segunda-feira, 5 de julho de 2010

"Certa manhã acordei de sonhos intranquilos."

Famosos são que nem poesia, estão aí para que as nossas dores pareçam menos solitárias. Conheço o Otto, cantor, há uns dez anos, da época que ele saiu do Mundo Livre S.A. e aquela música do tempo do Bob lá do pina de Copacabana fez sucesso. Nunca parei pra ouvir mais do que essa música, mas simpatizava com o sotaque pernambucano e com a aparência bruta e ao mesmo tempo doce do rapaz. Voi la, ele se casou com a Alessandra Negrinni.
Alessandre Negrinni é a eterna engraçadinha rodriguiana. Louca, linda e de voz mansa, teve filho jovem, usa saias curtas e dá poucas entrevistas. Saiu na Playboy porque queria dinheiro e causou polêmica quando foi ao cinema ver "A lenda do cavaleiro sem cabeça" tarde da noite acompanhada do seu bebê de um ano.
Quando se apaixonaram, Alessandra rapidamente tatuou o nome do amado no braço. Eram fotografados sorridentes nas colunas sociais. Quase a bela e a fera. Uma vez entrando no show do Mombojó no Circo Voador, fui entrevistada pelo Otto, mandei um beijo pra Alessandra e ele disse, alegre, que ela também estava lá. Tiveram uma filha e o amor acabou. Ele deu uma entrevista dura ao Globo confessando o sofrimento. Como esquecer Alessandra Negrinni? Me lembro de tê-lo visto perambulando sozinho pelo Festival do Rio de 2008. Parecia triste.
Passado um tempo fui ao cinema uma sexta-feira a noite em Botafogo e o encontrei com uma namorada alta, de vestido curto, bota e cabelo despenteado propositalmente. Não conversavam. Ele só batucava "Sem compromisso" do Geraldo Pereira na mesa do café high society e ela eu não sei o que fazia.
Fui aconselhada por pessoas diferentes a ouvir seu novo cd "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos", que saiu no ano passado. Só o fiz agora, há dois meses. Tenho a impressão de que é uma fossa pra frente, ressaca de uma paixão inacabada. Versos como: "Você me falou de uma casa pequena com uma varanda, chamando as crianças pra jantar. Isso é pra morrer." ou "Num dia assim calado você me mostrou a vida, e agora vem dizer pra mim que é despedida..." se misturam com guitarras e tambores, obra-prima. Sem dúvidas a melhor coisa que eu ouvi nos últimos meses.
Sábado o Otto tocou no Circo. Hace tiempo que yo no me quedo tan completamente ansiosa por un expetáculo como me quede para este. E fui. É um artista completo. Tira a roupa, fala muito, cantarola musiquinhas outras e surpreende. Sua atual namoradinha global-modelete, dançava esprivitada e cochichava com amigas. Mas ali é tudo dor de cotovelo por Alessandra. E a modelete-gostosinha, nem sequer conhecia as letras.
A primeira música do show foi "Filha": "Aqui há paz, aqui a paz e alegria, antes que você perceba que não deu, não deu, não deu...". Durante a apresentação disse em que rua mora e que ônibus pega da Lapa até lá. Desceu do palco, se molhou e explicou diversas vezes as razões que o fazem amar o Rio de Janeiro. Está na trilha sonora da novela das oito e tinha na platéia, vários atores cults. É mais um outsider que se estabeleceu.
Me pergunto se Alessandra Negrinni não se emociona. Acho que, como eu, que só agora, passado um ano e meio, me sinto um pouco melhor em relação a minha última paixonite braba, ele também deve estar começando a sobreviver. E infelizmente, penso que assim como quem me deixou, de fato, não me ama, o sentimento de Alessandra provavelmente se esgotou. Ficaram as músicas. Grandes músicas.

Obs: Esse texto é uma licença poética. Nada disso tem qualquer fundamento. São afirmações ficcionais em cima de pessoas públicas. Pero que las hay, las hay.

5 comentários:

  1. Esse texto mexeu comigo.

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  2. que bonito, ciça.
    vc é uma pessoa que me faz acreditar não se estar sozinho nesse mundo louco. e que a gente pode sim comunicar com alguém.

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  3. Ficaram juntos por cerca de cinco anos, acho que deu muito certo sim. Uma filha e várias poesias, se o amor também não for isso, acho que nõ sei o que pode ser.

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  4. Adorei o texto. Esse disco é realmente ótimo. Valeu pela sugestão. ;-)

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  5. Que bonito! primeiro texto que leio do seu blog. Gostei bastante, vou voltar pra ler outros :)

    Sou suspeita pra falar do Otto,
    sou apaixonada pela arte dele: pela sensibilidade e autenticidade.

    infelizmente, ainda não tive a oportunidade de ver um show, mas acredito que logo, logo resolvo esse 'probleminha'!

    um beijo.

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