segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E passou uma semana, e eu não vi o meu amor...

No "Encontros e desencontros" tem um diálogo que o Bill Murray explica para a Scarlet Johanson que quando você sabe quem você é e o que você quer a vida fica mais fácil. Hoje eu pensei muito nisso. Eu sei o que eu não quero e consigo dizer que sou Tijucana, historiadora, que gosto de rock e de homens com barba, mas é só. Pode ser que amanhã eu decida ir salvar as baleias em Abrolhos ou que eu resolva me tronar atendente de Tele-sexo. Os nãos que eu digo são de verdade, as lágrimas desse ano inteiro, uma por uma, existiram. Mas eu tenho a impressão de que a forma de eu enxergar os fatos é deturpada. Eu exagero.
A Ivone chorando na novela, "Os Normais 2" no cinema, o bloco de Carnaval fora de época e o almoço de hoje com um homem me propondo amor eterno, isso tudo me toca. Acho que até a nova novela do Manoel Carlos pode me emocionar. Adoro cafonices.

domingo, 30 de agosto de 2009

Desalento.

Em cada e-mail que eu te mandava havia vinte deixados pra trás. É dele esta frase. Foi dele a minha tarde ensolarada de domingo. Ele foi a parte que me coube neste latifundio de poucas glórias, de terças-feiras de verão e de poemas escancarados. Eu hoje me sinto tão exposta diante de você que passo a achar que até o meu perfume te enjoa. Eu tenho náuseas de mim. E ele, as palavras dele, a tristeza dele e as músicas dele me acolheram assim, sem pedir explicações, com carinho domado, com respostas atentas e precisas. Eu, ele e a saudade saímos pra dançar hoje. Samba, sabe? Eu, ele e o olhar carente dele ficamos ali tomando casquinha de baunilha enquanto o mundo era feliz. Ah, por que eu fui me encantar? Por que eu fui te escolher? Era a marca de batom vermelho, caro e vulgar no copo de vidro de um bar da Lapa. Eu não sei se é minha a marca. O dono do copo não é mais meu.
Eu e o ele vamos sair para tomar suco e para conversar sobre essas dores que os outros não sentem e sobre as paixões que não passam. Ah, como eu queria te perdoar...

Quadrilha.

Eu sempre achei que o arroz da minha mãe era o mais gostoso do mundo. Pra mim ninguém sabia fazer arroz do jeito que ela faz e por essa razão raramente eu como arroz fora de casa. Um dia, no entanto eu experimentei o arroz da atual mulher do meu pai e vi que é igual ao da minha mãe. Fiquei pensando que isso é muito injusto. Eu gosto muito da mulher do meu pai, mas o arroz dela ser igual ao da minha mãe faz com que as pessoas sejam substituíveis e eu não sei lidar com isso.
Ontem eu vi esse filme novo com o Joaquin Phoenix, "Amantes", que fala exatamente sobre isso. O rapaz tem no seu horizonte duas mulheres, a vizinha problemática que tem um caso com um homem casado e um pai maluco e a filha de um casal amigo da família que é super ajuizada e louca por ele. É claro que é com a desequilibrada que ele quer ficar. É por ela que ele larga tudo e perto dela a outra, os presentes da outra, os cabelos bonitos da outra, as frases delicadas e o carinho se tornam irrelevantes. Só que a número 1 não gosta dele. Ela deixa ele na rua da Amargura e depois de quase tentar morrer afogado (como a Ofélia de Hamlet não era necessário mais água porque já havia lágrima suficiente) a segunda opção se torna plausivel.
A segunda pior coisa do mundo é ser o Plano B de alguém. E primeira pior é estar com alguém que é o Plano B. Estar com o Plano B significa que quando você vai dormir ficam latejando as angustias causadas pela rejeição do Plano A. Significa viver uma mentira que quando vier a tona vai distribuir mágoas para todos os lados. E o que é mais difícil, significa que todo aquele amor que o Plano B sente por você é desperdicio. Aquele dia que ele estava bonito, a noite de amor sincero e os elogios gostosos de ouvir são a toa. Ninguém esquece o Plano B, não é isso. O problema é que, pelo menos comigo, eles perdem a ultilidade. E aí eu não sei ir embora. Ninguém vai embora impunemente. Eu, uma vez tentei ser honesta. Sentei com o rapaz no CCBB em tarde de estréia da peça do Sérgio Brito sobre o Jung e falei que não queria mais. Chorei horrores, ele também e pronto, acabou. Ele me odeia até hoje. Da outra vez eu fui embora aos poucos, dando sinais, parando de ver e não dizendo mais que amava. Óbviamente no dia que ele entendeu o recado o desastre se deu, mas não havia mais o que fazer. Tem pessoas que mandam e-mails, outras param de atender o telefone e tem umas que inventam doenças na família.
E assim os Planos B se perpetuam e grandes paixões viram músicas tristes.

sábado, 29 de agosto de 2009

Sem cais

São sete horas da manhã de um sábado que não promete aleluias. É um tempo que não passa. A bagunça do coração do outro me fez de tonta e agora eu sou uma ladainha que grita, chora e fala baixinho. Eu me perdi.
Acordei com a certeza da dieta e já estou com vontade de comer besteira. Fico me imaginando magra assim como a Cristiane F. se imaginava livre das drogas e feliz, como a menina do comercial da Coca-Cola. O Caetano no rádio me ajuda. A gente inventa pessoas, criamos toda uma redoma pra elas e ficamos ouvindo resignados os apelos banais dos outros. Eu sinto inveja, preciso admitir. Todo aquele papinho de contar a vida inteira em duas horas e de mexer no cabelo pra fazer charme. Ah, que falta isso faz...
Esses assuntos de Revolução, pós-graduação e o caos do mundo não são para os primeiros encontros e talvez não sejam nem para os últimos. O negócio é falar daquela música do verão passado, do filme que te deixou estatelado na cadeira do cinema ou de como o Gilberto Braga foi injusto com a Bebel e com o Olavo no último capítulo de Paraíso Tropical, o que só reafirma a falta de habilidade dele para dar fim as boas histórias que sabe contar. Dá pra falar de futebol também, da situação deveras periclitante do Flamengo e daquele jogo da Copa de 2006 que o goleiro de Portugal virou atacante. Meu pai sempre diz pra não confiar em homem que não gosta de futebol.
Eu me cansei de discutir a falta de ética dos senadores. Pra mim somos todos iguais. Eu e você lá, muito provavelmente, não sairíamos impunes. Quero falar das minhas novas experiências na cozinha e de como aquela sombra que eu passei ontem ficou bem em mim. Citar autores, só depois de umas cinco caipirinhas. Marx só depois de oito.
Ah, a luta de classes...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

E volta...

