quinta-feira, 14 de abril de 2011

Welington.

São três os personagens que construí para escrever aqui: A Cecília mal sucedida no amor, a expectadora de arte e a professora. Hoje quem fala é essa última.
Não consigo sentir pena de Welington. Não consigo sentir raiva de Welington.
Estava domingo visitando um primo que teve filhas gêmeas. Todo aquele clima angelical, cheirinho de neném, lanchinho, minha tia querida...o melhor da família, quando olhei para a tv e li, no rodapé da Globonews a seguinte frase: "Policia prende os suspeitos de terem vendido arma a monstro de Realengo". Passados os dias a palavra "monstro" ainda lateja em mim.
O que tenho de pior em mim, toda a raiva das rejeições do período escolar, a mágoa, a vontade de humilhar todos aqueles meninos que me ridicularizavam, me faz compreender no que Welington se tornou.
Mas o que há de melhor em mim, o carinho por cada aluno, as risadas que dou quando eles falam besteiras, o trato íntimo que fiz comigo para me conformar com o baixo salário, com a distância e com a bagunça, tudo isso me faz lamentar profundamente que Welington, homem igual a mim, tenha sido tão obstinado em sua vingança.
Talvez se no meio do caminho ele tivesse se apaixonado, se um dia no ponto de ônibus tivesse conversado com alguma menina... Se tivesse sido convidado para uma festinha de criança com bastante brigadeiro ou se lá, naquela época em que sofria, tivesse algum amigo ou professor que o abraçasse...
Welington é sim, produto desse Capitalismo selvagem que produz o pertencimento, seus assassinatos foram cada grito que ele não deu. Ele matou inocentes porque também era inocente.
A tragédia de Realengo dói porque denuncia a nossa omissão diante de todos os que tiveram dificuldades perto de nós, de todos os que nós vimos sofrer e permanecemos calados. Estamos na sala de jantar ocupados em nascer e morrer e tivemos nosso sossego ameaçado. Não é assalto, não é pobreza, é dor. Welington fez a grande merda que fez porque sentia muita dor.
É irreversível o estrago que ele, tão inteligente, causou. É quase uma metáfora, um ensinamento, profecia, sei lá. E é sim, uma merda.

2 comentários:

  1. Lidei com isso de formas distintas em momentos distintos; eu briguei, e eu ignorei. Fui o "bully" algumas vezes. Fui misógino na maior parte do tempo. Ser criança é algo complicado, mas sobrevivi a minha infância, que sim, foi boa e divertida.

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  2. Tô apaixonada por seu blog... queria essa facilidade com as palavras.
    Beijinhos, Lu

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