segunda-feira, 29 de junho de 2009
O All Star rosa.
Eu já vi isso acontecer outras vezes, um lenço que uma menina usa pra prender o cabelo de um jeito todo especial e que em mim ficaria parecendo um acessório de lavadeira medieval ou uma tornoseleira, uma tatuagem, um modo diferente de pendurar a bolsa, enfim... São pequenas características que fazem a gente querer ficar olhando pra pessoa por horas e horas. Pode ser que o dono do truque especial nem seja bonito, mas aquilo ficou tão bem nele que naquele momento que você (no caso eu) tem o desejo de guardar pra sempre, de tocar, de pertencer.
Mulheres têm muito isso, mas em homem, é tão difícil encontrar uma sutileza dessas. Eu fui apaixonada por uns 15 homens desde a adolescência e só me lembro de um que era charmoso, mas que mesmo assim, não era por nenhum detalhe em especial, era só charme mesmo e nem era unânime. Tem gente que tem a voz bonita, aquela voz que, Jesus...você ouviria a noite inteira cantando Calypso, sabe? Tem outros que tem o cheiro bom e uns que encostam na parede de uma forma diferente. Normalmente esses rapazes têm namoradas ou são casados ou são gays, mas estão ali, expostos nem que seja só para olhar.
Eu poderia parar do lado do rapaz chileno de All Star rosa e convidar ele pra tomar caldo verde comigo num barzinho da Lapa. E eu poderia conversar com ele sobre todos aqueles filmes dos pôsteres que ele vende e aí a gente se beijava e ia rodar o mundo vendendo pôsteres e quando acabassem os pôsteres a gente venderia doces e eu ia ser sempre apaixonada pelo All Star rosa dele e ele por algum detalhe meu e ia ser pra sempre. Pra sempre cor-de-rosa e feliz.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Michael para sempre.
Eu penso que valeu a pena, que o legado por ele deixado é tão especial e único que diante disso toda a estranhesa dos últimos anos se torna pequena. Mas me pergunto se comigo, que sou bem menos talentosa, acontecerá o mesmo.
Terá valido a pena sofrer tanto? Pra onde vão todas essas angustias? Esse leão que eu mato todos os dias perde o significado? Isso tudo que eu escrevo, os meus papéis, meus cadernos, meus poeminhas pretenciósos, minhas lágrimas, minhas conclusões, minha raiva...isso tudo vai servir pra que? Vai entrar alguém no meu quarto e jogar isso tudo fora. Os livros vão ser distribuídos, os que não servirem pra ninguém vão ser dados. E as roupas? E aquela blusa preta de manga comprida que eu estava usando quando beijei o Marcello em Iguaba? Ninguém vai saber qual era o meu cheiro, quais eram os meus métodos de arrumação, qual cd do Nirvanna eu mais gosto...Ninguém vai saber de mim.
É horrível isso. Eu sou muito apegada. A posteridade não existe pra maioria das pessoas. Se eu morresse agora, o que eu iria deixar de importante? E todo o amor que eu senti por um ou dois homens? Pluft! Desapareceria? Eu queria que o meu amor sobrevivesse como o da Camille Claudel. Queria que todo mundo entendesse a grandeza e a intensidade dos meus assuntos. Eu queria que os beijos que me fizeram vacilar ficassem para a eternidade. Queria que o Fernando, minha primeira paixonite, fosse louro pra uns e azul pra outros. Mas não é uma escolha minha me tornar eterna.
Michael Jackson foi triste e foi pra sempre. Acho que pra ele ser feliz teria sido mais útil. A poesia que fica não compensa.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
João, Antônio e o outro.