Hoje eu fui encontrar uns amigos quando saí do trabalho e tinha uma liquidação no meio do caminho. Entrei, lógico. Gastei, lógico. Fomos ao Mc Donald's e eu comi uma promoção do Cheddar. Engordei, lógico.
De lá nós fomos para uma festinha no sindicato dos bancários que era igual ao Petisco da Velha do Lineu da Grande Família, sem tirar nem por. Fui me sentindo cada vez mais feia e quis ir embora. Me despedi das pessoas e fui esperar o elevador. Veio um rapaz perguntar se eu já ia embora, disse que nem deu tempo de a gente se conhecer... Peguei o 415 e vim pra casa. Preciso emagrecer. Preciso pertencer ao mundo encantado da pegação. Preciso me sentir desejada.

Garfield.

Passou a tarde inteira pintando os olhos. Queria ter almoçado num desses restaurantes a quilo que misturam comida japonesa com palmito pupunha, mas se contentou com o bife de alcatra com arroz que tinha em casa. O mar de sexta feira a tarde nunca está de ressaca. Queria estar na cozinha experimentando a versatilidade do iogurte natural. Passou pelo J. e não cumprimentou. Encontrou o M. com uma dita cuja. Sentiu ciúme. Já não conversa com N., nem escreve e-mails para R. ou H. Não tem assunto.
Do you need anybody?
I need somebody to love
Desistiu das dietas. Desistiu de caber no manequim 42. Desistiu de tirar fotos nua. Descobriu que todo aquele papo de seios perdidos no Largo do Machado é uma mentira e que o último rapaz que a amou intensamente agora tem um cachorro.
Can it be anybody?
I want somebody to love.
E até músicas do Skank ela pensa em cantar. Skank tem os seus momentos: "Assim ela já vai achar um cara que lhe queira, como você não quis fazer..."
E são flautas, amigos equivocados, transito, festinha do dia do bancário e o dia vazio.
How do i few by the end of the day? Are you sad because you're on your own?
Que tarde agradável, que vida merda...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nada além do sociólogo charmoso.

Eu tenho a sensação constante de que eu sufoco algumas pessoas. Eu ligo na hora errada, faço perguntas inoportunas, falo de assuntos que já se esgotaram e ainda por cima deixo de ir quando eles me convidam pra uma coisa legal. É que eu estava cansada, não dormi direito na noite passada, acordei cedo, fiz uma prova trabalhosa de manhã, andei do Largo de São Francisco a Praça XV e da Praça XV até a Lapa, tive uma reunião de trabalho chatíssima e sentei por ali pra bater papo ao entardecer. Vim dormindo no 409, dormi quando cheguei em casa e só acordei pra ver a Maya vendando os olhos do Raj porque realmente essa novela está sensacional. Pra falar a verdade eu só tenho vontade de falar sobre isso, queria comentar cada personagem, mas eu acho que vou acabar me tornando repetitiva. Enfim, como eu poderia sair hoje depois de tantas coisas e com a Maya me esperando? Será que o meu amigo vai me perdoar pela inconveniência e pela ausência?
A propósito, fiz o meu melhor na prova de hoje. Vou dormir tranquila. Farei apenas mais um comentário: Um dos professores que faz parte da banca da seleção de mestrado que eu estou participando estava lá aplicando a prova. Ele é francês e fala português muito bem, mas com aquele sotaque parecido com o do Vicente Cassel, que meu Deus! Ele é magro, usa um óculos charmosíssimo e estava de camisa pra dentro. Um homem pra ficar bem de camisa pra dentro tem que ser um espetáculo mesmo. Foi inspirador. Eu posso até não passar no mestrado, mas nunca vou me esquecer dele.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Contramão sinalizada

Eu juro que se a minha carência se resolvesse com sexo casual eu sairia transando com todos os homens disponíveis que me aparecem. A merda é que eu quero romance. Eu quero sábados a noite, algodão doce e mensagens no celular.
O grande problema é que eu nasci com essa cara de boa moça e com uma aura transparente que faz os caras pensarem que comigo o assunto é sério. E eu demonstrei as minhas reais intenções quando me apaixonei. Levei um pé na bunda monumental que ecoa nas minhas pernas e nos meus braços até hoje.
O que eu faço pra esquecer esse homem?? O que eu faço pra conseguir dar uma chance aos outros?? Virar atriz de filmes pornográficos resolve? Casas de swing resolvem? Sexo com amigos resolve? Igreja evangélica, chocolate, mestrado? Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus? Se sabias que eu era fraco?
Gostar de alguém sem ser correspondido é o maior e mais ridículo dos clichês. Eu não quero mais insistir nele, não quero.
Nessas horas eu penso que casamentos arranjados fazem sentido. O Tony Ramos disse ontem na novela que o amor é construído pelo casal, que ele não aparece assim, como mágica. Esse entendimento faz com que pessoas como eu tenham chance de encontrar um companheiro.
Esse é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante e a primeira vez é sempre a última chance. Eu tenho uma prova de mestrado amanhã e estou aqui falando de amor e cantando Legião Urbana. Que vida besta, meu Deus!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Fera ferida.

Hoje eu fui a faculdade discutir os textos que estão na bibliografia da minha prova de quinta feira. Tenho a sensação de que eu leio os textos e entendo tudo, mas que eles não me suscitam tantas questões quanto acontece com as outras pessoas. Eu fico ouvindo quieta as colocações dos outros e me pergunto: E daí? É como se pra mim não fizesse diferença. Eu me interesso em entender o funcionamento da sociedade em que eu vivo, mas não fico procurando sarna pra me coçar. Talvez eu devesse, mas eu não consigo. Eu compreendi o que os autores queriam dizer e tenho opiniões formadas sobre alguns, mas é só. Tenho segurança pra escrever sobre cada um deles, mas não para dar palestras.
Não sei se serei bem sucedida nessa prova, entreguei pra Deus. Não vou mudar. Sou um caso sem solução.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Os cacos de Maria Isabela.

