terça-feira, 30 de agosto de 2011

A partida.

Nunca entendi quem manda mensagens nas redes sociais de amigos que morreram. Achava que era querer aparecer, afinal, nunca imaginei Facebook no Céu. Ontem, então, infelizmente, percebi que estava enganada. Soube, um pouco antes de dormir, que um amigo antigo, desapareceu em uma praia de Salvador. Foi nadar e não voltou mais. Era um estudante engajado, o conheci em um trabalho social que participei. Vinha de família pobre, era o primeiro a fazer faculdade, teve uma filhinha antes dos vinte anos, morava no alojamento do Fundão e escrevia poesias muito bonitas (e eu sou particularmente exigente com poesias).
Ao ser informada sobre a notícia, vi o link para o perfil dele no Facebook e ao entrar lá, me deparei com a foto que exibia toda a doçura e a alegria que lhe eram peculiares. Mandei minha mensagem.
Fui dormir muito triste, chorei, pedi a Deus pelos que ficaram, me lembrei de muitos momentos especiais ao lado dele e acabei sonhando com a situação. No sonho, ele me contava que tinha ido com um amigo para uma praia pequena e que os dois ficaram boiando relaxados, mas quando ele se deu conta, estava longe já. Era ele que falava, vivo, forte, bonito, meu amigo.
É uma morte imperdoável.
Tentei imaginar o que Deus disse a ele quando o acolheu e acabei me questionando sobre essa coisa toda de  Deus. Mas sabe, isso existe sim. E o meu amigo, com certeza, está bem. Gostaria que ele lesse meu recadinho lá onde está. Na verdade o que eu queria mesmo era que ele aparecesse vivo e ansioso por abraços. Como dói.

domingo, 28 de agosto de 2011

Quem ama sofre.

Há dias eu venho pensando em escrever sobre os conteúdos autorreferentes (essa reforma ortográfica ainda vai me enlouquecer) das letras que Marcelo D2 escreve para as suas músicas.
Marcelo D2 nasceu em Madureira, foi criado na Penha e depois se tornou morador de Vila Isabel, fumou unzinho quando era adolescente, frequentou as pistas de skate do suburbio carioca, deu calote, virou sambista, pegou mulher, teve um filho, casou com uma lora, foi preso, fez as pazes com a mídia, "cantou assim porque fuma maconha", deixou o Planet Hemp em busca da batida perfeita, fez dueto com Bezerra da Silva, teve uma filhinha, traiu a esposa, se tornou o pesadelo do Pop, segundo ele mesmo e hoje em dia o único assunto que domina é a sua trajetória de vida. Considero Marcelo D2 um bom músico e uma pessoa interessante, mas meu Deus do Céu, PARE DE FALAR DAS SUAS CONQUISTAS, HOMEM. Toda vez que ouço suas músicas recentes lamento profundamente que tenha conhecido o Chorão do Charlie Brown Júnior porque foi ele que estragou tudo, ao meu ver. Se dê uma chance, Marcelão. Digo isso porque te acho talentoso. Tente não falar mais sobre os ensinamentos que você tem a dar a todos os burgueses, pelo amor de Deus.
Passado esse assunto quero dizer que isso de namorar quem mora em São Paulo faz o coração ficar acabado. As despedidas são terríveis. Na semana passada, pra eu ir embora da casa dele doeu que nem final de filme triste e hoje quando ele saltou do taxi no aeroporto, a saudade ainda nem tinha terminado e já teve que recomeçar.
A parte boa são as mensagens por SMS, a expectativa e os beijos eternos dos reencontros. Tenho certeza que nasci para o amor, por causa dele.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Chegada.

Boa parte dos meus vinte e seis anos (por extenso) eu gastei sofrendo por amor. Foram as rejeições incontáveis e irreversíveis da adolescência, os homens mornos da juventude festiva e os cafajestes da vida adulta. Tantas frustrações me faziam questionar sobre qual o meu problema: Era o sobrepeso? A voz grave? O meu jeito indiscreto? A que atribuir o fracasso continuo nesse setor da minha vida?
Foi então que apareceu esse homem. Não foi amor a primeira vista. Desse eu escolhi gostar. As músicas, as palavras, a disponibilidade, a presença... tudo isso me fez desejar os beijos, as mãos e as noites dele.
Tenho escrevido menos porque falar sobre felicidade é quase piegas, chato e dá medo, mas preciso dizer: Estou vivendo o que mereço.
Tenho outras preocupações bastante relevantes e ainda sofro quando preciso acordar cedo, mas encontrei um homem de verdade, que gosta do meu corpo e me quer inteira, "começo, meio e fim e a minha cuca ruim".
Já disse aqui que Madame Lispector besoin les vacances, mas antes que ela se vá, usarei sua frase mais clichê: "Não tenho tempo pra nada, ser feliz me consome muito."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As (mini) regras da arte.

Esses dias uma amiga me disse que detestou o último filme de Mademoiselle Coppola e que não entende como eu posso ter gostado tanto. Respondi a ela que me identifiquei com a história de desconforto, falta de intimidade e cumplicidade entre pai e filha que convivem pouco. E é verdade, quando meus pais se separaram e meu pai ainda não tinha se casado novamente, íamos eu e minha irmã para a casa dele a cada15 dias. Ele nos comprava revistinhas e cds e, enquanto assistia programas esportivos, nos deixava livres. Eramos sozinhos os três. Quando ele se aventurava na cozinha, sempre fazia aipim frito ou omelete com muita gordura. Havia amor, mas faltava tato. Completei dizendo que esse é o estilo de Sofia Coppola e que se ela prestasse atenção aos outros filmes, com certeza, veria mais sentido no (incompreendido?) "Somewhere".
Ainda assim, minha amiga insistiu e falou que se o filme em questão não fosse de uma Coppola, ninguém, nem mesmo eu, teria gostado.
Meus argumentos para deter a critica dela são embasados no mais importante guru contemporâneo, Pierre Bourdieu: Não há possibilidade de esse filme não ser dela. E não se isola um itém do restante da obra de um artista. "Somewhere" pode não ser tão rebelde como "As virgens suicidas", enlouquecedor como "Lost in translation", nem sublime como "Maria Antonieta", mas não existiria sem eles.
E Sofia Coppola não teria tanta facilidade para contar a história de meninas enclausuradas, se não fosse ela mesma, filha de quem é. A mim, grande pseudointelectual brasileira, a moça agrada muito, mas se não houver sensibilidade para os silêncios, nem experiência suficiente para que a verve indie das trilhas sonoras não seja vã, a verdade é que pouca coisa ali fará sentido.
Capital cultural não tem preço.