segunda-feira, 24 de março de 2014

Buldogues me despertam ternura. Sinto vontade de cuidar deles, de vê-los dormir e acordar, escolher nomes que combinem com eles, ouvir seus barulhinhos e sentir seus cheirinhos. Minha cachorra é um buldogue. Ela ficou na casa da minha mãe e eu sinto muita saudade de, nos momentos menos esperados, segurá-la no colo e apertá-la. Seu jeito de mexer as patinhas, de esperar como se estivesse em posição de balé e a forma como se espreguiça durante o sono, são apenas algumas das razões que a fazem especial, mas há muitas outras. 

Tive uma professora na faculdade que me despertava ternura. Era Anita Prestes. Já perto de se aposentar, quando me deu aula, pouco se levantava. Dava aula falando de forma clara e num tom agradável as informações que trazia num caderno. Era muito séria e raramente fazia brincadeiras. Toda vez que eu a via sentia um enorme orgulho de estar diante dela, pensava na Olga e a imaginava neném, deixando o campo de concentração. É muito interessante imaginar uma mulher dura como aquela, neném. Anita se referia ao seu pai como "Prestes" e demonstrava um respeito muito grande pela trajetória dele. Me lembro que um dia ela foi dar aula com uns brincos vermelhos, em forma de flor, enormes. Me perguntei de quem ela teria ganhado aquela bijuteria, pois não a imagino comprando a mesma. Ela sempre vestia tons pastéis e casaquinhos. Aquele brinco rompia a dureza e deixava aparente uma possível doçura. Alguns anos depois, tive a oportunidade de entrevistar Anita Prestes para um projeto que trabalhei e, ao contar sobre todos os lugares onde morou, fugindo de Vargas e da ditadura militar, percebi que ela não guarda mágoas. Ela é para o que nasceu. Já escrevi sobre isso aqui, inclusive, como deve ser difícil ser ela. Nesse mesmo projeto, entrevistei Clara Charf, viúva de Mariguella e ela nos contou sobre a festa que foi o dia que Anita, neném, chegou ao Brasil. É bonito imaginar. As recordações da Professora Anita despertam os melhores sentimentos que existem em mim. 

Minha mãe, meu pai, minha irmã e minha avó também me fazem sentir ternura. Alguns amigos, algumas linhas de ônibus, cinemas e lugares onde estudei também, assim como alguns homens do meu passado. 
É ternura demais, acho que preciso endurecer. 

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