Maria Isabela foi catar os cacos de si mesma lá longe e só volta amanhã a noite.
Onde será o longe de Maria Isabela?
São Paulo? Recreio dos Bandeirantes? Nova Iguaçu?
Maria Isabela foi para o Pará. Ela foi catar os cacos com a ajuda dos búfalos da Ilha de Marajó.
Mas esses animaizinhos são frágeis por dentro, igual a ela, que fica chorando de cara amarrada pra fingir que não quebra.
Aí ela e os búfalos se cortaram com os cacos de tão grossos que eles eram.
Sangrou muito, mas ela foi a praia e ficou ali no sol quietinha por um tempão. Vai sarar.

O mestrado e a novela das oito.

Esse processo de seleção para o mestrado é muito interessante. No Vestibular a gente não tem noção de quantas pessoas estão inscritas para o mesmo curso e mesmo quando temos, elas não estão todas na mesma sala. A competição do pré vestibular é baseada nas notas dos simulados, mas até o Ensino Médio não existe isso de um aluno ficar escondendo estratégias do outro.
Agora na graduação também não era pra ter, mas tem. Nós, ainda tão pequenos, ficamos com medo de entregar nossas conclusões brilhantes aos outros. Ficamos escondendo as discussões que tivemos com nossos amigos que já estão na pós graduação, não contamos a que livros recorremos nem convidamos quem não consideramos tão bom quanto nós para os tais grupos de estudos que se multiplicam nessa época. Que ridículos somos. Que mesquinharia, que falta de bom senso! Como poderemos estudar o homem e a sociedade se somos assim? Deveríamos ser proíbidos de trabalhar com qualquer coisa. Não servimos pra nada. Somos tão inseguros que pedimos aos outros que finjam ter dúvidas para não admitirmos nossas fraquezas. Ah, como somos idiotas! É por isso que o Brasil está assim. Se os pretenços antropólogos e sociólogos são esse tipo de pessoa, a análise da nossa sociedade deve estar totalmente equivocada.
Eu queria que a minha prova de quinta feira, prova essa que decide uma parte importante da minha vida, fosse sobre a novela das oito. Nossa! Não ia ter pra ninguém. Eu gosto tanto dessa novela.. E não ia adiantar, eu poderia explicar minhas conslusões pra todo mundo que ninguém ia explicar a India da Glória Perez melhor do que eu. Agora Weber e Durkhein, infelizmente, muita gente deve entender melhor do que eu. E sinceramente, eu adoro saber mais de novela do que de pensamento social mundial. Isso faz de mim uma pessoa mais agradável.
Ando com tanta vontade de escrever cartas, tanta vontade de ficar falando da vida...
Aonde isso vai me levar, meu Deus?

domingo, 23 de agosto de 2009

Bilhete para Tieta.

Querida Tieta,

Conta pra mim desses paraísos que te mostraram e dessas eternidades que te saturam. Me fala das tuas tardes e madrugadas nessas terras onde venta com decência. Aqui o vento não tem vergonha. Ele teima em fazer carinho no meu tornozelo e eu, meio por inocência, meio por destempero, fico toda arrepiada. Aqui Tieta, é muito quente. A gente quando vê já está sem roupa.
Foi num desses carinhos do vento que perdi meus seios. Foi numa dessas liberdades que me perdi. E agora te escrevo porque me joguei na vida. Precisei me segurar em você, Tieta, porque você é homem de verdade, que tem força pra dirigir carro vermelho ou caminhão. Eu fico rindo ao volante. Sou desconpençada demais pra me guiar sozinha.
Eu nunca fumei, acredita? Sou moralista no final. Não beijo quem não amo. Ah, Tieta, foi feitiço que me deixou assim. Me fiz Jane de um Tarnzan que era fraco e que não me disse Adeus.
Ah, Tieta...
Quem nos ouve?

A Odisséia de Maya.

Eu não paro de pensar na Maya. Ontem eu vi que "Caminho das índias" vai terminar em setembro. Fiquei aliviada porque eu não aguentaria ver a Juliana Paes sofrer por muito tempo. Na sexta feira, quando ela foi dizer a mãe dela que a Surya filha da puta já sabia de tudo, as palavras da Nívea Maria foram perfeitas. Ela disse: "Então seja muito feliz, Maya, porque é uma questão de tempo". No capítulo de ontem, ela tentou explicar tudo a Surya, tentou sensibilizar a Naja, mas o coração da Cléo Pires parece de pedra.
A Maya se apaixonou por um Dalit que ela não sabia que era Dalit. Ela se entregou a ele porque estava tão apaixonada que não tinha mais escolha. As pessoas que teimam em dizer que conseguem ser racionais quando estão apaixonadas ou mentem ou não sabem o que é paixão. E o Bahuan foi atrás da sua angustia e deixou ela sozinha e grávida. Restou a ela se casar com o Raj (que aliás, é um Plano B excelente, ai ai...). O Raj por sua vez, tinha acabado de ter um caso com uma firangue e quando a Maya disse a ele que não era mais pura, ele não se importou. Eles se casaram, esqueceram o passado e ela deu à luz um pequeno intocável. O Tony Ramos, que tem horror aos Dalits, segura no colo o menininho Niraj e o ama incondicionalmente. O que vai acontecer quando todos souberem que o menino não é de casta? A Maya não pertence mais ao Bahuan e nunca vai pertencer aos Ananda. A Maya, tão graciosa, com seus Saris amarelos-ouro, leva no semblante a angustia de não ter amanhã. Ela fala baixo, é delicada e graciosa, mas seu coração não é tranquilo. Ela fez o que podia para não perder a dignidade, tentou se salvar, aceitou as adversidades e seguiu em frente. Ela merece um final feliz .
Que novela bonita. Qua atuação impecável. Que texto óbvio!

sábado, 22 de agosto de 2009

Poema para Tieta.

