sábado, 30 de junho de 2012

Vida saudável compulsória

Parei de tomar refrigerante e suco de caixinha ou em lata. Não como mais no Mc Donald's, que sempre foi uma referência de lugar feliz. Guaraná Antártica diet, zero ou light também faziam parte do meu cotidiano. Meus 27 anos levaram tudo isso ao me trazer uma insuportável consciência de vida saudável.
Estou de dieta. Ontem tinha cachorro quente na escola e eu resisti. Anoto tudo o que como. Comprei um pão de seis e cinquenta no Mundo Verde e tenho bebido água com gás de manhã.
Essas decisões têm a ver com o que eu quero pra mim no futuro. Minha orientadora há pouco tempo me recomendou ter cuidado para não me tornar uma velha obesa. Mamãe me acha obesa desde que eu nasci. Papai ofereceu pagar o Vigilantes do peso pra mim e vovó sempre se dispõe a financiar algum tipo de tratamento para emagrecer. Chega. Tomei a causa pra mim. E a causa não é ser magra. Ser magra é a consequência. O que me fez decidir adotar essa nova filosofia de alimentação foi a minha enorme vontade de ser feliz, de nunca mais ouvir esse tipo de coisa e de aparecer de biquini em fotos com tranquilidade. Ainda não consegui voltar para a academia, mas pretendo fazê-lo em breve. Gostaria também de fazer pilates, yoga ou qualquer coisa do tipo. Não fumo e bebo bem pouco. Acho que ainda está em tempo de eu assegurar que minha velhice não seja um tempo de tristezas. Quando eu for velhinha, quero ir todos os dias ao cinema. Vai ser lindo.

domingo, 3 de junho de 2012

A namorada.

Namorada é aquela que passa a noite sozinha no ônibus pra ver o amor recente que mora em outra cidade. Toma cerveja só pra fazer companhia, deixa de assistir a novela porque ele não gosta e ri junto durante as reprises de TV Pirata. Deixa ele esperando quando entra numa loja legal e se descobre um restaurante novo, conta toda contente.
Arruma as roupas, dobra tudo direitinho e faz a cama, crente que está resolvendo a vida dele, mas quando volta lá e vê tudo bagunçado de novo, desiste de querer botar ordem naquele espaço que por enquanto não é dela. Por enquanto sim, porque a namorada quer morar com o namorado e quer ser mulher dele. E aí sim, as roupas vão ficar definitivamente organizadas e os quadros pregados na parede.
Ela adora café da manhã no sofá vendo Globonews pra se atualizar sobre o mundo real porque a casa do namorado é um mundo encantado e dói muito voltar de lá. E adora quando ele compra um vinho, está frio e tem queijo na geladeira, é lindo, mas rapidamente ela sente falta de uma Coca Zero pra matar a sede.
Namorada é chata. Olha o e-mails dele escondida, descobre que a ex escreveu e dá um escândalo. Telefona de madrugada e diz que está preocupada com a segurança dele, mas é mentira, ela quer controlar tudo porque no fundo é obcessiva, mas sabe fingir direitinho que é normal. Fica até em paz no sábado de madrugada ouvindo Caetano Veloso, só de calcinha, sentadinha na cama e sente muita saudade.
Não tem paciência para explicar todos os seus conflitos a ele mais de uma vez. Quando percebe que ele não prestou atenção em alguma história, faz uma cara muito feia e suspira bem forte, parecendo um búfalo.
Demora meses até ir à casa dos pais do namorado e, quando os conhece, adora, mas fica com vergonha de demorar no banheiro enquanto está lá.
Tem pavor de se parecer com as outras porque quer ser mais especial, delicada, livre, cheirosa, macia, jovem, forte, esperta, compreensiva, e principalmente: mais gostosa. Quer ser pra sempre, quer que ele ligue, quer passear de dia e deitar pertinho a noite. 
Agora ela quer ir de avião pra chegar mais rápido, mas precisa do cartão de crédito dele para pagar as passagens. É chorona e gosta de conversar à noite, acordando ele de madrugada nos momentos de insônia.
Não quer ser mãe, nem faz questão de protocolos, mas se emociona com vestidos de noiva e filmes de amor. É neurótica a namorada, imagina que a qualquer momento outra mocinha vai aparecer e tirar o que é dela, pois é muito bom pra ser verdade que ele seja dela. Fica aliviada quando ele diz que a ama.
Apaixonada, escolheu ser namorada e é plena em sua condição, até nos momentos de insegurança. Nada pode ser mais importante do que ela.