sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O sobrenome e a solidão.

Ele é um sobrenome. Não é bonito, nem tem os mesmos olhos verdes inebriantes do parente famoso. Também não é rico ou genial. É desengonçado, chatinho e previsivel.
Elas são meninas que recusam a se tornarem mulheres. Vivem enclausuradas no mundinho encantado da profissão que escolheram, sonham com um principe encantado que discuta Bourdieu enquanto toma banho.
O sobrenome dele as encanta tanto que disputam a tapa sua atenção no melhor estilo "amigas, amigas, homens a parte". Os convites pra tomar café são frequentes, assim como os e-mails furtivos, de 6 ou 7 palavras, que, pretenciosos, querem enunciar o grande amor.
Cada riso delas é calculado, cada notícia é minuciosamente escolhida. São tão carentes de desejo, novidades e importância que, assim como na música do parente famoso dele, vão para a janela na primeira oportunidade, achando que a banda está tocando pra elas.
Ele não tem vergonha dos seus métodos imaturos de abordagem. No alto dos mais de 40 anos, obtém êxito nesse sexo verbal café com leite desde os 22. Seus amigos antigos são casados, ou investem na conquista de mulheres reais. Ele não. Gosta de ser rei e só o é diante delas, ninfas com cheirinho de sorvete.
Nas possiveis reuniões que organizam para se sentirem menos sozinhas nos finais de semana, levam ele para conhecer cada cômodo da casa, não sabendo, coitadinhas, que foi justamente o seu parente intelectual, pai desse que é famoso, quem em sua obra mais conhecida, criticou a mania do brasileiro de mostrar os quartos para a visita.
Queriam elas, que em seus quartos ele ficasse e que nunca fosse embora. É a proteção dele que elas teimam em conseguir.
E ficam nessa ladainha, ele e elas, desinteressantes, óbvios e o pior, nada sensuais.

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