Meia noite aqui em casa
meio dia
somos eu, você e os outros
são seios que eu deixei no Largo do Machado
e que nunca tive coragem de ir buscar.
Eu tiro os pelos do meu corpo com a dor paupável da cera
A dor daqueles lados, daquelas chuvas, daquele verão
eu não consigo mensurar.
Mas é noite de festa
Eu trouxe você pra mim
Invadi o espaço do outro
Peço desculpas.
Se eu evitasse
seria um desperdício de afeição.
É longo o mar entre nós.
Eu não sei dançar devagar,
você sabe?
Tenho dificuldades com pontos e virgulas.
Quero um carro vermelho pra ir embora.
Você volta
Você vai.
Eu me mostro toda porque é de antes a verdade.
Você pertence ao que eu escolhi pra mim.
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Vou tratar de dançar o samba em traje de maiô
Vem comigo?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Açúcar.

Me chamaram enquanto corria a barca. E eu estava em casa tirando fotos nua para tentar conter a dor. Saí correndo atrás de você, mas as ondas eram muitas e eram grandes. Eu sempre voltava pra areia. Eu não me cansava.
Foi quando o motor parou de funcionar e a barca ficou ali parada no meio do mar, que justo agora estava calmo. Me sentei pra ouvir música, tentei me concentrar nos livros, mas eram mãos, braços, beijos e abraços concorrendo com o que tinha que ser. Era eu gritando para o azul interminável enquanto as pessoas permaneciam em silêncio.
A barca foi rebocada e me trouxeram pra cá. Aqui tem louça pra lavar e provas pra fazer. O mar está longe, mas eu, volta e meia, sinto vontade de nadar.
Aqui não tem festa.
Aqui não tem cachaça.
Aqui a correnteza não espera.
Minha vida burguesa continua sendo um romance. E eu não te conto o final.

O amigo do outro que é meu.

Eu preciso dizer. Preciso dizer que leio as coisas que você escreve. E que morro de vontade de ir conversar com você. É, vocês mesmo, que conhece as paixões fulminantes e os abandonos macios. Você que é especial e brilhante, mas que está sozinho. Por muitas vezes eu pensei em você. Os seus cabelos me vêm a cabeça na maior parte das vezes quando eu estou no ônibus. Me atormenta e me resolve ser como você.
Eu tive medo de pecar como você, mas depois eu percebi que já tinha entregado os pontos. E eu nunca pedi a revanche. Eu nunca quis ganhar a guerra. Eu, nessa sexta feira a noite, sou a derrotada mais apaixonada que existe. Eu, nessa sexta feira de chuva e frio sou resignada, burra, desperdiçada. Eu, nessa sexta feira de um agosto mais um, sou você. E como pode eu e você termos sido deixados por pessoas tão amáveis? Como pode eu e você irmos atrás das noites em claro, dos livros perdidos, dos fragmentos do discurso amoroso que ficaram lá?
Eu e você, piscianos distantes. Quantas Avenidas Rio Branco terão que existir
entre nós? Quem nos cala?

Vive la France!

Minha mãe e minha irmã voltaram essa semana de Paris. Ontem eu estava vendo as fotos da viagem e em uma delas minha mãe estava abraçada com um freira. Perguntei a minha irmã de onde a minha mãe tinha tirado aquela serva do Senhor e ela me disse que estava tendo uma procissão no rio Sena e que minha mãe, que recentemente parece ter passado a achar a idéia de se tornar beata um destino digno para si própria (a idade faz essas coisas com as pessoas?), estava muito entusiasmada com a cerimonia. A freirinha então se aproximou para conhecer a tão alegre e consagrada jovem senhora e contou que era irlandesa. Minha mãe perguntou a ela por que ela não estava lá embaixo, nos barcos da procissão e ela disse que trabalhava num presídio próximo e não junto a uma paróquia. Neste momento um homem sozinho passou rodando a camisa com as mãos pra cima dizendo: "Je suis libre, je suis libre!" e a freirinha exclamou: "Oh, he is free!".
Algumas fotos depois eu vi o tal presidio, que fica as margens do rio Sena. Foi lá que a Maria Antonieta ficou presa antes de ser morta pelos revolucionários. Fiquei pensando no quanto deve ser angustiante estar numa prisão as margens do rio Sena e no quanto aquele homem devia estar feliz por ser libertado numa noite bonita do verão europeu.
Ah, o velho mundo...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eclipse oculto.

Eu sei exatamente quais as razões que me fazem ser apaixonada por ele. E sei também porque nem cogito te dar uma chance. Ele vale a pena. Você entende isso? Sofrer por ele faz sentido. Se eu me permitisse conhecer de perto os seus defeitos (ir pra cama com alguém sempre envolve ficar próximo das imperfeições) pra que serviria? Eu não te admiro. Dói em você? Sinta-se vingado. Também dói em mim. São páginas e páginas de textos para não chorar. Eu invento absolvições pra ele todas as noites. E com você eu não me importo. Pra mim você não tem culpa de nada. E se tivesse não faria diferença.
Esse seu mundinho de óculos, os seus modelitos da estação passada...Em você tem muito pouca coisa original. E eu sei que no fundo você é pequeno. Lá embaixo você queria pertencer as minhas escolhas. Você me vê com um brinco novo, com o cabelo cortado, com as amigas de sempre, sem graça, desviando...e você não é ele. Por ele faz diferença o passo em falso e a blusa desabotoada, pra você os truques são banais.
Eu hoje recebi uma notícia boa e tive que dar uma notícia ruim. A pessoa que ia receber a má notícia é uma grande amiga. Não tinham palavras mais fáceis. Estou sozinha numa disputa de cachorros grandes agora.
Mas pra quem sofre por amor, prova de mestrado é novela mexicana.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Eu te conto como foi meu dia.