João ou Antônio gosta de novela e de feijoada. É flamengo e dorme tarde. Não é sofisticado, assim como o outro não era, mas conhece Pavement(que está tocando agora no rádio para salvar a noite). João ou Antônio, baiano de 32 anos gosta de cachorros e não é vaídoso. Vamos a praia juntos e a São Paulo também. João ou Antônio sabe desenhar e vai ao cinema comigo no sábado a noite. Ah sim, claro, João ou Antônio transa maravilhosamente bem, fala as mais baixas sacanagens no meu ouvido e me acha gostosíssima, mesmo com os meus dez quilos a mais. João ou Antônio votou no Lula e gosta das músicas velhas do Paralamas. Ele me dá presentes que têm a ver comigo, coisa que o outro não fazia. O outro dava presentes que falavam sobre ele e não sobre mim (sim, houve uma excessão, mas não vem ao caso). João ou Antônio não conta histórias intermináveis sobre a adolescencia pobre no suburbio e sim, ele paga as contas mais importantes. O outro também pagava, ambos foram bem educados e sabem tratar as mulheres, mas João ou Antônio não diz que eu pareço com atrizes aleatórias, nem usa mochila quando sai no sábado a noite. João ou Antônio é bem moreno e não segue nenhuma religião. Ah sim, muito importante: João ou Antônio fala baixo e não imita a voz dos colegas de trabalho. Meu João não joga lixo na rua e Antônio, meu principe, não é homofóbico.
Se João ou Antônio existisse ele poderia se chamar Plínio, ter 24 anos e não precisaria ter a metade das características enumeradas acima, mas tinha que gostar de mim, coisa que o outro não soube fazer.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Amores superfaturados
Paixão não é solidariedade. É sangue que não deixa de jorrar, dinheiro gasto a toa, é miséria em silêncio. Paixão é o fim do mês sem perspectivas, é o capitalismo selvagem, é o preço mais alto do supermercado. Paixão não assina contratos, não faz promoções, não tem na vitrine. Paixão não vai ao terapeuta, não sossega com o tempo, não faz dieta pra ficar bonita, não se torna mais nada. Paixão é.
Ai de mim e de você que está me entendendo, que fomos acometidos por ela. Paixão é uma moça bonita e gananciosa que te tira tudo em troca de beijos baratos e que quando vai embora ri da gente lá de longe, lá onde ela é feliz agora.
A paixão esqueceu de mim, mas eu não consigo largar ela. É escravidão sem Princesa Isabel ou Rui Barbosa pra me libertar. Paixão é uma filha da puta em pele de cocker spaniel que condiciona a sua felicidade a ela, que te rasga todo e depois cobra juros.
Eu pago os juros de uma paixão falida. Eu me fartei na loja de departamento cafona da paixão e agora perco o sono sem saber como voltar a controlar, eu mesma, as minhas finanças. Que grande engano é se entregar a Paixão, mas no dia de fazer a escolha, no dia de assinar embaixo, eu estava me lambuzando na lanchonete velha do parque de diversões brilhante que me foi oferecido e que agora está aos cacos.
Paixão é a salada de frutas azeda, é a náusea depois do banquete, é o avião que caiu. É o Banco me cobrando e é você que me deixou.
domingo, 21 de junho de 2009
Morrer em festa
Não é sobre solidão que trata o filme de Matheus Nachtergaele, "A festa da menina morta". É sobre tudo que há de humano no sagrado, sobre a moral que se torna invisível diante da fé. Não é a verdade que os miseráveis, os pais culpados e os abandonados, procuram, é a paz.
Gente que sofre quer sossego, quer acomodar a sua dor em espaços escondidos e Nachtergaele compreende isso, fazendo a inquietude do sofrimento de seus personagens latejar em cada movimento de câmera.
A Amazônia de amores perdidos e novelas baratas existe em Copacabana também. A confusão entre a dureza permitida e o impropério, o cansaço, as lágrimas e a porrada inevitável fazem com que o pecado seja um doce caminho. Penoso é ser santo. E diante disso, quem carrega esse fardo, é livre para puxar os cabelos de quem desperta o seu ciúme e para despir-se em luxuria diante de um pai que é amante solto, a quem se perdoa os desvios.
O Santo é livre para rejeitar a mãe que ameaça o seu flagelo, só ele pode abençoar o povo pagão que o adora. Só ele cura, só ele tem as respostas. E é esse povo que bebe cerveja e inventa shows profanos durante as mais calorosas vigílias que nutre o menino-anjo, não com amor, mas com resignação. Sempre.