. Não entendo nada de futebol, então torço pra quem acho que merece ganhar, embora saiba que não é assim que a coisa funciona. Mas acho importante e bela a integração que a Copa proporciona e, longe de mim, me opor ao evento.
O que ocorre é que me parece injusto que seja prolongada a presença de alunos e professores na escola no verão (e no Rio o verão não é ameno), para que no inverno, com a maior das atrações ocorrendo por todo o território nacional, o que tornará os preços das passagens, aéreas e rodoviárias, exorbitantes e impedirá que nós façamos viajens normais. Outros setores terão folgas localizadas durante esses dias, mas garantirão o seu recesso em algum outro momento. Além disso tem a lama toda na qual o nosso governador está inserido, o que não me permite confiar nele ou colaborar com os seus designos de forma tranquila.
Por outro lado, acredito que não posso ser egoísta e, se de fato me for imposto esse calendário, obedecerei e mesmo se tiver que ver os jogos pela televisão, me emocionarei.
Não quero ser intransigente, nem perder a ternura.

domingo, 25 de dezembro de 2011

manhã de Natal

Não está sol. Mamãe sai pra caminhar bem cedo. A cachorra chora. As rabanadas têm gosto de queimado. Durmo mais. Acordo e ligo o computador, várias mensagens de fraternidade e alegria. Leio o jornal, nada demais. Durmo de novo. Vovó está com gripe e não sai do quarto. Alimentamos a cachorra, que dorme com cara de desânimo.
O apartamento é novo, todo branco, com vazamentos. Vê-se a praia da janela, mas ir a praia não parece boa ideia porque não há assunto entre nós. Os colchões estão no chão da sala. Mamãe não sabe o que fazer com esse lugar. Os enfeites rústicos não combinam com o design clean. Ela está visivelmente frustrada e arrependida, queria ter comprado alguma coisa na Zona Sul. Quando ela teve dinheiro pra adquirir um imóvel em Copacabana por um preço bom, eu, que tinha 18 anos, a desencorajei porque gostava da Tijuca. Culpa eterna. Decidiu investir na Barra. A toa.
Interrompo o silêncio dizendo que vou comer queijo. Chamamos minha avó e então todas estão sentadas a mesa. Um principio de conversa se inícia. Minha irmã, no entanto, sem paciência nenhuma para confraternizar, se retira para preencher palavras cruzadas, mamãe sai pra ler mais um dos livros da Martha Medeiros que ela não termina e restamos eu e vovó, que me pergunta pela terceira vez o que vou fazer no ano-novo.
É meio dia. Não tem almoço. A comida de ontem não apetece. Alguém liga a televisão e vê um programa porcaria de domingo, onde toca Kenny G e uma banda de três irmãos feiosos, que fez sucesso há alguns anos, aparece cantando "Olhar 43" do RPM. Algumas mensagens de amor chegam pelo celular. Infeliz Natal.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Odeio Natal.