Eu tinha cinco minutos. Ia atravessar a rua. Do meu lado tinha um rapaz branco, alto, que usava calça jeans e ouvia música. Fiquei olhando pra ele, mas ele não me olhava. O sinal fechou. Eu odeio quando exatamente na hora de atravessar a pessoa que está na minha frente muda de idéia em relação ao caminho que vai seguir e vira bruscamente para o meu lado causando um engavetamento natural que começa por mim.
Tinham vários lugares vendendo chocolate e eu não parei em nenhum. Só quando cheguei me dei conta de que ia sentir vontade de comer doce mais tarde. Eu tenho preguiça de comprar no camelô e volta e meia o chocolate que eles vendem está velho e aí fica quebradiço, é horrível.
Tinha um senhor atrás de mim quando eu tentava passar por um cruzamento super movimentado do lado de uma obra inconstitucional no Tribunal de Justiça, que não parava de falar pra eu aceitar Jesus. Quase que ele me manda direto pro Céu de tanto que ele me atrapalhou a desviar das aeronaves dos desembargadores.
Cheguei. Estava quente. Preguiça de ir beber água, preguiça de fazer xixi e ajeitar a blusinha de dez reais no espelho. Toda vez que eu chego tiro os pés do sapato e encosto no chão fresquinho. Eu e a Catarina do meu livro favorito da infância adoramos essa sensação.
Toda vez que toca o telefone eu penso que é você. Alguém atende e não me interessa o assunto. Computador, fotografias, lápis 6B, novela, artistas com celulites, os meus problemas são maiores, não, todo mundo tem problemas. Eu tenho rompantes de egoísmo, mas não peço desculpas.
Abro a gaveta, guardo tudo no armário e vou embora. Escolho o lugar do ônibus. Vou sozinha perto do motorista. Ouço Weezer na Oi FM. A Praça Sães Peña as seis da tarde parece Madureira. A Praça Sães Peña as nove da noite parece Madureira. Eu nunca fui a Madureira. Inventei que fui pra tentar puxar assunto com um cara obsecado pelo subúrbio uma vez, mas nem funcionou.
A Rufles sabor Costelinha Barbecue que eu comprei no Mundial e que, de acordo com a propaganda é direcionada aos meninos, é muito gostosa. Ando na rua me sentindo injustiçada pelos amores contrariados. Em casa eu invento um macarrão enquanto não penso em nada.
A quem interessa o meu dia? Orkut, Twitter, blog e msn. Eu não me escondo de ninguém. Já é de noite e eu preciso estudar. Estou com sono, vou dormir. Quero ouvir uma canção de amor que fale da minha situação, de quem deixou a segurança do seu mundo por amor.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Todos os tamanhos.

Hoje eu estava atravessando aquela galeria que liga a Rio Branco a Gonçalves Dias as seis da tarde, quando vi uma moça vendendo umas blusinhas lindas por dez reais. Eram umas blusinhas brancas de bolinhas azuis e babadinhos fofos, muito charmosinhas mesmo.
Ela dizia: "Blusinha dez reais, blusinha dez reais, era quinze, agora é dez, aqui na minha mão, blusinha dez reais". Aí eu olhei, mas continuei andando. Foi quando ela, muito esperta, disse: "Tem todos os tamanhos".
E eu voltei e comprei a minha.
É preciso entender as estratégias de marketing do comércio informal, não é verdade?

domingo, 16 de agosto de 2009

É domingo no Vietnan.

Eu não gosto da Ana Carolina
mas eu tenho um amigo
o melhor de todos os amigos
aquele que nasceu pra mim
eu sinto muita vontade de proteger ele
e perto dele
eu estou sempre segura
é um amigo que move moinhos
e que hoje
um domingo improdutivo
me mandou uma letra dela
dizendo que lembrava de mim quando ouvia
É linda.
E eu não consigo parar de chorar.

Suduzindo as classes populares.

No ano passado eu pegava o 409 três vezes por semana as seis da manhã. Isso fez com que os motoristas desse horário se tornassem familiares para mim e muito provavelmente eu pra eles. Pois bem, ontem eu dormi na casa de uma amiga no Flamengo e hoje as oito da manhã eu estava andando rumo ao ponto de ônibus no Aterro. Avistei um 409, mas eu estava longe do ponto. Fiz sinal sabendo que tinha uma grande chance de o motorista não parar até porque o trânsito já estava movimentado. Ele parou. Quando eu subi ele, que era um daqueles conhecidos do ano passado disse: "Pra você eu paro!". Aí eu ri, agradeci, dei bom dia e continuei rindo.
A pergunta que não quer calar é: Ele disse isso porque me achou bonita ou porque se lembrou que já me conhecia?
Podia ser os dois.

sábado, 15 de agosto de 2009

Copacabana me engana.

O Sarney não merece que eu passe o meu sábado a tarde toda de preto, nem merece que eu vá ao Posto 6 e finja que estou lá porque me preocupo com a política nacional. Pelo Sarney eu não deixaria de ir a Copacabana sem ir a praia. Por ele eu não cantarias aqueles jingles fajutos do movimento estudantil, nem iria pra um barzinho depois comemorar a passeata feita para mostrar a aristocracia da Zona Sul que ela mesma se importa com alguma coisa.
Quando eu tinha dezessete anos (já dizia a Barbara Sansom que a gente não é sério aos dezessete anos) eu fui na passeata contra a guerra do Iraque. Era um sábado de sol como esse e tudo o que eu queria era conhecer os universitários politizados que estariam lá. Eu queria ser a camponesa gurrilheira manequim e terminei com as pessoas da sala de jantar que estão preocupadas em nascer e morrer. Depois de lá eu fui pra Santa Teresa com os meus amigos do PT ( há sete anos atrás os jovens ainda tinham partido) e ficou todo mundo paquerando e sambando e seguindo a canção. A Revolução podia esperar, o barzinho não.
Hoje, em 2009, eu não acredito mais na Revolução, embora seja extremamente otimista em relação a ordem natural das coisas. Adoro o Lula, a Petrobrás, a Globo, o Obama (esse eu amo tanto que já pensei até em fazer uma tatuagem com o nome dele), o cinema nacional, a UFRJ, entre muitas outras coisas que são cheias de problemas, mas que me convenceram. Eu abomino as visões fatalistas de que o mundo vai ficar sem oxigênio nos próximos 50 anos e me desespero quando vejo reportagens sobre a Amazônia, mas rapidamente volto a sala de jantar e vou resolver as minhas coisas.
Eu tenho 24 anos e confesso, me acomodei. E quem joguem as pedras. Se fosse pra ser feliz no amor e pra ter infinitas noites de sexo selvagem eu até arriscaria a minha vida, mas a patria amada, idolatrada, salve, salve que tem um grande espaço no meu coração não é motivo suficiente.
Vou ao cinema agora.
Goodbye.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Enquanto seu lobo não vem.

