quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Meu pai e o zepelim.

Desde que meus pais se separaram e meu pai foi morar em Itaguaí, há 17 anos, eu e minha irmã passamos a frequentar a Avenida Brasil pelo menos duas vezes por mês. No início, meu pai vinha nos buscar de ônibus. Eu tinha 9 anos e minha irmã 7. Quando a gente passava por Santa Cruz, meu pai sempre apontava o hangar do zepelim que fica na base que a Aeronáutica tem lá e pode ser visto, de forma discreta e imponente, da estrada.
Quando eu era criança me irritava um pouco porque nunca conseguia ver direito a tal garagem de um dirigivel que não existe mais. Não conseguia também entender qual era a função de se manter uma garagem que não guarda nada. Meu pai dizia que os alemães queriam levar a garagem de volta de tão importante que ela era. Eu pensava que o zepelim fosse francês, acho que porque tudo o que é elegante acaba sempre remetendo a França e dizem que o zepelim era muito elegante.
Meu pai comprou um carro e o tal monumento histórico de grande importância perdido no final da Zona Oeste, parecia cada vez mais distante, dada a pouca altura do veículo esportivo.
Chega a hora que os lugares se invertem e nós é que temos que cuidar dos nossos pais. Ontem fui visitar o meu, que é, sem dúvida nenhuma, a pessoa que eu mais amo no mundo. Me surpreendi quando olhei a esquerda o dia sem nuvens e a estrada com menos árvores do que antes, e vi o hangar inteiro, lindo e enorme, no silêncio dos limites da cidade. Fiquei olhando emocionada e virei o pescoço quando ele já sumia, igualzinho a como faço com o Pão de açúcar no Aterro.
É a garagem do romântismo que está ali. É o caminho até o meu pai.
Nada é mais útil.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Em 2010 eu cheguei ao fim da linha.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A empada.

Não há, na minha opinião, nada mais gostoso e deselegante do que uma boa empada quentinha. Adoro sentir o gosto da massa durinha de quebrando na boca. Desde criança, ficava atrás da minha avó quando ela fazia empadinha de queijo. Nas festinhas, disputava a tapa um desses salgados formosos que nessas ocasiões normalmente vêm na forminha de papel rosa.
Me lembro de quando a Casa da Empada ainda não era famosa e a fábrica deles ficava na Muda, aqui pertinho da minha casa. Lembro também de quando abriu o primeiro quiosque da marca no metrô e eu, gulosa, fui comendo durante a viagem. Passei vergonha. Empada não se come em movimento, requer concentração.
Hoje, quando saí do trabalho estava com muita fome, mas não queria almoçar porque não gosto de comer sozinha. Olhei o balcão do Palheta e quase comprei um pão de queijo, mas as velhinhas mal educadas não permitiram. Desisti e segui meu caminho. Me deparei com uma loja de empada. Pedi uma de palmito e uma de carne seca. Que delicia! Não dispenso nem os farelinhos que caem no prato. As empadas são simples e gostosas, como tudo na vida deveria ser.
Que vontade de comer mais uma...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Na semana passada fui fazer uma hidratação no cabelo e enquanto esperava o produto fazer efeito (permaneço esperando) fiquei lendo uma revista de fofoca que tinha feito uma entrevista com o Michel Melamed.
Tenho muita implicância com o Michel Melamed desde que li, há muito tempo, que ele não assistia televisão. Uma vez vi seu perfil no Orkut e lá tudo eram livros. Senti uma mistura de inveja, por não ter lido tudo aquilo, com raiva por considerar essa postura especialmente arrogante, já que ele era apresentador da TV Cultura.
No entanto, não podemos negar, o rapaz, além de charmosíssimo, é talentoso. E essas investidas dele com o Luís Fernando Carvalho, apesar do lirismo em excesso, têm sido bem interessantes.
O entrevistador da revista perguntou a ele: "Afinal, o que as mulheres querem?", aproveitando o trocadilho com o nome da minissérie atual. Melamed respondeu: "As mulheres querem o mesmo que eu: Paixão."
Na mosca.
As mulheres querem insensatêz, noites sem dormir, e-mails repentinos, ansiedade pelo sexo furtivo da segunda-feira a noite e mensagens no celular de madrugada. Querem também, e aí quem diz sou eu, vestido de noiva e casa de praia, mas isso, conforme a gente vai crescendo, vai ficando cada vez mais distante da paixão.
E com todos os traumas e estragos, vacilamos a cada flerte.
Somos frágeis, já disseram.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Hoje tive um sonho gostoso e longo: Estava arrumando minha mochila para ir para os Estados Unidos com um amigo. Nunca fui aos Estados Unidos. Poucas vezes pensei em ir, mas constatei recentemente que aquele clima Nova York de madrugada, que eu só vi em filmes, me excita muito. Acordei com vontade de pular da cama e ir pra lá. Dane-se o Palácio de Versalhes e Barcelona! É inglês que eu sei falar e 90% dos filmes e músicas que eu consumo são americanos. Fui tomada por um desejo súbito de participar de qualquer coisa por lá enquanto sou jovem e posso jogar tudo pro alto.
E já acordada, fiquei pensando:
Eu posso jogar tudo pro alto!
E o dia começou muito mais feliz.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A vitória da vida simples.

Eu estudei em escola particular a vida toda. Meu pai e minha mãe são dentistas, conquistaram tudo o que têm aos pouquinhos e venceram. O apartamento próprio, o carro, a casa na praia e as viagens de avião no verão. Eu e minha irmã fizemos natação no Tijuca Tênis Clube, curso de inglês desde a quinta série, aulas de redação e pré vestibular. Fui criada na base do todinho. Passei pra UFRJ na primeira tentativa. Me vi diante de um mundo novo onde algumas pessoas iam e voltavam da França como quem vai e volta de Madureira e outras mal sabiam onde era Botafogo. Fui me encaixando nos moldes da academia, frequentando laboratórios, estagiando com pesquisa e tomando café da tarde na Manon da rua do Ouvidor. Tudo o que eu queria pra mim era que aquilo continuasse. Eu passaria no mestrado, escreveria artigos, apresentaria trabalhos em seminários internacionais e nunca precisaria pegar trem lotado pro suburbio em dia de calor.
Mas eu me tornei professora. A vida no ar condicionado acabou na página 10 pra mim. Por vezes essa nova realidade é doce, mas é lógico que em alguns momentos assusta. Poeira, duas horas pra ir e voltar, salário baixo, alunos bagunceiros, pérolas aos porcos...tudo isso é muito duro. No entanto hoje, na inauguração do auditório da escola ,me dei conta de que essas vaidades da vida universitária não trazem felicidade.
Estava quente, mas quem se importava? A diretora da escola estava toda alegre, enfeitando com flores o pátio. Os professores aposentados foram, teve lanche, os alunos participaram comportadinhos e na homenagem ao ex-diretor teve uma cena do filme "Ao mestre com carinho". Tudo cafona, tudo simples e puro. Lágrimas, risoles de frango, nenhum refrigerante diet. Na minha escola existe gente que é feliz sem o prosseco dos lançamentos de livro.
É o mesmo mundo? A qual dessas realidades eu pertenço?
Ah, o Brasil...