Durante as últimas férias eu li a biografia que o Stefan Zweig escreveu da Maria Antonieta. Me impressionei com muitas situações, mas uma delas não sai da minha cabeça: A indecisão de Luis XVI sobre fugir ou não de Paris quando o cerco apertou. Já tinham perdido Versalhes, Mirabeau já havia morrido e ele continuava a hesitar. Foi quem perdeu a cabeça mais rápido, não é a toa (ok, a princesa de Lamballe foi antes, mas ela era coadjuvante).
Tenho agora 29 anos e o aprendizado da segurança é diário. Há coisas que eu já nasci sabendo, sei perguntar, pedir favor, sorrir, levantar o dedo para dar opinião, escrever, escolher roupas, ouvir e observar. Mas não sei ser confiante. São várias bolas de chumbo que levo acorrentadas aos meus pés. Foi o Felipe Fernando, na 3ª série que quando me tirou no amigo oculto, ao me descrever, disse: "Ela é gorda", comentário que foi corrigido pela Tia Gilda, professora de Matemática com um "gorda não, rechonchuda". Foi também o dia que a Danielle Inácia, minha amiguinha da 5ª F, foi contar para o Fernando, da 7ª D que eu gostava dele e ele olhou pra mim e fez cara de vômito. Foram as inúmeras vezes que eu não fui escolhida para o time titular de queimado das Olimpíadas da escola porque a Fernanda Arcanjo sempre me queimava no queimado. Foi o dia que o Joaquim, professor de Matemática do 2º ano, ensinou matriz e eu achei que estava aprendendo, mas não conseguia resolver os exercícios no tempo que ele estipulava, fiquei com raiva e joguei o lápis no caderno, suspirei, desisti daquela merda e chorei. Nunca mais vi o Felipe Fernando. Ele tinha o cabelo igual ao do Latino e usava um bigodinho. Era ridículo. O Fernando, hoje em dia, é da Opus dei. A professora de Educação Física está igualzinha, eu a vi outro dia na rua. Ela não se lembra de mim, mas eu lembro dela. Quem apanha nunca esquece. E matriz... eu nunca usei e nunca vou usar.
E aí veio a juventude. Foram tantos amores contrariados, tantas tentativas de pertencer a vários lugares ao mesmo tempo...Demorou até que eu conseguisse me sentir forte o suficiente para fazer só o que me cabe. Tenho pensado que não quero ser o Luis XVI e também não quero ser a Maria Antonieta. A minha cabeça não vai ser cortada.
quarta-feira, 26 de março de 2014
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