Eu nunca tinha chorado em dia de prova. Já chorei por brigas, principalmente com a minha mãe, e por homens, mas por uma prova hoje foi a primeira vez.
Era uma sala daquelas que eu usei pra beijar na boca com privacidade durante os meus anos de faculdade. Não é grande o espaço e antigamente ali era um auditório. Nessa sexta feira de manhã enrolarada, metrô lotado e lojas abrindo do lado de fora, ali estava tendo prova.
Eu não estava nervosa até ver as pessoas. Quando eu sentei, depois de muito procurar um lugar, as lágrimas começaram a querer sair. Não era o momento. Os beijos que eu dei ali eram bem menos assustadores do que aquilo tudo. Era muita gente, meu Deus!
Mas quando começou a prova e todo mundo fez silêncio eu me acalmei. Entreguei pra Nossa Senhora(ou pro cosmos, não sei bem) e fui.
Quando acabei, desci as escadas da para sempre minha faculdade que nas férias fica muito tranquila, saí, atravessei a Presidente Vargas das florestas escondidas do Caetano, peguei o 422 e vim pra casa.
Eu deixei naquela prova meia dúzia de sonhos, quilos e quilos de noites sem dormir, toneladas de dinheiro dos meus pais investidos em escola, cursos, xerox, passagem e futilidades e uma vontade enorme de ser conseguir passar.
É piegas demais isso de fazer a prova e escrever sobre ela, mas é de se parar pra pensar: Brasil, Rio de Janeiro, agosto de sol, 150 homens e mulheres querendo a mesma coisa e 25 vagas.
Acho que minha cabeça nunca mais vai parar de doer.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ingenuidade

O dia está lindo. A Praça XV é o lugar mais bonito do mundo. Aqui onde eu trabalho o pé direito é bem alto e tem uma porta gigante que fica aberta e dá para uma escada. É um prédio antigo e mal cuidado, mas da sala onde eu fico, consigo ver os ônibus passando, algumas árvores e o mar. Daqui a baía de Guanabara é sempre azul e eu gosto quando as barcas pra Niterói passam. De vez em quando eu sinto um cheiro de queimado no ar no fim da tarde que é bem típico do verão. Antigamente a barca era lenta e tinha varanda. Agora ela passou a se chamar "catamarã social", chega em 12 minutos a Niterói e lá de dentro não se vê nem o céu.
Eu tenho alguns amigos que surtaram com o fim da faculdade. Eu tive medo de passar por isso, mas graças a Deus, ou a ordem natural do cosmos, não aconteceu comigo.
Eu vivi intensamente a minha vida universitária. Fiz todas as matérias difíceis, estudei na biblioteca, fui a faculdade só para bater papo, frequentei o bar mais sujo do universo, comi queijo com banana na cantina, namorei, terminei, fui a festas, utilizei as salas do quarto andar para beijar na boca com privacidade, flertei com rapazes feios, morri de rir das minhas investidas mal sucedidas, fui monitora 550 vezes, tive 827 estágios, fiz os melhores amigos do mundo, me afastei de vários deles e hoje, seis anos depois do início disso tudo, consigo dizer que acabou. Precisou acabar. Pra mim teve que durar mais tempo, não só por comodismo, mas para que eu não precisasse sentir falta de nada agora.
Eu preciso viver outras coisas, discordar de outras pessoas, amar outros homens e viajar pra outros lugares. Acho que eu deveria morar sozinha. Agora que sei cozinhar, só preciso arrumar um jeito de não estragar o meu esmalte rapidamente quando lavo a louça. E tenho que aprender a enfrentar as baratas, esses seres maus.
Vou trabalhar. Vou deixar os Los Hermanos pra trás. Vou deixar esse homem pra trás. É mentira. De tudo o que não me pertence, é dele que eu mais gosto.
E se ele me chamar agora, eu vou. Eu não tenho orgulho. Eu quero ser feliz.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Diana ou Afrodite.

Eu tenho a sensação de que sempre respondo as perguntas erradas. E também percebo que não sei argumentar com algumas pessoas. Um amigo veio me dizer esses dias que a música é uma arte falida. Eu tive preguiça de discordar de um absurdo desses, mas mesmo assim tentei. E acabei ficando calada e ouvindo uma espécie de sermão sobre as rádios populares dos anos 90 que tocavam Tim Maia e hoje tocam Calypso.
Se eu fosse falar mais eu eu ele brigaríamos porque ele tem certeza absoluta de que entende tudo sobre música, sobre rádios populares e sobre as teorias criadas pelo Bourdieu sobre o campo artístico. E eu não tenho certeza de nada. Me arrependo totalmente de todas as vezes que fui taxativa. Só consigo dizer com segurança que não me identifico com pessoas que fazem dança de salão. De resto, pode ser que um dia eu goste até da Ana Carolina.
Eu tenho duas amigas que foram amigas e que hoje não são mais. É lógico que uma é a vítima, é sempre assim. E eu sou solidária a ela. Só que a outra, além de não me parecer necessariamente uma algoz, me parece mais humana. O papel dela na história é mais sofisticado, demanda subjetividade. Sentir pena da vítima é fácil. E é pra ser assim. A vítima precisa mesmo do apoio dos outros. Eu sou uma vítima dos homens filhos da puta, lógico que tenho uma parcela grande de culpa nisso porqe me deixo envolver e não tento reconfigurar o fato de ser pisciana, mas o fato é que a presença dos outros nessas horas é muito importante. Só que quem não é bonzinho é tão mais interessante...Como explicar isso para os defensores das vítimas desse mundo cruel?
Fui ver "A deriva" ontem. É bonito. Eu morri de inveja do verão e da magreza da menina Filipa. Está tocando Cásia Eller no rádio. Eu sinto uma saudade dela...
Acordei comendo chocolate. Está errado isso.
Mas é gostoso, não é?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Talento para o verão