Natal pra mim significa tudo o que eu sempre quis ter e não pude. Minha mãe não se dá bem com a família dela, então sempre passamos sozinhas. Minha avó, que se dá bem com a própria família, as vezes vem ficar com a gente, visivelmente contrariada por estar longe dos próprios irmãos e sobrinhos. Minha mãe e minha avó são pão duras envergonhadas e isso é a pior coisa porque tudo o que elas fazem sai pela metade. Tem bacalhau, mas não é gostoso, tem bolo sem recheio e arroz sem sal. Mamãe ri da oração de vovó antes do jantar, fingimos suportar a comida insossa e a falta de assunto. Eu tenho raiva de mamãe, que tem raiva de vovó, que também tem raiva de mamãe. Minha irmã e a cachorra não têm raiva de ninguém. As dez horas a mesa já está retirada e todas assistimos Zorra Total.
Quando eramos crianças, papai tinha uma namorada cuja família comemorava o Natal e ele sempre nos levava. Minha irmã detestava, mas eu tinha muita disposição pra me introsar. Abraçava parentes que não eram meus e ganhava presentes no amigo oculto de desconhecidos. A casa ficava cheia e as vezes tinhamos que dormir na varanda. Eu adorava.
Depois papai se separou e nós começamos a ir pra casa do meu tio nessa data que existe pra ser feliz. Eram natais sinceros. Quando íamos para Corumbá, onde moram minhas tias paternas, também era bom e as comidas insuperáveis, mas o calor que faz no Centro Oeste em dezembro e o preço alto da passagem, além da dificuldade de acesso a capital do Pantanal, que nos faz ter que viajar com escravos bolivianos, desanimam.
Já passamos o Natal com a família da nova mulher do meu pai. Tudo lindo, mas não tenho mais disponibilidade para desconhecidos pouco interessantes. Acho tudo um saco. Ficamos com mamãe, portanto, e olha, como é ruim! Sinto vontade de ter uma família feliz, que se abrace e troque presentes, com comidas gostosas e assuntos infindáveis, mas aqui em casa é o contrário. Sei que é uma data construída, mas gostaria de fazer parte do espírito de união que ela propõe. Sou recalcada por não ter nada disso.
É provável que eu não tenha filhos, que não me case nos moldes tradicionais e que essa data seja sempre essa grande merda. Triste.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Fim de caso

Muito tempo depois do nosso último encontro, nessa quinta feira a noite, em frente ao cinema onde nos beijamos pela primeira vez, estava eu no telefone com meu novo amor, esperando uma amiga pra ir jantar na Lapa, quando o vi se aproximando.
Mesmos olhos, gestos e voz. Olhei pra ele, interrompi a conversa no telefone, demos aqueles os dois beijinhos de praxe, ele comentou que eu estou loira e também começou a falar no telefone. Avistei minha amiga, fui em direção a ela, ele também encontrou um amigo e só. Nenhuma discussão ou mágoa.
Meu pai dizia que o castivo vem a cavalo. Eu digo que a indiferença também. Estou comendo o prato frio de quem não se importa mais. Quando sentei e raciocinei sobre o encontro, me dei conta de que me sinto completa com o homem com quem estou agora e que hoje é aniversário desse outro. Tive pena dele, que estava ali sozinho, em plenas bodas de talento e tristeza, pensei até em mandar uma mensagem desejando felicidades, mas decidi que ele não é mais problema meu.
Acabou.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

humildade

A verdade é que eu morro de medo de estar fazendo a escolha errada. No fundo eu sei, e é isso que dói, que não existem pessoas ruins: os homens que me fizeram sofrer, os professores que me desprezaram, a diretora de Seropédica, George Bush e Thereza Cristina. Todos têm amor no coração, dormem e acordam cheios de objetivos todos os dias e quando falham, pensam como eu, que sair da linha só um pouquinho não é imperdoável.
Meus pecados latejam na minha mente. Tenho medo de parecer incompetente e de não ter mais credibilidade. Gostaria que só as minhas boas ações reconhecidas. Todos gostaríamos.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Pérolas a você.