A minha avó mora em Iguaba Grande. Lá é uma cidadezinha que fica entre Araruama e São Pedro da Aldeia. A casa da minha avó tem dois andares e piso de ladrilho marrom quase cor-de-abóbora. É dentro de um condomínio chamado Ilha das Garças. Eu passei as minhas férias de verão lá dos sete aos 15 anos. Esses dias eu me dei conta de que a gente não sente saudade do que viveu intensamente. A gente gosta de lembrar e tudo, mas saudade mesmo a gente sente do que não se esgotou. É o que Drummond chamou de "retrato na parede que dói". Iguaba é assim pra mim. Eu sinto tanta, tanta saudade que nem consigo ir visitar a minha avó porque quando eu chego lá, tenho que olhar para as casas dos amigos, para a minha bicicleta com o pneu vazio e para a rua que era de terra e que foi asfaltada recentemente.
Em Iguaba eu me apaixonei pela primeira vez. Eu me lembro que fiquei sem dormir por noites e mais noites e me lembro que quando chegava perto dele ficava tão nervosa que a minha barriga doía. Eu tinha 11 anos. Ele era cabeludo, gostava de Bon Jovi e tinha uma banda chamada Black Hearts (Ui!). Eu o conheci no Carnaval de 1996, mas nós nem nos falamos. Me disseram que ele morava em Copacabana e eu, tijucana filha de um paulista e de uma ex-moradora do Lins, só tinha ido lá uma vez pra ir ao ortopedista porque minha mãe achava que eu pisava torto. A máxima desse médico, por sinal, me causou um trauma. Ele dizia que "a beleza está na magreza". Não preciso dizer que ouvi isso a vida inteira da boca da minha mamãe. Pois bem, eu ficava imaginando como era a vida dele em frente a praia, como eram os shows da banda dele, me perguntava se ele se lembraria de mim e se nós nos beijaríamos e seríamos felizes para sempre.
Poucas coisas mudaram nas paixões atuais. Eu continuo ficando nervosa e tropeçando quando vejo o ser amado e ainda perco o sono. Se passaram 13 anos e eu não sei muito bem o que fazer com os amores contrariados. E foram tantos... Já era pra eu ter aprendido. Se os errados que me aparecem fossem divertidos eu até tentaria me divertir com eles, mas além de serem meio chatos, a maioria ainda é constituída de pão-duros.
Estou tirando o Wagner Moura do topo da pirâmide dos homens perfeitos. Pelo twitter eu vi o quanto ele é chato e clichê. Vou substituí-lo pelo Leonardo Medeiros. E com ele, que fala pouco e baixo e que tem os cabelos grisalhos mais charmosos do cinema nacional, eu vou ser feliz.
Mudando de assunto, eu me pergunto constantemente quem é mais bonita, a Juliana Paes ou a Cleo Pires. Nunca encontro a resposta, apesar de eu achar a Juliana mais simpática, graciosa e gostosa. A AREZZO advinhou a minha indagação e colocou as duas beldades numa foto super provocante na piscina para a nova campanha. Achei sensacional. Principalmente porque a bolsa da Juliana está dentro da água e as duas estão de coque e com as unhas pintadas de cores fortes.
Se inventassem uma grife para gordinhas despudoradas podiam me convidar. Eu tenho muito talento para fotos sensuais.
Ai ai...

domingo, 9 de agosto de 2009

Cardápio limitado.

Domingo de sol, restos da festa na geladeira, pai que não mora aqui. Sofá da sala sem ninguém, a tatuagem que não foi feita, o poema que travou, nós e eles. Lá embaixo não tem estrelas, Lobão tem razão.
Como não ser tímido quando não se está afim? Gritos e sussurros são para poucos. A entrega não vem na bandeja, demanda noites e mais noites de intolerância.
Poeira nas palavras, a prosa que não sai. Eu morro de medo de ser artificial e escolho as frases soltas que exigem menos de mim. As sentenças tradicionais me intimidam. E no menu de hoje, falta disponibilidade.
I don't go to the movie since june. It's a long long time. Odeio quem escreve em inglês, me dá preguiça de ler. Eu sou egoísta, os outros não me interessam. Você e todo o seu problema não me comovem. Só me toca o que é meu.
Amar em inglês deve ser mais simples. Cadê a sofisticação, Cecília? Onde está o diferencial? Agora todos são especiais e se destacam os que ajustam os seus ponteiros relacionais.
Calcinha azul, música ruim no rádio, São Paulo em setembro, açúcar e limão.
"I'm never there."

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um minuto para o amor dar certo.

Quando a gente gosta muito de uma pessoa e ele não gosta da gente, mas já passou um tempo significativo desde o último desencontro, na primeira oportunidade, tentamos mostrar a ele que estamos muito bem e que ainda queremos estar com ele, mas agora sem cobranças e expectativas. A tal pessoa está carente demais e você tem lá suas qualidades, então vocês voltam a se encontrar. E voltam a se beijar e a trocar mensagens, presentes e confidências profundas. Você encontra a sua ex-terapeuta na rua e diz a ela que acha que dessa vez vai. A pessoa está te avisando que não, que a coisa não vai, que é momentâneo, mas você conta pros seus amigos, você entende das palavras dele o que você quer entender. E um dia ele te deixa. É um dia como outro qualquer pra ele. Ele até lamenta, mas não era pra apostar, ele avisou. A proposta era a mão e você quis o braço. Aí você sofre, você quase morre, você quase se arrepende de tudo. Você tenta decodificar atitudes e frase avulsas, investiga com pormenores os detalhes possiveis da vida dele e acha que um dia ele vai voltar.
Pois é, a responsabilidade é sua. Você sabia que ele não gostava tanto de você quanto você dele, sabia que ele é maluco, ele já tinha te rejeitado uma vez. Você quis tentar de novo, agora, aguente.
Eu sou essa pessoa que fica catando as migalhas dormidas do pão alheio e sou também essa outra, que por estar mais carente do que pode suportar, finge acreditar na proposta moderna do apaixonado e se entrega a ele com data marcada para a devolução. Eu finjo que não sei que ele é louco por mim. Finjo que acredito que é só sexo e que ele não quer sair da relação estável dele. Se ele diz, eu acredito, por comodidade. Eu argumento que historiadores não podem ficar impondo discursos seus nos personagens do mundo e pronto. Eu me permito ser amada por ele mais uma vez. Eu finjo que acredito que ele mudou e que não vai me ligar no meio da novela querendo juras de amor eterno. Eu dissimulo. Mas os dias estão contados. Eu vou ter que deixá-lo. E eu vou me sentir mal por isso. E quando eu o vir com outra eu vou sentir um ciúme absurdo. Mas eu não posso continuar. Se fossem só as coisas boas, se ele entendesse que não pode me cobrar nada, que se eu não mudei pelo outro lá, também não vou mudar por ele...mas é lógico que ele não entende, ele gosta de mim, é isso.
E assim eu continuo sozinha, sonhando com o dia em que as minhas apostas de leveza com o rapaz que eu gosto, vão dar em alguma coisa e planejando seduções que não dão em nada.
Custa dar uma chance? Não custa.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Esperando alguém que caiba no meu sonho.

Ainda nem é de manhã e já faz sol. Eu moro perto de um quartel, acordo com as cornetas e me lembro de quando tinha que ir pra escola. Penso nos alunos com sono, nos soldados com frio, nos presos políticos que estiveram ali e decido voltar a dormir.
É injusta demais a vida. Como pode eu não saber lidar com as famílias dos homens que gostam de mim? Como pode eu desprezar flores, fotos e batata frita? Eu que queria tanto jantar junto, dormir junto e viajar junto. O rapaz se dispõe a aprender a dançar e eu não. Não saber dançar deve significar muito sobre mim. Eu sou dura.
Eu não sei amar. As ligações do dia seguinte, as poucas oscilações dele...nada me desperta desejo. E ele pensa que eu sou uma mulher séria, dessas que são pra casar, mas não, com ele não. Como explicar? Como subir no primeiro ônibus e se esquivar do abraço? Como inventar que todo domingo vai ser dia dos pais?
Eu não aprenderia a dançar por ninguém, é maior que eu. Mas existe gente que não dança, não é? Tem que existir.
Não existe razão em mim, nada faz sentido. Eu comprei a Playboy da Prscila do Big Brother, crente que ia ver os tais dez homens pelados sensacionais em posições nada ortodoxas, mas fiquei frustrada. Mulher pelada nessas revista é sempre igual, não tem nada de surpreendente. E os homens nem pelados estavam. 12 reais a toa. Se o rapazinho lá soubesse que eu comprei a Playboy atrás de sexo selvagem (artigo raro nos dias de hoje) talvez ele entendesse que comigo ele não vai casar. Aí quem sabe a gente se entendesse...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Para aliviar meu cansaço

Segunda feira não é dia, eu sei, mas o rapaz, que tinha acabado de voltar de viagem, me ligou, convidou e eu aceitei. Praça XV, seis da tarde, amores brutos, eu e ele.
Paixão não havia, talvez saudade. História e geografia. Eu juro que tentei.
Voltei pra casa num 422 vazio e não vi a novela. A Amy Winehouse não sai da minha cabeça:
"We only said good bye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to black"
Entreguei a chave da minha casa pra uma amiga que veio passar uns tempos comigo. Fiz a cama do quarto da minha irmã pra ela, expliquei onde estavam as comidas, as toalhas e como mexer na televisão. Enxerguei defeitos além da conta na pessoa certa e relevei os problemas da pessoa errada. Ensinei a pessoa errada a abrir a porta, disse a ele onde estão os lençóis e expliquei como ligar o aquecedor. Não posso pedir a ele pra ir embora. E ele já foi.
Vestido de mocinha, sapato com lacinho, brinco de tecido, projeto de mestrado, 10 minutos até o metrô, homem tem que ser Flamengo.
"And I go back to black."

sábado, 1 de agosto de 2009

A separação e o batom vermelho

Hoje é sábado. São dez pra onze da noite. Eu estou de saia preta e blusa de botãozinho. Passei um batom vermelhaço e coloquei o cd do Echo and the Bunnyman. Vou sair. Não sei se vou de taxi. Taxi é caro, mas a essa hora não deve ter mais ônibus pra onde eu vou.
Eu moro num prédio antigo, desses que a garagem antigamente era uma área de lazer. Tinham dois porteiros que eram irmãos aqui, o Ivanildo e o Zé Carlos. Eles são da Paraíba, são lindos, tem os olhos verdes enormes e são muito simpáticos. O Ivanildo é o mais velho; Uma vez ele ganhou no Jogo do Bicho e trouxe a família toda pro Rio. Há uns três anos ele brigou com a síndica e foi mandado embora. Eu fiquei triste. Eu gosto muito dele. Ficou só o Zé Carlos. O Zé Carlos é O CARA. Deve ter uns 28 anos, é bem quieto, sorridente, todas as empregadas da rua são apaixonadas por ele, mas ele gostava mesmo era da que trabalha no sexto andar daqui e olha que ela nem é bonita e é casada. Eu criei uma afeição muito grande pelo Zé Carlos. Ele sempre ria porque eu dizia "Bom dia" quando estava de noite e "Boa noite" quando eu chegava de manhã das noitadas (ah, meus tempos...). Uma vez, num desses impulsos bobos, eu cheguei a dizer a ele que odiava os homens. Eu gosto tanto do Zé Carlos que chego a ficar feliz quando vejo que é ele que está na portaria. Ele tirou férias em junho. Eu senti falta dele. Fiquei tão contente quando ele voltou que até falei isso pra ele. (Não, ele não pensava que eu dava em cima dele, até porque eu não dava). Ele é o único porteiro que eu chamo pelo nome sempre. Enfim, ele faz parte mesmo da minha vida. Pois hoje de manhã a minha mãe não veio me dizer que ele também foi mandado embora? Parece que ele pediu a síndica pra ser demitido porque precisava do dinheiro. E ela, que como eu, deve ser apaixonada por ele (sem segundas intenções), consentiu.
Nossa, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim. Estou muito triste. Acho que até choro se eu me aprofundar muito nesse assunto.
Agora, por exemplo, eu vou sair e ele não vai estar lá. E amanhã quando eu voltar, ele também não vai estar lá. Muito triste isso.
A gente sofre por amor, sofre pelas amizades falidas, pelo dinheiro que falta, pelas viagens que não faz e ainda tem que perder o porteiro que mais amamos?
Não é certo.
Vou-me embora agora testar o poder de conquista do meu batom.
Au revoir.