Isso do atire a primeira pedra quem não tiver pecado é a melhor frase que eu já vi ser atribuída a Jesus. Talves ele não exista, mas só de ter falado isso, já atrai a minha simpatia. O inferno na terra é receber sermão de gente que não tem nada a ver com a minha vida. E por que isso acontece? Porque eu me exponho. Saio falando de mim por aí como se todos fossem capazes de entender o livro aberto. Alguns não têm condições de compreender mesmo, porque sempre estiveram enclausurados numa redoma de covardia horrorosa e a professora de português do colégio não foi capaz de ensiná-los nem as mais simples interpretações de texto, para que no futuro, eles tivessem um mínimo de subjetividade. Outros sabem direitinho do que eu trato, mas julgam o mundo a partir da sua própria trajetória e ó: me atiram meteoritos.
Foi por ter me dado conta de que estava falando a respeito das minhas fraquezas e da minha felicidade pra essa gente que eu fechei a visitação a todas as minhas redes sociais. Não é só medo de inveja porque eu sou familiarizada com esse sentimento. É pra não abrir espaço pra ser sentenciada por pessoas que não fazem nenhuma diferença na minha vida. Tá interessado em mim? Vem me procurar.
Não sou arrogante porra nenhuma. Sempre admiti minhas derrotas e tristezas. Não me acho melhor do que ninguém porque passei no mestrado, mas dá licença de eu ficar feliz. Por que não cria coragem e muda a sua vida, ao invés de ficar vindo ler meu blog pra tentar sentir o gostinho dos meus acontecimentos?
Nunca disse que esse ou aquele emprego eram pouco dignos, nunca cuspi no prato que eu como, mas QUERO MELHORAR DE VIDA, se você não tem essa ambição, por favor, guarde suas críticas para falar na análise que você nunca fez.
Enfim, o acesso a esse blog eu não posso e nem quero controlar. Aqui eu sou livre e de verdade e quem vem aqui, admitindo ou não, conhece o meu valor. Não vou parar de escrever, nem de dizer minhas opiniões. Tenho erros e acertos, e você que não tem nada?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pra não se misturar aos porcos.

Quando eu for pela última vez a Seropédica (oh, how i wish it would have been today) vou cantar "The dog days are over" da Florence and the machine (só gosto dessa música dela e não, não enjôo) bem alto. Vou olhar pro km 32, pedaço esquecido de Nova Iguaçu, onde moram os meus alunos, e vou mandar lavar os meus sapatos, feito Carlota Joaquina.
Vou esquecer da franja cafona da diretora, das professoras medrosas, da servente que pensa que é coordenadora, da comida sem graça, das duas horas de ônibus pra ir e voltar, da poeira e da lama.
Não me olvidarei, no entanto, do trocador do 441B que sempre acena pra mim quando eu salto, de algumas professoras que mesmo sendo evangélicas e mais velhas, não me julgaram quando eu supostamente errei e das alunas que no dia que a diretora achou que poderia me expulsar da escola, correram atrás de mim e choraram no portão, disputando espaço para me beijar.
São dias de cachorro e eu quero que cheguem ao fim, mas ao contrário da maioria das minhas superiores,  não tenho a alma pequena.
Não se trata de pessoas ruins, elas são limitadas apenas, naquele mundinho de Fundação Educacional Unificada Campograndense e West shoping. Tudo cafona e superficial, frases feitas bem intensionadas, mas frequentemente de mal gosto.
Não sou arrogante, tentei pertencer. Fui lanchar com elas, ouvi todos os papinhos, fingi que não conhecia o que estou careca de saber e nem em greve entrei, pra não ser a ovelha negra da família. Não funcionou. Sou a diferente mesmo, não pertenço a nada ali e tenho outras metas pra minha vida.
Não quero mais comer farelo. Chega.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Minha psicóloga me pediu pra levar uma lista com as minhas metas pra 2012 na nossa próxima seção.
Não tenho coragem de dizer a verdade a ela, mas sinto que preciso registrar esse compromisso de alguma forma e acredito que aqui é o espaço mais apropriado porque os leitores não me cobrarão nada e eu me recordarei do que está escrito.
Os objetivos são os seguintes:

1 - Limpar meu nome.  - Não aguento mais ter dívidas.

2 - Emagrecer - sempre.

3 - Ter um caderno organizadinho para cada uma das turmas que eu dou aula e seguir o curriculo recomendado (por mais impossível que isso seja)

4 - Ler todos os textos que me forem recomendados em dia.

Obs: Não, minha psicóloga não sabe que eu tenho dívidas absurdas. Me envergonho tanto disso que não disse nem pra ela. Estou ali para adquirir coragem e pensar nas minhas dívidas me torna covarde e me faz perder o sono. Vou quitar tudo, mas não consigo tratar desse assunto na terapia.

Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

Sol de pleno dezembro. Eu fui.
Dez da manhã. Minha entrevista. Não me disseram que essa era a parte mais difícil.
Estudei enclausurada durante meses. Ouvi de uma professora do estado esses dias que lá é o seu ganha-pão e que não foi fácil passar, por isso ela valoriza muito esse emprego. Tive vontade de dizer a ela que não peguei em um livro pra fazer aquela prova e passei, já pra entrar no mestrado o rebolation foi intenso.
Achava que passada a prova escrita estaria tudo bem, jogo ganho. Sempre soube me expressar e estava segura em relação ao meu projeto. Fui a quarta a ser chamada. A sala tinha uma mesa enorme de madeira e a arrumação me deixou de frente para os cinco pós-doutores que, nessa circunstância, fazem o papel de inquisidores.
Quando me vi sentada ali, perdi a desenvoltura. Repeti palavras e esqueci meus talentos. Foi difícil. Quando saí, já na Presidente Vargas, esperando o ônibus, a ficha caiu e eu chorei muito.
Me lembrei da escola, do vestibular, de quando era caloura, do entusiasmo que foi surgindo aos poucos apesar de a História ter sido uma escolha consciente e antiga, dos textos lidos, dos não lidos, de todo o tempo que eu me senti atrasada por não estar na pós-graduação, dos meninos e meninas bem mais novos que eu que já estão no doutorado, de todo mundo no Rock in Rio enquanto eu estudava, do dia da prova, da frase que eu escolhi pra começar a escrever e das associações que fiz sozinha ou com a ajuda de amigos. Chorei as lágrimas de quem não está mais brincando. E fui trabalhar.
Deu tudo certo, fui aprovada em décimo quinto lugar. Os últimos serão os primeiros.
Não sei o que farei em relação a falta de tempo e dinheiro, mas nem me importo, consegui passar, a conquista é minha, essa é a prioridade, sou boa e corajosa o suficiente.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Caciques e índios.

É público e notório que historiador não ganha bem. O auge da nossa carreira é ser professor universitário e o salário atribuído a essa nobre ocupação é de seis mil reais. Ainda há todos os beneficios sensacionais da previdência integral, licenças premiuns e reajustes progressivos, mas com as reformas que estão ocorrendo acho difícil que a coisa continue assim.
Enquanto advogados e engenheiros ganham tranquilos cinco mil reais de salário inicial, nós nos estapeamos por muito menos do que isso. Em concursos pra professor secundarista estapeia-se por menos de um terço desse valor. Sobra espaço paras as vaidades.
Adoro o que eu escolhi pra fazer da vida e estou super engajada em estudar, mas fico passada a ferro quente das freias medievais quando vejo como esses pós doutores se sentem o supra sumo da humanidade.
Esses dias um, com quem eu sempre nutri uma boa relação virou a cara pra mim na porta da faculdade. Fez isso porque não aceitei trabalhar com ele. Tive vontade de ir atrás e perguntar quem ele pensa que é, mas preferi evitar a fadiga.
Hoje soube de uma louca (bem inteligente, é verdade) que disse por aí que eu e uma outra ex-aluna da raia miúda brigamos por causa de não sei quem. Mulher que tem apartamento na França, é amiga pessoal de ex-presidentes e cantoras famosas falando da minha vida? Nem sequer encontro mais a menina com quem supostamente briguei e a detentora da fofoca então, não vejo há mais de um ano. Meu nome em boca de Matildes acadêmicas, queimação total.
É tanta idiossincrasia que essa gente tem, tanta falta de tato com a vida real que dá vontade de gritar. Mas dependo deles. Então entendi que tenho que ser humilde e ficar bem quietinha sempre. Tô vendo que o cara tá falando merda? Deixo. Tô sabendo de um fato desmoralizador sobre ele? Rio sozinha. Gosta dele a ponto de querer abraçá-lo? Não demonstro, quase todos são avessos a carinho.
Quando a gente vive no meio dos caciques, o negócio é vestir a carapuça de índio e deixar eles se degladearem.
Porque no fundo a verdade é que dos assuntos que eles são especialistas, eu entendo pouquíssimo. E em alguns raros momentos eles deixam transparecer o amor ao próximo, aí a coisa toda fica um pouco menos dura.